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quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Subida de Oito Degraus da Escada da Fé


       “E vós também, pondo nisto mesmo toda a diligência, acrescentai à vossa fé a virtude, e à virtude a ciência, E à ciência a temperança, e à temperança a paciência, e à paciência a piedade, E à piedade o amor fraternal, e ao amor fraternal a caridade” (2 Pe. 1:5-7).
Introdução
Consideremos esta escada. A raça humana foi cortada da relação (comunicação) com Deus. Podiam contemplar um paraíso perdido mas não viam meios de nele entrar e manter comunhão com o Céu. O pecado de Adão cortou toda a relação entre o Céu e a Terra. Até ao momento em que Adão e Eva transgrediram a determinação de Deus, havia livre comunhão entre a Terra e o Céu. Ligavam-se por uma senda que a Divindade podia percorrer. Mas a transgressão ao que Deus lhes havia determinado interrompeu esse trilho, e a raça humana se separou de Deus.
Tão logo Satanás seduziu os nossos primeiros pais a desobedecerem ao que Deus havia determinado, pareceu romper-se todo o elo que unia a Terra ao Céu e a raça humana ao infinito Deus. Os seres humanos podiam olhar para o Céu, mas como conseguiriam alcançá-lo? Para júbilo do mundo o Filho de Deus, Aquele sem pecado, o perfeito em obediência, torna-Se o canal através do qual se pode renovar a perdida comunicação, o caminho através do qual se pode reconquistar o paraíso perdido. Através de Cristo, nosso substituto e segurança, podemos guardar os mandamentos de Deus. Podemos retornar à nossa lealdade e Deus nos aceitará.
Cristo tomou a iniciativa de nos chamar para Ele mesmo. E é Aquele que nos chama e nos capacita. Não nos dá tudo quanto talvez queiramos, mas, sim, tudo quanto precisamos para a vida e a piedade, “porque Deus não nos chamou para a impureza, mas para a santidade. Portanto, aquele que rejeita estas coisas não está rejeitando o homem, mas a Deus, que lhe dá Seu Espírito Santo” (1 Ts. 4:7-8).
Estes dons são entesourados em Jesus Cristo, que “pelo Seu divino poder nos dá tudo o que necessitamos para a vida e a piedade, por meio do pleno conhecimento d’Ele, a fim de desfrutarmos do poder para vivermos uma vida santa para aquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude” (2 Pe. 1:3).
A pessoa de Cristo atrai os homens. Seu poder os capacita a corresponder. Dessa maneira Suas grandiosas e preciosas promessas nos são dadas através da glória e virtude de Cristo. A nós é-nos dada a promessa de compartilharmos de algo de Sua excelência moral nesta vida e da Sua glória na vida futura. Isto, porque, as promessas do poder e da Pessoa do Senhor regeneram o homem e o tornam coparticipante da própria natureza de Deus, de modo que a semelhança de família começa a ser vista nele, não ao escapar do mundo natural do tempo e do sentido, mas, sim, depois de livrar-nos do mundo no sentido da humanidade em rebelião contra Deus.
Nos versículos 5 a 7, passa diante de nós um coral - Fé Pessoal em Cristo; Virtude – Bondade Moral; Conhecimento; Domínio Próprio; Perseverança; Piedade; Fraternidade; e Amor - cujos membros estão de mãos dadas, cada um puxando o outro; ou, podemos usar outra analogia e dizer que cada graça aqui mencionada está contida na seguinte, como um conjunto de caixas chinesas. Ser deficiente nessas coisas é ser inativo e infrutífero (v.8), e cego (v. 9). Nós bem podemos desejar a entrada amplamente suprida, não como navios alagados, mas como uma embarcação cujas velas estão todas desfraldadas – não aportando à praia celestial sem sermos esperados e como indesejáveis, mas recepcionados por aqueles que no passado ajudamos.
A verdade é um princípio ativo, eficaz, que molda o coração e a vida de modo que haja um constante movimento para cima, subindo a escada, na direção do Senhor no topo da escada. A cada degrau da subida, obtém a vontade um novo impulso para a ação... A glória de Deus revelada acima da escada pode ser apreciada somente por quem progride na subida, por quem se deixa atrair sempre para mais alto, para as metas mais nobres que Cristo revela. Cristo é a escada, cuja base repousa sobre a Terra e cujo topo alcança os mais altos Céus. Os elos partidos foram restaurados. Abriu-se uma estrada real, ao longo da qual podem passar os cansados e sobrecarregados. Podem entrar no Céu e achar descanso.
A pessoa pode subir pela escada da fé, pois a sua base repousa na Terra e seu topo alcança o Céu. Então a alma, deixando os costumes, práticas e modas da Terra, sobe por ela até ao Céu. A luz e glória de Deus estão sobre cada degrau dessa escada.
Agora descobrimos que as ameias podem ser alcançadas, que Deus está acima da escada e espera, de braços estendidos, para ajudar toda a pessoa que entrar no reino eterno de nosso Deus. Louvem-Lhe o santo nome! Habitantes da Terra, louvem-nO! Por quê? Porque por intermédio de Jesus Cristo - cujo longo braço humano envolve a raça, enquanto com o Seu divino braço alcança o trono do Todo-Poderoso - é o abismo transposto com seu próprio corpo; e este átomo de mundo, que se separou do continente do Céu pelo pecado e se tornou uma ilha, é novamente reintegrado porque Cristo transpôs o abismo - Cristo é a ponte!
Para tornar segura a nossa vocação e eleição, requer-se diligência muito maior do que aquela que muitos estão dando a essa importante questão. “Pois se estas coisas fizerdes” - vivendo no plano da adição, crescendo na graça e no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo - subireis, degrau a degrau e jamais caireis.
Primeiro degrau - Fé Pessoal em Cristo
A fé cristã não é baseada em coisas, mas numa pessoa (Cristo). A “fé comum” usa coisas para que se possa conseguir outras coisas. A fé cristã se remete a uma pessoa que nos conseguiu uma nova vida. Ela está baseada em promessas garantidas por um facto, ou acontecimento (cruz), que mesmo não tendo visto, cremos, aceitamos e recebemos. Jesus disse em João 10:10: “Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância.”
A fé é a expressão máxima da natureza religiosa do homem. Quando recebemos a Cristo como Salvador Deus pôs em nós uma fé centralizada na pessoa de Jesus Cristo. Não se trata de uma confiança cega ou sem fundamento. É a confiança plena na Palavra de Deus, pois ela é inteiramente verdadeira e infalível. É o reconhecimento da obra de Cristo, de seu poder e do seu ensino para a nossa vida. É o Espírito Santo que opera a fé, e diga-se de passagem: Ele só habita no coração daqueles que abandonaram definitivamente o estilo de vida mundano para seguirem a Cristo. Em João 14:17 lemos assim: “O Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós.”
A fé é a nossa condição de vida! Está escrito: “o justo viverá da fé” (Gl. 3:11b). Sem ela seremos como um barco à deriva. Em 1 Timóteo 1:19 lemos assim: “Conservando a fé, e a boa consciência, a qual alguns, rejeitando, fizeram naufrágio na fé.”
Muitas pessoas veem o Cristianismo como ir à igreja, realizar rituais e não cometer certos pecados. Isso não é Cristianismo. O verdadeiro Cristianismo é uma relação pessoal com Jesus Cristo. Aceitar Jesus como seu Salvador pessoal significa colocar a própria fé pessoal e confiança Nele. Ninguém é salvo pela fé dos outros. Ninguém é perdoado por realizar certas obras. A única forma de ser salvo é pessoalmente aceitar Jesus como seu Salvador, confiando na Sua morte como pagamento pelos seus pecados e na Sua ressurreição como a sua garantia de vida eterna (Jo. 3:16).
Vós sois salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie” (Ef. 2:8-9). Por isso mesmo, por causa do novo nascimento e das preciosas promessas e do divino poder que nos são oferecidos em Cristo, não podemos acomodar-nos e ficar satisfeitos com a “fé”, porque a fé sem obras é inútil. A graça de Deus exige, como também capacita, a diligência ou o esforço no homem. Devemos trazer para dentro deste relacionamento, lado a lado, com aquilo que Deus fez, cada grama de resolução que podermos reunir.
Pedro começa a sua lista com a fé. Esta aceitação inicial do amor de Deus, esta resposta à sua graciosa disposição para nos receber, é a pedra fundamental sobre a qual estão edificadas as virtudes que se seguem. Paulo dá também uma posição primária à fé em Romanos 5:1-5: “Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo, por meio de quem obtivemos acesso pela fé a esta graça na qual agora estamos firmes; e nos gloriamos na esperança da glória de Deus. Não só isso, mas também nos gloriamos nas tribulações, porque sabemos que a tribulação produz perseverança; a perseverança, um carácter aprovado; e o carácter aprovado, esperança. E a esperança não nos decepciona, porque Deus derramou Seu amor em nossos corações, por meio do Espírito Santo que Ele nos concedeu”.
Barnabé também coloca a fé em primeiro lugar, com reverência e perseverança, longanimidade e domínio próprio como seus aliados; ao passo que Hermes não somente coloca a fé em primeiro lugar, como também especificamente diz: “através dela os eleitos de Deus são salvos”. A fé é representada aqui como uma mulher que tem várias filhas, isto é, outras virtudes, e a culminação em todas elas, como aqui, é o amor.
Segundo degrau - A Virtude ou Bondade Moral
A primeira qualidade que Pedro menciona brotando da fé cristã verdadeira, é a virtude, que é uma disposição firme e constante para a prática do bem; boa qualidade moral; força moral; valor, que significa excelência - aquela qualidade interior da ternura, da compaixão e da doçura. Tudo isto se poderia resumir com a palavra amor. O amor é gentil. O amor é bondoso, procurando sempre ministrar para atender às necessidades de outras pessoas.
No grego o termo “arete” denota tudo o que obtém estimação preeminente por uma pessoa ou coisa; por conseguinte, “eminência intrínseca, bondade moral, virtude” (VINE, 2002, p. 1066). O contexto da nossa lição diz respeito ao conjunto de virtudes morais e espirituais amadurecidas pelo Espírito Santo na vida do crente como resultado de uma permanente comunhão com Cristo.
O cristão deve desenvolver a salvação com temor e tremor, que Deus opera nele. Numa palavra, a sua vida deve refletir alguma coisa do carácter atraente de Cristo. Ele, pois, era o Homem por excelência, o verdadeiro Homem. A verdadeira excelência humana, pois, é a varonilidade que é a semelhança a Cristo. Aquela semelhança não pode ser adquirida senão através de encontros pessoais e contínuos com Ele mediante a fé. Não adianta falarmos muito acerca da fé, se não exibirmos nas nossas vidas nada daquela bondade prática que é indispensável ao discipulado cristão genuíno.
Não basta ter fé, é necessário unir com a fé a virtude, e isso é algo bem prático para nós, pois vivemos tempos onde jamais se viu tanta imoralidade e devassidão. Justamente para vencermos o pecado é que Deus nos orienta a viver uma vida de virtude moral e retidão. Somente assim conseguiremos vencer as paixões que há no mundo. Não podemos ser teóricos, mas práticos quanto à virtude.
Como servos de Deus e imitadores dele, ordena-se aos cristãos que provem qual é a boa e perfeita vontade de Deus para eles (Rm. 12:2), que devem apegar-se ao que é bom (Rm. 12:9), que devem praticá-lo (Rm. 13:3), que devem fazer o que é bom (Rm. 2:10), que devem empenhar-se por isso (1 Ts. 5:15), que devem ser zelosos do que é bom (1 Pe. 3:13), que devem imitar o que é bom (3 Jo. 11) e que devem vencer o mal com o bem (Rm. 12:21). Todos devem fazer o bem e devem aplicar-se especialmente aos aparentados com eles na fé cristã; adicionalmente, isso deve ser praticado para com todos os outros (Gl. 6:10).
O caráter de Deus é refletido na ética bíblica. Assim, as virtudes como honestidade, bondade, gentileza e integridade, são atributos definidos por Deus e não estão sujeitos às opiniões particulares. A ética bíblica é para todos, não distingue raça, classe social e nível cultural (Gl. 3:28; Cl. 3:11 e Tg. 2:1-10). Os requisitos morais pelos quais os cristãos devem viver hoje são os mesmos de ontem e serão os mesmos de amanhã, porque “Jesus Cristo é o mesmo, ontem, hoje e o será eternamente” (Hb. 13:8).
Devemos viver de uma maneira que reflita Cristo em nós. Jesus sempre se orientava em relação aos outros e estabeleceu o padrão ético; os ‘‘uns aos outros’’ das escrituras. Devemos seguir o Seu exemplo e orientar o nosso comportamento de acordo com a preciosidade dos outros (Jo. 13:34-35; Cl. 3:8-9, 12-14) e assim finalizaremos a subida do segundo degrau da escada.
Terceiro degrau - Conhecimento
Antes crescei na graça e no conhecimento de Nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo. A Ele seja dada a glória, assim agora, como no dia da eternidade. Amém” (2 Pe. 3:18). O apóstolo Pedro teve as suas dificuldades no início da sua fé em Cristo, e também ao longo dela, como regista o Novo Testamento. Jesus, antes do calvário, chegou a adverti-lo de que Satanás estava a tramar contra os Doze, inclusive ele, Pedro, para arruinar a sua fé. “Disse-lhe também o Senhor: Simão, Simão, eis que Satanás vos pediu para vos cirandar como trigo; mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, quando te converteres, confirma teus irmãos” Lc. 22:31-32. O texto bíblico mostra-nos que na vida espiritual, do crente mais simples ao líder cristão mais destacado, o elemento basilar é a fé em Cristo, priorizada, mantida, fortalecida, purificada, renovada e, ao mesmo tempo, seguida do conhecimento de Deus.
O conhecimento é necessário porque há problemas como resultado direto da Queda. O conhecimento que é verdadeiro permite que entendamos o que é certo, justo e correto - todo o bom caminho -, e que os problemas sejam resolvidos e evitados. Se um carro avaria, o conhecimento mecânico é útil, de outra forma, seria desnecessário. É a mesma coisa com todos os outros problemas da vida. Deus nos dá conhecimento para nos ajudar a “consertar” pessoas com problemas, proteger-nos das dificuldades da vida e permitir que o amor se expresse através de boas obras.
“Crescei na graça e no conhecimento”, diz o texto sagrado. Essa ordem jamais deve ser invertida. Cuidar da nossa fé é cuidar do nosso crescente relacionamento e comunhão com Deus. Estamos falando da fé como elemento da natureza divina, como atributo de Deus (At. 16: “...a fé que é por Ele...”; Gl. 5:5: “...pelo Espírito da fé...”).
O cristianismo, portanto, não é meramente uma questão de fé pessoal e de bondade prática; o elemento intelectual em nossas personalidades tem um lugar importante. A fé em Deus, basilar e primacial como é na vida do cristão, deve ser seguida do conhecimento espiritual. “Criado com as palavras da fé e da boa doutrina” 1 Tm. 4:6. Veja também 2 Pedro 1:5, onde o conhecimento deve seguir-se à fé. Fé sem conhecimento, segundo as Escrituras, leva ao descontrole, ao exagero, ao misticismo, ao sectarismo e ao fanatismo final e fatal.
“Antes crescei” – A vida cristã normal deve ser um crescer constante para a maturidade espiritual, como mostra 2 Coríntios 3:18: “Somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor.” Esse crescimento transformador deve ser homogéneo, uniforme, simétrico; caso contrário virão as anormalidades com as suas consequências. Lembremo-nos do testemunho do apóstolo Paulo sobre si mesmo em 1 Coríntios 13:11, e o comparemos com o depoimento bíblico de Atos 9:19-30 e 11:25-30. Um crente sempre imaturo na graça e no conhecimento de Deus é também um problema contínuo para ele mesmo, para outros à sua volta e para a sua congregação como um todo. E pior ainda é quando o cristão desavisado cuida apenas de seu conhecimento secular, terreno, humano, social, e também quando cuida do conhecimento bíblico e teológico sem antes e ao mesmo tempo renovar-se no poder do Alto, o poder do Espírito Santo, que nos vem pela imensurável graça de Deus em suas riquezas (Ef. 2:7). Tudo tem que ser mediante Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
Esse conhecimento do crente na esfera da salvação, de que nos falam as Escrituras, nos vem pelo Espírito Santo (Ef. 1:17-18; Cl. 1:9; 1 Co. 12:8). Cristo é a fonte e o manancial da graça de Deus (Jo. 1:16-17) e também o alvo do nosso conhecimento (Fp. 1:8, 10). O conhecimento de Deus nos vem também pela comunhão com Ele, é óbvio, sendo um meio de usufruirmos mais de Sua graça (2 Pe. 1:2). Quem está crescendo na graça e no conhecimento de Deus ainda tem muito a crescer. Afirma o texto de João 1:17: “...e graça por graça...”. Se alguém estacionar no desenvolvimento de seu degrau da escada com Deus, virá o colapso. É como alguém sabiamente disse: “A verdadeira vida cristã é como andar de bicicleta; se você parar de avançar, você cai!”
O Senhor Jesus ensinou, dizendo: “Se permanecerdes na minha Palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (Jo. 8:31-32). Não é, portanto, o conhecimento em si que liberta; ele é um meio provido por Deus para chegarmos à verdade. Há muitos na igreja com vasto conhecimento secular, teológico e bíblico, contudo repletos de dúvidas, interrogações, suposições e enganos quanto a Deus, quanto à salvação, quanto às Sagradas Escrituras e etc.
Como pode o crente crescer na graça e no conhecimento de Deus? Primeiro, orando sem cessar (1 Ts. 5:17; 2 Co. 12:8-9; Jr. 33:3). A oração é um precioso e eficaz meio de comunhão com Deus. Segundo, lendo e estudando a Bíblia continuamente (At. 17:11; 1 Pe. 2:2; Sl. 1:2-3), e obedecendo a Deus, a partir da Sua Palavra (Sl. 119:9-11; Jo. 14:21, 23). E também vivendo de modo agradável a Deus (e não somente em obediência a Deus) (Cl. 1:10; 1 Jo. 3:22); testemunhando de Cristo e de Sua salvação (At. 1:8; 5:42); permanecendo na doutrina do Senhor (At. 2:42; Rm. 6:17; 3 Jo. vv. 3-4); frequentando a Casa de Deus (Hb. 10:25; Lc. 2:37; Sl. 27:4); sendo ativo no serviço do Senhor (Mt. 21:28); vivendo continuamente em santidade (Lc. 1:75; 2 Co. 7:1); mantendo-se renovado espiritualmente (2 Co. 4:17; Ef. 5:18) e experimentando a progressiva transformação espiritual pelo Espírito Santo, tendo Ele em nós plena liberdade para isso (2 Co. 3:18).
O Senhor dá sabedoria e de sua boca vem o conhecimento e o entendimento..., que distingue o bem do mal, e que mostra o caminho por onde se foge do mal. Por meio do conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo escapamos das contaminações do mundo e crescemos na graça. Portanto, o procedimento correto para o crente evitar um colapso na sua vida espiritual é “crescer na graça e no conhecimento de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo”. Este conhecimento é obtido no exercício prático da bondade (a virtude da qual acabamos de falar), a qual por sua vez, leva a um conhecimento mais profundo de Cristo. O Deus que se revelara em Jesus Cristo era o Deus da verdade.
Quarto degrau - Domínio Próprio
A palavra usada no grego é “egkrateia” que significa domínio próprio, autocontrole, temperança. Domínio próprio, portanto, é o mesmo que autocontrole. Este domínio de si mesmo é algo extremamente difícil e somente o Espírito de Deus poderá nos levar a alcançá-lo de modo pleno, no entanto, apesar de difícil, é valioso devido às bênçãos que ele proporciona. O escritor de Provérbios faz uma comparação interessante no capítulo 16, versículo 32, que mostra a preciosidade desta qualidade, dizendo: “Melhor é o longânimo do que o herói da guerra, e o que domina o seu espirito do que o que toma uma cidade”.
O primeiro passo para obter o domínio próprio é ter uma real experiência de conversão a Jesus Cristo. O segundo passo é permitir que a palavra de Deus guie completamente a nossa vida. O terceiro passo é buscar uma vida de oração com o Senhor.
Busquemos então uma vida de consagração para que tenhamos mais domínio próprio e sejamos sóbrios, não nos precipitando no responder ou no falar, controlando pelo poder do Espírito a nossa “velha natureza” em todas as áreas da nossa vida. Lucas 9:23 diz: “E dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me”.
Quando o Espírito flui no crente o domínio próprio, a carne, o mau humor ou as concupiscências não determinam o que ele faz ou deixa de fazer, mas ele tem vitória sobre todas estas coisas.
Este domínio próprio deve ser exercido não somente em questões de comida e bebida, mas também em todos os aspectos da vida. Domínio próprio significa controlar as paixões, emoções, vontades, desejos, situações e necessidades, ao invés de ser controlado por elas. O domínio próprio cristão é a submissão ao controle do Cristo que habita no crente; e por este modo a virtude madura realmente fica sendo uma possibilidade para os homens. Isso é tarefa árdua e exige de nós toda a diligência, esforço, vontade, virtude, conhecimento e submissão à Palavra de Deus.
O domínio próprio aparece na lista do fruto do Espírito Santo (Gl. 5:22-23), e aqui mais uma vez se reforça a mensagem de que Deus nos concede as Suas bênçãos, mas os que desejam crescer espiritualmente precisam de produzir em suas vidas as qualidades que Deus preparou para os Seu servos. Não somos manipulados por Deus, mas desafiados, incitados, encorajados a desenvolvermos essa e outras qualidades espirituais na dependência do Espírito Santo.
Muitas vezes entendemos que o domínio próprio é necessário apenas nas horas em que estamos nervosos com alguma coisa. Na verdade precisamos de ter o controle de nós mesmos em toda e qualquer situação; seja em casa, na rua, no trabalho, no lazer, surgirão diversas oportunidades de perdermos o controle. Isso tem a ver com a nossa convivência, obviamente, mas também em todas as demais áreas da vida.
Se eu não consigo dominar a mim mesmo, meus impulsos, minhas vontades, eu não conseguirei perseverar. O domínio próprio faz parte do fruto do Espírito. I Coríntios 9:25 diz: “E todo aquele que luta, exerce domínio próprio em todas as coisas; ora, eles o fazem para alcançar uma coroa corruptível, nós, porém, uma incorruptível”.
Portanto, o domínio próprio é a capacidade efetiva que o cristão deve ter de controlar o seu corpo e a sua mente. Quando Deus fez o homem, deu-lhe o privilégio de dominar sobre todas as coisas: também disse Deus: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra” (Gn. 1:26).
Pedro, ao alegar que o conhecimento os libertava da necessidade de controle próprio deve ter cortado os falsos mestres como um chicote. Pedro enfatiza que o verdadeiro conhecimento leva para o domínio próprio. Qualquer tema que divorcia a religião da ética é fundamentalmente heresia.
Afinal, a vida cristã é aquela vivida no Espírito Santo. Na verdade, a vida cristã só é possível no Espírito. Fora dEle, nossa vida é como a de qualquer pessoa.
Deixe-se conduzir pelo Espírito de Deus. O domínio próprio é um esforço de quem vive pelo Espírito. Os homens em geral não pensam em disciplina, mas nós os cristãos nos esforçamos para viver de modo organizado, coordenado e harmónico. Deixe-se dirigir pelo Espírito. O domínio próprio só é possível por meio de Sua ação em nós.
Quinto degrau – A Perseverança
Do hábito do domínio próprio brota a perseverança, a disposição mental que não é revelada pela dificuldade e pela aflição, e que pode resistir a estas duas agências satânicas da oposição do mundo da parte de fora, e da sedução da carne da parte de dentro. O cristão perseverante não desiste, conserva-se firme e constante; persiste, prossegue, conserva a sua força ou ação, continua, perdura, subsiste e permanece sem mudar ou sem variar de intento. Seu cristianismo é como o brilho firme de uma estrela e não o brilho forte e efémero (rápido eclipse) de um meteoro. Há poucos testes de fé que sejam mais fidedignos do que este; a fé verdadeira persevera conforme Romanos 5:1-3: “Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo, por meio de quem obtivemos acesso pela fé a esta graça na qual agora estamos firmes; e nos gloriamos na esperança da glória de Deus. Não só isso, mas também nos gloriamos nas tribulações porque sabemos que a tribulação produz perseverança” e em Marcos 13:13, Jesus nos mostrou a importância de perseverar, para alcançar a salvação: “Todos vos odiarão por minha causa; mas aquele que perseverar até ao fim será salvo”.
Sem a perseverança não podemos alcançar a salvação, afinal ela é um acto feito pelo Amor de Deus, por meio de Jesus Cristo.
A perseverança trabalha na natureza, no temperamento, no comportamento do cristão, tornando-o resistente para vencer os obstáculos (2 Pe. 1:4). Aqueles que perseverarem e permanecerem firmes na fé, até o fim, viverão e reinarão com Cristo. Cristo rejeitará, no dia do juízo, aqueles que não perseveraram e os que o negaram por palavras ou ações.
Logo, o cristão passa a ter a mente de Cristo (1 Co. 2:16), para discernir o bom do mau, o que é certo do errado, o que é justo do injusto, e a perseverança ajuda o cristão a vencer as provações e tribulações da vida espiritual (Rm. 12:12). A perseverança é sinal de vitória, (2 Tm. 4:7. A perseverança produz vitória! O cristão perseverante não pode se separar de Cristo (Gl. 5: 4).
Esta perseverança não é nenhuma qualidade estoica de aceitar tudo quanto vem, como se fosse da parte dos ditames da cega fatalidade. Provém da fé nas promessas de Deus, do conhecimento de Cristo, da experiência do seu poder divino (2 Pe. 1:3-4: “Seu divino poder nos deu tudo de que necessitamos para a vida e a piedade, por meio do conhecimento daquele que nos chamou para a Sua própria glória e verdade. Dessa maneira, Ele nos deu as Suas grandiosas e preciosas promessas, para que por elas nos tornemos participantes da natureza divina e fugíssemos da corrupção que há no mundo, causada pela cobiça”. E assim, produz no cristão uma consciência aprofundada da mão sábia e amorosa do Pai, que controla tudo quanto acontece. Como o próprio Jesus, que em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, “Portanto, fortaleçam as mãos enfraquecidas e os joelhos vacilantes” (Hb. 12:2), perseverando no orar, jejuar e buscar a presença de Deus, pois, só Ele pode nos fortalecer, nos moldar e nos impedir de sofrer ou de nos precipitarmos. Por isso, oremos cada vez mais e sempre busquemos a presença Dele em nossa vida o tempo todo, principalmente quando nos sentirmos fracos e/ou confusos perante a alguma situação ou emoção.
A Bíblia nos mostra muitos homens e mulheres que perseveraram e obtiveram a conquista da sua vitória, a realização dos seus sonhos. Vejamos alguns exemplos de perseverança à luz da Bíblia:
a) Abraão. Ele passou um longo período de tempo aguardando o cumprimento das promessas do Senhor. Acredito que o exemplo de Abraão é o mais próximo de nossas atitudes (enquanto ser humano), pois, depois de receber a promessa que seria pai de muitas nações (Gn. 12:2 e 13:16), tentou “encurtar o caminho” tendo um filho com a serva de Sara, a Agar. Prosseguindo na história, vemos que não eram estes os planos do Senhor para Abraão (Gn. 17:16, 19, 21), acredito inclusive que a passagem em Génesis 17:1 é um “puxão de orelhas” que o Senhor deu em Abraão.
A promessa do Senhor de fazer a descendência de Abraão próspera e incontável, implicaria em um início de no mínimo um filho, mas havia ali uma enorme dificuldade, uma vez que Sara era estéril (Gn. 11:30), mas Deus não se limita às circunstâncias naturais. Podemos crer em suas promessas, por mais que pareçam impossíveis como no caso de Abraão. Não precisamos de encurtar o caminho! Mas tenho que admitir que isso é muito mais fácil na “teoria” do que na prática… Ajuda-nos Senhor!
b) Noé. Ele perseverou, mesmo sendo criticado, humilhado, desprezado; contudo lutou na construção da arca e salvou-se juntamente com a sua descendência.
c) Josué. Outro grande exemplo bíblico de perseverança. Ele, que após ter revelações em sonhos (Gn. 37:5-9), passou por situações adversas, sendo inclusive jogado numa cova por seus próprios irmãos (Gn. 37:24) e depois foi vendido como escravo a mercadores (Gn. 37:28). Neste instante, vemos que a situação não estava nada favorável a José. Ele poderia pensar que todos os seus sonhos não passavam de bobagens e ilusões, mas não foi o que aconteceu. Durante todo o momento de adversidade que José estava vivendo, o Senhor era com ele (Gn. 39:2, 21), e com perseverança, José seguiu o Senhor (Js. 24:15) e alcançou as promessas que lhe haviam sido reveladas em sonho (Gn. 42.6).
O nome “Josué” no hebraico quer dizer: Jeová é Salvação e no grego significa Jesus. Josué era filho de Num, da Tribo de Efraim, era um servo fiel e companheiro de Moisés. Ele foi designado por Deus como sucessor de Moisés, e através da perseverança ele estimulou o povo a destruir Jericó e também sorteou Canaã pelas tribos.
d) Rute. Ela foi uma mulher que perseverou diante de Boaz, mantendo-se intacta em sua reputação até ser redimida e tomada por esposa (Rt. 4:13). E por galardão de sua nobre perseverança, o seu nome foi inserido na genealogia de Cristo Jesus (Mt. 1:5).
e) O apóstolo Paulo, no Novo Testamento. Ele, constantemente, levava uma só mensagem em seu coração: “os exortava a que permanecessem na Graça de Deus” (At. 13:43).
Jesus, o mestre da perseverança, nos ensina que devemos dar frutos com perseverança (Lc. 8:15). Jesus diz que  a semente que caiu em boa terra é o que, ouvindo a Palavra com o coração reto e bom, a retêm e dá fruto com perseverança.” Sejamos portanto, perseverantes em todo o trabalho que fizermos para Deus, durante toda a nossa vida. “Vós, porém, esforçai-vos, e não desfaleçam as vossas mãos; porque a vossa obra terá uma recompensa” (2 Cr. 15:7). Com efeito, temos necessidade de perseverança, para que, havendo feito a vontade de Deus, alcancemos a promessa (Hb. 10:36).
Andar com Deus é trilhar o caminho da perseverança, e esta questão tem desafiado as mentes mais inteligentes e os corações mais piedosos. Há várias passagens bíblicas que nos estimulam a praticá-la (Lc. 8:15; Lc. 21:19; Rm. 5:3-4; Rm. 8:25; Rm. 15:4-5; 2 Co. 6:4; Ap. 2:2-3, e outras mais). Portanto, ser perseverante é ser constante e paciente. Os ventos podem soprar com força, mas os que perseveram permanecem firmes, mesmo no meio da tempestade, e, como sabemos, a tempestade vem para todos. Aqueles que olham para o Senhor aprendem a se fortalecer através dela – eles esperam pacientemente no Senhor (Sl. 40:1), até serem socorridos.
Nos tempos modernos a perseverança tornou-se uma qualidade rara. Muitos acreditam que o êxito depende mais de estar no lugar e certo na hora certa, do que de perseverança. A mídia está saturada de lemas que, de maneira subliminar, reforçam a ideia de que você pode obter quase qualquer coisa que deseja com o mínimo de esforço e apenas um pouco mais de dinheiro. Os jornais publicam constantemente casos de pessoas que obtêm sucesso da noite para o dia, e de jovens génios do ramo empresarial que ganham milhões assim que terminam os estudos.
O colunista Leonard Pitts lamenta: “Numa sociedade obcecada pelas aparências, o sucesso parece fácil demais... Parece que é algo que qualquer um poderia conseguir, bastando conhecer o truque, ter habilidade ou ser agraciado por Deus.”
Mas, o tempo de Deus não é o mesmo que o nosso. Precisamos de entender isso e colaborar com ele no cumprimento do seu propósito. Embora o mundo esteja cada dia mais em caos, o Senhor trabalha para que a vontade do Pai se cumpra em toda a terra, e ele não desiste de nós ainda que haja milhões de razões para fazê-lo. Ele é perseverante, pois sabe o final da história. Nós também sabemos como as coisas terminarão. A palavra de Deus nos mostra isso claramente; aquele que perseverar até ao fim será salvo (Mt. 24:13). Já havemos recebido as “ferramentas” que nos capacitam a nos mantermos firmes: oração e leitura bíblica, ao mesmo tempo que nos apegamos mais fortemente à comunhão com os irmãos. Que você e eu perseveremos, com os nossos olhos fixos em Jesus Cristo, nossa esperança.
O Senhor honrará a nossa perseverança, e poderemos ser um canal dEle para tocar vidas que estão se sentindo sem esperança. Apenas perseveremos e busquemos constantemente a vontade do Pai para todas as áreas de nossa vida.
A Perseverança é uma das mais belas e maravilhosas virtudes encontradas na vida cristã. Acredito que a perseverança é uma das características que compõe a base, a estrutura, o alicerce para garantirmos o sucesso, alcançando todas as vitórias almejadas na vida cristã. E, também acredito que o motivo de muitas derrotas, na vida de muitos cristãos e grandes homens de Deus é devido à abstinência desta admirável virtude que é a perseverança.
1)    O êxito vem através da perseverança:
a) na oração. A Bíblia dá grande ênfase à oração, tanto no Antigo Testamento como no Novo Testamento. A oração move o braço de Deus a favor de quem busca o Senhor em constante oração: “... orai sem cessar” (1 Ts. 5:17). A necessidade de estar em constante oração está vinculada ou presa à persistência. Quer dizer, não se concebe a oração sem a perseverança. Jesus disse: “...orar sempre e nunca desanimar”. O mandamento bíblico é a de alimentar a oração com perseverança: “... perseverai na oração” (Rm. 12:12).
Esta foi a experiência de vida do salmista: “Esperei com paciência no Senhor, e ele se inclinou para mim e ouviu o meu clamor” (Sl. 40:1). Ana perseverou em oração e o Senhor concedeu-lhe um filho (1 Sm. 1:12 e 27). Em certos momentos da vida parece que Deus se esqueceu de nós, os céus são de bronze, etc., mas, ainda assim, prevalece a teologia de Jesus: orar sempre e jamais abrir mão de nossos sonhos ou projetos.
 b) No sofrimento
A viúva referenciada no capítulo 18 de Lucas desejava que o juiz não somente pusesse fim a seu interminável sofrimento, mas que, também, a libertasse das mãos de seu adversário: “Faz-me justiça contra o meu adversário” v. 3. Esta parábola tem recebido diversas interpretações alegóricas, como, por exemplo, a que diz que a mulher é a igreja, o adversário é Satanás.
Não vamos entrar nesse mérito, embora seja verdade que na vida todos temos um adversário, isto é, um problema, um desafio, um imprevisto, etc., Então, neste caso, o inimigo pode ser representado por qualquer situação adversa da vida.
A viúva não se intimidou com o sofrimento. Ficou firme até ao fim (Ap. 2:10). É na luta que o cristão precisa manter-se inabalável e glorificar a Deus: “Mas também nos gloriamos nas tribulações, sabendo que a tribulação produz perseverança, e a perseverança experiência, e a experiência, esperança. E a esperança não traz confusão” (Rm. 5:2-5).
Todos sabemos que não existe vitória sem lutas ou sofrimento. E a perseverança precisa de fazer parte do estilo de vida de qualquer pessoa que quer vencer na vida: “... sede pacientes na tribulação...” (Rm. 12:12). Tiago trata da paciência no sofrimento: “Meus irmãos, tomai como exemplo de paciência os profetas que falaram em nome do Senhor. Ouvistes da paciência de Jó, e vistes o fim que Deus lhe deu?” (Tg. 5:10-11).
Uma faceta importante da perseverança é precisamente saber lidar com os reveses inevitáveis. Provérbios 24:16 diz: “Porque sete vezes cairá o justo, e se levantará”. O justo nunca ficará caído. Ele pode cair, mas não ficará ali. Porque o justo é aquele que anda na integridade, aquele que tem uma vida fundamentada no bem e na obediência à vontade de Deus, é um servo do Deus altíssimo, que em vez de desistir diante de dificuldades ou fracassos, é perseverante ‘se levanta’, ‘persiste’, e tenta novamente.
Obviamente, nem sempre é fácil recomeçar após um revés. Às vezes nos deparamos com problemas que parecem não ter solução. A impressão que temos é que, em vez de chegarmos mais perto de atingir os nossos objetivos, nos afastamos cada vez mais deles. Existe a possibilidade de nos sentirmos derrotados, incapazes, desanimados e até deprimidos (Pv. 24:10). Apesar disso, a Bíblia nos incentiva a “Não desistirmos de fazer aquilo que é excelente, pois ceifaremos na época devida, se não desfalecermos” (Gl. 6:9). Por isso, é fundamental ser persistente.
Esteja certo de que terá êxito, contanto que persevere em aprender sobre Deus e a Sua vontade e não desista de aplicar o que aprende (Sl. 1:1-3). O apóstolo Paulo nos lembra que Deus dará vida eterna a quem demonstrar “perseverança na obra que é boa” (Rm. 2:7).
c) Na justiça de Deus
O leitor é capaz de perceber como é que Jesus convergiu todo o foco de seu discurso para um dos atributos de seu Pai? “E Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que clamam a Ele de dia e de noite, ainda que tardio para com eles?” (Lc. 18:7).
Se o injusto juiz atendeu a pobre viúva, quanto mais Deus, cuja base de seu trono é retidão e justiça (Sl. 89:14). Somente Deus é capaz de fazer justiça com retidão e perfeição, porque Ele não pode ser subornado ou aliciado. Ele não faz acepção de pessoas (At. 10:34).
A viúva da história relatada por Jesus não desistiu de seu objetivo, mas perseverou e persuadiu o juiz iníquo a julgar o seu adversário. Cumpriu-se o que diz Provérbios 25:15: “Pela paciência se persuade um príncipe...”. Por isso, construiu uma história de vida.
Portanto, perseverar não significa simplesmente passar por uma dificuldade inevitável. No sentido bíblico, perseverança envolve firmeza, manter a atitude mental correta e não perder a esperança ao enfrentar provações. Veja a seguinte ilustração: dois homens estão presos em condições idênticas, mas por motivos bem diferentes. Um deles, um criminoso comum, cumpre a sua pena com muita má vontade. O outro, um cristão verdadeiro que foi preso por seu proceder fiel, continua firme e mantém uma atitude positiva, porque encara a sua situação como uma oportunidade de demonstrar a sua fé. O criminoso dificilmente poderia ser considerado um exemplo de perseverança, mas o cristão leal sim (Tg. 1:2-4.
A perseverança é indispensável para a nossa salvação (Mt. 24:13). Mas não nascemos com essa qualidade importante. É necessário cultivá-la. Como? “Tribulação produz perseverança”, diz Romanos 5:3. Se realmente queremos desenvolver a perseverança, não podemos temer os testes de fé e tentar esquivarmo-nos deles. Precisamos de enfrentá-los. Cultivamos perseverança quando enfrentamos e superamos provas grandes e pequenas, dia após dia. Cada dificuldade que enfrentamos com êxito nos fortalece para enfrentar a próxima. É claro que não desenvolvemos perseverança sem ajuda. Somos ‘dependentes da força que Deus fornece’ (1 Pe. 4:11).
A perseverança dos santos é a doutrina que afirma que os eleitos continuarão no caminho da salvação, por serem eles o objeto do eterno decreto da eleição e por serem eles o objeto da expiação realizada por Cristo, visto que o mesmo poder de Deus que os salvou os preservará e os santificará até o final.
A perseverança revela os crentes genuínos. A Bíblia diz em Marcos 13:13 “E sereis odiados de todos por causa do meu nome; mas aquele que perseverar até o fim, esse será salvo.”
A perseverança revela a fé genuína. A Bíblia diz em Hebreus 3:6 “Mas Cristo é como Filho sobre a casa de Deus; a qual casa somos nós, se tão-somente conservarmos firmes até o fim a nossa confiança e a glória da esperança.”
Àqueles que perseveram, Deus promete-lhes vitória. A Bíblia diz em Filipenses 3:13-14 “Irmãos, quanto a mim, não julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão adiante, prossigo para o alvo pelo prêmio da vocação celestial de Deus em Cristo Jesus.”
Sexto degrau – A Piedade
Atentemos brevemente para o significado da palavra “piedade”. Para termos piedade em nosso andar Cristão será necessário entendermos o que biblicamente é ser piedoso. A palavra “piedade” vem da palavra grega “eusebeia”, e esta é a junção de duas palavras: “eu” que significa “bom ou correto”, e “sebomaie” que significa “adorar”. Portanto, piedade é adorar bem ou corretamente. Possuir piedade quando se adora a Deus bem e de maneira correta como está proposta nas Escrituras, não é seguir os desejos do seu próprio coração e consciência; mas é seguir o ensino da sagrada Palavra de Deus, a qual permanece para sempre no céu. Não é necessário estimular a emoção, sensacionalismo, mistificação ou atualizar os modismos. Deus é eterno, e a Sua Palavra é eterna, o mesmo, ontem, hoje e para sempre. Assim, o caminho de piedade é estabelecido eternamente e devemos nos esforçar nela.
A piedade não é um simples respeito pelas coisas religiosas, nem uma mera devoção. Conforme muito bem a definiu James D. Burns, é o conhecimento de Deus na mente do homem. Ao enfocá-lo sob a ótica dos Evangelhos, George Hodges afirmou que Jesus é amigo dos pecadores, mas só pode ser companheiro dos crentes piedosos.
Piedade “tem a ver com as relações reais, verdadeiras, espirituais e internas com Deus” enquanto religião, “tem a ver com as ações externas nas cerimónias e observações religiosas, as quais podem ser feitas pela carne.” (E. W. Bullinger). João Gill, referindo-se à piedade escreveu: “Isto é nada mais do que a devoção interna da mente e zelo espiritual no serviço a Deus; é a disposição santa da alma para com Deus.” Um relacionamento espiritual e real para com Deus produzirá ardente e santo zelo para corretamente adorar. O servo deve exercitar a si mesmo constantemente na Palavra de Deus para não se desviar em sua adoração.
O homem religioso da antiguidade, tanto no uso grego quanto no latino, era cuidadoso e correto em cumprir os seus deveres diante dos deuses e dos homens. Talvez Pedro aqui a empregue em contraste deliberado com os falsos mestres, que estavam longe de serem corretos no seu comportamento tanto diante de Deus quanto diante do seu próximo. Pedro toma cuidado para ressaltar que o verdadeiro conhecimento de Deus, que erroneamente se ufanavam de possuir, manifesta-se em reverência para com Ele e respeito para com os homens. Piedade é uma consciência muito prática de Deus em todos os aspetos da vida. Barclay cita apropriadamente a descrição de Xenofonte de Sócrates, para ilustrar o conceito mais nobre da piedade a ser achado no mundo pagão. “Ele era tão piedoso e devotamente religioso que não daria um só passo fora da vontade do céu; era tão justo e reto que nunca sequer causou o mínimo dano a qualquer alma vivente; com tanto domínio próprio, tão temperado, que nunca em ocasião alguma escolheu o mais doce ao invés do melhor; tão sensato, tão sábio, e tão prudente que, ao distinguir o melhor do pior, nunca errou”. É um tipo de carácter algo assim que Pedro quer delinear com a palavra compreensiva, eusebeia.
Uma pessoa piedosa nunca busca o seu próprio interesse e sim o de Deus, ela é uma pessoa que jejua, ora, busca, medita e procura estar sempre na presença de Deus, e não guarda mágoa, rancor, não se ira facilmente, e etc. porque ela sabe que esses tipos de sentimentos a vão afastar de Deus, e por isso vigia para que isso não aconteça, procura se esforçar para obedecer à palavra de Deus, e procura sempre a verdade com perseverança, ela não é egoísta e procura sempre ajudar os outros em suas necessidades.
Uma pessoa piedosa, nunca age com emoção, e sim com base na palavra de Deus. Ela procura sempre dizer a verdade seja a quem for com sabedoria e mansidão, obedece às autoridades constituídas por Deus, se elas estiverem de acordo com a sua palavra. E se você quer chamar a presença do Senhor para a sua vida, seja uma pessoa piedosa assim como foi Cornélio, um homem piedoso temente a Deus, que com a sua piedade chamou a atenção do Senhor para a sua vida (At. 10:1-48).
Sétimo degrau – A Fraternidade
Já vimos o que é a vida piedosa, mas o próximo degrau é viver essa piedade em comunhão com as pessoas, pois a piedade, não pode existir sem a fraternidade. “Se alguém disser: amo a Deus e odiar a seu irmão, é mentiroso” (1 Jo. 4:20).
Quem tem a felicidade de frequentar uma igreja que vive cordialidade genuína, sabe que não pode dispensar o senso de comunidade. A comunidade nos conforta em momentos de dor e de dificuldade, na comunidade fazemos amizades e construímos uma fraternidade insubstituível. A fraternidade é maravilhosa. Ela enraíza no evangelho, enlaçando almas e corações. Sempre que nos chegamos mais perto, um milagre acontece. Infelizmente muitos não conseguem ter uma união próxima na igreja. As pessoas estão muito ocupadas, muitos moram distante da igreja; isso se torna impedimento.
Na igreja muitos vão e muitos vêm, muitos se mudam e ficam pouco tempo no convívio dos irmãos, essa realidade nos tenta a não construir relacionamentos profundos com os irmãos. Um outro ponto que nos impede de ter comunhão uns com os outros é o negligenciar o mandamento bíblico de viver uma vida em conjunto. O nosso tempo é caracterizado por muitos críticos sociais como o tempo do “Eu”, isso significa que quando damos atenção exacerbada ao eu não conseguimos enxergar as necessidades alheias (1 Co. 12:14-16).
A Palavra de Deus nos lembra repetidas vezes que o nosso cristianismo não tem sentido se o vivermos isoladamente (1 Jo. 1:3; Gl. 2:9; Fp. 1:5). Essas passagens nos mostram o quanto a igreja do primeiro século valorizava a fraternidade como uma parte indispensável da vida cristã. Isso nos traz à memória um antigo pensamento que afirma que o nosso cristianismo não foi planeado para ser vivido isoladamente. Em todo o Novo Testamento encontramos vislumbres da comunhão daquela igreja (1 Co. 12:13).
As contínuas mudanças ocorridas em nosso tempo tiram da igreja o senso de comunhão. Esse problema foi resolvido na igreja do primeiro século quando os apóstolos encontraram a fórmula para convencer as pessoas a participarem da vida comunitária do povo de Deus. Sociólogos de nosso tempo descobriram que a mobilidade e a falta de raízes produzem resultados negativos na vida social. Nesse ponto o papel da igreja se torna muito importante, lançando as bases dos relacionamentos saudáveis e enraizados, haverá resultados como vida familiar equilibrada e até mesmo a criminalidade diminuirá. A fraternidade torna a vida muito mais leve.
Quem tem a felicidade de frequentar uma igreja que vive cordialidade genuína, sabe que não podemos dispensar o senso de comunidade. A igreja do primeiro século ofereceu comunhão aos que se achavam afastados dos seus e isso teve um resultado formidável. A Palavra de Deus nos chama para esse mesmo tipo de fraternidade hoje. Devemos ser essa comunidade exclusiva que não se encontra em nenhum outro lugar, pois a igreja é o lugar mais seguro da terra.
Oitavo degrau – O Amor
Em I Coríntios 13:4-7, a Bíblia nos fala sobre o amor. Ela diz que: “O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”.
O amor é melhor do que o dom de línguas. O amor é melhor do que o dom de profecia e conhecimento. O amor é melhor do que o dom de milagres. O dom pode ser bom, mas o amor é o caminho mais excelente (1 Co.12:31). As maiores obras de caridade, sem amor, são de nenhum valor. O amor é melhor por causa da sua excelência intrínseca e também por causa da sua perpetuidade.
A coroa do avanço cristão é o amor. “O maior destes é o amor” (I Co. 13:13). A palavra ágape é uma que, para todos os fins práticos, os cristãos cunharam para denotar a atitude que Deus demonstrou ter para connosco, e que requer da nossa parte para com Ele. Na amizade (philia) os parceiros buscam mútuo conforto; no amor sexual (eros), a mútua satisfação. Nestes dois casos, estes sentimentos foram despertados por causa daquilo que a pessoa amada é. No caso do ágape, a satisfação é inversa. O ágape de Deus é evocado, não por aquilo que somos, mas, sim, por aquilo que Ele é. Tem a sua origem no agente, não no objeto. Não é que nós sejamos amáveis, mas, sim, que Ele é amor. Este ágape pode ser definido como sendo um desejo deliberado pelo sumo bem da pessoa amada, que se demonstra em ações sacrificiais pelo bem daquela pessoa. É isto que Deus fez por nós, “Porque Deus tanto amou o mundo que deu Seu Filho Unigénito, para que todo aquele que nele crê não pareça, mas tenha a vida eterna” (Jo. 3:16). É isto que Ele quer que nós façamos (1 Jo. 3:16). É isto que Ele está disposto a realizar em nós. “E a esperança não nos decepciona, porque Deus derramou o Seu amor em nossos corações, por meio do Espírito Santo que Ele nos concedeu” (Rm. 5:5)). Destarte, o Espírito de Deus que é amor nos é livremente dado, a fim de reproduzir em nós aquela mesma qualidade. Os homens, pois, nunca acreditarão que Deus é amor a não ser que o vejam nas vidas dos Seus seguidores professos.
A maior revelação da Bíblia é que Deus é amor. Essa é a revelação de que o homem mais necessita. O próprio Deus é amor, mas quando esse amor é aplicado a nós, descobrimos que “Deus amou o mundo de tal maneira” (Jo 3:16). “Deus é amor” fala da Sua natureza, e “Deus amou o mundo de tal maneira” fala da Sua ação. O próprio Deus é amor; portanto, aquilo que provém Dele deve ser amor. Onde há amor, deve também haver o objeto daquele amor. Após mostrar-nos que Ele é amor, Deus imediatamente nos mostra que Ele ama o mundo. Deus não somente nos amou, mas também enviou Seu amor. Deus não podia deixar de enviar Seu amor. Ele não podia deixar de amar o mundo. Aleluia!
Agradecemos e louvamos a Deus! Seu amor não é somente um sentimento em Seu interior; é também uma ação e até mesmo uma expressão e manifestação. Seu amor fê-Lo realizar o que não podemos realizar por nós mesmos. Uma vez que Ele é amor e amou o mundo, a salvação foi produzida. Uma vez que o homem tem pecado e uma vez que Deus é amor, muitas coisas acontecem. Se você não é pobre, não terá necessidade de mim. Por outro lado, se eu não o amo, mesmo que você seja extremamente pobre, eu não me preocuparei. A situação hoje é que o homem pecou e Deus amou; portanto, as coisas começam a ocorrer. Aleluia! Muita coisa está acontecendo porque o homem pecou e Deus amou. Quando você reúne as duas coisas, o evangelho vem à existência.
O Amor é a chave para herdar a vida eterna. “Que farei para herdar a vida eterna?” Foi a pergunta que um intérprete da Lei fez a Jesus, em Lucas 10:25. Jesus replicou com as suas próprias perguntas: “O que está escrito na Lei? Como o interpretas?” Sua resposta foi previsível, uma vez que Jesus consistentemente mandava os homens de volta para as Escrituras para responder a todas as perguntas espirituais. Em sua resposta, o professor da Lei citou os mandamentos para amar a Deus com todo nosso coração e amar nosso próximo como a nós mesmos. Jesus concordou e, então, acrescentou: “faz isto e viverás” (Lc. 10:28). Jesus recusava permitir que a discussão de sua palavra ficasse na teoria. Ele exigia que os homens praticassem o que sabiam. Amar a Deus e ao próximo podem ser tópicos interessantes para conversa, mas a intenção é que sejam mandamentos para serem obedecidos, e não filosofias a debater. O intérprete da Lei preferiu falar sobre como receber a vida eterna; Jesus lhe ordenou que fizesse o que era necessário para obtê-la.
Considere estes dois mandamentos cuidadosamente: “Amar a Deus e ao seu próximo”. Os dois próximos parágrafos em Lucas ilustram o que cada mandamento significa. Para explicar o que significa amar o próximo, Jesus contou a parábola do bom samaritano. Para exemplificar a ideia de amar a Deus, Lucas contou a história da visita de Jesus à casa de Marta e Maria.
O amor pelos irmãos cristãos é uma marca que distingue o verdadeiro discipulado, e que representa outra área em que os falsos mestres eram tão apelativamente deficientes. Aqueles que ficaram sendo coparticipantes da natureza divina, ou, segundo o seu modo de escrever em primeira de Pedro, aqueles que nasceram de novo, que “foram regenerados, não de uma semente perecível, mas imperecível, pela Palavra de Deus, viva e permanente” (1:23), devem demonstrar a realeza do seu comportamento para com outros filhos do Rei, sejam quais forem as suas diferenças de cultura, classe e afiliação eclesiástica. Mas é necessário trabalhar este dom. O amor para com os irmãos acarreta levar os fardos uns dos outros, e assim cumprir a lei de Cristo; significa guardar aquela unidade dada pelo Espírito da destruição pela tagarelice, pelo preconceito, pela estreiteza e pela recusa de aceitar um irmão cristão por aquilo que é em Cristo. A própria importância desta Filadélfia e a dificuldade de atingi-la é a razão por que ela é consideravelmente ressaltada nas páginas do Novo Testamento (1 Pe. 1:22; I Jo. 5:1; Hb. 13:1; I Ts. 4:9; Rm. 12:10). Por causa da fraternidade, Deus envia saúde e bênção para o Seu povo.
Ser participante da natureza divina, longe de outorgar uma dispensa das reivindicações da ética, tanto as confirma quanto torna possível a sua realização. Cada passo, disse Bengel, dá origem ao seguinte, e o facilita. Cada qualidade subsequente equilibra e traz à perfeição a qualidade anterior.
Cristo é o nosso grande exemplo de como devemos viver uma vida em amor… como uma oferta de aroma suave. As ofertas pelo pecado feitas no Antigo Testamento, sem dúvida nunca foram descritas como de aroma suave. Mas isso é dito acerca de Jesus, a nossa grande Oferta pelo pecado. Ele deu-Se de modo terno, compassivo e doce, porque nos amou. Jesus demonstrou, da maneira mais elevada possível o significado de alguém ser gentil e compassivo para com os seus semelhantes. Eis a razão pela qual, para o apóstolo Paulo, Jesus foi um sacrifício de aroma suave, devido ao impulso do amor. O substantivo chrestotes (ou o adjetivo chrestos) algumas vezes é traduzido por “benigno” ou “bom”, conforme se vê em 1 Pedro 2:3 “...se é que já provastes que o Senhor é benigno”. Ou conforme se pode ver em Salmos 34:8: “Provai e vede que o Senhor é bom...”, que se refere à Sua doçura. Esses textos bíblicos referem-se a experimentar, de maneira pessoal, a gentileza do Senhor.
Podemos ter fé, podemos ter esperança, podemos falar a língua dos homens e dos Anjos, mas senão tivermos amor, tudo em nossa vida perde o sentido. O amor nos faz suportar uns aos outros, nos faz perdoar, nos faz crer, pois o amor não é um fruto da carne e sim, uma dádiva de Deus (1 Jo. 4:7).
Se somos capazes de amar como Deus ama, então sentimos este amor fluir de cada um de nós. O homem, porém, que não manifesta estas qualidades é cego.

 

 

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

A Parábola do Semeador

Eis que o semeador saiu a semear a sua semente e, quando semeava, caiu alguma junto do caminho, e foi pisada, e as aves do céu a comeram; E outra caiu sobre pedra e, nascida, secou-se, pois que não tinha umidade; E outra caiu entre espinhos e crescendo com ela os espinhos, a sufocaram; E outra caiu em boa terra, e, nascida, produziu fruto, a cento por um. Dizendo ele estas coisas, clamava: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça” (Lc. 8:5-8).
Introdução
Eis que o semeador saiu a semear...” (Mt. 13:3). Era um  modo incomum do Senhor abrir um discurso sobre as  maravilhas do reino do céu.
Jesus contou frequentemente, por parábolas, histórias sobre os acontecimentos do dia-a-dia que ele usava para ilustrar verdades espirituais. Uma das mais importantes destas parábolas é aquela registada em Mateus 13:1-23, Marcos 4:1-20 e Lucas 8:4-15. Esta história fala de um fazendeiro que lançou sementes em vários lugares com diferentes resultados, dependendo do tipo do solo. A importância desta parábola é salientada por Jesus em Marcos 4:13: “Não entendeis esta parábola e como compreendereis todas as parábolas?” Jesus está dizendo que esta parábola é fundamental para o entendimento das outras. Esta é uma das três únicas parábolas registadas em mais do que dois evangelhos, e também é uma das únicas que Jesus explicou especificamente. Precisamos de meditar cuidadosamente nesta história.
Depois de o Senhor haver feito de Cafarnaum o Seu centro de operações começou uma viagem sem pressa através da província da Galileia, visitando as cidades e aldeias de maneira sistemática. Isso deve ter-se constituído numa excelente oportunidade para a instrução, para encorajar os discípulos acerca de sua doutrina e métodos e encorajar tantos outros quando os discípulos repetissem.
A parábola do semeador foi sugerida pelo cenário que surgia diante d’Ele. Há um progresso nos estágios de assimilação e crescimento, identificando as várias fases da experiência humana. Os resultados variados da pregação do evangelho não se devem, em primeiro lugar, nem ao semeador nem à semente, mas à qualidade do solo. Em todo o grupo há os endurecidos, como o caminho pisado; os impulsivos, como o terreno que tinha uma fina camada de terra sobre a pedra; os que têm o coração dividido por riquezas e interesses, como o solo coberto de espinhos; e os que recebem com alegria e frutificam com paciência. O Senhor por meio das parábolas velou Seu pensamento. Se desse maiores esclarecimentos apenas aumentaria a condenação dos ouvintes desobedientes.
É bem possível que fosse no início da primavera quando Jesus tomou assento na proa de um barco de pesca na praia ocidental do Mar da Galileia, e ensinou a Sua notável parábola. Quando Jesus contou a parábola, tomou um exemplo tirado da agricultura para dar uma lição de confiança a seus discípulos. Ele logo estaria na praia oriental, alimentando uma multidão de pessoas com uns poucos pães e peixes (Mt. 14:13-21), e a festa da Páscoa ”estava próxima” (Jo. 6:4). Os campos que rodeavam Genesaré teriam sido semeados apenas uns poucos meses antes (janeiro, fevereiro). O cheiro deles deveria estar no ar e não haveria um homem nas multidões de ouvintes que não soubesse o peso de um saco de semente e a sensação do solo recém-arado. Era uma terra para plantadores e proprietários, um lugar para cultivar coisas, e a parábola da semente e dos solos não poderia ter encontrado uma audiência mais entendida.
A luz do início da primavera teria refletido como era jovem o mestre, e talvez como era comum a sua aparência. Nos seus olhos, a despeito das entusiásticas multidões que se comprimiam sobre ele para o ouvir, pode bem ter havido uma ponta de tristeza. Alguns estavam, sem dúvida, escutando embevecidos, esforçando-se sinceramente para tomar cada palavra. Outros teriam sido vistos cabeceando em entusiasmo distraído, envolvidos pelo momento e a multidão. Ainda outros teriam estado ouvindo distraidamente, escutando e concordando, mas não dando atenção total à mensagem. E os escribas e fariseus — eles também estariam ouvindo — não para escutar, naturalmente, mas para achar os defeitos e salientá-los. Eles entendiam tão pouco agora, e a maioria jamais entenderia o evangelho do seu reino.
Conheceria Jesus os pensamentos que estavam por detrás dessas faces? Conheceria Ele os preconceitos, as escusas justificativas, as ideias que estavam forçando e infiltrando em cada palavra que Ele falava? Veria Ele as grades de proteção com que defendemos os nossos corações de Sua verdade? Certamente que sim. E nos adverte como os advertia, “Quem tem ouvidos, ouça” (Mt. 13:9).
Há dois recados para nós, hoje, nesta parábola. O primeiro é o mesmo de Jesus aos discípulos. Não sejam pessimistas, não desesperem. Deus pode parecer tardar, mas não falha. A Sua promessa é certa e a Sua palavra vai se realizar. Tenham fé! Vocês vivem semeando porque têm sonhos e ideais a realizar. Cuidem das sementes para que elas germinem, cresçam e deem frutos. O segundo recado é o seguinte. Nós, em geral, acreditamos pouco na força da Palavra e só nos preocupamos com o terreno, isto é, connosco. Mas a semente brota pela sua força interior. O terreno é necessário, mas não seria fecundo sem a semente. Acredite mais na Palavra de Deus! Ela é a semente que contém vida. Medite-a. Faça com que ela inspire a sua vida, as suas opções e a sua conduta. Deixe que ela o transforme e o guie. Deixe que a presença e a palavra de Deus reinem em seu coração e você viverá no Reino de Deus.
Conta-se que Deus tem uma loja onde se encontram todos os presentes que alguém gostaria de ganhar: beleza, felicidade, inteligência, gentileza, solidariedade, riqueza, alegria, paz... Mas tudo está em forma de sementes. Deus não entrega tudo pronto. Só confia sementes a serem plantadas e cultivadas.
Jesus certamente viveu mais cônscio do mundo no qual ele andava do que qualquer outro homem antes dele. E de tudo que o rodeava ele tirou ricas metáforas, que fizeram dele um tão irresistível ilustrador e mestre.
O Senhor começou cedo, nos seus discursos públicos, a falar com conhecimento de pescadores, agricultores, pastores e comerciantes. Ele tirou expressivas comparações do mundo dos reis e dos príncipes, dos servos e dos pobres, dos sacerdotes e dos publicanos, dos juízes e dos ladrões. Ele encontrou lições na relva e nas flores, no vento e na rocha. Ele falou muito de vinhas e trigais, de joio, de espinhos e de cardos. Ele conhecia bem o lugar da raposa e o caminho dos lobos e das ovelhas. Ele falou especialmente do lar, de sal e de lâmpadas, de cozinha e de limpeza, de festas e de casamentos, de pais e de filhos. E as Suas palavras eram maravilhosas, pelo modo como tornavam a vontade do céu tão real e clara.
Quando o agricultor semeia, é claro que muitas das sementes vão se perder. Mas o semeador não é tolo. Sabe que a maior parte da semente vai encontrar terra boa e dar fruto, 30, 50 e 100 vezes mais. Faça, então, como o semeador: olhe para a frente, olhe para o futuro. Anteveja o campo de trigo como um mar de ouro, ondulando sob o sopro do vento. Este sonho é que leva o semeador a semear, não obstante as dificuldades.
Observe os perigos que o ouvinte corre, para não desperdiçar a preciosa semente. Jesus diz que o semeador começou a semear, mas com pouca frutificação. Vejamos:
Uma parte caiu no caminho, e pisaram-na os homens e comeram-no as aves”. Houve tempo em que a terra fofa e rica, igual à do resto do campo, que com o passar dos anos, foi sendo pisada pelos passantes e pelo tráfego. A semente cai na superfície mas não consegue penetrar. Quando o nosso coração chega a essa condição, precisamos de pedir a Deus para retalhar a terra dura com o arado da convicção de pecado - pensamentos levianos, fantasiosos e dispersivos - ou da tristeza.
Outra parte caiu sobre as pedras, e secou-se nas pedras por falta de humidade”. Existe o solo superficial, uma camada de pequena espessura, sob a qual se encontra a rocha. Quantos têm, facilmente, uma reação apenas emocional – aquela que “logo nasceu”, que não tinha raiz porque o coração era duro mas se recusam que a verdade de Deus ganhe raízes; por isso são rapidamente dissuadidos por um outro qualquer.
Outra parte do trigo caiu entre espinhos, e afogaram-no os espinhos”. Há ricaços com os seus luxos e pobres com as suas carências, cujo coração, um solo espinhoso, não dá a oportunidade de crescimento à semente da graça. É preciso cuidar para que as carências do pobre, as riquezas dos opulentos e a ansiosa busca de coisas deste mundo pelas classes intermediárias não dissipem a força da alma de tal maneira que a Palavra de Deus venha a ser apenas uma haste delgada sem espiga ou fruto. Não basta ouvir a Palavra; devemos aceitá-la e produzir frutos.
Esta parábola dá-nos, sem dúvida, um retrato de como todas as criaturas do Mundo se armaram contra esta sementeira. Todas essas criaturas, que perseguiram o semeador, se reduzem a quatro géneros: criaturas racionais, como os homens; criaturas sensitivas, como os animais; criaturas vegetativas, como as plantas; criaturas insensíveis, como as pedras. A natureza insensível o perseguiu nas pedras, a vegetativa nos espinhos, a sensitiva nas aves, a racional nos homens. E repare a desgraça do trigo, que onde só podia esperar que tudo desse certo, ali achou maior afronta. As pedras secaram-no, os espinhos afogaram-no, as aves comeram-no; e os homens? Pisaram-no.
Mas há uma sementeira que nos dá grandes esperanças, porque, ainda que se tenham perdido os primeiros trabalhos, lograr-se os últimos. O semeador, depois de perder a primeira, a segunda e a terceira parte do trigo, aproveitou a quarta e última, e colheu dela muito fruto. Provavelmente você já perdeu três partes da sua vida: uma parte da idade foi levada pelos espinhos, outra parte foi levada pelas pedras, outra parte foi levada pelos caminhos, mas nesta quarta e última parte, neste último quartel da vida, que são os ouvintes que recebem a Palavra implantada no coração fiel, a sua frutificação centuplicada recompensará amplamente as suas lides e lágrimas. De outro modo, a aradura, a semeadura e toda a ação da natureza serão em vão. Viva de acordo com o que você sabe. Obediência é a chave do entendimento.
1.     “A semente é a Palavra de Deus” (Lc. 8:11).
A multidão curiosa que tinha ouvido a parábola do semeador não a  entendeu. Mas, então, o que esperávamos? Nem os discípulos do Senhor entenderam. “Então, lhes perguntou: Não entendeis esta parábola e como compreendereis todas as parábolas?” (Mc. 4:13).
O significado da semente é claramente demarcado para nós. Jesus diz que o trigo que o semeador semeou é a Palavra de Deus. Ainda que não seja a mensagem primária desta parábola, a verdade é que a palavra de Deus é o poder que constrói o reino de Deus e precisa de ênfase. Os espinhos, as pedras, o caminho e a terra boa em que o trigo caiu, são os diversos corações dos homens. Os espinhos são os corações embaraçados com cuidados, com riquezas, com delícias, e nestes afoga-se a palavra de Deus. As pedras são os corações duros e obstinados, e nestes seca-se a palavra de Deus, e se nasce, não cria raízes. Os caminhos são os corações inquietos e perturbados com a passagem e tropel das coisas do Mundo, umas que vão, outras que vêm, outras que atravessam, e todas passam, e nestes é pisada a palavra de Deus, porque a desatendem ou a desprezam. Finalmente, a terra boa são os corações bons ou os homens de bom coração, e nestes prende e frutifica a palavra divina, com tanta fecundidade e abundância, que se colhe cento por um.
Acho que se pode dizer, confidencialmente que em toda a natureza não há outra ilustração da Palavra de Deus tão verdadeira e tão significativa como a da semente. É realmente uma dádiva divina maravilhosa poder discernir seu profundo significado espiritual.
Não há a menor possibilidade de apreciar carência no atributo da semente que representa a Palavra de Deus. Paulo se refere à Palavra como viva e eficaz: “Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração” (Hb. 4:12). Pedro ressalta a incorruptibilidade da Palavra: “Sendo de novo gerados, não de semente corruptível, mas da incorruptível, pela palavra de Deus, viva, e que permanece para sempre” (I Pe. 1:23).
A semente não poderia ser outra a não ser a Palavra de Deus, que tem vida em si mesma! Numa símile bendita e dispensacional da Palavra: a erva foi o Pentateuco; a espiga o Antigo Testamento; e o grão, o Novo Testamento! Oh, bendita semente, a Palavra de Deus! O solo, o coração do homem, dilacerado pelo pecado e pelas forças das hostes infernais, na sua proporção original, contendo ainda os sais minerais e os ingredientes hidro-carbonatados que farão a semente morrer e frutificar, foi criação do Altíssimo - “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra” (Gn 1:26)!
A Palavra de Deus é o poder do próprio Deus em ação. O mundo foi criado e é mantido pela palavra de Deus (Hb. 11:3; 1:3), e o sopro divino que está em Suas palavras (Sl. 33:6) é o sopro que nos deu a vida (Gn. 2:7). A palavra do Todo-poderoso responde aos nossos espíritos como a luz responde aos nossos olhos. Sua poderosa verdade viva penetra em nossos corações e põe a nu os nossos mais íntimos pensamentos (Hb. 4:12).
Em linguagem simples, o que esta parábola nos diz é que a própria palavra de Deus é a semente germinante da vida (Fp. 2:16). Ela é a palavra do evangelho que nos salva (Rm. 1:18; 1 Co. 1:21), gera (Tg. 1:18), regenera (1 Pe. 1:23), liberta (Jo. 8:32), produz fé (Rm. 10:17), santifica (Jo. 17:17) e nos atrai a Deus (Jo. 6:44-45). É a “palavra da sua graça” que nos edifica e garante a nossa herança entre o povo de Deus (At. 20:23). É por esta própria palavra viva, que transmite energia, que o Espírito Santo não somente nos leva ao renascimento espiritual (Ef. 1:13), como também nos transforma na imagem do Filho de Deus. E tudo isto é possível porque em suas palavras Deus nos abriu Seu coração e derramou as profundezas de Sua verdade e graça (1 Co. 2:10-13). No evangelho, ele nos fez olhar na face de nosso crucificado Salvador (2 Co. 3:18). E isso tem poder!
É, portanto, sacrilégio homens e mulheres falarem do evangelho como “mera palavra” e rirem da ideia que o evangelho por si só é capaz de produzir uma nova e inconquistável vida espiritual. Não é prudente falar tão levianamente de palavras que saem da boca de Deus ou insultar o céu tentando fortificar esta palavra “inadequada” com nossas vãs filosofias (Cl. 2:8-10; Pv. 30:5-6). Até Satanás sabe onde está o poder. “A que caiu à beira do caminho são os que a ouviram; vem, a seguir, o diabo e arrebata-lhes do coração a palavra, para não suceder que, crendo sejam salvos” (Lc. 8:12).
A Palavra de Deus pode ser falada para vários tipos de pessoas. No entanto, os resultados serão diferentes como diferente é a qualidade dos corações que ouvem a Palavra. Assim, alguns vão rejeitá-la, outros irão aceitá-la até a aflição chegar, e os outros vão recebê-la, mas eventualmente irão colocá-la em última posição colocando outras coisas (cuidados, riquezas, outros desejos) acima dela, e, finalmente, outros vão mantê-la em um coração bom e honesto onde darão frutos. É por isso que Jesus, terminando a interpretação da parábola, disse: “Acautelai-vos, vede como ouvis” (Lc. 8:18).
Aqui há uma lição para o ouvinte. O fruto produzido depende da resposta dada à Palavra. É decisivamente importante ler, estudar e meditar sobre as Escrituras. A palavra tem que vir habitar em nós (Cl. 3:16), para ser implantada em nosso coração (Tg. 1:21) e, assim, sempre que falarmos aquilo que a Bíblia diz sobre um dado assunto estaremos semeando o amor do Pai no coração das pessoas e, certamente, ela brotará em suas vidas. Temos que permitir que as nossas ações, as nossas palavras e as nossas próprias vidas sejam formadas e moldadas pela palavra de Deus. O importante não está só no ouvir a Palavra, mas sim  como se ouve, pois muitos podem ouvir a Palavra, mas apenas aqueles que a ouvem e a mantém em um coração bom e honesto serão frutíferos.
Uma safra sempre depende da natureza da semente, não do tipo da pessoa que a plantou. Um pássaro pode plantar uma castanha: a árvore que nascer será um castanheiro, e não um pássaro. Isto significa que não é necessário tentar traçar uma linhagem ininterrupta de fiéis cristãos, recuando até o primeiro século. Há força e autoridade próprias da palavra para produzir cristãos como aqueles do tempo dos apóstolos. A palavra de Deus contém força vivificante. O que é necessário é homens e mulheres que permitam que a palavra cresça e produza frutos em suas vidas; pessoas com coragem para quebrar as tradições e os padrões religiosos em volta deles, para simplesmente seguir o ensinamento da Palavra de Deus. Hoje em dia, a palavra de Deus tem sido frequentemente misturada com tanta tradição, doutrina e opinião que é quase irreconhecível. Mas se pusermos de lado todas as inovações dos homens e permitirmos que a palavra trabalhe, podemos tornar-nos fiéis discípulos de Cristo justamente como aqueles que seguiram Jesus há mais de 2000 anos atrás. A continuidade depende da semente.
A semente é aparentemente insignificante, uma coisa pequenina comparada com a árvore que irá produzir. A vida está encerrada nela e incubada. Necessita de solo adequado, sem o qual o seu desenvolvimento é impossível. O desenvolvimento é lento e põe à prova a paciência daquele que dela cuida. Através do fruto, a semente se reproduz e se multiplica. Em todos esses aspetos, ela ensina-nos lições muito preciosas quanto ao uso da Palavra de Deus.
Em primeiro lugar, ensina-nos a lição da fé. A fé não olha para as circunstâncias. Pelas aparências não seria provável que a Palavra de Deus desse vida à alma, operasse em nós a sua maravilhosa graça, transformasse por completo o nosso caráter, ou nos enchesse com a sua força. No entanto, isso acontece! Quando aprendemos a acreditar que a Palavra pode realizar aquilo que diz, estamos de posse de um dos mais importantes segredos do estudo bíblico. Receberemos, então, cada palavra como a garantia e o poder de uma operação divina.
Em segundo lugar, ensina-nos a lição do trabalho. A semente precisa de ser colhida, guardada e plantada em solo devidamente preparado. Do mesmo modo, a mente precisa de recolher das Escrituras e discernir as palavras que vão ao encontro das nossas necessidades, e então transferi-las para o coração, como o único solo em que essa divina semente pode desenvolver-se. Não somos nós que lhe propiciamos vida ou desenvolvimento. Nem precisamos de fazer tal coisa; já ali está. Tudo o que podemos fazer é abrigar a Palavra em nosso coração, ali a conservar, esperando pelo sol que vem do alto.
Em terceiro lugar, ensina-nos a lição da paciência. Em muitos casos, o efeito da Palavra no coração não é imediato. Leva tempo para arraigar-se e depois se desenvolver. As palavras de Cristo precisam de habitar em nós. Precisamos de, dia após dia, não somente aumentar o nosso stock de conhecimento bíblico – o que se assemelha ao stock de grãos no celeiro –, mas também zelar pelas ordenanças e promessas recolhidas com tanto cuidado, e permitir que elas encontrem lugar em nosso coração, a fim de desenvolver raízes e galhos. Precisamos de saber que tipo de semente vamos colocar em nosso coração e cultivar uma espera vigilante e paciente. No devido tempo ceifaremos, se não desanimarmos.
Finalmente, em quarto lugar, vem a lição da produtividade. Não importa quão insignificante possa parecer a pequena semente da Palavra de Deus, quão frágil ela possa afigurar-se, quão profundamente escondida ela possa estar ou quão exasperante possa ser a morosidade com que se desenvolve; pode-se ficar confiante que o fruto virá. A verdade, a vida e o poder de Deus, contidos na Palavra, vão se desenvolver dentro do indivíduo. Do mesmo modo que a semente produz fruto com a mesma semente para nova reprodução, a Palavra lhe dará fruto, que será levada a outras pessoas, a fim de lhes dar vida e bênção.
Cada conversão é o resultado do assentamento do evangelho dentro de um coração puro. Como o evangelho se espalhava no primeiro século, foi-nos dito muito pouco sobre os homens que o divulgaram, porém muito nos foi dito sobre a mensagem que eles disseminaram (estude o livro de Atos e note que em cada cidade para onde os apóstolos viajaram, os homens eram convertidos como resultado da palavra que era ensinada). A importância das Escrituras deve ser ressaltada ao máximo.
Isto significa que temos que ensinar a palavra. Não há substitutos permitidos. Frequentemente, as pessoas raciocinam que haveria uma colheita maior se alguma outra coisa fosse plantada. Então, as igrejas começam a experimentar outros meios, de modo a conseguir mais adeptos. Elas recorrem a divertimentos, festas, desportos, aulas de Inglês, bandas, eventos sociais e muitas outras coisas para tentar atrair as pessoas que não estariam interessadas, se pregassem somente o evangelho. Nosso Pai celestial nos disse qual semente plantar: a palavra de Deus. Não é nosso trabalho analisar o solo e decidir plantar alguma outra coisa, esperando receber melhores resultados. A colheita do evangelho pode ser pequena (se o solo for pobre), mas Deus só nos deu permissão para plantar a palavra. Somente plantando a Palavra de Deus nos corações dos homens o Senhor receberá o fruto que espera. Ou, usando uma figura diferente: as Escrituras são a isca de Deus para atrair o peixe que Ele quer salvar. Precisamos de aprender a ficar satisfeitos com o Seu plano.
É belo este modo de proceder! É exemplar esta pedagogia! É apelativa esta proximidade para todos os que são chamados a lançar a semente da Palavra no coração humano, tendo em conta o pulsar do seu ritmo, das suas alegrias e dores.
A parábola que Jesus conta para nós, hoje, é uma das palavras do Senhor que nos dá uma compreensão maravilhosa da presença do Reino de Deus no nosso meio: “A Parábola do semeador”. O Reino de Deus é como um homem que sai a semear e a Palavra de Deus é a semente.
Quem já viveu no campo sabe como é a semente: ela é lançada na terra, vai cair, vingar, crescer e se tornar uma árvore esplendorosa e vai produzir muitos frutos. No entanto, muitas sementes não chegam nem a entrar na terra, elas se perdem pelo caminho, os pássaros vêm e as comem. Outras sementes até começam a crescer, a vingar, mas o terreno é rochoso é pedregoso, então elas não entram no solo com profundidade, ou vêm a chuva, o temporal ou qualquer coisa que levam aquelas sementes embora.
A Palavra de Deus que é semeada em nosso coração tem a mesma sintonia: nós a escutamos e a achamos bonita, mas nós somos tão distraídos que a primeira distração que vem à nossa frente rouba a Palavra de Deus que está em nós. Quando estamos no culto na igreja, quanta distração vem à nossa cabeça, o quanto nós estamos, muitas vezes, avoados, preocupados com as coisas, e esta Palavra não cresce em nós. Outras vezes, até permitimos que esta Palavra cresça, a achamos bonita, guardamos aquela Palavra, mas nos faltam constância e perseverança.
Nós nos animamos com qualquer outra coisa, deixamo-nos levar por qualquer outra realidade e a Palavra que foi lançada em nosso coração é roubada e não cresce nem produz frutos. Mas, o pior ainda é quando deixamos nos levar pelas preocupações do mundo, pela ilusão das riquezas, dos bens materiais e de tudo aquilo que a vida nos oferece. Isso contagia tanto os nossos olhos, que acabamos por perder a direção do Reino de Deus e nos deslumbramos com aquilo que o mundo nos apresenta.
E tantas vezes, perguntamos: ”Meu Deus, por que eu não vivo a Tua Palavra? Por que eu não coloco a Tua Palavra em prática?” Porque o nosso coração se deixa iludir, o nosso coração se deixa enganar por outras tentações, por outras coisas que, aparentemente, parecem melhores e mais agradáveis do que a Palavra de Deus.
Por isso, permita-me que hoje lhe diga: Deixe essa Palavra cair no seu coração, medite-a, guarde essa Palavra, guarde-a como um tesouro para a sua vida, para o seu coração, para a sua família e não deixe que nenhum vento, nenhum pássaro, nenhuma tentação e nenhuma tribulação roubem essa semente maravilhosa, que é a Palavra de Deus semeada no seu coração!
Que essa Palavra produza frutos na sua vida: ou trinta, ou sessenta ou cem por um. Que essa Palavra multiplique os frutos do Reino de Deus no seu coração! Que no seu coração a Palavra de Deus seja fecunda e produza muitos frutos!
2.     O Crescimento no Reino de Deus.
Com que presteza o Mestre observava o significado dos símbolos naturais! Para Ele todas as coisas eram desdobramentos do ministério eterno, e os caminhos dos homens, inconscientemente. Espelhavam o invisível. Há “alqueires” em sua vida? Use-os como suportes onde colocar as lâmpadas, e não como cobertura para ocultá-las. Todos os segredos serão revelados; cuidado com o que você diz. O que medimos retorna a nós; tenhamos cuidado com a maneira como medimos. A misteriosa cooperação de Deus na obra da Natureza e o processo gradual de crescimento se assemelham à colaboração do Espirito Santo com todos os fiéis semeadores da Palavra, e aos estágios imperceptiveis através dos quais a alma alcança a maturidade.
O crescimento de um Reino de amor e de justiça, tão sonhado por Deus, depende da disposição dos semeadores, por isto, um semeador nunca deve se deixar levar pelo pessimismo, pelo desânimo, pois o seu trabalho nunca será em vão, já que muitas sementes cairão em terra boa e certamente produzirão muitos frutos!
O reino de Deus é a expressão bíblica que melhor designa a realidade nova anunciada por Jesus: Deus é Pai, nós somos os filhos deste Pai comum e, por isso, irmãos por natureza e por graça. Os bens pertencem a todos por mandato divino, a biodiversidade faz parte da harmonia e do equilíbrio dos seres criados e dos sistemas em que se desenvolvem, a vida é “sagrada” e, enquanto peregrina na terra a caminho da situação definitiva, está marcada pelas regras do tempo e da cultura. A convivência social alicerçada no amor e na justiça constitui uma das manifestações humanas mais qualificadas do “rosto” público deste reino em germinação na história.
Jesus disse “O reino de Deus é assim como se um homem lançasse a semente à terra; depois, dormisse e se levantasse, de noite e de dia, e a semente germinasse e crescesse, não sabendo ele como. A terra por si mesma frutifica: primeiro a erva, depois, a espiga, e, por fim, o grão cheio na espiga. E, quando o fruto já está maduro, logo se lhe mete a foice, porque é chegada a ceifa” (Mc. 4:26-29)
Nesta, que é uma parábola alegórica do Reino, que abre a porta das coisas celestiais para a nossa instrução, nos ensina exatamente isto. A aplicação dela para nós é mostrar como a resposta que damos a Deus pode determinar um futuro abençoado ou desastroso.
Deus é soberano em tudo. Ele faz tudo como lhe agrada, no entanto a Bíblia está permeada da ação de Deus como uma resposta humana ao seu comando, de tal forma que a nossa resposta a uma ação de Deus pode apontar para o resultado.
De maneira parcial o Reino de Deus está dentro de cada uma de nós. Não estamos completos, não somos perfeitos, não entendemos a vontade de Deus completamente, não reagimos à altura da santidade de Deus, no entanto o processo já começou. Já somos novas criaturas (2 Co. 5:17), já temos o Espírito Santo em nós (1 Co. 3:16), já temos o nosso nome escrito no livro da vida (Ap. 3:5), já estamos em processo de santificação (Hb. 12:114). Já temos os recursos espirituais para responder positivamente à orientação de Deus.
Tudo aqui começa com a semente que é a Palavra de Deus (v. 19), como no início do mundo que começa com a expressão: Disse Deus. A semente representa a Palavra do Reino ou a sua mensagem, a mensagem de Cristo, que transforma o coração, mas que exige resposta positiva do ouvinte.
Os judeus pensaram que a vinda do Reino significava a instalação extraordinária de um novo sistema perante o qual ninguém poderia se opor. O Reino de Deus iria abalar as nações (Dn. 2:44), o domínio dos governantes seria destruído e todas as nações serviriam ao Senhor. Numa aparente discordância, Jesus declarou que o Reino de Deus pode ser iniciado com uma sementezinha plantada no coração do homem. O Reino está operando secretamente entre os homens e não se impõe pela força. Quando uma pessoa é exposta à Palavra de Deus, a fé nasce, pois a fé vem pela pregação (Rm. 9:17).
Sendo assim não podemos abrir mão da pregação da Palavra do Senhor. Precisamos tanto de ouvi-la quanto pregá-la, pois só assim, a semente plantada, germinará a seu tempo.
Jesus ao ver um camponês fazer a semeadura percebeu que ali estava a oportunidade de dar uma grande lição sobre os ministérios do Reino de Deus que dão a entender a intenção e a vontade de Deus em relação à vida humana.
E esta parábola que Jesus contou narra o trajeto de um certo trabalhador que lançando mão de sementes saiu para semear em quatro tipos de solo (coração), que têm características diferentes, assim sendo, interferem no resultado final do investimento. Narra histórias sobre os acontecimentos do dia-a-dia que Ele usava para ilustrar verdades espirituais. Esta história fala de um fazendeiro que lançou sementes em vários lugares com diferentes resultados, dependendo do tipo do solo.
A história em si é simples: “Eis que o semeador saiu a semear. E, ao semear, uma parte caiu à beira do caminho; foi pisada, e as aves do céu a comeram. Outra caiu sobre a pedra; e, tendo crescido, secou por falta de umidade. Outra caiu no meio dos espinhos; e, estes, ao crescerem com ela, a sufocaram. Outra, afinal, caiu em boa terra; cresceu e produziu a cento por um” (Lc. 8:5-8). Estes vários tipos de terrenos exemplificam bem as várias reações dos homens diante da Palavra de Deus. A resposta ali é a resposta que damos ainda hoje. Que resposta dará hoje a Deus? Como cada um de nós reagirá diante da semente lançada em nosso coração?
“Este grande frutificar da palavra de Deus é o em que reparo hoje; e é uma dúvida ou admiração que me traz suspenso e confuso. Se a palavra de Deus é tão eficaz e tão poderosa, como vemos tão pouco fruto da palavra de Deus? Diz o Senhor que a palavra de Deus frutifica cento por um, e já eu me contentaria se frutificasse um por cento. Se com cada cem pregações se convertesse e emendasse um homem, já o Mundo era salvo e santo. Este argumento de fé, fundado na autoridade de Cristo, se aperta ainda mais na experiência, comparando os tempos passados com os presentes. Leiamos as histórias de tantos servos do Senhor, e achá-las-emos todas cheias de admiráveis efeitos da pregação da palavra de Deus. Tantos pecadores convertidos, tanta mudança de vida, tanta reformação de costumes; os grandes desprezando as riquezas e vaidades do Mundo; os reis renunciando os ceptros e as coroas; as mocidades e as gentilezas metendo-se pelos desertos e pelas covas; e hoje? – Nada disto. Nunca na Igreja de Deus houve tantas pregações, nem tantos pregadores como hoje. Pois se tanto se semeia a palavra de Deus, como é tão pouco o fruto? Não há um homem que em um sermão entre em si e se resolva, não há um jovem que se arrependa, não há um velho que se desengane. Que é isto? Assim como Deus não é hoje menos omnipotente, assim a sua palavra não é hoje menos poderosa do que era dantes. Pois se a palavra de Deus é tão poderosa; se a palavra de Deus tem hoje tantos pregadores, porque vemos hoje tão pouco fruto da palavra de Deus?
Se a palavra de Deus no Mundo faz pouco fruto, só pode proceder de um de três princípios: ou da parte do pregador, ou da parte do ouvinte, ou da parte de Deus. Para uma alma se converter por meio de uma pregação, tem que haver três elementos: o pregador pregando a Palavra de Deus, persuadindo; o ouvinte com o entendimento, percebendo; e Deus com a graça, alumiando. Para um homem se ver a si mesmo, são necessárias três coisas: olhos, espelho e luz. Se tem o espelho e é cego, não se pode ver por falta de vista; se tem espelho e vista, e é de noite, não se pode ver por falta de luz. Logo, é preciso haver luz, espelho e vista. Para esta vista são necessários os olhos, é necessária a luz e é necessário o espelho. O pregador contribui com o espelho, que é a doutrina; Deus contribui com a luz, que é a graça; e o homem contribui com os olhos, que é o conhecimento. Ora, supondo que a conversão das almas por meio da pregação depende destes três elementos: de Deus, do pregador e do ouvinte, por qual deles devemos entender que falta? Por parte do ouvinte, ou por parte do pregador, ou por parte de Deus?
Primeiramente, por parte de Deus, não falta nem pode faltar. Esta proposição é de fé, conforme a temos definida no Evangelho. Do trigo que deitou à terra o semeador, uma parte se logrou e três se perderam. E porque se perderam estas três? – A primeira perdeu-se, porque os espinhos a afogaram; a segunda, perdeu-se, porque as pedras a secaram; a terceira perdeu-se, porque os homens a pisaram e as aves a comeram. Isto é o que diz Cristo; mas notai o que não diz. Não diz que parte alguma daquele trigo se perdeu por causa do sol ou da chuva. A causa por que ordinariamente se perdem as sementeiras, é pela desigualdade e pela intemperança dos tempos, ou porque falta ou sobeja a chuva, ou porque falta ou sobeja o sol. Pois porque não introduz Cristo na parábola do Evangelho algum trigo que se perdesse por causa do sol ou da chuva? – Porque o sol e a chuva são as influências da parte do Céu, e deixar de frutificar a semente da palavra de Deus, nunca é por falta do Céu, sempre é por culpa nossa. Deixará de frutificar a sementeira, ou pelo embaraço dos espinhos, ou pela dureza das pedras, ou pelos descaminhos dos caminhos; mas por falta das influências do Céu, isso nunca é nem pode ser. Deus sempre está pronto da sua parte, com o sol para aquentar e com a chuva para regar; com o sol para alumiar e com a chuva para amolecer, se os nossos corações quiserem: “Deus faz nascer o sol sobre os bons e os maus e chover sobre os justos e os injustos” (Mt. 13:45). Se Deus dá o seu sol e a sua chuva aos bons e aos maus; aos maus que se quiserem fazer bons, como a negará? Este ponto é tão claro que não há mais nada para que nos detenhamos em mais prova. “Que tive eu de fazer à minha vinha e não fiz?” (Is. 5: 4).
Sendo, pois, certo que a palavra divina não deixa de frutificar por parte de Deus, segue-se que ou é por falta do pregador ou por falta dos ouvintes. Por qual será? Os pregadores deitam a culpa aos ouvintes, mas não é assim. Se fosse por parte dos ouvintes, não fazia a palavra de Deus muito grande fruto, mas não fazer nenhum fruto e nenhum efeito, não é por parte dos ouvintes.
Os ouvintes, ou são maus ou são bons; se são bons, a palavra de Deus faz fruto neles; se são maus, ainda que não faça fruto neles, faz efeito. No Evangelho o temos. O trigo que caiu nos espinhos nasceu, mas foi afogado poe eles. O trigo que caiu nas pedras nasceu também, mas secou-se. O trigo que caiu na terra boa, nasceu e frutificou com grande multiplicação. De maneira que o trigo que caiu na boa terra nasceu e frutificou; o trigo que caiu na má terra, não frutificou, mas nasceu; porque a palavra de Deus é tão fecunda, que nos bons faz muito fruto e é tão eficaz que nos maus, ainda que não faça fruto, faz efeito; lançada nos espinhos, não frutificou, mas nasceu até nos espinhos; lançada nas pedras, não frutificou, mas nasceu até nas pedras. Os piores ouvintes que há na Igreja de Deus são as pedras e os espinhos. E porquê? – Os espinhos por que são agudos, as pedras por que são duras. Os piores ouvintes que há são os de entendimentos agudos e os de vontades endurecidas. Os ouvintes de entendimentos agudos são maus ouvintes, porque vêm só para ouvir subtilezas, para esperar galantarias, para avaliar pensamentos, e às vezes também para picar a quem os não pica. O trigo não picou os espinhos, antes os espinhos o picaram a ele. Muitos pensam que a pregação os picou a eles, mas não é assim; eles são os que picam a pregação. Por isto, os de entendimentos agudos, são maus ouvintes. Mas os de vontades endurecidas ainda são piores, porque um entendimento agudo pode ferir pelos mesmos fios, e vencer-se uma agudeza com outra maior; mas contra vontades endurecidas nenhuma coisa aproveita a agudeza, antes dana mais, porque quanto as setas são mais agudas, tanto mais facilmente se despontam na pedra. Oh! Deus livra-nos de vontades endurecidas, que ainda são piores que as pedras! A vara de Moisés abrandou as pedras, e não pôde abrandar uma vontade endurecida: Batendo a vara duas vezes na pedra, rebentaram abundantes águas” (Nm. 20:11). “Endureceu o coração de Faraó” (Êx. 7:13). E mesmo sendo os ouvintes de entendimentos agudos e os ouvintes de vontades endurecidas os mais rebeldes, a força da divina palavra é tanta, que, apesar da agudeza, nasce nos espinhos, e apesar da dureza nasce nas pedras.
Poderíamos argumentar com lavrador do Evangelho o porquê de não cortar os espinhos e de não arrancar as pedras antes de semear. Mas, as pedras e os espinhos, foram deixados no campo para que se visse a força do que semeava. É tanta a força da divina palavra, que, sem cortar nem despontar os espinhos, nasce entre os espinhos. É tanta a força da divina palavra, que, sem arrancar nem abrandar as pedras, nasce nas pedras. Corações embaraçados como espinhos, corações secos e duros como pedras, ouvi a palavra de Deus e tende confiança! Tomai exemplo nessas mesmas pedras e nesses espinhos! Esses espinhos e essas pedras agora resistem ao semeador do Céu; mas virá tempo em que essas mesmas pedras o aclamem e esses mesmos espinhos o coroem.
Quando o semeador do Céu deixou o campo, saindo deste Mundo, as pedras se quebraram para lhe fazerem aclamações, e os espinhos se teceram para lhe fazerem coroa. E se a palavra de Deus até dos espinhos e das pedras triunfa; se a palavra de Deus até nas pedras e nos espinhos nasce; não triunfar dos alvedrios hoje a palavra de Deus, nem nascer nos corações, não é por culpa de Deus, nem por indisposição dos ouvintes, mas por consequência clara, por parte do pregador. E assim é. Sabeis, cristãos, porque não faz fruto a palavra de Deus? – Por culpa dos pregadores. Sabeis, pregadores, porque não faz fruto a palavra de Deus? – Por culpa nossa.
Antigamente convertia-se o Mundo, hoje porque se não converte ninguém? Porque hoje pregam-se palavras e pensamentos, antigamente pregavam-se palavras e obras. Palavras sem obra são tiros sem bala; atroam, mas não ferem. A funda de David derrubou o gigante, mas não o derrubou com o estalo, senão com a pedra: “Uma pedra lhe acertou na cabeça” (1 Rs. 17:49). As vozes da harpa de David lançavam fora os demónios do corpo de Saul, mas não eram vozes pronunciadas com a boca, eram vozes formadas com a mão: “David levava a harpa e tocava-a com a sua mão” (1 Rs 16:23). Por isso Cristo comparou o pregador ao semeador. O pregar que é falar, faz-se com a boca; o pregar que é semear, faz-se com a mão. Para falar ao vento, bastam palavras; para falar ao coração, são necessárias obras. Diz o Evangelho que a palavra de Deus frutificou cento por um. Que quer isto dizer? Quer dizer que de uma palavra nasceram cem palavras? – Não. Quer dizer que de poucas palavras nasceram muitas obras. Pois palavras que frutificam obras, vede se podem ser só palavras! Quis Deus converter o Mundo, e que fez? – Mandou ao Mundo seu Filho feito homem. Notai. O Filho de Deus, enquanto Deus, é a palavra de Deus, não é obra de Deus. O Filho de Deus, enquanto Deus e Homem, é a palavra de Deus e obra de Deus juntamente. Na união da palavra de Deus com a maior obra de Deus consistiu a eficácia da salvação do Mundo. O Verbo Divino é a palavra divina; mas importa pouco que as nossas palavras sejam divinas, se forem desacompanhadas de obras. A razão disto é porque as palavras ouvem-se, as obras vêem-se; as palavras entram pelos ouvidos, as obras entram pelos olhos, e a nossa alma rende-se muito mais pelos olhos que pelos ouvidos. No Céu ninguém há que não ame a Deus, nem possa deixar de o amar. Na terra há tão poucos que o amem, todos o ofendem. Deus não é o mesmo, e tão digno de ser amado no Céu e na Terra? Pois como no Céu obriga e necessita a todos a o amarem, e na terra não? A razão é porque Deus no Céu é Deus visto; Deus na terra é Deus ouvido. No Céu entra o conhecimento de Deus à alma pelos olhos; na terra entra-lhe o conhecimento de Deus pelos ouvidos; e o que entra pelos ouvidos crê-se, o que entra pelos olhos necessita. Se os ouvintes vissem em nós o que nos ouvem a nós, o abalo e os efeitos do sermão seriam muito outros.
Será porventura o estilo que hoje se usa nos púlpitos? Cristo comparou o pregar ao semear, porque o semear é uma arte que tem mais de natureza do que de arte. Nas outras artes tudo é arte: na música tudo se faz por compasso, na arquitectura tudo se faz por regra, na aritmética tudo se faz por conta, na geometria tudo se faz por medida. O semear não é assim. É uma arte sem arte, caia onde cair. Vede como semeava o nosso lavrador do Evangelho. “Caía o trigo nos espinhos e nascia”. “Caía o trigo nas pedras e nascia”. “Caía o trigo na terra boa e nascia”. Ia o trigo caindo e ia nascendo.
O pregar tem de ser como quem semeia, e não como quem ladrilha ou azuleja. O pregar não é recitar. O que sai só da boca pára nos ouvidos; o que nasce do juízo penetra e convence o entendimento. As razões próprias nascem do entendimento, as alheias vão pegadas à memória, e os homens não se convencem pela memória, senão pelo entendimento.
Em conclusão, a causa de os pregadores não fazerem hoje fruto com a palavra de Deus, nem é a circunstância da pessoa; nem a da matéria; nem a da voz. Moisés tinha fraca voz; Amós tinha grosseiro estilo; Salomão multiplicava e variava os assuntos; Balaão não tinha exemplo de vida; o seu animal não tinha ciência; e contudo todos estes, falando, persuadiam e convenciam. Pois se nenhuma destas razões que discorremos, nem todas elas juntas são a causa principal nem o bastante do pouco fruto que hoje faz a palavra de Deus, qual diremos finalmente que é a verdadeira causa?
A causa por que se faz hoje tão pouco fruto com tantas pregações é porque as palavras dos pregadores são palavras, mas não são palavras de Deus. Falo do que ordinariamente se ouve. A palavra de Deus (como dizia) é tão poderosa e tão eficaz, que não só na boa terra faz fruto, mas até nas pedras e nos espinhos nasce. Mas se as palavras dos pregadores não são palavras de Deus, então a esses o Espírito Santo diz: “Quem semeia ventos, colhe tempestades”. Se os pregadores semeiam vento, se o que se prega é vaidade, se não se prega a palavra de Deus, como não há-de a Igreja de Deus passar por tormenta, em vez de colher fruto?
Mas, será que muitos os pregadores de hoje não pregam do Evangelho, não pregam das Sagradas Escrituras? Pois como não pregam a palavra de Deus? Esse é o mal. Pregam palavras de Deus, mas não pregam a palavra de Deus. As palavras de Deus, pregadas no sentido em que Deus as disse, são palavras de Deus; mas pregadas no sentido em que nós queremos, não são palavras de Deus, antes podem ser palavras do Demónio. O Demónio tentou a Cristo dizendo-lhe que fizesse das pedras pão. Ao que o Senhor lhe Respondeu: Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra, que procede de Deus. Vendo o Demónio que o Senhor se defendia da tentação com a Escritura, leva-o ao Templo, e alegando o lugar do salmo 40, diz-lhe desta maneira: “Deita-te daí abaixo, porque prometido está nas Sagradas Escrituras que os anjos te tomarão nos braços, para que te não faças mal”. De sorte que Cristo defendeu-se do Diabo com a Escritura, e o Diabo tentou a Cristo com a Escritura. Todas as Escrituras são palavra de Deus; pois se Cristo toma a Escritura para se defender do Diabo, como toma o Diabo a Escritura para tentar a Cristo? – A razão é porque Cristo tomava as palavras da Escritura em seu verdadeiro sentido, e o Diabo tomava as palavras da Escritura em sentido alheio e torcido; e as mesmas palavras, que tomadas em verdadeiro sentido são palavras de Deus, tomadas em sentido alheio, são armas do Diabo. As mesmas palavras que, tomadas no sentido em que Deus as disse, são defesa, tomadas no sentido em que Deus as não disse, são tentação. Eis aqui a tentação com que então quis o Diabo derribar a Cristo, e com que hoje lhe faz a mesma guerra do pináculo do templo. O pináculo do templo é o púlpito, porque é o lugar mais alto dele. O Diabo tentou a Cristo no deserto, tentou-o no monte, tentou-o no templo: no deserto, tentou-o com a gula; no monte, tentou-o com a ambição; no templo, tentou-o com as Escrituras mal interpretadas, e essa é a tentação de que mais padece hoje a Igreja, e que em muitas partes tem derribado dela, senão a Cristo, a sua fé.
Miseráveis de nós, e miseráveis dos nossos tempos! Pois neles se veio a cumprir a profecia de Paulo: “Virá tempo, diz Paulo, em que os homens não sofrerão a doutrina sã”. “Mas para seu apetite terão grande número de pregadores feitos a montão e sem escolha, os quais não façam mais que adular-lhes as orelhas”. “Fecharão os ouvidos à verdade, e abri-los-ão às fábulas”. Fábula tem duas significações: quer dizer fingimento e quer dizer comédia; e tudo são muitas pregações deste tempo. São fingimento, porque são subtilezas e pensamentos aéreos, sem fundamento de verdade; são comédia, porque os ouvintes vêm à pregação como à comédia; e há pregadores que vêm ao púlpito como comediantes.
Preguemos e armemo-nos todos contra os pecados, contra as soberbas, contra os ódios, contra as ambições, contra as invejas, contra as cobiças, contra as sensualidades. Veja o Céu que ainda tem na terra quem se põe da sua parte. Saiba o Inferno que ainda há na terra quem lhe faça guerra com a palavra de Deus, e saiba a mesma terra que ainda está em estado de reverdecer e dar muito fruto.” (Pe. A. Vieira)
3.     Os Solos
1)   À Beira do Caminho – Coração Endurecido (Mt. 13:4,19; Mc. 4:15 e Lc. 8:12)
“…uma parte caiu à beira do caminho…” (13:4). Quanto à disposição desta semente  que caiu na beira do caminho, Lucas acrescenta, “foi pisada” (Lc. 8:5).
Os campos da Palestina eram pequenos e irregulares, marginados por caminhos estreitos endurecidos pelo perpétuo pisoteio. E frequentemente, quando o plantador espalhava a sua semente sobre o solo recém-arado com largos lances de sua mão, alguma cairia e dançaria sobre a superfície dura, resistente, da “beira do caminho” onde todo o seu rico potencial por fim se tornava alimento para as aves.
O solo impenetrável, na história de Jesus, representa os ouvintes cujos corações estão endurecidos pela obstinação e o orgulho, corações que se tornaram a estrada de mil tempestuosas paixões, corações que em seu consciente compromisso com o mal não podem suportar a dor da honestidade. Simboliza a dificuldade que a pessoa tem de absorver a Palavra, por se deixar influenciar por ensinamentos (heresias), que contrariam os princípios da palavra de Deus, se tornando duro e impenetrável. Jesus já previa isto quando citou o profeta Isaías (Mt. 13:14 e 15). Há pessoas que não têm sensibilidade alguma para as coisas do mundo espiritual, algumas por não terem nascido de novo (1 Co. 2:14), outras por não querer ouvir, fazendo-se de surdos, não querendo ouvir a sã doutrina (2 Tm. 4:3).
Pensamos imediatamente nos fariseus, e eles certamente estavam no quadro. Os seus preconceitos arrogantes e egoístas sobre o reino de Deus, os seus sonhos de esplendor e poder carnal, tornavam impossível para eles ver Jesus como o Messias ou escutar as suas palavras como as de Deus, ou seja por presunçosa satisfação própria, ou por uma orgulhosa necessidade de saber tudo já, ou temor de exposição a alguma desconfortável nova verdade sobre si mesmos, as suas mentes estavam trancadas contra o Senhor e seu evangelho. Hoje em dia, muitos seguem na trilha deles, tão cheios de uma caricatura moderna de Jesus que não podem ver o verdadeiro Cristo nem escutar suas palavras reais.
Quem é superficial não coloca paixão naquilo que faz. Quem não tem profundidade no seu modo de ser ouve a Palavra, mas, diante da perseguição, logo sucumbe. Possivelmente, você conhece pessoas que são ouvintes da Palavra de Deus, do evangelho da graça e não a entendem, são indiferentes quanto à salvação, e outras indiferentes em relação à santificação. A Palavra faz a salvação fluir, mas algumas pessoas endurecem de tal maneira que a semente fica exposta e vulnerável ao pássaro Satanás, (conforme Marcos), o diabo (conforme Lucas), o iníquo (conforme Mateus), que retira com facilidade a semente plantada, para não suceder que, crendo, sejam salvos.
 “E assim como a semente, ao cair em solo duro e seco, não tem produção alguma, assim também as palavras de Jesus cai sobre tal pessoa sem realizar coisa alguma. E o resultado é a perda da semente, porque o maligno não demora a interferir” (Champlin).
 O chamado de Deus para nós é o de não endurecermos o coração, como Israel o fez no deserto e pagou um preço altíssimo (Hb. 3:7-11).
2) Terreno Rochoso – Coração Sem Profundidade (Mt. 13:22; Mc 4:18 e Lc 8:13)
Esta não era a terra misturada com incontáveis pedrinhas, mas um solo com menos de meio palmo de profundidade, sobre uma laje enterrada. Não havia lugar para a planta enraizar-se. Onde há pouca terra as pedras ficam perto da superfície do solo, a semente germina e a planta, profusa e luxuriantemente, cresce rápido. Mas o calor do sol revelou a sua fraqueza. Ela floresceu nos dias frescos, mas morreu nos dias quentes, incapaz de suportar o próprio sol que, fossem as raízes mais profundas, tê-la-ia tornado ainda mais forte, porque o calor do dia preservado nas pedras fornece força necessária para a semente germinar, mas como a planta não tem raízes profundas, morre também rápido.
Este solo, explicou Jesus, era como o homem “que ouve a palavra e a recebe logo, com alegria; mas não tem raiz em si mesmo, sendo, antes, de pouca duração; em lhe chegando a angústia ou a perseguição por causa da palavra, logo se escandaliza” (Mt. 13:20-21).
O que significa isso? O primeiro homem, representado pelo solo endurecido, não sente atração alguma pela mensagem, e nem fica impressionado com ela. Este segundo homem, simbolizado pelo solo raso, é exatamente o oposto, é um coração divido, ou melhor, um coração que mantêm uma capa de falsidade, sente atração imediata, porém superficial. Evidencia aparência de fertilidade, contudo, sob ele as pedras impedem a semente de enraizar, crescer e produzir frutos. Este tipo de pessoa recebe a palavra de Deus com entusiasmo, dando a impressão que houve arrependimento e salvação. No entanto, no primeiro momento de angústia ou perseguição, se escandaliza e apostata da fé. É um homem de disposição superficial, que facilmente pode ser estimulado, mas também facilmente poder desanimar na caminhada cristã.
O coração raso é apaixonado, mas apressado. O evangelho deveria trazer sempre alegria, mas precisa de ser uma alegria profunda, o bastante para suportar os choques. Ela precisa de ser o tipo de alegria que o tempo e a circunstância não podem tirar de nós (Jo. 16:22-24). Precisa de ser a alegria pela coisa justa (Lc. 10:17), e precisa de ser uma alegria que vê a perseguição e o sofrimento por amor de Cristo como um privilégio e uma bênção (Lc. 6:22-23). Precisamos de seguir os passos de nosso Senhor, “o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia” (Hb. 12:2). Tornar-se um cristão é certamente uma experiência emocional, mas é também uma experiência da mente e da vontade.
O falso calor da emoção cria de imediato uma expressão de intensa religiosidade, mas a falsidade dessa expressão não pode perdurar muito com entusiasmo. Logo aparecem os sinais de morte, logo a alegria desaparece, a intensidade diminui e a vida em potencial fenece. Porque o evangelho não desceu profundamente dentro de seu entendimento e vontade. Assim, quando as circunstâncias mudam, quando os dias difíceis de perseguição e adversidade chegam, não há raiz profunda de fé para sustentá-los. Eles não tinham pensado profundamente no reino e em seu eterno valor.
Esta é a própria razão pela qual aquele que vem muito rapidamente seguir Jesus precisa de parar e pensar sobre o que isso significa. É por amor de nós que o Senhor frequentemente esfria nosso entusiasmo descuidado, advertindo-nos a parar um momento e calcular o custo (Lc. 9:57-58). Ele quer que o acompanhemos todo o tempo e não que sejamos descarrilados por alguma dificuldade imprevista para um reino ao qual não chegamos a dar um valor suficientemente alto. É minha opinião que nada mais precisa de ser ensinado hoje às pessoas interessadas no evangelho, religiosas ou não religiosas, do que o custo do discipulado. Aqueles que veem ao reino e sobrevivem precisam estar profundamente comprometidos com Jesus.
Tiago fala da possibilidade de termos o ânimo dobre, o coração dividido, e assim fazendo não agradamos a Deus inteiramente (Tg 4:8). Esse é o símbolo de uma pessoa que se alegra com a Palavra de Deus, mas que não quer pagar o preço do discipulado quando chegam a angústia e a perseguição.
O discipulado envolve sofrimento. Ninguém deve esperar que a caminhada após Jesus seja sem problemas. Os crentes são tão acometidos de dissabores quanto os incrédulos. A tragédia, a destruição e a morte também sobrevêm aos salvos (Rm 8:18; 2 co 1:6, 7;2:4; Cl. 1:24; Tg. 5:10; 1 Pe. 4:13; 5:10).
 Alguém que se propõe a seguir a Cristo e não estiver disposto a sofrer as mazelas da vida e o preço do discipulado, morrerá e não frutificará.
3) O Terreno Espinhoso - Um Coração Ligado ao Mundo (Mt. 13:22; Mc. 4:7 e Lc. 8:14).
Um solo onde juntamente com a semente, cresceram também as plantas espinhosas. Os espinhos são aqui, os cuidados da vida. Há aqueles que receberam a palavra, receberam o chamado, mas sempre alegam que há algo que ainda precisam resolver, antes de viver para Deus.
Eles sabem, conhecem a palavra, entretanto, diante das tentações, das ofertas mundanas, dos prazeres oferecidos, das facilidades, dos atalhos, acabam sucumbindo, são sufocados pelo pecado. Não conseguem rejeitar e renunciar à prática de vida pecaminosa do mundo.
O terreno espinhoso é o coração atribulado com as coisas do mundo, colocando-as no lugar de Deus. A cobiça, quando não extinguida do coração, se transforma em praga mortífera que sufoca e impede o desenvolvimento da planta (palavra), de cumprir o seu papel que é crescer e produzir frutos.
 Esta parte da história de Jesus sobre o semeador não se refere à semente lançada sobre uma já visível infestação de ervas, mas ao solo adulterado com sementes de plantas inúteis e daninhas. O solo é rico, profundo e receptivo, mas está corrompido. Os espinhos, que não produzirão nada de bom, simplesmente crescerão para sobrecarregar o solo e enfraquecer a boa semente até que ela, também, fique infrutífera. Deste solo possuído pelos espinhos Jesus diz: “O que foi semeado entre os espinhos é o que ouve a palavra, porém os cuidados do mundo e a fascinação das riquezas sufocam a palavra, e fica infrutífera” (Mt. 13:22). À lista dos empecilhos da frutificação, Marcos acrescenta: “as demais ambições” (4:19), e Lucas em 8:14: “deleites da vida”.
Quais são os espinhos que podem sangrar totalmente a vitalidade espiritual de um filho de Deus? Jesus é explícito. Os cuidados deste mundo, a fascinação da riqueza e as demais ambições, podem fazê-lo. Preocupação constante com alimento e abrigo e o medo de não ter o suficiente não somente difamam a fidelidade de Deus, mas permitem que ansiedade descuidada roube de Deus as energias que lhe devemos (Mt. 6:25-34). Os cristãos que exaurem as suas forças no temor e preocupação nunca florescerão, nem darão fruto. Por que nos enganamos? A preocupação não é somente desgastante, é pecaminosa. Ela diz, implicitamente, que Deus não nos ajudará e que precisamos nos arranjar sem ele.
Os cuidados do mundo e a fascinação das riquezas sufocam a Palavra nos corações de alguns: são obstáculos do presente século. São os que amam o mundo, o sistema atual (Mt. 16:26; Lc. 21:34, 1 Co 1:21; 1 Jo 2:15); suas riquezas (Mt. 6:24; 1 Tm 6:10); sua aparência (1 Co. 7:31); sua glória (Jo. 12:43). São os que buscam o conforto pessoal, a fama, a posição social, o prestígio entre os homens, ao ponto da verdadeira prática da vida espiritual se tornar impossível. Quem assim age é sufocado e os frutos não amadurecem (Lc. 8:14). A palavra ouvida deixa de dar frutos de vida e esperança. Esse tipo de discípulo usa as suas riquezas para desfrutar de um tipo de via característico das pessoas essencialmente mundanas, que possuem recursos para satisfazer os seus desejos profanos. A sedução da riqueza sufoca a Palavra e ela se torna infrutífera. É como Ló, que morava entre os sodomitas, adotando a moral deles, ainda que intimamente se lembrasse da orientação de sua vida anterior. Tal discípulo, naturalmente, não produz frutos perfeitos. Jesus indica que esse tipo de vida trará, finalmente, a ruína do discipulado.
O amor pelas coisas pode também sufocar efetivamente o espírito. O dinheiro e a propriedade podem parecer tão tangíveis, tão reais e tão asseguradores, mas as riquezas são enganadoras. Elas prometem realização, porém nunca a dão (Ec. 5:9-10). Elas prometem segurança, mas batem asas como uma ave selvagem (Pv. 23:5).
Os “deleites da vida” podem agir para nos sugar. O que há de errado com os prazeres? Alguém pergunta. A vida do reino tem que ser uma longa dor de cabeça de miséria e negação de si mesmo? A resposta à primeira pergunta é: “nada” e à segunda é “não”. Nada há de errado com o trabalhar diligentemente por nosso alimento, ou ter riqueza, ou gozar das coisas agradáveis que Deus nos deu ricamente (1 Tm. 6:17). Mas qualquer delas, ou todas são erradas para aqueles que tem estado “sufocados” por elas, quando elas se tornaram a paixão de suas vidas. Algumas pessoas deixam que estas coisas intrinsecamente legítimas as dominem tanto que elas são possuídas e governadas por elas. Preocupações ou bênçãos legítimas tornam-se em temor, ganância ou ansiedade. Deus e seu reino estão apinhados até os limites. A voz de Deus se torna velada pelo clamor. As bênçãos de nosso Pai deveriam ser uma ocasião para seus filhos agradecerem a ele e servirem-no, mas elas podem facilmente se tornar a causa de nosso descontentamento e inutilidade.
Adam Clarke escreveu como segue: “Estupidez horrível a do homem, pois troca, dessa maneira, bens espirituais por bens temporais; a herança celeste por vantagens terrenas”. Aquele que escolhe o coração dividido, o coração apinhado, diz Jesus, não dará frutos que amadureçam (Lc. 8:14), literalmente, nunca levará até ao fim, nunca terminará a tarefa.
Resumindo estes três tipos de corações, poderíamos dizer que quanto ao grau de aceitação: o primeiro não aceita jamais a palavra; o segundo aceita-a superficialmente; o terceiro aceita-a em nível mais elevado, mas com imperfeições.
“O primeiro caso exemplificaria a atitude infantil, desatenta, negligente; o segundo caso exemplifica a atitude juvenil, intensa, zelosa, mas de curta duração; o terceiro caso ilustra a atitude adulta, egoística, que tenta adquirir os bens deste mundo. O primeiro não pode produzir nada, o segundo só chega a brotar, o terceiro nem chega a frutificar” Alford.
4) A Boa Terra – O Coração Que Frutifica
É no coração exemplificado pela terra boa na parábola do semeador que o espírito e o caráter do reino do céu são apanhados e contidos. É aqui que a parábola tem o seu foco. As outras terras — resistentes, inadequadas e improdutivas — nos dizem como fracassar; a terra boa nos diz como ter bom sucesso.
No relato de Lucas, Jesus identifica a semente lançada na boa terra como o coração aberto com fome e sede da palavra de Deus, como aquele que recebe a palavra com “reto coração” (8:15), como aquele que ouve atentamente e se deixa convencer pelo Espírito Santo sobre a autenticidade e eficácia da palavra rica e poderosa para orientar o homem por caminhos seguros, como aquele que segue os comandos da palavra, se arrepende dos pecados e busca o perdão através de Jesus Cristo, como aquele que abre mão de tudo o que se identifica como ídolo em sua vida (lembrando que ídolo é qualquer coisa que ocupa o lugar de Deus). Lamentavelmente muitos cristãos permanecem na idolatria. Peça a Deus que sonde o seu coração e lhe mostre quem está ocupando o lugar dEle.
Esta descrição nada tem a ver com a justiça essencial, ou mesmo com a “boa pessoa”, mas com aquela atitude que até o maior pecador pode ter quando confrontado com o evangelho. Isto é o coração, ainda que possa ter sido ímpio, que agora é sincero, aberto, despido de toda hipocrisia. Como disse o Senhor, o chamado do seu reino não é para os justos, mas para os pecadores (Lc. 5:32). E pecadores podem, se quiserem, responder honestamente.
De que modo o “bom e reto coração” é bom? Em Mateus, o Senhor diz que eles “ouvem a palavra e a compreendem” (Mt. 13:23). Marcos regista que eles “ouvem a palavra e a recebem” (Mc. 4:20). O coração verdadeiro, então, não somente ouve a palavra do reino, mas, diferente do coração duro (solo da beira da estrada), compreende-a e recebe-a. Tudo isto torna claro que compreender Deus não é tanto um exercício intelectual como é moral. Não é um grande intelecto que afasta os homens do reino, mas um coração pequeno e relutante.
Mas há mais. Lucas acrescenta que os corações verdadeiros “... tendo ouvido de bom e reto coração, retêm a palavra; estes frutificam com perseverança” (Lc. 8:15). Há, no coração bom, em contraste com o coração raso (solo pedregoso), uma dimensão de profundidade e tenacidade. Com este modo de pensar, há uma compreensão genuína do valor do reino e uma disposição a sofrer e investir pacientemente, de modo a possuí-lo. Tal coração chega a compreender “... qual é a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade” do amor, e a ser cheio de “...toda a plenitude de Deus” (Ef. 3:18-19).
Jesus, ao terminar a parábola dizendo: “E os que recebem a semente em boa terra são os que ouvem a palavra e a recebem, e dão fruto, um a trinta, outro a sessenta, outro a cem, por um” (v. 20), está cheio de confiança. Isto sugere diferentes graus de fidelidade ou consagração? A responsabilidade vem a nós no reino de acordo com nossa capacidade. O fruto produzido pode variar, porém a consagração do coração não pode. Certamente, o Senhor nos julgará por todas as nossas oportunidades e capacidades, mas um coração puro e singelo, é a única coisa que não é negociável.
Os corações honestos e bons, diferentes dos corações apinhados (terreno espinhoso), produzem frutos que dão colheita, isto é, eles cumprem o propósito de Deus em suas vidas. Ele sabe que a hora de Deus vem e com ela a bênção duma colheita que supera toda a compreensão. Apesar da oposição, da dureza de coração, do sistema mundano, Deus fará com que a semente cumpra o proposto desejado, pois ela não volta vazia (Is. 55:11). O propósito de Deus para cada homem é vê-lo salvo, livre da opressão maligna, curado, transformado, crescendo em conhecimento bíblico e obediência à sua palavra e sobre tudo, frutificando abundantemente em muitos corações. “Olhem para o camponês”, diz Jesus “bem que ele poderia desanimar diante de tantos obstáculos que destroem e ameaçam sua plantação. Todavia não se deixa desanimar nem perde a confiança de que obterá o fruto duma rica colheita. Como a fé de vocês é tão pequena! Como é que ainda não tendes fé?” (Mc 4:40).
A semente é a mesma para todos os tipos de solo, mas só um multiplica. Isso explica o facto de várias pessoas ouvirem a mesma palavra e nem todas se converterem, e, ainda mostra a necessidade de pregarmos a Palavra a todas as pessoas esperando que alguns frutifiquem. É bom notar que neste último caso a pessoa “compreende” a Palavra, mostrando a necessidade do ensino e do discipulado.
 A colheita é o alvo da semeadura e o coração receptivo à Palavra produz frutos a cem, sessenta e trinta por um (Mt. 13:23). Isto é, alguns produzem mais que os outros, dependendo do grau de envolvimento com a Palavra e com o Deus da Palavra, da resposta que dão a Deus, mas todos produzem.
Esta parábola, no mínimo nos leva a um exame de consciência. Nos convida a refletir sobre a importância da Palavra de Deus e os efeitos que ela causa (se deixarmos) em nós. Por que lemos a Bíblia? “Porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana, entretanto homens falaram da parte de Deus movidos pelo Espírito Santo” – (2 Pe. 1:21). A Bíblia é o livro de Deus. É importante que nós leiamos este livro, porque o Deus do universo o escreveu e deseja que ele contribua para nosso aperfeiçoamento diária.
Leia a Bíblia diariamente. Dwigt Moody, evangelista famoso do século dezanove, ao presentear um amigo com uma Bíblia fez a seguinte dedicatória: “Este livro vai separar você dos seus pecados, ou os seus pecados irão separar você deste livro”. Pense nisto!
Uma semente germina onde cai, até mesmo entre as pedras, nas rachaduras do solo seco, ou no meio do espinheiro, mas sem criar raízes, ela não se desenvolve, jamais produzirá frutos! Enquanto que a palavra de Deus, a mensagem de amor a Deus e ao próximo, no coração de quem a acolhe com alegria, com compromisso, fidelidade e humilde anda em mansidão, em paz, é pacificador, recebe a paz e é embaixador da paz de Cristo, é como um vulcão em constante erupção, nunca para, nunca cansa, e nem descansa, é sempre um movimento constante, suave e belo, como as gigantescas labaredas de fogo iluminando e aquecendo a humanidade às vezes fria do Divino e do humano.
Conclusão
Precisamos continuar orando para que a Palavra de Deus promova as mudanças nas pessoas cujos corações se assemelham ao caminho, ao solo rochoso e ao solo espinhoso e assim venham a ser salvos pela pregação da Palavra. Precisamos continuar pregando em todo o tempo e lugar para que onde houver um coração já preparado pelo Espírito Santo, haja salvação.
 Precisamos guardar bem o nosso coração, deixá-lo à vontade do semeador, acolher a semente, regá-la com a oração e deixar que Deus aqueça com a Sua presença para que produzamos os frutos que o semeador deseja colher de nós. Que em nossos corações a semente produza frutos para vida eterna. Qual a sua resposta?