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sexta-feira, 26 de outubro de 2012

A ALIANÇA ETERNA



“O Cordeiro que foi morto, desde a fundação do mundo” (Ap. 13:8)
A Aliança Eterna á a mais importante de todas, pois nela se inclui todas as alianças. A prova a que Deus submeteu Adão havia sido por Ele prevista. Desde a fundação do mundo fora feita a provisão para cobrir o prejuízo provocado por sua desobediência, como também dos que se lhe seguiram.
Temos que ter sempre em mente que Deus é eterno. Ele não Se surpreende quando as coisas acontecem; para Ele, tanto faz passado ou presente - é tudo a mesma coisa. Como o próprio nome já diz, ele é eterno”. O que é eterno não sofre alteração em tempo algum. É o mesmo para todos os habitantes da terra através de todos os tempos. E este contrato terá a duração de todos os tempos, era após era, para a eternidade! It is, therefore, of utmost importance to every believer in the Almighty to learn about this covenant. É, portanto, de extrema importância para todo o crente no Todo-Poderoso saber mais sobre essa aliança. A longa jornada do Jardim do Éden ao Reino de Deus já havia sido por Ele previamente calculada quando da celebração dessas alianças que acabamos de estudar. Elas constituem partes de um todo.
O princípio central deste estudo é o seguinte: as alianças são, na realidade, uma aliança eterna, expressa ao homem em revelação progressiva, até Cristo, a revelação completa de Deus ao homem.
1.     A Promessa Da Aliança
Porei inimizades entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn. 3:15).
Imediatamente após a queda de Adão, desvendando este mistério para os anjos não caídos em perplexidade, para os mundos atónitos, pela queda de Adão; e para Satanás e seus demónios surpresos e desconcertados, Deus anunciou à serpente o ultimato de sua destruição através da obra do Redentor, revelando também ao homem pecador os elos pelos quais a salvação chegaria até ele. Isso se referia ao facto de que Jesus morreria, mas que, ao contrário do efeito sobre o diabo, sua morte seria derrotada pela ressurreição. Isso cumpriu-se literalmente (Rm. 3:24-25)
As sucessivas alianças com Noé, Abraão, Israel e Davi não eram senão amplificações da promessa de um Redentor. Somente ao reconhecermos este facto é que seremos capazes de interpretar corretamente o significado das alianças. Nenhum dos personagens mencionados poderia tornar-se justo pela simples obediência às suas condições. Pois sabemos perfeitamente, à luz das Escrituras, que a retidão vem pela fé, nunca pelas obras da lei. Leia Filipenses. 3:9; Gálatas 2:21; 3:6, 11.
Com esta perceção, torna-se compreensível a razão de assim se ter expressado Davi: “Pois estabeleceu comigo uma aliança eterna” (2 Sm. 23:5). Também se faz clara a linguagem de Paulo, ao chamar as velhas alianças de “alianças de promessa” (Ef. 2: 12), visto que elas se referiam ao Redentor que haveria de vir.
2.     O Tempo Das Alianças
Todo o plano foi pré-estabelecido e executado passo a passo na medida necessária para cada tempo. A primeira promessa de aliança foi feita no momento certo e na clareza e amplitude suficiente para o pecador compreender a dádiva da graça. O primeiro raio de luz foi o cordeiro morto para ensinar a graça para Adão e Eva. Com Abraão, a quem foi feita a promessa de tornar-se o pai espiritual da grande multidão de salvos pela fé na graça, foi adicionado o rito da circuncisão, que teria significado como sinal de identidade entre Deus e seus filhos até a cruz.
As cinco alianças do Antigo Testamento eram os marcos do relacionamento de Deus com os indivíduos e com Seu povo eleito:
a) Génesis 3:15 foi declarado imediatamente após a queda de Adão.
b) A aliança com Noé foi feita em seguida ao dilúvio.
c) Quando Deus chamou Abraão para tornar-se o pai da nação de Israel, foi com a aliança que Ele firmou Sua promessa.
d) Após a libertação do Egito, Deus fez a aliança do Sinai.
e) Harmonizando-Se com o desejo de Israel de se tornar uma nação, Deus entra em aliança com Davi.
Entretanto, apesar de estas alianças estarem relacionadas com importantes acontecimentos históricos, torna-se claro que seu significado transcende em muito ao da época a que pertencem.
Hoje o Redentor de Génesis 3:15 nos é conhecido; o arco-íris se estende nos céus para nos lembrar a fidelidade de Deus; pela fé, tal como Abraão, os homens continuam a tornar-se justos; Jesus Cristo é o soberano a ocupar o “trono de Davi” no novo Reino.
3.     A Aliança Entre o Pai e o Filho
Em versículo algum da Bíblia encontramos a afirmação de que o Pai celebrou qualquer acordo formal com o Filho, ou que, por Sua atuação em determinada tarefa terá recebido Este uma recompensa.
Contudo, chegamos à conclusão de que somente nestes termos é que muito do Novo Testamento pode ser compreendido. Pode-se definir a aliança da redenção como o acordo entre o Pai, dando o Filho como o Chefe e Redentor dos eleitos, e o Filho, tomando voluntariamente o lugar dos que Lhe foram dados pelo Pai. Jesus Cristo veio à terra a fim de atuar em cumprimento de um acordo de aliança feita com o Pai. Examinemos as evidências:
Porque o Filho do homem, na verdade, vai segundo o que está determinado, mas ai daquele por intermédio de quem Ele está sendo traído (Lc. 22:22).
Para que Jesus tivesse feito o que estava determinado parece-nos que algo devia ter sido previamente estabelecido. Isto poderia ter sido tão-somente uma parte do acordo de aliança com o Pai.
Porque Eu desci do Céu não para fazer a minha própria vontade; e, sim, a vontade dAquele que me enviou. E a vontade de quem me enviou é esta: que nenhum Eu perca, de todos os que me deu” (Jo. 6:38, 39).
Neste texto, três coisas são facilmente reconhecidas:
a) Cristo havia recebido uma determinada missão do Pai, em benefício do género humano, que tão santamente desempenhou, tendo como último fim fazer que os homens cheguem a participar de uma vida bem-aventurada na glória eterna; e, como fim imediato, que durante a vida mortal vivam a vida da graça divina, que ao final se abre florida na vida celestial.
b) Ele viera à terra com o claro propósito de cumprir o que o Pai lhe entregara para fazer.
c) A promessa não significava exclusivamente uma bênção espiritual, mas sim a salvação de todos quantos através dEle vieram a Deus. Veja ainda João 17:24.
Romanos 5:12-19 e 1 Cor. 15:20-28, 45-47.
Este paralelo entre Adão e Cristo só pode ser compreendido à luz da responsabilidade de uma aliança. Da mesma forma que a promessa se referia a Adão e àqueles que ele representava, obviamente uma outra promessa foi feita a Cristo e àqueles que Ele por sua vez também representava.
4.     Os Títulos Da Aliança Dados a Cristo
Há uma aliança divina à qual Cristo está relacionado - isto é evidente nas Escrituras, pelos títulos ou nomes que lhe são dispensados. Vamos examiná-los:
a)    Jesus é chamado de Aliança.
Eu, o Senhor, que te chamei em justiça, tomar-te-ei pela mão, e te guardarei, e te farei mediador da aliança com o povo, e luz para os gentios” (Is. 42:6).
O original deste versículo diz: “... e te darei por aliança com o povo... “ O sentido de mediador encontra-se em outras passagens.
b)    Jesus é chamado o Mensageiro da Aliança.
Eis que envio o mensageiro que preparará o caminho diante de mim; de repente virá ao seu templo o Senhor, a quem vós buscais, o Anjo da Aliança, a quem vós desejais, eis que Ele vem, diz o Senhor dos Exércitos” (Ml. 3:1).
Jesus é o mensageiro da aliança, posto que veio com o fim de instaurá-la e proclamá-la! Como mensageiro da aliança, Jesus proclamou as condições e os termos da Nova Aliança por ele estabelecida.
c)     Jesus é chamado o Fiador da Aliança.
Por isso mesmo Jesus se tem tornado fiador de superior aliança” (Hb. 7:22).
Como é de nosso conhecimento, o fiador tem a obrigação legal de cumprir aquilo que o contratante não pode fazer. Isto ele o faz no nome e em benefício da pessoa ou pessoas de quem se fez fiador.
Jesus nos trouxe uma Nova Aliança tendo destituído e cumprido a Antiga Aliança (Hb. 10:9). Jesus garante cada palavra da Nova Aliança. Ele é o grande intercessor da Nova Aliança.
A aliança das obras foi feita com a raça humana, no primeiro Adão; mas o primeiro Adão era falho, e fracassou bem rapidamente; ele não conseguiu suportar a tensão da sua responsabilidade, de modo que aquela aliança foi quebrada. Jesus Cristo é o Fiador da nova aliança, e Ele não tem falhas; é perfeito. O Senhor Jesus é o cabeça representativo dos Seus escolhidos, e Ele os representa; são considerados membros do Seu corpo, e Ele é seu cabeça, seu porta-voz, seu representante. Sendo que o Senhor Jesus representa todo o Seu povo fiel na aliança, é eterna essa aliança.
 Os que estão debaixo dessa nova aliança recebem a promessa da herança eterna, ou seja salvação! Além de estar como mediador, Ele também é o fiador, ou seja é Ele quem garante a aliança. Aleluia!
d)    Jesus é chamado o Mediador da Aliança.
Por isso mesmo, Ele é o Mediador da nova aliança, a fim de que, intervindo a morte para remissão das transgressões que havia sob a primeira aliança, recebam a promessa da eterna herança, aqueles que têm sido chamados” (Hb. 9:15).
Com base no seu Sumo-Sacerdócio e pela oferta do seu próprio sangue, Jesus aperfeiçoou a nossa redenção; satisfazendo as exigências de
justiça Ele abriu a possibilidade para que Deus desse ao homem vida eterna legalmente, fazendo-o justo e dando-lhe a posição de Filho. Ele é o Mediador da Nova Aliança. Ele é o Mediador e Sumo-sacerdote que apresenta os homens perdidos a Deus.
Só existe uma forma de entrarmos numa relação de aliança de sangue com Deus, por intermédio de Jesus Cristo, o mediador da Nova Aliança. É por seu intermédio que recebemos a promessa de nossa herança eterna.
Aprendi com isso que temos um Deus maravilhoso, relacional, que se importa connosco, que estabeleceu alianças para nosso bem e sua glória. Somos seus vice-gerentes, responsáveis pela terra que ele nos deu, pela família, pela cultura e pela preservação dos valores e da nossa história. Por um lado, é magnífico sabermos disso, por outro nasce um peso, o da responsabilidade. Apesar de Deus ser soberano, nós somos responsáveis e a Deus daremos contas de todas as nossas ações.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Imputação


Texto: Filemom 1:1-25
A carta a Filemom é uma história de amor fraternal, entre um escravo e um missionário Paulo, mas também fala da restauração e o perdão de uma dissensão entre um escravo Onésimo e Filemom seu dono.
È uma linda história da capacidade do cristianismo em agregar, unir polos opostos: escravo e livre, rico e pobre, negro e branco, analfabeto e culto; e também da capacidade de romper barreiras crónicas, que para muitos é impossível de serem removidas: de perdoar pecados remotos, de suprimir ressentimentos e suplantar amarguras antigas.
Filemom, a partir do nome grego pronunciado fil-ei-mone, ou seja, amigável, foi o destinatário da carta bíblica do apóstolo Paulo, que foi escrita quando ele estava na prisão. A cela de Paulo em Roma tornou-se um púlpito de onde o Evangelho se espalhou para multidões na capital do Império Romano. Entre aqueles que foram transformados pelo Evangelho estava Onésimo, um escravo fugitivo, que conhecera o apóstolo anteriormente, quando Paulo visitou a casa de seu amo Filemom, cristão colossense, que parece ter sido um homem de certa importância. Sua casa era bastante grande para nela reunir-se uma igreja, bem como acomodar o apóstolo e seus companheiros de viagem por ocasião de sua visita à cidade.
Onésimo tinha sido um escravo de Filemon, mas tinha fugido de Colossos na Ásia Menor para Roma, por alguma razão desconhecida, e ali se convertera pelo ministério de Paulo – “que gerei entre algemas”. Talvez tenha até mesmo roubado de seu amo para fazer a viagem, conforme se dá a entender na própria carta (Cl. 4:9; Fm. 18). Onésimo tornou-se associado de Paulo em Roma e logo se tornou cristão, tornando-se assim filho espiritual do apóstolo (Fm. 10). Em grande contraste com sua anterior inutilidade a Filemon como escravo, ele tornou-se então utilíssimo a Paulo como ministro, um “fiel e amado irmão”, a quem Paulo chama de “as minhas próprias ternas afeições”, ou o meu próprio coração (Cl. 4:9; Fm. 11, 12).
No entanto, o status de Onésimo era o mais baixo que alguém poderia ter no mundo antigo, ele não era protegido por nenhuma lei e estava sujeito a todo tipo de abuso. Pelo facto dele ser um escravo fugido, a estrutura social daqueles dias obrigava Paulo a mandá-lo retornar a seu amo, embora com relutância da parte de Paulo, em virtude de quão bom companheiro Onésimo se tornara, e quão útil ele se demonstrou ser para o apóstolo. Contudo, ele não tinha meios de obrigar Onésimo a retornar, de modo que isso dependia e resultaria da própria disposição de Onésimo de retornar. Os escravos fugidos normalmente iam para as grandes cidades, partes remotas do estado de Roma, e para áreas desabitadas. A essa altura, a captura deles e a sua volta era normalmente um arranjo informal entre o proprietário e o administrador provincial. Eles eram frequentemente espancados sem misericórdia ou colocados para realizar tarefas que diminuiria suas expectativas de vida.
1.     Um apelo em favor de um escravo.
Paulo, prisioneiro de Cristo Jesus, e o irmão Timóteo, ao amado Filémon, nosso companheiro de trabalho, e à nossa irmã Áfia, e a Arquipo, nosso companheiro de lutas, e à igreja que está em tua casa: Graças a vós, e paz da parte de Deus nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo. Sempre dou graças ao meu Deus, lembrando-me de ti nas minhas orações, ao ouvir falar do amor e da fé que tens para com o Senhor Jesus e para com todos os santos; para que a comunicação da tua fé se torne eficaz, no pleno conhecimento de todo o bem que em nós há para com Cristo. Pois tive grande gozo e consolação no teu amor, porque por ti, irmão, os corações dos santos têm sido reanimados. Pelo que, embora tenha em Cristo plena liberdade para te mandar o que convém, todavia prefiro rogar-te por esse teu amor, sendo eu como sou, Paulo o velho, e agora até prisioneiro de Cristo Jesus, sim, rogo-te por meu filho Onésimo, que gerei nas minhas prisões; o qual outrora te foi inútil, mas agora a ti e a mim é muito útil; eu to torno a enviar, a ele que é o meu próprio coração. Eu bem quisera retê-lo comigo, para que em teu nome me servisse nas prisões do evangelho; mas sem o teu consentimento nada quis fazer, para que o teu benefício não fosse como por força, mas, sim, voluntário” (Fm. 1-14).
Paulo escreveu esta carta em favor de Onésimo, escravo de Filemom, que, depois de fugir do seu senhor, converteu-se sob o ministério de Paulo. No verso 10, a seguir aos cumprimentos, Paulo, dirige-se a Filémon de irmão para irmão, indicando a razão pela qual a escreveu. Ele diz: “… embora pudesse ser muito ousado em Cristo para mandar o que é justo, mas por amor eu prefiro apelar a ti”. Ele teria a capacidade de ordenar mas não o fez. Em vez disso, Paulo evita invocar sua autoridade apostólica para ordenar Filemom a fazer o que convém, isto é, a coisa certa. Antes, ele apela, implora, faz um pedido, por Onésimo, para o seu amigo em nome do amor, como alguém que tem direito de ser ouvido: ele é Paulo, “um embaixador” e agora um prisioneiro de Jesus Cristo. Paulo não exercia autoridade como um superior sobre seus súbditos. Nem manipulou. Sim ele tinha a autoridade para mandar, mas se ele a utilizasse não seria em nome do amor e é o Amor que importa. O que ele faz, por amor, porque é o amor que importa, é apelar – em vez de comandar, exigir ou manipular.
Se o apóstolo está fazendo distinção entre a autoridade apostólica e o tipo de autoridade exercida pelos outros líderes cristãos não o sabemos com certeza. Em qualquer dos casos, ele dá o exemplo de como a verdadeira liderança cristã pode funcionar de maneira mais eficiente.
A seguir ele diz uma outra coisa: Estou a mandá-lo (Onésimo) regressar. Recebe-o pois, isto é do coração, que desejaria mantê-lo comigo, para que em teu nome ele pudesse servir-me nas prisões do evangelho. Paulo se refere ao seu convertido dizendo tê-lo gerado. Embora fosse escravo numa família cristã, presumivelmente Onésimo não abraçou a fé cristã até que fugiu e se colocou sob a influência de Paulo.
Paulo podia ter mantido Onésimo na prisão e ter enviado uma carta a Filemom ordenando que recebesse de volta o seu escravo. Ou podia ter-lhe dito para esquecer o Onésimo porque ele, Paulo, precisava dele. Paulo não fez nada disso. Antes mandou Onésimo voltar para Filemom apelando a que ele recebesse de volta o escravo fugitivo, exortando-o a perdoar, aceitando-o como um irmão em Cristo, e para isso, providenciou que Tíquico o acompanhasse e que os dois levassem uma carta e um relatório a Colossos (Cl. 4:7-9).
Paulo continua no seu apelo por Onésimo, dizendo a Filémon que, embora ele o tivesse deixado, sendo apenas escravo, agora volta como algo mais, assegurando-o do bom desempenho de Onésimo no ministério cristão e de sua nova personalidade, e na qual suplicava que o reencontro fosse mais o de dois cristãos do que o de um escravo e seu amo.
Fazendo voltar o escravo que, depois de fugir, tornou-se cristão e servo de Paulo, e que foi de considerável ajuda a Paulo em suas algemas... por causa do evangelho, o apóstolo se quisesse continuar fazendo uso dos seus préstimos – certamente que Filemom teria alegremente aprovado. Mas Paulo, sendo sensível à ética da situação, recusou-se a tomar liberdades com a estima de Filemom. Ele queria que seu amigo agisse segundo o seu próprio consentimento e voluntariamente, sem se sentir forçado ou acuado. O apóstolo não só nos instruiu em relação aos princípios que regem o relacionamento entre os irmãos cristãos, como faz-nos lembrar também que estes princípios não devem ser “por força, mas voluntários” (Fm. 14).
Em Cristo há uma estrutura de referência completamente diferente que transforma todos os relacionamentos terrestres; a fraternidade é o ponto central sobre o qual todos os outros relacionamentos devem ser avaliados. Paulo não faz polémica contra a escravidão, mas no decorrer dos séculos, a fé cristã chegou a compreender que a prática da escravidão é incompatível com os princípios aqui enunciados por Paulo.
2.     Ser recebido como um irmão.
“Porque bem pode ser que ele se tenha separado de ti por algum tempo, para que o recobrasses para sempre, não já como escravo, antes mais do que escravo, como irmão amado, particularmente de mim, e quanto mais de ti, tanto na carne como também no Senhor. Assim pois, se me tens por companheiro, recebe-o como a mim mesmo. E, se te fez algum dano, ou te deve alguma coisa, lança-o minha conta. Eu, Paulo, de meu próprio punho o escrevo, eu o pagarei, para não te dizer que ainda a ti mesmo a mim te deves. Sim, irmão, eu quisera regozijar-me de ti no Senhor; reanima o meu coração em Cristo. Escrevo-te confiado na tua obediência, sabendo que farás ainda mais do que peço. E ao mesmo tempo, prepara-me também pousada, pois espero que pelas vossas orações hei-de ser concedido. Saúda-te Epafras, meu companheiro de prisão em Cristo Jesus, assim como Marcos, Aristarco, Demas e Lucas, meus cooperadores. A graça do Senhor Jesus Cristo seja com o vosso espírito. Amém” (Fm. 15-25)
Paulo mandou de volta ao seu mestre Filemom, o escravo Onésimo que tinha fugido dele. Onésimo conheceu Paulo e tornou-se um crente muito útil para Paulo, ministrando lhe nas “prisões do evangelho”. Mesmo assim Paulo nunca pensou que isto lhe daria o direito de fazer algo diferente do que seria o certo. Imagino que hoje muitos Cristãos reagissem de modo diferente do que Paulo fez. Muitos diriam ter (ou tentariam ter) uma revelação divina para obrigar Filemom a fazer o que eles queriam que ele fizesse. Na próxima vez que alguém o pressionar fazendo-o sentir-se condenado se não fizer o que ele quer, por favor leia Filemom! Paulo sabia que não era necessário uma revelação divina para resolver este caso mas senso comum conjugado com honestidade e verdade.
Onésimo volta como um querido irmão no Senhor, não como escravo, mas por cima de escravo como irmão amado especialmente para mim, quanto mais para ti tanto na carne como no espírito e no Senhor” (16). Pense Filemom que tudo poderia ter sido um ato da Providência que afastou um escravo e entregou um irmão, irmão tanto para Paulo como para Onésimo, que pela utilidade e a companhia próxima pode ser considerado carnal, para não falar do espírito que a todos impulsava e unia no Senhor.
Mas é possível que Onésimo devesse dinheiro a Filemom quando fugiu. O que vai ser desta dívida? Paulo reconhecia que a dívida feita por Onésimo devia ser paga antes de haver qualquer possibilidade de restauração. Porém, o escravo, nada possuía com que saldar o seu débito, assim, ao escrever a carta, o apóstolo Paulo, solicitava que qualquer dívida pendente de Onésimo para com Filemom fosse debitada na sua própria conta. “Se, portanto, me consideras companheiro, recebe-o, como se fosse a mim mesmo. E se algum dano te fez, ou se te deve alguma coisa, lança tudo em minha conta” (vs. 17-18).
Paulo não ordena a Filemom que “as apague” ou que “as esqueça” porque: “sabe que são agora irmãos!” O que Paulo diz a Filémon não são ordens mas sim apelos. E relativamente às dívidas, é o que ele diz: “…se ele te deve alguma coisa, põe isso na minha conta, eu pagar-te-ei”. Isto é amor entre irmãos. Não seria amor fraternal de obrigar o Filemom a esquecer as dívidas que o seu velho escravo lhe devia. Mas é amor de dizer como fez o apóstolo Paulo: “ ..irmão recebe-o novamente. Eu tomo conta das suas dívidas. Eu pagar-te-ei. Não te preocupes com isso”. Isto é amor fraternal. Paulo diz-lhe que ele mesmo lhe deve. Filemom encontrou a fé através do trabalho de Paulo. Mas ele não se refere a isto para não exercer pressão sobre ele. É uma verdade mas não a vai usar para resolver assuntos materiais. Ao terminar o seu apelo ele diz: “…Tendo confiança na tua obediência, escrevo-te, sabendo que tu farás mais do que eu digo”. Paulo sabia que Filemom era um verdadeiro irmão em Cristo. No início da carta chama-o “querido irmão trabalhador”, e que ouviu do seu amor e da sua fé para com o Senhor Jesus Cristo e com todos os santos. Paulo e Filemon não eram estranhos. Eles conheciam-se. O apelo do Paulo não se dirigiu a um estranho mas a um irmão querido e um trabalhador conhecido pela sua fé. Foi um apelo de um irmão de Fé a outro irmão de Fé. E Paulo tem a confiança que Filemom não só vai honrar o seu pedido mas vai fazer muito mais do que isso.
Paulo deve ter colocado Filemom numa posição precária de facto. Ao suplicar pelo perdão e a restituição de Onésimo sem punição isso era óbvio para todos, ele estava confrontando a ordem social e económica estabelecida. Enquanto que ele não pede por sua alforria, até mesmo o seu pedido de clemência por Onésimo e sua designação para Paulo põe abaixo a tradição Romana. Por sua súplica Paulo está também concedendo nova dignidade à classe dos escravos.
Paulo é um prisioneiro, ele não pode fazer as coisas que um homem livre poderia fazer para ajudar um escravo. Ele não pode fazer nada mais do que escrever uma carta pedindo clemência por seu recém-achado irmão e apenas pode sugerir que ele espere pela sua visita que seria breve para acrescentar peso ao seu pedido a Filemon. Debaixo de circunstancias normais, um homem livre poderia assumir a custódia de um escravo fugido depois dele ter dado garantia de seu retorno aos oficiais público, e ele poderia dizer que o escravo lhe fora concedido por um tempo. Isso não era incomum.
Paulo estava ciente de tudo isso, o que pode explicar por que ele se ofereceu para pagar qualquer dívida de Onésimo (v. 18). Isto faria com que a sua ideia revolucionária para perdoar o escravo fugido fosse mais fácil para Filemom de engolir, ele poderia ter Onésimo de volta sem perda real e até mesmo dizer que ele não havia cometido nenhum tabu porque outro pagou para o seu retorno. No entanto, a vontade de Paulo para tornar-se o responsável por qualquer custo a Filemom não foi a principal razão para que ele se reconcilie com Onésimo. Em vez disso, o relacionamento de Filemom com o apóstolo foi para movê-lo a fazer o que era inédito na época. Se Paulo era verdadeiramente o seu parceiro e amigo, ele tomaria Onésimo de volta (v. 17). Em essência, o apóstolo estava chamando Filemom para praticar a comunhão com ele, alegou Paulo. Ele tinha que confiar na palavra do apóstolo, que Onésimo era um novo homem, e recebê-lo de volta. Se ele realmente conhecia e amava Paulo, então ele seria capaz de agir sobre as palavras do apóstolo.
Os apelos do apóstolo Paulo em favor da restauração de Onésimo à sua antiga posição de confiança na casa de Filemom são muito tocantes. Ele sugere, em primeiro lugar, que pode ter havido um propósito divino em tudo aquilo, e que Deus permitira a fuga como um passo para a renovação plena da natureza do escravo. Como Filemom e Onésimo eram dois cristãos, seu relacionamento deveria sofrer uma transformação. “Na carne, Filemom tem um escravo que é irmão; no Senhor, Filemom tem um irmão que é escravo”. Então, no versículo 17 Paulo se identifica com Onésimo, e somos levados lembrar do Senhor se identificando connosco, porque, como diz Lutero, todos nós somos Onésimos. Mais adiante, no versículo 18, Paulo se prepõe a assumir todas as perdas que Onésimo tenha acarretado a Filemom, e assina a promissória pessoalmente.
Da mesma forma o Senhor Jesus Cristo tomou a dívida que tínhamos com Deus e cobrou o grande preço de resgate, nosso Débito por nós de Si mesmo, colocando a sua justiça em nossa conta. Temos diante de Deus (como um divino contador), nossas contas, e desta forma duas colunas a serem lançadas: os débitos e os créditos. Por fim, no versículo 19, ele relembra subtilmente ao seu amigo que lhe devia muito mais que uma insignificante quantia em dinheiro: sua vida espiritual. Não nos parece que o Senhor se dirige a nós em termos semelhantes? Com toda a certeza nós devemos-lhe a nossa vida! Com estas palavras o apóstolo nos deu um exemplo clássico da grande doutrina cristã da imputação.
A palavra “imputação” significa “debitar, atribuir responsabilidade” ou “lançar na conta de alguém”. É a transferência de virtudes, características, méritos ou penalidades para outrem, sem que esse tenha tido qualquer participação ativa no ato original. Paulo está mostrando o que Deus fez por nós em Cristo Jesus. Assim como o apóstolo assumiu a dívida de Onésimo, solicitando que Filemom – que tinha sido prejudicado – lançasse o débito na conta dele, Paulo. Do mesmo modo Jesus Cristo tomou a nossa dívida que tínhamos (Fm. 18, 19). Aquele que fora ofendido – Deus – e cobrou de Si mesmo o nosso débito, colocando Sua justiça em nossa conta.
3.     Deus pagou um débito que não era dEle.
Deus atribuiu a si mesmo a tarefa de equilibrar a nossa conta. Nós não podemos lidar com os nossos próprios pecados. “Quem pode perdoar pecados, senão Deus” (Mc. 2:7)? Jesus é “o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo. 1.29). Como Deus lida com o nosso débito? Deixa-o passar? Ele poderia tê-lo feito. Poderia ter queimado o extrato. Poderia ter ignorado o seu cheque sem fundos. Mas iria um Deus santo fazer isso? Poderia um Deus santo ter riscado seu nome do livro e varrido da face da Terra?
É com um amor eterno que Ele o ama. Nada pode separá-lo do amor de Deus. Então o que fez Ele? “Deus em Cristo estava reconciliando consigo o mundo, não lançando em conta os pecados dos homens. Deus tornou pecado por nós aquele que não tinha pecado, para que nele nos tornássemos justiça de Deus” (2 Co. 5.19, 21). Não perca o sentido do que aconteceu. Ele pegou sua demonstração de contas, escorrendo tinta vermelha e cheques ruins, e colocou o próprio nome em cima. Pegou o demonstrativo bancário dEle mesmo, com o registo de um milhão de depósitos, e nenhuma retirada, e pôs em cima o seu nome. Ele assumiu a sua dívida. Nós assumimos a fortuna dEle. E isso não é tudo. Ele ainda pagou por nós a pena. Jesus não apenas equilibrou-lhe a conta, como lhe pagou a pena. Ele tomou-lhe o lugar e pagou o preço por seu pecado. “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós” (G. l3:13). “Pois também Cristo sofreu pelos pecados uma vez por todas, o justo pelos injustos, para conduzir-nos a Deus. Ele foi morto no corpo, mas vivificado pelo Espírito” (1 Pe. 3:18). “Mas ele foi ferido pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados” (Is. 53:5). “Porque com uma só oblação aperfeiçoou para sempre os que são santificados” (Hb. 10:14). Nenhum sacrifício mais precisa de ser feito. Depósitos não são mais necessários. Tão perfeito foi o pagamento que Jesus usou um termo bancário para proclamar sua salvação. “Está consumado”! (Jo. 19:30).
Assim foi o amor de Jesus Cristo por nós ao morrer na cruz do Calvário. Por causa do pecado e da desobediência a Deus estávamos condenados a passar a eternidade longe do Senhor, porém Jesus, “agora, na consumação dos séculos, uma vez por todas se manifestou, para aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo” (Hb. 9:26). Jesus, além de pagar o preço pelos meus pecados, cancelar a nossa dívida, perdoar o nosso débito e purificar-nos, nos justificou diante de Deus. Quando nossa dívida foi paga fomos justificados. Recebemos esse benefício pela fé (Rm. 5:1). pagou o preço de nossa dívida e.
Em Isaías 53:5 está escrito que “... ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e esmagado por causa das nossas iniquidades. O castigo que nos trás a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados”.
Quando reconhecemos o nosso pecado e confiamos no sacrifício de Jesus, tornamo-nos livres. A alegria verdadeira volta a brotar em nossa vida, um horizonte de esperança se abre à nossa frente e a certeza de termos o nome escrito no Livro da Vida nos conduz à felicidade. “Nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Rm. 8:1)
O grande facto da imputação é que o pecado da humanidade foi imputado por Deus, o Pai, a Deus, o Filho. Foi feita uma transferência divina na qual lançou-se judicialmente na conta de Jesus Cristo aquilo que não lhe pertencia. “Certamente ele tomou sobre Si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre Si” (Is. 53:4).
Neste grande ato da imputação Deus está concedendo a quem se aproxima dEle através de Jesus Cristo, aquilo que não lhe pertence. O ato que creditou a justiça de Cristo à conta do pecador foi um dom da graça. Em Filipenses 3:8-9 o apóstolo Paulo fala desta grande dávida divina. “Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual, perdi todas as coisas, e as considero como refugo, para ganhar a Cristo, e ser achado nele, (atenção!) não tendo justiça própria, que procede da lei, senão a que vem pela fé em Cristo, a saber, a justiça que vem de Deus pela fé”.
4.     O novo relacionamento de Onésimo com Filemom.
Uma perda insignificante resultou num ganho imensurável. Para sempre. Permanentemente. O termo é reminiscência da provisão feita para a escravidão voluntária em Êxodo 21:6. Mas o relacionamento não devia mais ser encarado em termos de senhor e servo. Ser cristão é ser irmão dos outros crentes. E este é o factor determinante em todos os outros relacionamentos humanos, quer sejam na carne, isto é, no plano natural, quer no Senhor, isto é, no plano espiritual, na esfera da “nova geração”. Entretanto, os relacionamentos de ambos os planos devem ser desenvolvidos simultaneamente. Filemom era irmão e senhor; Onésimo era irmão e escravo. Tal relacionamento duplo fazia surgir problemas difíceis na igreja primitiva. E tais problemas ainda complicam relacionamento económico e social dos cristãos hoje em dia (I Tm. 6:2).
 Filemom e Onésimo iniciam um novo relacionamento: De irmãos em Cristo, lavados e redimidos pelo sangue de Cristo. Onésimo continuaria a servir a Filemom, não mais constrangido, por obrigação, mas por amor ao seu dono e pertencente àquele que o comprou por preço.
Agora somos reputados ‘amigos de Deus’: Vós sereis meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando. Já vos não chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer” (Jo. 15:14-15).
Somos também considerados filhos de Deus: “Porque não recebestes o espírito de escravidão, para outra vez estardes em temor, mas recebestes o Espírito de adoção de filhos, pelo qual clamamos: Aba, Pai. O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus. E, se nós somos filhos, somos logo herdeiros também, herdeiros de Deus, e co-herdeiros de Cristo: se é certo que com ele padecemos, para que também com ele sejamos glorificados” (Rm. 8:15-17).
Filemom, em forma tipológica representa Deus, Paulo, representa Jesus, que leva a palavra da salvação e paga o preço do pecado do escravo, Onésimo, representa o pecador, que através de seu pecado se afasta para um lugar distante, buscando liberdade, tornando a ser preso nas masmorras do pecado. Mas é resgatado através da Palavra pregada e volta a se reconciliar com o seu dono e a usufruir de todas as bênçãos que lhe cabe como servo do Rei, adotado como filho amado pela aliança de amor, comprado e redimido pelo sangue da cruz do calvário.
Não existe nenhum pecado, que não possa ser pago pelo “sangue” de Cristo, derramado na cruz. Esse foi o preço pago pelo próprio Deus por nós. É preciso que ao ouvir o Evangelho, creiamos nesse tão grande sacrifício, sejamos feitos filhos de Deus pelo arrependimento e sendo transformados, caminhemos em novidade de vida, servindo ao Senhor como novas criaturas.
Mas Deus prova o seu próprio amor para connosco pelo facto de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores. Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira” (Rm. 5:8, 9).
A epístola é uma expressão autêntica dos verdadeiros relacionamentos cristãos. Depois de agradecer pessoalmente a Filemom e seus companheiros crentes, Paulo expressa ação de graças por seu amor e fé em relação a Cristo e a seus companheiros crentes.
O amor fraternal normalmente exige graça e misericórdia práticas, e Paulo logo chega a esse tópico. Ele explica a conversão de Onésimo e o novo valor do escravo no ministério e família de Jesus Cristo (12-16). Essa transformação, junto com a profunda amizade de Paulo com os dois homens, é a base de um novo começo.
Não se trata de um apelo superficial de Paulo, pois ele preenche um “cheque em branco” em nome de Onésimo para quaisquer dívidas a pagar (vs 17-19). Ele faz a petição já sabendo que o amor e caráter de Filemom prevalecerão. Como ele conclui, as pessoas podem ver a unidade do Espírito entre todos os santos envolvidos.


A Bênção das Bênçãos



“Ora, disse o Senhor a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei; de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção”!  (Gn. 12:1-2)


Deus chamou Abrão para ser uma bênção em favor do mundo. Mas antes de ser uma bênção para todas as nações, ele precisaria ter sido abençoado por Deus. Primeiro Deus abençoa a pessoa com a sua bênção imerecida, depois essa pessoa abençoada se constitui numa bênção para os outros. Deus abençoa o homem com a sua graça incondicional e o homem abençoado se torna numa bênção para as outras pessoas.
Deus escolhe aqueles que ele mesmo quer, mediante a sua graça e os abençoa incondicionalmente para que eles sejam uma bênção para o maior número de pessoas neste mundo, segundo a sua própria vontade. Ninguém é uma bênção em si mesmo, mas se torna uma bênção pela operação de Deus em sua vida. Deus escolheu Abrão e o abençoou para que ele se tornasse uma bênção para a humanidade. Para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios, em Jesus Cristo, a fim de que recebêssemos, pela fé, o Espírito prometido (Gl. 3:14).
Jesus Cristo é a bênção de Deus para o mundo e a bênção de Abraão é a salvação eterna do homem mediante Jesus Cristo. Tudo o que Deus tem para a humanidade foi concedido através da pessoa de nosso Senhor Jesus Cristo. Nele nós somos abençoados com toda a espécie de bênçãos espirituais. “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo” (Ef. 1:3).
Dizer que Cristo é a bênção de Deus para o mundo é dizer que Ele, e só Ele, pode preencher o vazio do coração humano. Tudo o que Deus tem para as carências da humanidade foi doado plenamente na pessoa de Jesus Cristo. Ele é o suprimento abundante para a mais profunda deficiência do género adâmico. Ele é o único que consegue subir no monte santo, com mãos limpas e coração puro, a fim de se tornar na bênção e na justiça do Senhor em nossa vida. Este obterá do Senhor a bênção e a justiça do Deus da sua salvação (Sl. 24:5).
Deus nos abençoa em Cristo, com todo tipo de bênção, para que nós sejamos uma bênção, para todo o tipo de pessoa. Eu acredito que fomos abençoados, para poder abençoar aqueles que carecem da graça de Deus em suas vidas. Se formos uma bênção para os outros é porque fomos abençoados com a bênção de Deus em Cristo Jesus, que a todos enriquece abundantemente. Todas as pessoas abençoadas por Deus se tornam vasos de bênçãos para mais gente. A bênção do Senhor enriquece, e, com ela, ele não traz desgosto (Pv. 10:22).
Não há nenhuma bênção maior do que Cristo. Não há nenhuma riqueza maior do que a salvação em Cristo. Ele é o tesouro mais precioso que satisfaz completamente todas as necessidades do coração humano. Ele é a plenitude de Deus e nós temos a nossa plenitude nele. Porquanto, nele, habita, corporalmente, toda a plenitude da Divindade. Também, nele, estais aperfeiçoados (Cl. 2:9-10ª). A nossa plenitude espiritual procede da plenitude de Cristo em nós.
O rei Davi reconhecia que as contribuições que o seu povo oferecia para a obra de Deus eram expressões vivas das dádivas divinas na vida desse povo. Ninguém pode oferecer aquilo que não tem. E se o povo oferecia voluntariamente é porque tinha sido abençoado por Deus abundantemente. “Porque quem sou eu, e quem é o meu povo para que pudéssemos dar voluntariamente estas coisas? Porque tudo vem de ti, e das tuas mãos to damos” (1 Cr. 29:14).
Do ponto de vista bíblico tudo o que temos vem de Deus. Ninguém tem coisa alguma se não for dada pelo Criador do Universo. Tudo o que nós somos e tudo o que temos, excluindo o pecado, vem do céu, mesmo que não reconheçamos que é assim. “Respondeu João: O homem não pode receber coisa alguma se do céu não lhe for dada” (Jo. 3:27). Primeiro Deus nos abençoa com as bênçãos celestiais e depois ele nos torna uma expressão da graça para os demais.
Volto à questão: Deus só nos abençoa plenamente em Cristo. Nele nós somos aprovados incondicionalmente mediante a sua morte e ressurreição. Nele nós ganhamos a expiação dos pecados e o descativeiro da dúvida e incredulidade. Nele foi crucificado o nosso velho homem, e juntamente com Ele ganhamos uma nova identidade. “Porque, se fomos unidos com Ele na semelhança da sua morte, certamente, o seremos também na semelhança da sua ressurreição, sabendo isto: que foi crucificado com Ele o nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja destruído, e não sirvamos o pecado como escravos” (Rm. 6:5-6).
Na morte de Cristo encontramos o benefício da nossa morte para o pecado, e na sua ressurreição a dádiva da vida eterna que nos salva de todas as implicações da justa condenação. “Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus. Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte” (Rm. 8:1-2).
Deus nos abençoou inteiramente em Cristo para que sejamos uma bênção para o mundo. A vida de um cristão verdadeiro é uma oportunidade de favorecer os que sofrem: com a consolação para os que choram, com o ânimo para os abatidos, com o suprimento para os carentes, com o amor para os magoados. Deus nos abastece com a sua bênção para que possamos ministrá-la aos que carecem, sem jamais requerer o nosso reconhecimento pessoal nesse envolvimento.
Quem é abençoado por Deus é uma bênção que abençoa. O salvo quer que outros sejam salvos e por isso proclama o evangelho da salvação. Não há nem um salvo por Cristo sem interesse pela salvação dos outros pecadores. Todo aquele que foi alcançado pela graça de Deus quer ser um instrumento das bênçãos para os outros, seja através de sua pessoa ou de seus bens. Não existe uma pessoa salva pela graça que não se proponha a ser parte da solução dos problemas segundo a medida da graça em sua vida.
Aquele que é favorecido com os bens, quer ser um canal da beneficência no reino de Deus. Nunca ouvi falar que um filho de Deus abrisse falência pela prática da benevolência. Aquilo que guardamos, com frequência, acabamos perdendo. Mas aquilo que investimos no reino de Deus em benefício dos outros, transferimos para o banco eterno. “Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam; mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam, nem roubam; porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração” (Mt. 6:19-21).
Se ainda não somos bênçãos para os outros é porque ainda não conhecemos a grandeza da bênção de Deus em nossas vidas. Todo aquele que foi abençoado por Deus e reconhece a magnitude da graça, se torna numa fonte de bênçãos para os seus circunstantes. Quando somos abençoados por Deus, com a Bênção das bênçãos, nos tornamos sempre canais de bênçãos para as outras pessoas e nunca uma pedra de tropeço ou um abismo de maldições. Mesmo Balaão sabia disso: “Eis que para abençoar recebi ordem; ele abençoou, não o posso revogar” (Nm. 23:20).
Seja uma bênção e que o Senhor o abençoe.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

A ALIANÇA COM DAVI


“A tua casa e o teu reino serão firmados para sempre diante de ti; teu trono será estabelecido para sempre” (2 Sm. 7:16).
O contexto da aliança davídica é crucial para o entendimento das palavras ditas por Jesus: “o Reino de Deus está próximo” (ou, como diz o original, “ao alcance das mãos”). A aliança davídica é a aliança do reino. Inerente a esta aliança está a realidade fundamental do relacionamento com Deus. Esta passagem mostra como Davi responde às palavras de Deus (através do profeta Natã) em oração. Nós não conseguimos orar verdadeiramente sem nos relacionarmos com Deus. E a aliança serve como um laço formal através do qual o Reino de Deus vem para o seu povo. Embora o termo hebraico berith (frequentemente traduzido como aliança, pacto ou convenção) não apareça nesta passagem ou na passagem correspondente em 2 Samuel 7 não pode haver nenhuma dúvida de que uma aliança estava sendo estabelecida neste momento da história de Israel. Tal pacto estava baseado no relacionamento que Davi tinha com o seu Criador. No coração da aliança davídica está o “Princípio do Emanuel” – sabemos que nosso criador está connosco e é por nós em nossa jornada cristã, chamada vida.
A proposição principal da aliança com Abraão era a respeito da “descendência”, isto é, Cristo (Gl. 3:6). Esta aliança com Davi trata da linhagem do Messias. Jesus é o “filho de Davi” (Mt. 1:1), e o soberano que se assentaria no seu trono (Lc. 1:32, 33).
1.  A História Desta Aliança
Durante o tempo de Samuel, uma grande mudança ocorreu na história de Israel. Desde a morte de Josué, cerca de 1365 a.C, os juízes tinham governado em Israel. Estes foram ordenados por Deus, e muitas vezes agiram como líderes militares ou coordenadores em tempos de crise nacional. Mas não havia governo central para o povo de Israel. A nação de Israel ainda era uma confederação de 12 tribos. A participação em eventos nacionais dependia da cooperação de líderes tribais.
O povo de Israel se sentia descontente com o facto de ter Jeová como seu rei, pois desejava ter um rei humano, como as nações pagãs que o rodeavam (1 Sm. 8:5), e por isso pediu a Samuel que lhes desse um rei. Este ponto de viragem foi um dia triste. Isto em nada agradou ao Senhor, que ordenou ao profeta Samuel que os advertisse “solenemente” (1 Sm. 8:7-9). Deus viu isso como uma rejeição Dele e de Seu domínio sobre a nação (1 Sm. 8:7). Tragicamente, o povo de Israel pediu isso para que eles pudessem ser “como todas as nações” (1 Sm. 8:5). A deceção foi a de que Israel se tornou como as nações, mais do que apenas a sua escolha de domínio por um rei, Israel também seguiu os seus vizinhos no pecado. Assim, a história do reino de Israel foi uma batalha em curso contra a idolatria e falta de ser o povo santo de Deus.
Desde os tempos de Abraão, Israel havia sido uma teocracia, única entre todas as nações. “Feliz és tu, ó Israel! Quem é como tu? Povo salvo pelo Senhor, escudo que te socorre” (Dt. 33:29).
Entretanto, Deus terminou por acolher o desejo negativo de Israel de ter seu próprio governo e deixou-o seguir o seu caminho, indicando Saul para ser seu rei. Embora escolhido por Deus e ungido por Samuel, Saul não assumiu as pesadas responsabilidades de fazer de Israel um reino divino. Deus viu a desobediência de Saul como uma rejeição da Sua Palavra, que resultou na rejeição de Saul como rei por Deus (1 Sm. 15:26; 1 Cr. 10:13-14). De teocracia, uma nação governada por Deus, tornou-se numa monarquia, uma nação governada pelo homem. Seu reinado foi desastroso para a nação.
Mesmo quando Saul ainda reinava, Deus dirigiu Samuel para ungir o sucessor de Saul, um novo rei que não era filho de Saul (1 Sm. 16:1). A dinastia da casa de Saul durou apenas uma geração, cerca de 40 anos (veja Atos 13:21).
Embora pecaminoso em sua origem, a misericórdia divina fez desse reinado de Israel um meio de revelar novos aspetos de Seu propósito: natureza e extensão de Seu reino e exaltação do Messias.
Escolheu então para soberano do reino um homem que implicitamente obedeceria à Sua vontade - Davi.
Davi não tinha qualificações reais para ser rei. No entanto, ele tinha qualidades pessoais que enchiam uma sacola de credenciais extraordinárias que Deus desejava. Sua bravura foi um marco (1 Sm. 17). Davi se tornou um líder militar vitorioso ao serviço de Saul, tão bem sucedido que Saul ficou com ciúmes (18:6-9). David também era um músico talentoso (vs. 16:23), o autor de muitos salmos. Foi com ele, o novo Rei de Israel, que o Senhor fez esta aliança.
2.     A Aliança
Leia 2 Samuel 7:11-16.
A aliança de Deus com Davi é um tema importante no Antigo Testamento. Não só a linha davídica de reis continue a reinar em Jerusalém, sem interrupção por quase 400 anos, mas também os profetas de Israel começaram a revelar que um futuro rei viria a partir da linha de Davi para ser o redentor de Israel (compare Lc. 24:21).
Esta aliança foi estabelecida e garantida pelo próprio Deus. É um dom para toda a humanidade, sendo certo que a humanidade não merecia essas grandes promessas. Mas, Deus promete e garante a sua promessa.
Muito embora não se mencione neste texto a palavra “aliança”, nele vamos encontrar todos os elementos a ela necessários: contratantes, condições e promessa. Davi em 2 Samuel 23:5 o considerou como aliança: “Não está assim com Deus a minha casa? Pois estabeleceu comigo uma aliança eterna”.
Deus confirmou o facto em 2 Crónicas 7:17-18 na sua resposta à oração de Salomão, filho de Davi.
Nós servimos a um Deus que interage com o seu povo por meio de alianças. A aliança davídica é talvez a mais importante para os cristãos, pois ela representa a fidelidade de Deus com o seu povo por meio do presente que nos deu: seu Filho, Jesus Cristo, vindo para restabelecer o relacionamento do homem com Deus. O Pai tem uma paixão ardente por seu povo, representada poderosamente no presente de Cristo - o Messias prometido. Os cristãos veem essa aliança poderosamente cumprida. “Ele edificará uma casa ao meu nome, e eu estabelecerei para sempre o trono do seu reino” (7.13).
3.     Davi, O Rei
Davi, o filho mais novo de Jessé da real tribo de Judá, descendente direto de Rute, a moabita, era muito jovem quando Deus o escolheu para suceder a Saul, mesmo sendo o menor, aparentemente rejeitado, aos olhos dos homens. Contudo ele esperou que o Senhor cumprisse a Sua promessa, não fazendo nunca qualquer esforço para se autopromover, porque a chave era conhecer a Deus como sua bússola interna.
A primeira missão de Davi como rei foi a de estabelecer a paz em Israel. Derrotando os filisteus e outros inimigos ele humilha seus adversários. Mas logo se volta para coisas mais importantes, nas quais concentra os seus esforços: o lugar de adoração e a volta da arca da aliança para Jerusalém.
4.     Significado Espiritual Da Aliança
Três vezes é encontrada a expressão “para sempre” em 2 Samuel 7:11-16. Ela evidencia claramente que esta aliança vai além da posteridade natural de Davi, levando a concretização dos eternos propósitos de Deus.
Novamente queremos lembrar o quanto é errado interpretar estas promessas feitas aos patriarcas da antiga aliança num sentido estritamente literal e nacional.
Prova desses elementos espirituais é a sequência de acontecimentos: transferência do Reino para Salomão e depois para o seu filho Roboão, quando cessa o governo da família de Davi sobre Israel, devido à sua desobediência aos mandamentos e leis de Deus. “Para sempre” não equivale a três gerações. A promessa de Deus a Davi de “um reino eterno” aparentemente parecia quebrada. Mas não! O sentido era outro - não nacional, mas espiritual.
Em nosso futuro estudo a respeito do Reino de Deus, veremos que o reinado do nosso Senhor naquele reino e a concretização da promessa da aliança feita a Davi, incluindo a reedificação de Seu tabernáculo (At. 15:16).
O significado espiritual da “casa de Davi” era para ele muito claro, conforme podemos apreender lendo os Salmos. Dos Salmos messiânicos, os mais límpidos e minuciosos são o 2 e o 89. Todo o conteúdo, especialmente deste último, oferece uma exposição sobre a aliança davídica. Os primeiros quatro versículos afirmam que o cumprimento deste pacto está relacionado com o juramento de Deus (vs. 2b-4). A fidelidade e o poder de Deus, os quais tornaram possível a aliança, são o tema deste salmo. Estas virtudes, além da retidão e da justiça de Deus, bem como do seu amor leal, asseguram o cumprimento do pacto. No que diz respeito ao seu cumprimento definitivo, a aliança é graciosa e incondicional. Não há a menor dúvida de que estas passagens se referem à vinda do Rei dos Reis.
A promessa de um Redentor foi pela primeira vez anunciada em Géneses 3:15. Gerações se passaram, tendo o Senhor feito alianças com Adão, Noé, Abraão e Israel. Esta aliança com Davi é a última das antigas alianças - a mais próxima ao Redentor prometido. Por conseguinte não deve causar surpresa o facto de se tornar a revelação mais clara e definida. Em linguagem precisa, através desta aliança com Davi é profetizada a natureza do governo de Deus sobre os homens.
É possível que somente Isaías, numa brilhante visão do Messias, tenha visto mais claramente do que Davi a maneira como Deus Se revelaria em forma humana. Assim se expressou ele: “Para que se aumente o seu governo e venha a paz sem fim sobre o trono de Davi e sobre o seu reino, para o estabelecer e o firmar mediante o juízo e a justiça, desde agora e para sempre” (Is. 9:7).
5. Terreno Ou Celestial?
As muitas escolas de profecias são resultados de ideias preconcebidas sobre as alianças do Antigo Testamento. Alguns sentem que as promessas são estritamente nacionais: os judeus são ainda privilegiados entre todos os povos, o templo em Jerusalém será reconstruído quando se cumprir o tempo dos gentios, e Jesus irá, literalmente, assentar-se no trono de Davi.
Aqueles que sustentam este ponto de vista ignoram completamente o ensino de Jesus, que disse que o Seu reino não era deste mundo; que era um reino espiritual; e que falar sobre tronos ou sobre quem se sentaria à sua direita ou à sua esquerda era uma incompreensão total da Sua missão e do Seu destino divino.