A realidade em
que vivemos parece ser determinada por dois princípios opostos, o que é
conhecido como dualidade. Uma das virtudes mais importantes no homem de Deus é
o equilíbrio, tanto no ministério quanto na família, nos gastos pessoais, na
alimentação e em todos os setores da sua vida.
Toda a matéria
criada por Deus tem o seu próprio equilíbrio. O Sol, a Terra e os demais
planetas, as estrelas e o que nelas há seguem uma ordem natural equilibrada.
Quando o homem é
de Deus, é equilibrado, temperante e nunca dado ao exagero. Sabe medir as
coisas, não sendo tendencioso nem para um lado nem para o outro, pois sendo de
Deus, sabe evitar os extremismos ou a posição radical. Nem de mais e nem de
menos: tudo na medida certa. Isto é de extrema importância, não somente para
ele, mas sobretudo para a obra que realiza para Deus, pois quantos homens
outrora eram de Deus e se perderam totalmente, por causa da insensata posição
radical?
Nem mesmo na
nossa própria justiça devemos ser extremos, pois a Bíblia aconselha: “Não sejas demasiadamente justo, nem
exageradamente sábio; por que te destruirias a ti mesmo” (Ec. 7:16)?
O equilíbrio
verdadeiro, portanto, não está em permitir que os opostos assumam
aleatoriamente ou moderadamente o domínio de nosso corpo, de nossas emoções e
de nossos princípios, como se fossem equivalentes, mas em saber que existe
apenas um polo que está vinculado à vida e à verdade e que seu oposto
necessariamente conduz ao engano e à morte.
No caso das
coisas materiais, o equilíbrio não está num esotérico Caminho do Meio, acima do
bem e do mal, e nem na moderação, mas na maximização do bem ou daquilo que é
bom, daquilo que é necessário, e na eliminação do mal, daquilo que é
prejudicial, conforme os mandamentos de Deus. Toda a atividade deve ser
maximizada ou minimizada em quantidade e qualidade necessárias. Todo e qualquer
vício deve ser obviamente eliminado ou minimizado, dado o seu caráter
prejudicial, conforme a capacidade de cada um.
Saber encontrar
o equilíbrio verdadeiro é portanto uma virtude que advém da sabedoria. Esta
sabedoria entretanto não consiste da sabedoria humana, como criam os filósofos
pagãos, mas na sabedoria de Deus. A prudência, o bom senso e a modéstia são sem
dúvida virtudes a serem cultivadas, mas não segundo um referencial filosófico
humano apenas, que é falho e transitório, mas segundo o referencial absoluto da
Palavra de Deus.
Deus nos deu a
Sua Palavra de sabedoria e inteligência para que julguemos todas as coisas e
retenhamos o bem; além do mais, o Seu Santo Espírito tem falado aos nossos
corações. Se não temos ouvidos para ouvi-Lo, ou se ouvimos e não damos atenção
à Sua direção, isto é outra coisa!
A verdade é que
a temperança ou o equilíbrio em tudo o que fazemos é bom e profundamente necessário.
A própria Igreja do Senhor Jesus está assentada sobre o equilíbrio dos frutos e
dos dons, ou do amor e da fé.
A Igreja, como
um corpo, caminha sobre estas duas pernas: os frutos e os dons. Os frutos
simbolizando o amor, e os dons simbolizando a fé; a fé para conquistar e os
frutos para edificar.
A igreja que não
está equilibrada nestes dois pilares vai mal. Não se pode enfatizar o amor e
deixar a fé em segundo plano, pois está escrito: “Não havendo profecia, o povo se corrompe...” (Pv. 29:18).
A profecia aqui
está simbolizando os dons. Por outro lado, não se pode igualmente enfatizar só
a fé, porque também está escrito: “...ainda
que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada
serei” (1 Co. 13:2). Portanto, a Igreja do Senhor Jesus tem de andar sobre
estas duas pernas; do contrário, jamais poderá se desenvolver em todo o mundo.
Normalmente, uma
congregação começa desenvolvendo a fé. Porém, depois que há um certo número de
convertidos, deixa de lado a fé e inicia o trabalho de doutrina, pelo ensino
dos frutos. A verdade é que se começou com a fé tem que continuar com ela, e
nunca retroceder. Ao trabalho da fé deve-se somar o trabalho dos frutos. Um
passo com a fé, outro passo com os frutos; mais um passo com a fé e em seguida
outro passo com os frutos. É assim que a Igreja se desenvolve gloriosamente!
Devemos sempre
buscar fazer o bem, fazer o melhor e vencer, embora saibamos que nem sempre
estas atitudes positivas vão prevalecer em nossas vidas, e aceitar isto sem nos
culparmos ou nos condenarmos, mas confessando sempre diante de Deus nossas
eventuais falhas, para que nossa consciência esteja sempre limpa segundo a sua
justiça e a sua graça. Não nos conformemos com o caminho do meio, com a
mediocridade do mundo, mas reconheçamos que fomos chamados para sermos filhos
de Deus, para herdar toda a sua riqueza e plenitude e conhecer a sua glória e
bem-aventurança eternas!
1.
O Equilíbrio
Entre a Graça e a Verdade
Na história da
Igreja tem sido difícil estabelecer o equilíbrio entre a graça e a verdade.
Jonas errou ao basear-se apenas na verdade, decidindo que os ninivitas não
mereciam nada mais do que a justiça de Deus. Mas o Senhor demonstrou não ser
apenas um Deus da verdade e da justiça, mas também da graça e da compaixão,
sempre pronto a perdoar e a receber em seus braços o pecador. Sendo assim,
podemos afirmar que a graça que ignora a verdade não é graça, e a verdade
isolada da graça almeja um alvo inatingível, que é a perfeição.
A graça é o
coração da verdade. Ela é o nosso referencial, nossa segurança, nossa
estabilidade. Mas a verdade e a graça não podem ser separadas pois ambas se
completam (Jaime
Warren Kemp).
Há somente um
homem que andou por esta terra possuindo um perfeito equilíbrio entre a graça e
a verdade. Este homem (Jesus) foi grande em mostrar a graça e proclamar a
verdade ao mesmo tempo. Ele foi capaz de equilibrar perfeitamente esses dois
conceitos aparentemente contraditórios. João, falando do Senhor Jesus, diz que
ele era “cheio de graça e de verdade”
(Jo. 1:14). Logo na frase seguinte, sem tomar fôlego, o autor nos diz que “a lei foi dada por intermédio de Moisés; a
graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo” (Jo. 1:17)
Diretamente
depois de proclamar que Jesus era “cheio
de graça e de verdade”, o apóstolo João escreve então acerca de duas
histórias muito diferentes em João 2.
a) A primeira é no terceiro dia de um casamento
em Canaã da Galileia.
Tanto a mãe de
Jesus, como Jesus e seus discípulos haviam sido convidados para um casamento em
Canaã da Galileia. “Quando o vinho acabou,
como sempre ocorre com o que é terreno e humano, de maneira a dar lugar ao que
é divino, a mãe de Jesus lhe disse: Eles não têm mais vinho. Mas Jesus lhe
disse: Mulher, que tenho eu contigo? Ainda não chegada a minha hora. Deus é
sempre ponderado e espera a hora exata para a sua intervenção. Então Sua mãe
disse aos serventes Fazei o que Ele vos disser. Estavam ali seis talhas de
pedra que os judeus usavam para as purificações, e cada uma levava 20 a 30
litros. Jesus lhes disse: Enchei as talhas de água, e eles as encheram
totalmente. Então, lhes determinou: Tirai agora e levai ao mestre-sala. Eles o
fizeram. Tendo mestre-sala provado a água transformada em vinho, não sabendo
donde viera, se bem o sabiam os serventes que haviam tirado a água, chamou o
noivo e lhe disse: Todos costumam pôr primeiro o bom vinho e, quando já beberam
fartamente, servem o inferior; tu, porém, guardaste o bom vinho até agora. Com
este deu Jesus princípio a seus sinais miraculosos, em Canaã da Galileia.
Assim, manifestou a sua glória e os seus discípulos creram nele” (Jo.
2:1-11)
Esta história é
uma grande ilustração da graça que Jesus expressou de nada mais do que reflexão
e bondade. Ele, obviamente, não fez isso para chamar a atenção para si ou até
mesmo para trazer a si mesmo a glória do Pai. Ela nos diz que além dos servos, dos
seus discípulos, e de sua mãe, mais ninguém sabia que ele tinha realizado o
milagre. Se ele estivesse querendo mostrar a verdade de sua natureza “todo-poderoso”,
Ele o teria feito antes de todos os convidados. Outra coisa muito interessante
é que Maria, mãe de Jesus, já sabia que Jesus tinha o poder de fazer esse
milagre, e obviamente já sabia que ele o iria realizar, independentemente de
suas objeções, pois, mesmo depois de Ele se opor ela ainda determinou aos
servos para fazerem tudo o que ele dissesse. Isso nos diz que ela já conhecia
esse lado da graça de Jesus muito bem. Poucas pessoas sabem melhor do que a sua
própria mãe - ela sabia que Jesus era cheio de graça antes mesmo de Ele ter dado
inicio ao seu ministério público.
b) Logo após esta história terminar, João, então,
diz uma outra história com um toque muito diferente:
“Depois disto desceu a Cafarnaum, ele, e sua
mãe, e seus irmãos, e seus discípulos; e ficaram ali não muitos dias. E estava
próxima a páscoa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém. E achou no templo os
que vendiam bois, e ovelhas, e pombos, e os cambiadores assentados. E tendo
feito um azorrague de cordéis, lançou todos fora do templo, também os bois e
ovelhas; e espalhou o dinheiro dos cambiadores, e derribou as mesas; E disse
aos que vendiam pombos: Tirai daqui estes, e não façais da casa de meu Pai casa
de venda. E os seus discípulos lembraram-se do que está escrito: O zelo da tua
casa me devorará. Responderam, pois, os judeus, e disseram-lhe: Que sinal nos
mostras para fazeres isto? Jesus respondeu, e disse-lhes: Derribai este templo,
e em três dias o levantarei. Disseram, pois, os judeus: Em quarenta e seis anos
foi edificado este templo, e tu o levantarás em três dias? Mas ele falava do
templo do seu corpo. Quando, pois, ressuscitou dentre os mortos, os seus
discípulos lembraram-se de que lhes dissera isto; e creram na Escritura, e na
palavra que Jesus tinha dito” (Jo. 2:12-22).
Aqui, neste
mesmo capítulo do livro de João, nos é contada a história de um Jesus muito
diferente. Ele não está mais atuando graciosamente - agora Ele está fazendo
chicotes, virando mesas, e gritando com os cambistas para que deixem a área do
templo. Se alguém tivesse visto a cena do milagre de casamento em Caná, e esta
no templo em Jerusalém, poderia pensar que Jesus tinha transtorno de
personalidade múltipla. Mas isto não é o caso. O caráter de Jesus incluiu
graça, mas também incluía uma paixão pela verdade que é a Palavra de Deus. A Escritura
diz que Ele seria consumido pelo zelo da casa de Deus, e esta verdade foi
expressa através deste ato de limpeza ao perseguir os cambistas da área do
templo. Isso não era nada mais do que outra expressão do caráter de Cristo, que
estava cheio de graça e verdade.
Nosso Senhor é a
corporificação da verdade, do Deus vivo. As verdades bíblicas irradiam dAquele
que uma vez declarou a seus discípulos ser, Ele mesmo, “o caminho, a verdade e a vida” (Jo. 14:6). Mas o mesmo escritor
também afirma: “Todos nós temos recebido
da sua plenitude e graça sobre graça” (Jo. 1:16).
Em outras
palavras, Jesus Cristo mantinha a graça e a verdade numa tensão dinâmica, um
perfeito equilíbrio. Aqueles que diziam que eram defensores da verdade
perceberam que ele era extremamente cheio de graça (Nicodemos por exemplo).
Aqueles que buscavam nele um pouco de graça para se livrarem do fardo da
verdade percebiam que ele era inflexível neste requisito (o jovem rico, por
exemplo). Jesus mantinha a graça e a verdade em perfeito equilíbrio por que ele
era e é um homem perfeito.
Se queremos ser
equilibrados, então precisamos de ser cada vez mais como Jesus. Se queremos ser
cheios de graça e de verdade, tendo ambas em perfeito equilíbrio e proporção,
devemos ser cheios dele.
Precisamos de
não só apresentar a verdade mas também a graça que motiva as pessoas a fazer
uma segunda análise de quem é Deus e o quanto ele as ama. Precisamos construir
um caminho para que a graça de Deus aconteça; especialmente aqueles que estão ao
serviço de Deus precisam de estar atentos. A graça mostra ao mundo que claramente
ainda não alcançou graça, um mundo marcado por guerras, violência, opressão
econômica, lutas religiosas, processos e desmembramentos de famílias, o caminho para
Deus e a maneira de ter um relacionamento de afeto com ele.
Equilibrar a
graça e a verdade é difícil. Sempre que conseguimos mostrar a graça para
alguém, nós muitas vezes negligenciamos a verdade da Palavra de Deus e somos
demasiado lenientes com as nossas ações ou muito preocupados com o ferir os seus
sentimentos. Sempre que conseguimos expressar a verdade para as pessoas, muitas
vezes nós surgirmos como julgamento ou indiferença. Mas nós temos que ser capazes
de conseguir equilibrar essas duas características, senão nós vamos ser uma má
representação de Cristo neste mundo. Então, oremos uns pelos outros para que
sejamos melhores, e saibamos como mostrar graça e expressar a verdade em cada
situação.
Que o bom Deus
nos abençoe a viver e a andar no Espirito (Gl. 5:25).
2. Precisamos do Equilíbrio Bíblico Para Viver.
Eclesiastes 11:9
diz: “… Siga por onde seu coração mandar,
até onde a sua vista alcançar; mas saiba que por todas essas coisas Deus o
trará a julgamento”
Esse versículo,
figura carimbada em mensagens para jovens, me fez repensar sobre seu real
significado. Não que o tenha interpretado errado antes, mas, ele me chamou a
atenção para a conclusão, de que, de facto, muitas pessoas não entendem a
graça. Acham que é desculpa para pecarmos desenfreadamente. Paulo já sofria com
esse problema, como vemos em Romanos 6:1: “Que
diremos então? Continuaremos pecando para que a graça aumente”? Ele mesmo
responde à pergunta no versículo seguinte: “De
maneira nenhuma! Nós, os que morremos para o pecado, como podemos continuar
vivendo nele”?
Não precisamos
de dizer muita coisa após essa objetiva e clara explicação de Paulo. Ele, de
outra forma, disse o que o autor de Eclesiastes disse. Tendemos a ser extremos
em tudo o que fazemos. Não conseguimos curtir a vida sem ser de forma adoidada.
Não conseguimos seguir regras sem nos tornarmos legalistas.
O convite ao
equilíbrio é, exatamente, o convite da graça. Pelo sacrifício de Jesus somos
livres para fazermos qualquer coisa, não estamos presos no pecado nem nas
rígidas regras que o legalismo tenta nos impor. Mas lembremo-nos que a graça
não é de graça. O sacrifício de Jesus jamais poderá ser pago por nada que
façamos. A única forma que temos de viver, depois de conhecer a graça, é o
equilíbrio. Nos devemos alegrar plenamente em Jesus para que Ele seja mais e
mais glorificado, e devemos viver em obediência porque reconhecemos a
importância do sacrifício de Jesus na cruz por nós, pelos nossos pecados.
Obviamente,
reconheço que não é fácil encontrar esse equilíbrio. Demora até acharmos o
centro gravitacional de algumas coisas. Mas é preciso. É a graça que nos
capacita, e não os nossos próprios esforços. Isso não significa que devemos
ficar inertes esperando o equilíbrio, mas sim saber que em nossa busca, não
somos nós que alcançamos o equilíbrio, mas que é o Senhor que nos ajuda a
encontrá-lo.
Viver sabendo
que Deus trará julgamento sobre os nossos atos não deve ser motivo para vivermos
assustados, mas sim para vivermos em gratidão a Ele e aceitarmos o convite ao
equilíbrio que Ele nos enviou por graça.
Certamente que
já passou pela experiência de perder o equilíbrio e levar um tombo? Quando
perdemos o controle, qualquer que seja a situação, algo desagradável sempre
acontece e, às vezes, acaba afetando aqueles que estão por perto. Por isso, para
manter o equilíbrio bíblico para viver é fundamental para quem quer ser
bem-sucedido:
a) Que Faça a
Vontade de Deus.
Parece incrível,
mas é verdade: nem sempre conseguimos agir da maneira como gostaríamos...
Algumas vezes planeamos uma coisa e fazemos outra... Pensamos uma coisa e
falamos outra... Sentimos de uma determinada maneira, mas agimos de forma
contrária.
Por que é que isso
acontece? Que conflito é este que há dentro de nós que nos faz perder o
controle... o domínio... o equilíbrio? Vivemos uma verdadeira guerra dentro de
nós! Queremos fazer o que é certo, mas bem lá no fundo gostamos de fazer o que
é errado. O apóstolo Paulo retratou bem esse conflito quando escreveu: “... não faço o bem que quero, mas o mal que não
quero, esse faço” (Rm 7.19).
Este é o
conflito da vontade própria X a vontade de Deus (Gl. 5:17). E quando não
conseguimos manter o equilíbrio acabamos agindo fora dos princípios divinos. Paulo
nos orienta que “se vivemos no Espírito,
andemos também no Espírito” (Gl. 5:25). É o Espírito Santo de Deus quem nos
ensina o que é certo e o que é errado, e é Ele quem nos concede a força
necessária para andarmos no bom caminho. Sim, o Espírito Santo ensina e
capacita, mas nós é que temos que andar... Escolher... Decidir. O equilíbrio
vem quando usamos o poder de Deus com sabedoria para fazer a escolha certa.
Foi assim que
Jesus agiu para ser vitorioso. Ele não confiou em si mesmo, mas se deixou guiar
pelo Espírito Santo de Deus (Lc. 4:1; Is. 11:2; At. 10:38). Jesus não fez a sua
vontade, e sim a vontade do Pai: “... não
busco a minha vontade, mas a vontade do Pai” (Jo. 5:30); não falou as suas
palavras, mas falou as palavras d'Aquele que o enviou: “... Os milagres que eu faço em nome do meu Pai
falam por mim” (Jo. 10:25). Jesus agiu com perfeito equilíbrio.
Só aquele que
tem a sua vida controlada por Deus e que se deixa ser guiado pelo Espírito
Santo tem o verdadeiro equilíbrio.
b) Que se Deixa
Dominar Pelo Espírito Santo.
Quando
entregamos a direção de nossa vida ao domínio e orientação do Espírito Santo de
Deus, recebemos uma nova natureza que vai nos ajudar a exercitar o equilíbrio.
Deus nos deu a capacidade de sentir alegria quando pensamos e fazemos o que é
certo. O conflito entre a vontade própria e a vontade de Deus desaparece e
passamos a agir debaixo dos princípios divinos, não por obrigação, mas
espontaneamente.
Os nossos
pensamentos afetam os nossos sentimentos, e os nossos sentimentos influenciam
as nossas atitudes. Então, para manter o equilíbrio nas coisas que fazemos,
devemos manter o equilíbrio nas coisas que pensamos. “...tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo
o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude
há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento” (Fp.
4:8).
Se, de facto,
queremos manter o controle naquilo que pensamos, sentimos e fazemos, devemos
encher as nossas mentes com coisas que tragam edificação e firmeza para a nossa
vida espiritual.
Precisamos de deixar
que o Espírito Santo nos ensine a manter o equilíbrio em qualquer situação, do
contrário acabaremos perdendo o controle sempre que surgir uma situação
difícil.
Vida equilibrada
só existe quando é Deus que tem o domínio da nossa vida. Jesus sabia dessa
verdade, e por isso se deixou guiar pela vontade do Pai celestial: “Pai..., não se faça a minha vontade, mas a
tua” (Lc. 22:42). Deus sabe o que é melhor para si e deseja conduzi-lo a
uma vida vitoriosa, alegre e equilibrada.
Precisamos de personalizar
e aplicar este princípio de viver uma vida equilibrada. Nós somos um trabalho
em progresso e Deus não terminou ainda a obra em nós (Ef. 2:10). Para obtermos
o máximo deste trabalho, precisamos de estabelecer metas e fazer planos para
colocar este princípio bíblico em prática, a fim de viver uma vida cristã mais
saudável e equilibrada.
c) Que Evite o
Extremismo
A verdade
bíblica quando extremada demais em qualquer direção pode se tornar uma heresia.
O extremismo,
causado pela falta de equilíbrio bíblico, leva alguns para extremos no que
acreditam ou praticam ou ensinam a outros. É semelhante ao problema dos
fariseus no tempo de Jesus. Um de seus objetivos declarados era viver a letra
da lei, a melhor de sua capacidade. Mas esse extremismo religioso fez com que
eles se desequilibrassem e desagradassem a Deus. Não vamos pensar que este
perigo é insignificante ou que somente os fariseus é que tiveram que lutar. Ele
é também um problema para algumas pessoas hoje.
Qualquer coisa que
ocupe o legítimo lugar de Deus em nossas vidas pode se tornar um ídolo. Mesmo
as coisas que são boas em si mesmas podem se tornar idolatria – incluindo, se
amamos mais o cônjuge e os filhos do que a Deus. Uma maneira equilibrada de
pensar sobre a nossa saúde é usando a analogia de um automóvel. Os carros têm
quatro rodas e é importante que elas sejam devidamente equilibradas para um bom
passeio. Se os pneus são assimétricos e aumentamos a sua velocidade, o passeio
vai ser muito difícil!
d) Que Mantenha
o Equilíbrio
“Ninguém
te poderá resistir, todos os dias da tua vida; como fui com Moisés, assim serei
contigo; não te deixarei nem te desampararei” (Js. 1:5).
Estas instruções
dadas por Deus a Josué são também nós. O livro de Hebreus também diz que elas
são nossas. Glória a Deus! Deus está a falar para si e Deus lhe diz assim: “Sejam os vossos costumes sem avareza,
contentando-vos com o que tendes; porque ele disse: Não te deixarei, nem te
desampararei” (Hb. 13:5).
E se o “Não te deixarei nem te desampararei” é
para nós, e o “ninguém te poderá
resistir, todos os dias da tua vida” é também para nós, então o: “como fui com Moisés, assim serei contigo”
também foi para nós. Glória a Deus!
“Esforça-te, e tem bom ânimo; porque tu farás
a este povo herdar a terra que jurei a seus pais lhes daria. Tão-somente esforça-te e tem muito bom
ânimo, para teres o cuidado de fazer conforme a toda a lei que meu servo Moisés
te ordenou; dela (isto é, da palavra de Deus, aqui era a palavra que estava
disponível na altura) não te desvies, nem para a direita nem para a esquerda,
para que prudentemente te conduzas por onde quer que andares (outra tradução
diz: para que sejas bem sucedido por onde quer que andares). Não se aparte da
tua boca o livro desta lei; antes medita nele dia e noite, para que tenhas
cuidado de fazer conforme a tudo quanto nele está escrito; porque então farás
prosperar o teu caminho, e serás bem-sucedido. Não to mandei eu? Esforça-te, e
tem bom ânimo; não temas, nem te espantes (ou seja, não desanimes nem tenhas
medo: os dois piores inimigos de um homem de Deus); porque o Senhor teu Deus é
contigo, por onde quer que andares” (Js. 1:6-9).
Normalmente
prega-se muito a respeito de Josué capítulo 1 versículo 8: meditar na palavra,
confessar a palavra e agir de acordo com a palavra o caminho para o sucesso. Correto,
mas as instruções de Deus a Josué, não se resumem ao versículo 8, preparam o
caminho para o versículo 8, e entre essas instruções está o que vamos descrever
hoje: “...dela não te desvies nem para a
direita nem para a esquerda...”
Deus está a
dizer a Josué para manter o equilíbrio, ser equilibrado. (“...Não sejas exagerado nem para um lado, nem
para o outro. Mantém-te, equilibrado”).
Equilíbrio
significa o estado de um corpo em que as forças aplicadas sobre ele
contrabalançam mutuamente com os seus efeitos; significa, também, igualdade,
harmonia, estado de normalidade.
Tudo o que Deus
criou, criou em estado de equilíbrio, tudo o que Deus fez foi para funcionar de
forma equilibrada. Tudo o que Deus criou, criou para funcionar em equilíbrio!
Olhe para a Natureza à nossa volta, tudo está num perfeito estado de harmonia,
e equilíbrio. Tudo está ligado, se a corrente fria do Oceano Atlântico se
atrasa é uma catástrofe, provoca tempestades enormes, destruição; se por acaso
um iceberg deslocar-se e derreter, a superfície do mar perde sal, é uma
catástrofe, dá origem a tempestades terríveis e o degelo nos polos provoca, por
exemplo, o aumento da superfície das águas, a destruição de espécies de
plantas, de peixes, de pássaros, de tudo. Porquê? Porque tudo está num perfeito
estado de equilíbrio. Tudo o que Deus criou foi para funcionar
equilibradamente. Tudo o que sai de um estado de equilíbrio sai do propósito de
Deus.
O equilíbrio é
uma força que nos mantém dentro do propósito de Deus para a nossa vida. Aquilo
que perde o equilíbrio transforma-se em algo prejudicial para a nossa vida,
ainda que tenha sido criado para o bem. Por exemplo: o casamento é bom mas se
perde o equilíbrio o bom transforma-se em mau e prejudicial; o vinho é bom mas
se a pessoa perde o equilíbrio o bom, transforma-se em mau e pode até matar a
pessoa; a água é boa mas se a pessoa usa a água de forma desequilibrada
torna-se prejudicial, pode até afogá-lo; o carro é bom desde que seja usado com
equilíbrio, respeitando determinadas regras, utilizar de forma desequilibrada
pode ser fatal, mortal para quem o usa e para os que estão de fora; o dinheiro
é bom mas o dinheiro utilizado de maneira desequilibrada, torna-se mau e
prejudicial. Então, tudo o que perde o equilíbrio perde o propósito de Deus!
Agora, dá-se a
situação oposta! Em repulsa ao desequilíbrio para a direita, e o exagero em
utilizar certas coisas, há pessoas que se desviam para o lado oposto. Exemplo:
O vinho “Oh não, o vinho é do diabo!” porquê? Em repulsa ao exagero dado ao uso
do vinho, a pessoa acha que então o vinho é do diabo e daí surgem montes de
teorias, nós não vamos discutir essas teorias agora porque não temos tempo para
isso mas, daí que até a doutrina de que Jesus não bebia vinho, era sumo de uva
e tomar a santa ceia é com sumo de uva e não com vinho e essa repulsa toda.
Respeito! Não discuto essa matéria mas é a repulsa ao exagero do outro lado.
O que devemos
fazer? Ser equilibrados! A bíblia até manda beber um copo de vinho à refeição.
Qual é o problema? Sabe bem, se for um bom vinho, Glória Deus, e faz muito bem
ao organismo. O vinho, se for especialmente o vinho tinto, tem uma substância
química que são os flavonoides; os flavonoides têm a tarefa de desintoxicar as
células do corpo humano.
Outro exemplo de
pessoas que se desviam de um oposto a outro? Em repulsa as pessoas que gastam
mal o dinheiro, até pregadores, desviam-se para o outro lado “isso do dinheiro
é tudo do diabo. Olha aquele fulano que até tem torneiras de ouro, que
vergonha! Na minha igreja não se fala de dinheiro porque o dinheiro é a raiz de
todo o mal…” Onde é que diz isso? “Algures…” Não! Diz que o amor ao dinheiro é
a raiz de todos os males.
Então o que devo
fazer? Ser equilibrado. Porque é bíblico trazer finanças à casa de Deus, é
bíblico dar dízimos e ofertas, é bíblico dar ofertas especiais “três vezes no ano o povo se apresentava com
uma oferta especial” (e nem sequer fala de projectos especiais) era o Yon
Kipur (o dia da expiação) o Dia da Sementeira e o Dia das Colheitas. Então
tenho que ser equilibrado.
Agora, vamos
falar um pouco mais do desequilíbrio a respeito das finanças. As teorias que eu
já ouvi – teorias que andam por ai – “o dízimo é da Lei” a bíblia até diz que o
dízimo é antes da Lei, 430 anos. É durante a Lei e depois da Lei, Jesus disse
aos fariseus “dizimais tudo, os coentros,
os cominhos e esqueceis o mais importante da Lei: a misericórdia e a fé. Deveis
fazer estas coisas e não deixar aquelas” Jesus está a dizer o quê? Olha,
não deixem de dar os dízimos mas observem a fé e a justiça.
Outro aspecto e
até se aplica a pregadores e a líderes da igreja, é a corrida louca atrás do
dinheiro, “Mas os que querem tornar-se
ricos caem em tentação e em laço (quer dizer, no engano), e em muitas concupiscências loucas e
nocivas, as quais submergem os homens na ruína e na perdição” (I Tm. 6:9).
Mas então,
espere lá… é errado ser próspero, é errado ter um ministério próspero? Não…não
é errado, mas não nos esqueçamos que é a bênção do Senhor que enriquece e faz
prosperar, agora, aqueles que querem ir atrás das riquezas vão cair em muitas
tentações, muitos laços e muitas concupiscências e eu sei do que estou a falar
porque, infelizmente, já vi exemplos de pessoas a correrem atrás do dinheiro,
que inventam trinta por uma linha para buscar mais dinheiro e é isso que Pedro
também disse: “também, movidos pela
ganância (amor ao dinheiro), e com
palavras fingidas, eles farão de vós negócio; …” (II Pe. 2:3). O que é
isso? Palavras fingidas, significa dar um bom argumento, muito espiritual, mas
o verdadeiro objectivo é ir buscar mais dinheiro.
Conheci uma
certa denominação que para aumentar a sua receita mensal, tratava de inventar
todo o tipo de formação aos seus colaboradores, mas cada curso tinha um preço e
todo eram acompanhados de um livro, que também tinha o seu preço. As palavras
fingidas, era que os médicos também pagavam a sua própria formação. Quanto mais
nós para Jesus. Todas as pessoas faziam os cursos e pagavam as suas despesas.
Um tempo depois,
na sede de aumentar de novo as receitas, inventava-se uma nova forma de ir
buscar esse dinheiro. As palavras fingidas, era que agora precisavamos de que
fazer uma reciclagem para aqueles que já tinham feito os cursos, para poderem
servir melhor a Deus, porque os pilotos todos os anos pagam eles próprios a sua
reciclagem, caso contrário não podem exercer a sua profissão. E essa reciclagem
tinha também o seu preço e todos eram obrigados a proceder desta forma, caso
contrário não podiam servir a Deus nessa denominação.
Veja que o facto
de treinar pessoas e prepará-las para o ministério é bom e bíblico, mas este
ministro tinha os seus propósitos completamente errados.
Aprendemos muito
com Jesus, um homem rico foi ter com Jesus e disse-lhe: “O que farei para herdar a vida eterna”? Aparentemente, ele está
disposto a fazer qualquer coisa, mas Jesus disse: “Vende tudo quanto tens e dá-lo aos pobres, vem e segue-me e terás o
tesouro no céu”, e o rapaz retirou-se porque era dono de muitas
propriedades.
Se fosse nos
dias de hoje, como as coisas andam por aí, meio desequilibradas, o que lhe
teriam dito? (não Jesus) Teriam dito assim ao homem: “Olhe, quer entrar no céu?
Venda tudo quanto tem, dê-me a mim e depois venha servir a Deus”. Eu acho tão
extraordinário Jesus ter dito: “Tudo o
que tu tens, dá aos pobres, vem tu e segue-me” Jesus estava mais
interessado na pessoa do que no que a pessoa tinha.
Hoje perdeu-se
esse valor, hoje a pessoa vale por aquilo que ela tem ou por aquilo que ela
pode dar e não por aquilo que ela é! Estamos desequilibrados.
A bíblia tem
exemplos para tudo, é só nós querermos, as coisas estão escritas. Ouvi falar de
uma história do manto de Elias. O manto de Elias é um manto bordado e cada
pessoa, é estipulada em preço, a instituição manda fazer os mantos de Elias
(obviamente que o manto de Elias já nem existe e nem tinha pano para tantos
mantos que há por aí), mas com o objectivo de fazer negócio, ouça bem o que
estou a falar porque isto é verdade, e depois cada pessoa tem que ter o seu
manto porque cada manto é ungido e o seu manto tem uma unção específica para si
e essa unção não vai funcionar com a sua esposa. Então, o marido, a esposa e os
seus filhos, cada um tem que ter o seu manto. Cada manto, vamos imaginar, custa
trinta euros e numa família de quatro pessoas, são logo cento e vinte euros
“mas tem um manto ungido lá dentro de casa, não é qualquer coisa” e depois é um
frasquinho com terra do monte Sinai ungido, ou um frasquinho de água do Rio
Jordão ungida, ou um frasquinho de azeite das oliveiras do Monte das Oliveiras.
E nós dizemos assim: “Isso é a Igreja tal, onde toda a gente que vai para ali
conhece e faz disso um negócio” mas não é só a igreja tal, eu conheço muitas
igrejas evangélicas que, infelizmente, já entraram pelo mesmo caminho, mas não
é com frasquinhos de terra nem de água, é com manuais e outras coisas, por
exemplo, mas o objectivo é o mesmo: corrida atrás do dinheiro com palavras
fingidas.
“Falai a toda a congregação de Israel,
dizendo: Aos dez deste mês tome cada um para si um cordeiro, segundo as casas
dos pais, um cordeiro para cada família. Mas se a família for pequena para um
cordeiro, então tome um só com seu vizinho perto de sua casa, conforme o número
das almas; cada um conforme ao seu comer, fareis a conta conforme ao cordeiro”
(Êx. 12:3-4).
Deus disse: É um
cordeiro por cada família, mas se a família é pequena e não come muito, junte
outra família e comam o cordeiro e se mesmo com a outra família e o cordeiro continua
a ser grande, então vá buscar outra família e comam um cordeiro.
O que se faria
hoje no estado de desequilíbrio em que se encontram algumas igrejas? Deus falou
que cada família tem que comer o cabrito. Eu vendo os cabritos, cada cabrito
vai custar X e tem que ser um cabrito por pessoa, mas não foi isso que Deus
falou.
3. O Perfeito Equilíbrio da Verdade na Nossa Vida
nos faz Crescer e Amadurecer.
Pare um pouco, pense
nas pessoas que conhece. Desde a mais intima até a mais desconhecida. Em sua
mente deve passar um filme com várias pessoas que já conviveu, convive ou
apenas avistou na rua. Seres semelhantes, com sonhos, desejos, expectativas
assim como você.
Todos os homens
foram criados da mesma maneira, sentem dor da mesma forma, amam com a mesma
intensidade, por fim, são expostos aos mesmos sentimentos a vida inteira. Com
uma única diferença. A capacidade de se equilibrar mediante estes.
Quando vemos uma
sociedade tão dividida, com tanta desigualdade é impossível não pensar: “Porque
eu não tenho isso? Porque ele tem aquilo? Porque eu não nasci assim? Porque,
porque, porquês…” Fazem parte de nossa história estas indagações.
E um porquê bem
interessante que quero explanar aqui é: Porque todo o mundo tem um sonho, mas
poucos o conseguem realizar… É, isso mesmo, porque todos andam na mesma estrada
e só poucos conseguem chegar à meta?
Talvez seja
porque há uma mínima diferença que age do interior para o exterior dessas poucas
pessoas que conseguem se destacar na caminhada da vida. O perfeito equilíbrio
da verdade.
Nós fomos
criados iguais, não é classe social, cor ou doença que nos separa ou oferece
privilégios, mas sim a capacidade de ter equilíbrio na vida. Se notar, com
certeza que já ouviu em algum lugar sobre algum rico que perdeu a sua fortuna,
ou algum negro que se tornou presidente. Ou algum doente que conseguiu dar
muitas lições a quem viveu cheio de saúde na vida. Logo a diferença que nos
separa não está ligada ao exterior do mundo ou da realidade, como: condição
financeira, estudo e etc… A diferença está ligada à maneira como reagimos
dentro de nossos pensamentos sobre tudo o que acontece com a vida do lado de
fora. Já vi pessoas morrerem de câncer, mas também, já vi pessoas com câncer
serem extremamente felizes. Já vi doutores sendo presos por estarem viciados em
drogas e também já vi um semianalfabeto se tornar presidente de uma nação.
Então por
enxergar com facilidade exemplos como este, é que podemos ter a certeza de que
o que nos torna senhores da vida, da nossa própria vida é a capacidade de
entender que a sabedoria verdadeira só pode ser dada por Deus, que ensina um
ignorante a ser sábio ou um louco a ter razão.
E a poucos
permite que compreendam que o segredo do equilíbrio está na paz de espirito e
na mansidão dos pensamentos. Na capacidade de ouvir, no prazer de aprender… Na
pura humildade e na determinação de superar os obstáculos causados pelos
problemas aos quais somos todos expostos.
4. A Soberania de Deus não Anula a Nossa Responsabilidade.
Tem-se
ressaltado com frequência que o requisito fundamental na exposição da Palavra
de Deus é a necessidade de preservar o equilíbrio da verdade. Com isto
concordamos de coração. Duas coisas são indisputáveis: Deus é soberano, o homem
é responsável... Que existe o perigo de salientar indevidamente uma delas, e de
negligenciar a outra, reconhecemos sem hesitação; e a História nos oferece
numerosos exemplos de ambos os casos. Ressaltar a soberania de Deus, sem acentuar,
ao mesmo tempo, que a criatura é responsável, tende ao fatalismo; preocupar-se
tanto em manter a responsabilidade do homem, ao ponto de perder de vista a
soberania de Deus, é exaltar a criatura e rebaixar o Criador.
Quase todos os
erros de doutrina são, na realidade, a Verdade pervertida, a Verdade mal
distribuída, mal ensinada. O mais lindo rosto da terra, o mais encantador
semblante, logo ficaria feio e de aparência desagradável, se um membro
continuasse a crescer, e os demais não se desenvolvessem. A beleza é,
primariamente, uma questão de proporções. Assim acontece com a Palavra de Deus:
sua beleza e bem-aventurança se percebem melhor quando a multiplicidade da
sabedoria é exibida em suas verdadeiras proporções. É nesse ponto que tantos
fracassaram no passado. Determinada fase da Verdade de Deus tem impressionado
uma pessoa ou outra de tal maneira que nela lhe concentrou toda a atenção,
ficando excluídos todos os outros interesses. Esta ou aquela porção da Palavra
de Deus se tem transformado em “doutrina predileta”, e, não raro, se tornou o
distintivo de alguma corrente específica...
Perdeu-se tal
equilíbrio, e essa perda se deve à ênfase, que vai além das proporções, dada ao
lado humano, ao ponto de apequenar-se, senão mesmo de excluir, o lado divino.
Todos nós somos
moralmente responsáveis diante de Deus e, como tal, responderemos pelos nossos
atos. O ser humano precisa de se arrepender de seus pecados e confiar somente
em Jesus para a vida eterna, pois Deus não pode se arrepender e crer em seu
lugar. Por outro lado, se nós mesmos temos fé, isso se deve apenas ao facto de
que Deus em sua misericórdia abriu os nossos olhos. A conversão de Lídia é um
ótimo exemplo. Lucas relata: “E no dia de
sábado saímos fora das portas, para a beira do rio, onde se costumava fazer
oração; e, assentando-nos, falamos às mulheres que ali se ajuntaram. E uma
certa mulher, chamada Lídia, vendedora de púrpura, da cidade de Tiatira, e que
servia a Deus, nos ouvia, e o Senhor lhe abriu o coração para que estivesse
atenta ao que Paulo dizia” (At. 16:13, 14). Aqui temos o que biblicamente
denominamos de novo nascimento ou conversão de Lídia. Uma obra do Espírito de
Deus. O verbo grego dih/noicen (abriu) está no aoristo e significa que ali
houve uma ação completa e definitiva do Espírito Santo. Durante a pregação de
Paulo, Lídia “escutava” e o seu coração foi “aberto” para que atendesse. É
necessário que a intervenção divina, que torna o homem natural receptivo para
com a Palavra de Deus, anteceda o ouvir com proveito a pregação do evangelho.
Deus concedeu a Lídia um coração receptivo para compreender coisas espirituais.
Ele deu a ela o dom da fé e a iluminação do Espírito Santo.
O autor aos
Hebreus (12:2) nos lembra ainda que Jesus Cristo é o autor e consumador de
nossa fé. O princípio e o fim da fé salvadora. E o que é que isso quer dizer?
Quer dizer que como Autor, Jesus “preparou o caminho da fé com triunfo diante
de nós, abrindo assim um caminho para os que o seguem”. Como Consumador da fé
ele é “o completador e aperfeiçoador; no sentido de levar uma obra até o fim.
A Bíblia é clara
ao dizer que o homem natural está morto em seus delitos e pecados (Ef. 2:1).
Não diz que ele está doente ou com força suficiente para fazer alguma coisa por
si só. Ele está morto! A palavra “morto” já diz tudo.
Embora sejamos
responsabilizados a crer em Jesus (porque Deus não crê em nosso lugar), a fé,
do começo ao fim, é dom de Deus.
5.
A Incapacidade não
Anula a Nossa Responsabilidade
As Escrituras
deixam inequivocamente clara a total incapacidade do homem para transformar seu
carácter, por suas próprias forças e vontade, tornando-se deste modo semelhante
a Cristo. Isso está além da capacidade do homem. “Pode, acaso, o etíope mudar a sua pele ou o leopardo, as suas manchas?
Então, poderíeis fazer o bem, estando acostumados a fazer o mal” (Jr. 13:23).
No capítulo 6 de João, vemos Jesus Cristo ensinando a multidão que O segue.
Cristo ensinava a inabilidade do homem chegar a Deus pelas suas próprias
forças. “Ninguém pode vir a mim se o Pai,
que me enviou, não o trouxer”, declarou o Senhor Jesus (Jo. 6:44). E é
verdade nos dias de hoje: nós jamais alcançaremos o perdão e aceitação de Deus
pelas nossas próprias forças. É Deus que precisa trazer-nos, ajudar-nos,
levar-nos até Si-mesmo. O acto da verdadeira e simples fé no Senhor é
impossível sem o “trazer” e sem a graciosa dádiva do Pai. Jesus novamente nos
diz que, a menos que um homem seja nascido de novo, ele não pode ver ou entrar
no reino de Deus (Jo. 3:3, 5).
Todavia, existem
mandamentos com os quais Deus confronta cada ser humano. Por exemplo: “Importa-vos nascer de novo” (Jo. 3:7); “Deus... notifica os homens para que todos,
em toda parte, se arrependam” (At. 17:30); e “amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração”. Estes são
mandamentos sinceros? Com toda a certeza. Todas as criaturas são responsáveis
perante o seu Criador. Será que tais mandamentos não pressupõem uma módica
porção de capacidade? Não. Não, desde a queda de nosso pai Adão.
Deus lida com as
pessoas de acordo com os padrões de responsabilidade e obrigação, e não de
acordo com a medida de capacidade. John Murray afirmou: “Se a obrigação
pressupõe capacidade, todos nós temos de ir até o fim da linha e pregar a total
capacidade do homem”. Por que, então, os mandamentos nos foram dados? Eles são
uma revelação da vontade do Deus Todo-poderoso, e também farão com que os
homens percebam sua total incapacidade. Um dos resultados de pregarmos a
incapacidade do homem é que as pessoas são forçadas a pararem de confiar em si
mesmas. Isto as obriga a confiar tão-somente na graça de Deus. Não é a
convicção da incapacidade que mantém os homens afastados de Cristo; é
exatamente o oposto: “Eu não consigo achegar-me a Ele, mas preciso de me
achegar a Ele. Que incapacidade amedrontadora! Que tremenda responsabilidade!
Quem me livrará desse dilema? Agradeço a Deus por Cristo Jesus, o Salvador que
capacita”. Geoffrey Thomas
6. A Certeza Não Anula a Nossa Necessidade
Tudo o que Deus
determinou fazer certamente será realizado: “Desde o princípio anuncio o que há-de acontecer e desde a antiguidade,
as coisas que ainda não sucederam; que digo: o meu conselho permanecerá de pé,
farei toda a minha vontade” (Is. 46:10). O plano de Deus é imutável, porque
Ele é fiel e verdadeiro (Jó 23:13-14). O plano de Deus é incondicional, ou
seja, a sua execução não depende de qualquer ação humana, mas torna-a uma
certeza (At. 2:23; Ef. 2:8). Além disso, o plano de Deus é totalmente
abrangente, envolvendo as boas e más ações dos homens (Ef. 2:10; At. 2:23), os
eventos incertos (Gn. 50:20), a duração da vida de um homem (Jó 14:5) e o lugar
onde ele viverá (At. 17:26). O plano de Deus assegura a salvação de um grande
número de pecadores favorecidos.
Entretanto, a
certeza de que a vontade secreta de Deus está sendo realizada não anula a
necessidade do homem obedecer a tudo o que Deus ordenou na Bíblia. Quando o
Senhor disse a Paulo que tinha muito povo em Corinto, este não ficou sentado
numa cadeira em sua varanda, esperando que os coríntios viessem trazer-lhe os
seus cartões de decisão. Durante 18 meses, o apóstolo ensinou a Palavra de Deus
a todos que em Corinto o ouviam (At. 18:11). Ele o fez rogando que crescem,
estendendo-lhes sua mão, suplicando-lhes que se arrependessem. Paulo chorou por
causa deles; orou e pediu que outros orassem em favor deles. O apóstolo os
visitou em particular, debateu com seus oponentes publicamente e pediu
desculpas se os havia ofendido por meio de palavras severas. Ele procurou viver
uma vida semelhante à de Cristo perante eles, para que, em nada, a mensagem
fosse maculada através do pecado. Paulo sabia que o povo escolhido de Deus em
Corinto certamente haveria de confessar a Cristo, mas esse conhecimento de
forma alguma anulou a necessidade de viver uma vida de temor a Deus, permeada
por fervor evangelístico. Geoffrey Thomas
7.
O Propósito
Limitado Não Anula a Pregação Indiscriminada
Existe um povo
que Deus, o Pai, presenteou a Deus, o Filho (Jo. 17:2, etc.). Esse povo possui
títulos como “a igreja”, “o povo de Deus”, “os filhos de Deus” ou as “ovelhas”
de Jesus. Constantemente, o Novo Testamento nos informa que a morte de Cristo
se concentrou na realização da salvação dessas pessoas: “Ele salvará o seu povo dos pecados deles” (Mt. 1:21); “Cristo amou a igreja e a si mesmo se
entregou por ela” (Ef. 5:25); “Jesus
estava para morrer pela nação e não somente pela nação, mas também para reunir num
só corpo os filhos de Deus, que andam dispersos” (Jo. 11:51-52); “Mas vós não credes, porque não sois das
minhas ovelhas. As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me
seguem. Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da
minha mão” (Jo. 10:26-28). O Senhor Jesus Cristo cumpriu o propósito de
Deus em salvar todos os que são povo dEle.
Entretanto, para
cada pessoa no mundo, sem exceção, o cristão pode dizer com sinceridade: “Eu
tenho boas-novas para si. Tenho Cristo crucificado para que você creia nEle.
Tenho o Salvador que é profeta, sacerdote e rei para você receber e servir”. O
cristão precisa convidar seus ouvintes a crer em sua mensagem, exigir que o
façam e até exortá-los, em nome de Cristo, a não continuarem na incredulidade.
O cristão faz isso para todas as pessoas sem distinção ou discriminação.
Anuncia a todos os homens as palavras de Deus: “Olhai para mim e sede salvos, vós, todos os termos da terra; porque eu
sou Deus, e não há outro” (Is. 45:22). E, ainda: “Tão certo como eu vivo, diz o Senhor Deus, não tenho prazer na morte do
perverso, mas em que o perverso se converta do seu caminho e viva.
Convertei-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos; pois por que haveis de
morrer, ó casa de Israel” (Ez. 33:11)? O Salvador é apresentado aos homens
perdidos como Quem realizou a completa e perfeita redenção, Aquele que
sinceramente deseja salvá-los de seus pecados e que não se compraz na morte
deles. Geoffrey Thomas
8.
A Preservação
Não Elimina a Perseverança
Todo o verdadeiro
cristão experimenta a contínua atividade do Espírito Santo, através da qual a
obra da graça divina que começou nele está sendo continuada e será levada à sua
plenitude. Essa doutrina é claramente ensinada nas Escrituras (Jo. 10:28-29; Rm.
11:29; Fp. 1:6; 2 Ts. 3:3; 2 Tm. 1:12; 4:18). Todo o crente é preservado pelo
poder de Deus para a salvação (1 Pe. 1:5).
Ao mesmo tempo,
a Bíblia ensina que cada cristão deve perseverar na sua peregrinação
individual. Isso nos protege contra toda a ideia ou sugestão de que o cristão
está seguro, ou seja, seguro quanto à sua eterna salvação, independentemente da
extensão que ele possa cair no pecado e apostatar da fé e da santidade.
Enquanto o cristão está sujeito a pecar e, de facto, comete pecados, ele não
pode entregar-se ao pecado nem vir a permanecer debaixo do domínio do pecado;
ele não pode cometer e tornar-se culpado de certos tipos de infidelidade (por
exemplo, o “pecado para a morte”). Portanto, embora seja preservado, o crente
não está seguro totalmente, sem levar em conta a sua vida subsequente de pecado
e de infidelidade. Ele perseverará em crer em Deus. Isto não significa que ele
será salvo à parte de sua perseverança, mas ele continuará labutando rumo a
essa finalidade. Sua preservação é inseparável de sua perseverança. Geoffrey
Thomas
9.
O Amor Não Anula
a Lei
O amor cristão é
o maior de todos. Ele é “a marca distintiva da vida cristã” (John Blanchard),
“o sinal dos discípulos de Cristo” (Matthew Henry), “a principal afeição da
alma” (Matthew Henry), “ a rainha de todas as graças cristãs” (Arthur Pink), “o
fio prateado que percorre toda a conduta do cristão” (J. C. Ryle). Sem amor (ágape),
uma igreja não é coisa alguma (1 Co. 13). O novo mandamento dado por Cristo ao
seu povo é que se amem mutuamente, assim como Ele os amou. Por meio desse
sentimento puro e fervoroso, o mundo saberá que somos povo de Deus. O amor é a
graça mais semelhante a Deus.
Ainda assim,
Paulo disse: “A lei é santa; e o
mandamento, santo, e justo, e bom” (Rm. 7:12). É claro que tem de ser; ela
vem de Deus e demonstra a própria natureza dEle. Paulo declarou: “Porque, no tocante ao homem interior, tenho
prazer na lei de Deus” (Rm. 7:22). Ele amava a lei, porque ela demonstra as
perfeições dAquele que é santo. O cristão está livre da maldição e da
condenação da lei, através da obra salvadora realizada por Cristo. Para o
crente, a lei não é mais aquela voz aterrorizante, acusando-o e condenando-o.
Cristo apagou a chama do Monte Sinai; o crente está liberto do pecado e da lei.
Agora, entretanto, ele se tornou escravo de Jesus Cristo, seu grande
Libertador, e cumpre a “lei de Cristo” (Gl. 6:2). “Se me amais, guardareis os meus mandamentos”, afirmou o Salvador
(Jo. 14:15). O amor é a motivação íntima do crente; mas a lei de Cristo é sua
diretriz. Como alguém já afirmou: “A lei são os olhos do amor. Sem lei, o amor
é cego”.
Esses temas
gémeos, o resultado da revelação da soberania de Deus, ensinados tão claramente
nas Escrituras, são os elementos que integram a conversa santa e a meditação
proveitosa. Geoffrey Thomas
Podemos afirmar
seguramente que o amor (Cristo) veio não apenas redimir o homem, como também
veio sustentar a autoridade e santidade da lei de Deus. Com sabedoria Jesus
apresentou a grandeza e glória da lei e ainda ofereceu um exemplo de como
relacionar-se corretamente com ela.
O próprio amor
cumpre a lei, não para anulá-la, nem para destruí-la, mas para viver em
obediência. Jesus instruiu Seus seguidores a observar os mandamentos.