Texto:
Filemom 1:1-25
A carta a Filemom é uma história de amor
fraternal, entre um escravo e um missionário Paulo, mas também fala da
restauração e o perdão de uma dissensão entre um escravo Onésimo e Filemom seu
dono.
È
uma linda história da capacidade do cristianismo em agregar, unir polos
opostos: escravo e livre, rico e pobre, negro e branco, analfabeto e culto; e
também da capacidade de romper barreiras crónicas, que para muitos é impossível
de serem removidas: de perdoar pecados remotos, de suprimir ressentimentos e
suplantar amarguras antigas.
Filemom, a partir do nome grego
pronunciado fil-ei-mone, ou seja, amigável, foi o destinatário da carta bíblica
do apóstolo Paulo, que foi escrita quando ele estava na prisão. A cela de Paulo
em Roma tornou-se um púlpito de onde o Evangelho se espalhou para multidões na
capital do Império Romano. Entre aqueles que foram transformados pelo Evangelho
estava Onésimo, um escravo fugitivo, que conhecera o apóstolo anteriormente,
quando Paulo visitou a casa de seu amo Filemom, cristão colossense, que parece
ter sido um homem de certa importância. Sua casa era bastante grande para nela
reunir-se uma igreja, bem como acomodar o apóstolo e seus companheiros de
viagem por ocasião de sua visita à cidade.
Onésimo tinha sido um escravo de Filemon,
mas tinha fugido de Colossos na Ásia Menor para Roma, por alguma razão
desconhecida, e ali se convertera pelo ministério de Paulo – “que gerei entre
algemas”. Talvez tenha até mesmo roubado de seu amo para fazer a viagem, conforme
se dá a entender na própria carta (Cl. 4:9; Fm. 18). Onésimo tornou-se
associado de Paulo em Roma e logo se tornou cristão, tornando-se assim filho
espiritual do apóstolo (Fm. 10). Em grande contraste com sua anterior
inutilidade a Filemon como escravo, ele tornou-se então utilíssimo a Paulo como
ministro, um “fiel e amado irmão”, a quem Paulo chama de “as minhas próprias
ternas afeições”, ou o meu próprio coração (Cl. 4:9; Fm. 11, 12).
No entanto, o status de Onésimo era o
mais baixo que alguém poderia ter no mundo antigo, ele não era protegido por
nenhuma lei e estava sujeito a todo tipo de abuso. Pelo facto dele ser um
escravo fugido, a estrutura social daqueles dias obrigava Paulo a mandá-lo
retornar a seu amo, embora com relutância da parte de Paulo, em virtude de quão
bom companheiro Onésimo se tornara, e quão útil ele se demonstrou ser para o
apóstolo. Contudo, ele não tinha meios de obrigar Onésimo a retornar, de modo
que isso dependia e resultaria da própria disposição de Onésimo de retornar. Os
escravos fugidos normalmente iam para as grandes cidades, partes remotas do
estado de Roma, e para áreas desabitadas. A essa altura, a captura deles e a
sua volta era normalmente um arranjo informal entre o proprietário e o
administrador provincial. Eles eram frequentemente espancados sem misericórdia
ou colocados para realizar tarefas que diminuiria suas expectativas de vida.
1.
Um apelo em
favor de um escravo.
“Paulo,
prisioneiro de Cristo Jesus, e o irmão Timóteo, ao amado Filémon, nosso
companheiro de trabalho, e à nossa irmã Áfia, e a Arquipo, nosso companheiro de
lutas, e à igreja que está em tua casa: Graças a vós, e paz da parte de Deus
nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo. Sempre dou graças ao meu Deus,
lembrando-me de ti nas minhas orações, ao ouvir falar do amor e da fé que tens
para com o Senhor Jesus e para com todos os santos; para que a comunicação da
tua fé se torne eficaz, no pleno conhecimento de todo o bem que em nós há para
com Cristo. Pois tive grande gozo e consolação no teu amor, porque por ti,
irmão, os corações dos santos têm sido reanimados. Pelo que, embora tenha em
Cristo plena liberdade para te mandar o que convém, todavia prefiro rogar-te
por esse teu amor, sendo eu como sou, Paulo o velho, e agora até prisioneiro de
Cristo Jesus, sim, rogo-te por meu filho Onésimo, que gerei nas minhas prisões;
o qual outrora te foi inútil, mas agora a ti e a mim é muito útil; eu to torno
a enviar, a ele que é o meu próprio coração. Eu bem quisera retê-lo comigo,
para que em teu nome me servisse nas prisões do evangelho; mas sem o teu
consentimento nada quis fazer, para que o teu benefício não fosse como por
força, mas, sim, voluntário” (Fm. 1-14).
Paulo escreveu esta carta em favor de
Onésimo, escravo de Filemom, que, depois de fugir do seu senhor, converteu-se sob
o ministério de Paulo. No verso 10, a seguir aos cumprimentos, Paulo, dirige-se
a Filémon de irmão para irmão, indicando a razão pela qual a escreveu. Ele diz:
“… embora pudesse ser muito ousado em
Cristo para mandar o que é justo, mas por amor eu prefiro apelar a ti”. Ele
teria a capacidade de ordenar mas não o fez. Em vez disso, Paulo evita invocar
sua autoridade apostólica para ordenar Filemom a fazer o que convém, isto é, a
coisa certa. Antes, ele apela, implora, faz um pedido, por Onésimo, para o seu
amigo em nome do amor, como alguém que tem direito de ser ouvido: ele é Paulo, “um
embaixador” e agora um prisioneiro de Jesus Cristo. Paulo não exercia
autoridade como um superior sobre seus súbditos. Nem manipulou. Sim ele tinha a
autoridade para mandar, mas se ele a utilizasse não seria em nome do amor e é o
Amor que importa. O que ele faz, por amor, porque é o amor que importa, é
apelar – em vez de comandar, exigir ou manipular.
Se o apóstolo está fazendo distinção
entre a autoridade apostólica e o tipo de autoridade exercida pelos outros
líderes cristãos não o sabemos com certeza. Em qualquer dos casos, ele dá o exemplo
de como a verdadeira liderança cristã pode funcionar de maneira mais eficiente.
A seguir ele diz uma outra coisa: Estou
a mandá-lo (Onésimo) regressar. Recebe-o pois, isto é do coração, que desejaria
mantê-lo comigo, para que em teu nome ele pudesse servir-me nas prisões do
evangelho. Paulo se refere ao seu convertido dizendo tê-lo gerado. Embora fosse
escravo numa família cristã, presumivelmente Onésimo não abraçou a fé cristã até
que fugiu e se colocou sob a influência de Paulo.
Paulo podia ter mantido Onésimo na
prisão e ter enviado uma carta a Filemom ordenando que recebesse de volta o seu
escravo. Ou podia ter-lhe dito para esquecer o Onésimo porque ele, Paulo,
precisava dele. Paulo não fez nada disso. Antes mandou Onésimo voltar para Filemom
apelando a que ele recebesse de volta o escravo fugitivo, exortando-o a
perdoar, aceitando-o como um irmão em Cristo, e para isso, providenciou que
Tíquico o acompanhasse e que os dois levassem uma carta e um relatório a
Colossos (Cl. 4:7-9).
Paulo continua no seu apelo por Onésimo,
dizendo a Filémon que, embora ele o tivesse deixado, sendo apenas escravo,
agora volta como algo mais, assegurando-o do bom desempenho de Onésimo no
ministério cristão e de sua nova personalidade, e na qual suplicava que o
reencontro fosse mais o de dois cristãos do que o de um escravo e seu amo.
Fazendo voltar o escravo que, depois de
fugir, tornou-se cristão e servo de Paulo, e que foi de considerável ajuda a
Paulo em suas algemas... por causa do evangelho, o apóstolo se quisesse
continuar fazendo uso dos seus préstimos – certamente que Filemom teria alegremente
aprovado. Mas Paulo, sendo sensível à ética da situação, recusou-se a tomar
liberdades com a estima de Filemom. Ele queria que seu amigo agisse segundo o
seu próprio consentimento e voluntariamente, sem se sentir forçado ou acuado. O
apóstolo não só nos instruiu em relação aos princípios que regem o
relacionamento entre os irmãos cristãos, como faz-nos lembrar também que estes
princípios não devem ser “por força, mas
voluntários” (Fm. 14).
Em Cristo há uma estrutura de referência
completamente diferente que transforma todos os relacionamentos terrestres; a
fraternidade é o ponto central sobre o qual todos os outros relacionamentos
devem ser avaliados. Paulo não faz polémica contra a escravidão, mas no
decorrer dos séculos, a fé cristã chegou a compreender que a prática da
escravidão é incompatível com os princípios aqui enunciados por Paulo.
2.
Ser recebido
como um irmão.
“Porque bem pode
ser que ele se tenha separado de ti por algum tempo, para que o recobrasses
para sempre, não já como escravo, antes mais do que escravo, como irmão amado,
particularmente de mim, e quanto mais de ti, tanto na carne como também no
Senhor. Assim pois, se me tens por companheiro, recebe-o como a mim mesmo. E,
se te fez algum dano, ou te deve alguma coisa, lança-o minha conta. Eu, Paulo,
de meu próprio punho o escrevo, eu o pagarei, para não te dizer que ainda a ti
mesmo a mim te deves. Sim, irmão, eu quisera regozijar-me de ti no Senhor;
reanima o meu coração em Cristo. Escrevo-te confiado na tua obediência, sabendo
que farás ainda mais do que peço. E ao mesmo tempo, prepara-me também pousada,
pois espero que pelas vossas orações hei-de ser concedido. Saúda-te Epafras,
meu companheiro de prisão em Cristo Jesus, assim como Marcos, Aristarco, Demas
e Lucas, meus cooperadores. A graça do Senhor Jesus Cristo seja com o vosso
espírito. Amém” (Fm. 15-25)
Paulo mandou de volta ao seu mestre Filemom,
o escravo Onésimo que tinha fugido dele. Onésimo conheceu Paulo e tornou-se um
crente muito útil para Paulo, ministrando lhe nas “prisões do evangelho”. Mesmo
assim Paulo nunca pensou que isto lhe daria o direito de fazer algo diferente
do que seria o certo. Imagino que hoje muitos Cristãos reagissem de modo diferente
do que Paulo fez. Muitos diriam ter (ou tentariam ter) uma revelação divina
para obrigar Filemom a fazer o que eles queriam que ele fizesse. Na próxima vez
que alguém o pressionar fazendo-o sentir-se condenado se não fizer o que ele quer,
por favor leia Filemom! Paulo sabia que não era necessário uma revelação divina
para resolver este caso mas senso comum conjugado com honestidade e verdade.
“Onésimo
volta como um querido irmão no Senhor, não como escravo, mas por cima de
escravo como irmão amado especialmente para mim, quanto mais para ti tanto na
carne como no espírito e no Senhor” (16). Pense Filemom que tudo poderia ter
sido um ato da Providência que afastou um escravo e entregou um irmão, irmão
tanto para Paulo como para Onésimo, que pela utilidade e a companhia próxima
pode ser considerado carnal, para não falar do espírito que a todos impulsava e
unia no Senhor.
Mas é possível que Onésimo devesse
dinheiro a Filemom quando fugiu. O que vai ser desta dívida? Paulo reconhecia
que a dívida feita por Onésimo devia ser paga antes de haver qualquer
possibilidade de restauração. Porém, o escravo, nada possuía com que saldar o
seu débito, assim, ao escrever a carta, o apóstolo Paulo, solicitava que
qualquer dívida pendente de Onésimo para com Filemom fosse debitada na sua
própria conta. “Se, portanto, me
consideras companheiro, recebe-o, como se fosse a mim mesmo. E se algum dano te
fez, ou se te deve alguma coisa, lança tudo em minha conta” (vs. 17-18).
Paulo não ordena a Filemom que “as
apague” ou que “as esqueça” porque: “sabe que são agora irmãos!” O que Paulo
diz a Filémon não são ordens mas sim apelos. E relativamente às dívidas, é o
que ele diz: “…se ele te deve alguma
coisa, põe isso na minha conta, eu pagar-te-ei”. Isto é amor entre irmãos.
Não seria amor fraternal de obrigar o Filemom a esquecer as dívidas que o seu
velho escravo lhe devia. Mas é amor de dizer como fez o apóstolo Paulo: “ ..irmão recebe-o novamente. Eu tomo conta das
suas dívidas. Eu pagar-te-ei. Não te preocupes com isso”. Isto é amor
fraternal. Paulo diz-lhe que ele mesmo lhe deve. Filemom encontrou a fé através
do trabalho de Paulo. Mas ele não se refere a isto para não exercer pressão
sobre ele. É uma verdade mas não a vai usar para resolver assuntos materiais.
Ao terminar o seu apelo ele diz: “…Tendo
confiança na tua obediência, escrevo-te, sabendo que tu farás mais do que eu
digo”. Paulo sabia que Filemom era um verdadeiro irmão em Cristo. No início
da carta chama-o “querido irmão trabalhador”, e que ouviu do seu amor e da sua
fé para com o Senhor Jesus Cristo e com todos os santos. Paulo e Filemon não
eram estranhos. Eles conheciam-se. O apelo do Paulo não se dirigiu a um
estranho mas a um irmão querido e um trabalhador conhecido pela sua fé. Foi um
apelo de um irmão de Fé a outro irmão de Fé. E Paulo tem a confiança que Filemom
não só vai honrar o seu pedido mas vai fazer muito mais do que isso.
Paulo deve ter colocado Filemom numa
posição precária de facto. Ao suplicar pelo perdão e a restituição de Onésimo
sem punição isso era óbvio para todos, ele estava confrontando a ordem social e
económica estabelecida. Enquanto que ele não pede por sua alforria, até mesmo o
seu pedido de clemência por Onésimo e sua designação para Paulo põe abaixo a
tradição Romana. Por sua súplica Paulo está também concedendo nova dignidade à classe
dos escravos.
Paulo é um prisioneiro, ele não pode
fazer as coisas que um homem livre poderia fazer para ajudar um escravo. Ele
não pode fazer nada mais do que escrever uma carta pedindo clemência por seu
recém-achado irmão e apenas pode sugerir que ele espere pela sua visita que
seria breve para acrescentar peso ao seu pedido a Filemon. Debaixo de
circunstancias normais, um homem livre poderia assumir a custódia de um escravo
fugido depois dele ter dado garantia de seu retorno aos oficiais público, e ele
poderia dizer que o escravo lhe fora concedido por um tempo. Isso não era
incomum.
Paulo
estava ciente de tudo isso, o que pode explicar por que ele se ofereceu para
pagar qualquer dívida de Onésimo (v. 18). Isto faria com que a sua ideia
revolucionária para perdoar o escravo fugido fosse mais fácil para Filemom de
engolir, ele poderia ter Onésimo de volta sem perda real e até mesmo dizer que
ele não havia cometido nenhum tabu porque outro pagou para o seu retorno. No
entanto, a vontade de Paulo para tornar-se o responsável por qualquer custo a
Filemom não foi a principal razão para que ele se reconcilie com Onésimo. Em
vez disso, o relacionamento de Filemom com o apóstolo foi para movê-lo a fazer
o que era inédito na época. Se Paulo era verdadeiramente o seu parceiro e
amigo, ele tomaria Onésimo de volta (v. 17). Em essência, o apóstolo estava
chamando Filemom para praticar a comunhão com ele, alegou Paulo. Ele tinha que
confiar na palavra do apóstolo, que Onésimo era um novo homem, e recebê-lo de
volta. Se ele realmente conhecia e amava Paulo, então ele seria capaz de agir
sobre as palavras do apóstolo.
Os apelos do apóstolo Paulo em favor da
restauração de Onésimo à sua antiga posição de confiança na casa de Filemom são
muito tocantes. Ele sugere, em primeiro lugar, que pode ter havido um propósito
divino em tudo aquilo, e que Deus permitira a fuga como um passo para a
renovação plena da natureza do escravo. Como Filemom e Onésimo eram dois
cristãos, seu relacionamento deveria sofrer uma transformação. “Na carne,
Filemom tem um escravo que é irmão; no Senhor, Filemom tem um irmão que é
escravo”. Então, no versículo 17 Paulo se identifica com Onésimo, e somos
levados lembrar do Senhor se identificando connosco, porque, como diz Lutero,
todos nós somos Onésimos. Mais adiante, no versículo 18, Paulo se prepõe a
assumir todas as perdas que Onésimo tenha acarretado a Filemom, e assina a
promissória pessoalmente.
Da mesma forma o Senhor Jesus Cristo
tomou a dívida que tínhamos com Deus e cobrou o grande preço de resgate, nosso
Débito por nós de Si mesmo, colocando a sua justiça em nossa conta. Temos
diante de Deus (como um divino contador), nossas contas, e desta forma duas
colunas a serem lançadas: os débitos e os créditos. Por fim, no versículo 19,
ele relembra subtilmente ao seu amigo que lhe devia muito mais que uma
insignificante quantia em dinheiro: sua vida espiritual. Não nos parece que o
Senhor se dirige a nós em termos semelhantes? Com toda a certeza nós
devemos-lhe a nossa vida! Com estas palavras o apóstolo nos deu um exemplo
clássico da grande doutrina cristã da imputação.
A palavra “imputação” significa
“debitar, atribuir responsabilidade” ou “lançar na conta de alguém”. É a transferência
de virtudes, características, méritos ou penalidades para outrem, sem que esse
tenha tido qualquer participação ativa no ato original. Paulo está
mostrando o que Deus fez por nós em Cristo Jesus. Assim como o apóstolo assumiu
a dívida de Onésimo, solicitando que Filemom – que tinha sido prejudicado –
lançasse o débito na conta dele, Paulo. Do mesmo modo Jesus Cristo tomou a
nossa dívida que tínhamos (Fm. 18, 19). Aquele que fora ofendido – Deus – e
cobrou de Si mesmo o nosso débito, colocando Sua justiça em nossa conta.
3.
Deus pagou um débito
que não era dEle.
Deus atribuiu a si mesmo a tarefa de
equilibrar a nossa conta. Nós não podemos lidar com os nossos próprios pecados.
“Quem pode perdoar pecados, senão Deus”
(Mc. 2:7)? Jesus é “o Cordeiro de Deus,
que tira o pecado do mundo” (Jo. 1.29). Como Deus lida com o nosso débito?
Deixa-o passar? Ele poderia tê-lo feito. Poderia ter queimado o extrato.
Poderia ter ignorado o seu cheque sem fundos. Mas iria um Deus santo fazer
isso? Poderia um Deus santo ter riscado seu nome do livro e varrido da face da
Terra?
É com um amor eterno que Ele o ama. Nada
pode separá-lo do amor de Deus. Então o que fez Ele? “Deus em Cristo estava reconciliando consigo o mundo, não lançando em
conta os pecados dos homens. Deus tornou pecado por nós aquele que não tinha
pecado, para que nele nos tornássemos justiça de Deus” (2 Co. 5.19, 21). Não
perca o sentido do que aconteceu. Ele pegou sua demonstração de contas,
escorrendo tinta vermelha e cheques ruins, e colocou o próprio nome em cima.
Pegou o demonstrativo bancário dEle mesmo, com o registo de um milhão de depósitos,
e nenhuma retirada, e pôs em cima o seu nome. Ele assumiu a sua dívida. Nós
assumimos a fortuna dEle. E isso não é tudo. Ele ainda pagou por nós a pena. Jesus
não apenas equilibrou-lhe a conta, como lhe pagou a pena. Ele tomou-lhe o lugar
e pagou o preço por seu pecado. “Cristo
nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós” (G. l3:13). “Pois também Cristo sofreu pelos pecados uma
vez por todas, o justo pelos injustos, para conduzir-nos a Deus. Ele foi morto
no corpo, mas vivificado pelo Espírito” (1 Pe. 3:18). “Mas ele foi ferido pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades;
o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos
sarados” (Is. 53:5). “Porque com uma
só oblação aperfeiçoou para sempre os que são santificados” (Hb. 10:14).
Nenhum sacrifício mais precisa de ser feito. Depósitos não são mais
necessários. Tão perfeito foi o pagamento que Jesus usou um termo bancário para
proclamar sua salvação. “Está consumado”!
(Jo. 19:30).
Assim foi o amor de Jesus Cristo por nós
ao morrer na cruz do Calvário. Por causa do pecado e da desobediência a Deus
estávamos condenados a passar a eternidade longe do Senhor, porém Jesus, “agora, na consumação dos séculos, uma vez
por todas se manifestou, para aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo”
(Hb. 9:26). Jesus, além de pagar o preço pelos meus pecados, cancelar a nossa
dívida, perdoar o nosso débito e purificar-nos, nos justificou diante de Deus.
Quando nossa dívida foi paga fomos justificados. Recebemos esse benefício pela
fé (Rm. 5:1). pagou o preço de nossa dívida e.
Em Isaías 53:5 está escrito que “... ele foi ferido por causa das nossas
transgressões, e esmagado por causa das nossas iniquidades. O castigo que nos trás
a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados”.
Quando reconhecemos o nosso pecado e
confiamos no sacrifício de Jesus, tornamo-nos livres. A alegria verdadeira
volta a brotar em nossa vida, um horizonte de esperança se abre à nossa frente
e a certeza de termos o nome escrito no Livro da Vida nos conduz à felicidade.
“Nenhuma condenação há para os que estão
em Cristo Jesus” (Rm. 8:1)
O grande facto da imputação é que o
pecado da humanidade foi imputado por Deus, o Pai, a Deus, o Filho. Foi feita
uma transferência divina na qual lançou-se judicialmente na conta de Jesus Cristo
aquilo que não lhe pertencia. “Certamente
ele tomou sobre Si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre Si”
(Is. 53:4).
Neste grande ato da imputação Deus está
concedendo a quem se aproxima dEle através de Jesus Cristo, aquilo que não lhe
pertence. O ato que creditou a justiça de Cristo à conta do pecador foi um dom
da graça. Em Filipenses 3:8-9 o apóstolo Paulo fala desta grande dávida divina.
“Sim, deveras considero tudo como perda,
por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor
do qual, perdi todas as coisas, e as considero como refugo, para ganhar a
Cristo, e ser achado nele, (atenção!) não tendo justiça própria, que procede da
lei, senão a que vem pela fé em Cristo, a saber, a justiça que vem de Deus pela
fé”.
4.
O novo relacionamento
de Onésimo com Filemom.
Uma perda insignificante resultou num
ganho imensurável. Para sempre. Permanentemente. O termo é reminiscência da
provisão feita para a escravidão voluntária em Êxodo 21:6. Mas o relacionamento
não devia mais ser encarado em termos de senhor e servo. Ser cristão é ser irmão
dos outros crentes. E este é o factor determinante em todos os outros
relacionamentos humanos, quer sejam na carne, isto é, no plano natural, quer no
Senhor, isto é, no plano espiritual, na esfera da “nova geração”. Entretanto,
os relacionamentos de ambos os planos devem ser desenvolvidos simultaneamente.
Filemom era irmão e senhor; Onésimo era irmão e escravo. Tal relacionamento duplo
fazia surgir problemas difíceis na igreja primitiva. E tais problemas ainda
complicam relacionamento económico e social dos cristãos hoje em dia (I Tm. 6:2).
Filemom e Onésimo iniciam um novo
relacionamento: De irmãos em Cristo, lavados e redimidos pelo sangue de Cristo.
Onésimo continuaria a servir a Filemom, não mais constrangido, por obrigação,
mas por amor ao seu dono e pertencente àquele que o comprou por preço.
Agora somos reputados ‘amigos de Deus’:
Vós sereis meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando. Já vos não chamarei
servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado
amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer” (Jo. 15:14-15).
Somos também considerados filhos de
Deus: “Porque não recebestes o espírito
de escravidão, para outra vez estardes em temor, mas recebestes o Espírito de
adoção de filhos, pelo qual clamamos: Aba, Pai. O mesmo Espírito testifica com
o nosso espírito que somos filhos de Deus. E, se nós somos filhos, somos logo
herdeiros também, herdeiros de Deus, e co-herdeiros de Cristo: se é certo que
com ele padecemos, para que também com ele sejamos glorificados” (Rm.
8:15-17).
Filemom, em forma tipológica representa
Deus, Paulo, representa Jesus, que leva a palavra da salvação e paga o preço do
pecado do escravo, Onésimo, representa o pecador, que através de seu pecado se
afasta para um lugar distante, buscando liberdade, tornando a ser preso nas
masmorras do pecado. Mas é resgatado através da Palavra pregada e volta a se
reconciliar com o seu dono e a usufruir de todas as bênçãos que lhe cabe como
servo do Rei, adotado como filho amado pela aliança de amor, comprado e
redimido pelo sangue da cruz do calvário.
Não existe nenhum pecado, que não possa
ser pago pelo “sangue” de Cristo, derramado na cruz. Esse foi o preço pago pelo
próprio Deus por nós. É preciso que ao ouvir o Evangelho, creiamos nesse tão grande
sacrifício, sejamos feitos filhos de Deus pelo arrependimento e sendo
transformados, caminhemos em novidade de vida, servindo ao Senhor como novas
criaturas.
“Mas
Deus prova o seu próprio amor para connosco pelo facto de ter Cristo morrido
por nós, sendo nós ainda pecadores. Logo, muito mais agora, sendo justificados
pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira” (Rm. 5:8, 9).
A epístola é uma expressão autêntica dos
verdadeiros relacionamentos cristãos. Depois de agradecer pessoalmente a
Filemom e seus companheiros crentes, Paulo expressa ação de graças por seu amor
e fé em relação a Cristo e a seus companheiros crentes.
O amor fraternal normalmente exige graça
e misericórdia práticas, e Paulo logo chega a esse tópico. Ele explica a
conversão de Onésimo e o novo valor do escravo no ministério e família de Jesus
Cristo (12-16). Essa transformação, junto com a profunda amizade de Paulo com
os dois homens, é a base de um novo começo.
Não se trata de um apelo superficial de
Paulo, pois ele preenche um “cheque em branco” em nome de Onésimo para
quaisquer dívidas a pagar (vs 17-19). Ele faz a petição já sabendo que o amor e
caráter de Filemom prevalecerão. Como ele conclui, as pessoas podem ver a
unidade do Espírito entre todos os santos envolvidos.