Texto:
Génesis 4 e 5
Introdução
Seguindo
o roteiro em Génesis, até o capitulo 2, tudo estava maravilhoso e agradável. Deus
demonstrou o seu amor criando um ambiente ideal para colocar nele o homem e a
mulher que Ele criaria. Tudo estava indo maravilhosamente bem porque não havia
pecado e o homem era totalmente focado em Deus e comprometido em adorá-lo. Mas,
Adão resolveu “dialogar com a tentação” e a queda veio. Agora o cenário mudou.
O homem, o ambiente, a criação, tudo foi afetado pela queda.
Chegamos
aos capítulos 4 e 5. É um trecho interessante, pois veremos muitos “primeira
vez”. Nestes dois capítulos temos o primeiro parto, a primeira briga entre
irmãos, a primeira expressão de culto (culto não havia sido institucionalizado
ainda), a primeira resistência humana ao confronto amoroso de Deus, a primeira
expressão de poligamia, o primeiro homicídio, a primeira cidade sendo fundada,
o primeiro homem a não passar pela morte física e o primeiro homem (Metusalém)
que viveu 969 anos. Em suma, estes dois capítulos começam a mostrar que a raça
humana multiplicou-se mas ao mesmo tempo passou a viver uma espiral descendente
de corrupção. Um pecado chama outro pecado. A raça humana piora, o pecado
começa a tomar um vulto fora do comum.
Por
outro lado, veremos o Deus que exercita justiça. Ele já havia demonstrado isto
para com Adão e Eva. Mas, também já havia demonstrado que junto com o castigo já
havia providenciado a solução para o pecado, no futuro, através de Jesus. Mas,
nestes dois capítulos veremos o Deus que exercita justiça, mas Ele faz algo
ainda mais impactante. Ele exerce justiça permeada por graça. Por ser santo,
Deus não pode deixar de lidar de uma forma justa com o pecado. Todo o pecado
precisa de ser punido por que Deus é santo. Mas, junto com a sua justiça, Deus
demonstra a sua graça. Veremos o Deus que exercita justiça e o Deus que
exercita graça.
Há um ditado comum que diz que todos os
caminhos levam a Roma ou que todos os caminhos levam ao céu. Puro engano.
Alguns podem se achar no caminho certo para Roma, mas na realidade ele pode se
perder totalmente. Quando pensamos no caminho para Deus ou no caminho de um
andar com Deus não podemos ouvir o que as pessoas dizem, mas ouvir o que a
Bíblia diz. No texto de hoje olharemos para Deus e como ele lidou com três
personagens. Caim, Abel e Enoque. Eles trilharam caminhos diferentes. Um deles
achava que estava no caminho certo e terminou no destino errado. Vamos abrir o
texto e olhar para Deus, aquele que exerce justiça e graça e nos leva para o
único caminho certo.
1. Deus Exerce a
Sua Justiça por Causa da Sua Santidade (Gn. 4:1-16).
Eva
havia pecado juntamente com o seu marido. Eles ouviram a confrontação de Deus e
responderam ao que Deus havia dito nesta confrontação. Deus não rejeitou Adão e
Eva. Mas, a dor da queda começou e estava entre eles. No capítulo 4 Adão e Eva
começam a cumprir uma das ordens de Deus para eles. Multiplicarem-se e encher a
terra. O capítulo 4 começa com o primeiro parto. A despeito da dor ao dar à
luz, Eva realiza-se como mãe. Deus fez a mulher assim. E o texto diz, “Adão
teve relações com Eva, sua mulher, e ela engravidou e deu à luz a Caim. Disse
ela: Com o auxílio do Senhor tive um
filho homem”. Seu primeiro filho foi um impacto. Olhe o nome que ela lhe
deu, Caim. Que grande início de vida, saber que a sua vida tem a ver
diretamente com a acção de Deus. Não foi uma mera gestação.
Eva
creu que Deus participou no processo, abençoando ou simplesmente enviando este
filho como uma lembrança de Deus para ela, apesar da queda. Caim começou bem.
Mas, Caim ganhou um irmãozinho. O nome de Caim tinha um grande significado, mas
o seu irmão parecia que recebera um nome profético. Abel, “de pouca duração”,
“vapor”, “algo que é nada”. Os dois nasceram como fruto do
amor de seus pais.
Certamente Adão e Eva devem ter criado os seus filhos com
o mesmo carinho e desvelo distribuído a cada um deles. Imaginamos que lhes
tenham contado as muitas histórias sobre o modo como viviam antes, no Éden,
sobre os encontros pessoais que tinham com Deus e sobre como eram maravilhosas
as conversas enquanto soprava a brisa do dia.
Também podemos imaginar que Caim e Abel receberam a mesma
formação familiar. Eles conheciam a Deus, sabiam da justiça divina, bem como da
misericórdia e da graça experimentada por eles e pelos próprios pais. E a Escritura nos
diz que Caim cultivava a terra, enquanto Abel conduziu ovelhas, e um dia, os
dois irmãos resolveram trazer algo para o Senhor. Note que nesta altura adorar
a Deus ainda não era algo claro.
Não
havia normas ou ensino sobre como adorar a Deus. Mas, por outro lado, a criação
anuncia a glória de Deus, e com certeza alguma coisa havia na mente destes dois
rapazes que os levou a oferecer algo a Deus, com certeza por gratidão. Não era
algo para obter perdão de pecados. Talvez, apenas um acto de gratidão. E agora
o problema da raça humana aparece claramente.
a)
Deus confronta a
atitude de Caim (4:1-7).
Abel
foi pastor de ovelhas, e Caim, lavrador, logo, as primícias de Caim teriam que
ser do fruto da terra! Caim trouxe alguns dos frutos de suas colheitas como oferta
ao Senhor. Abel, por sua vez, trouxe as partes gordas das primeiras crias do
seu rebanho. Exteriormente falando tudo parecia bem, mas os resultados são
diferentes porque as ofertas foram diferentes. A Bíblia diz que “atentou o Senhor para Abel e para a sua
oferta, mas para Caim e para a sua oferta não atentou“ (Gn. 4:4b, 5a). O Senhor
aceitou com agrado Abel e a sua oferta, mas não aceitou Caim e a sua oferta. E
a primeira menção das primícias nas Escrituras, é encontrada justamente nesta
oferta. Note que Caim trouxe a sua oferta “No Fim de uns Tempos”. A oferta das
primícias é uma forma, de reconhecer Deus em primeiro lugar. Se Caim não
soubesse a forma correta de oferecer algo ao Senhor, não poderia ser culpado,
mas ele sabia a forma correta de o fazer. Na verdade, a entrega das primícias é
uma semente para entrar nas bênçãos de Deus.
À
primeira vista, a decisão do Senhor ao aceitar Abel e rejeitar Caim parece
arbitrário. Todavia, para Deus que sonda mente e coração a avaliação era bem
diferente. Não era em Caim que se encontrava um coração cheio de fé diante
dEle, mas em Abel, aquele de quem nada era esperado! Que maravilha! Ambos
adoravam o Senhor, e ambos trouxeram ao Senhor um sacrifício. O que O fez
aceitar um e rejeitar o outro? Foi a atitude do coração de Caim que levou Deus
a aceitar a oferta de Abel e a rejeitar a sua. O problema não era meramente a
oferta de Caim, era o seu coração. Nos versos 4 e 5 de Génesis 4, lemos: “O Senhor aceitou com agrado Abel e sua
oferta, mas não aceitou Caim e sua oferta”.
Caim,
quando viu que a sua oferta foi rejeitada, se enfureceu fortemente e o seu
semblante ficou descaído. Ao invés de procurar saber do por quê da rejeição de sua
oferta por Deus, para que pudesse melhorar, ele “fechou a cara”. Não há como
esconder, o que está no coração acaba aparecendo em nosso olhar, nosso falar,
em nossa postura.
O
Senhor disse a Caim: “Por que te iraste?
E por que andas com o teu semblante descaído? Se bem fizeres, não haverá
aceitação para ti? E se não fizeres bem, o pecado jaz à porta, e para ti será o
seu desejo, e sobre ele dominarás” (Gn. 3:6-7). Esse “Anda carrancudo”
mostra que aquilo não foi algo momentâneo. Caim deve ter ficado dias e dias com
“aquela cara”. Seus pais, seus irmãos devem ter perguntado a mesma coisa que
Deus. E Caim deve ter respondido o mesmo que respondeu para Deus: Nada! Não é
fácil colocar para fora e nomear sentimentos ruins. Mas se queremos ser
libertos deles, devemos nomeá-los e confessá-los. Se não fizermos isso, estes
sentimentos ruins crescerão e causarão estragos em nossas vidas.
Deus
disse a Caim o motivo da rejeição da sua oferta: “Você agiu mal”. Que palavra
dura! Mas era o que Caim precisava de ouvir, Deus estava dizendo a ele (e a
nós) que estava de olho nele não somente quando ele vinha perante o altar para
ofertar. Os olhos de Deus o acompanhavam em todos os momentos.
Os
pais que querem educar seus filhos, não podem protegê-los de todas as durezas e
dificuldades da vida. Porque desse modo a inteligência não se desenvolve, a
vontade não se reforça, porque há crianças imaturas que precisarão sempre dos
pais e não poderão, por isso, nem sequer ajudar positivamente os outros. A
raiva dos desejos insatisfeitos gera muita frustração, assim, com o passar dos
anos, essa raiva acumulada cria a depressão e o pânico.
Para
agirmos corretamente como pais, é preciso sermos capazes de mostrar aos filhos,
o erro cometido e, apontar o caminho certo. No meio das dificuldades e das
incompreensões, deve-se ensinar como perseguir seus objetivos e persegui-los
com tenacidade. Assim, a criança não alimentará os pensamentos negativos. No
caso de Caim, Deus o adverte como Pai amoroso, para que se livre daquela ira,
pois ela estava abrindo brecha para um pecado maior ainda, mas no seu interior
Caim já estava escravizado pela mente, que se tornou sua própria inimiga.
Veja
o desatino de Caim. Enfureceu-se contra Deus. O Deus justo trata aquele que Ele
criou com uma atitude amorosa, da mesma forma como muitas vezes nós como pais
quando vemos nossos filhos cabisbaixos ou irados, perguntamos, por que estão
assim? Deus não está fazendo perguntas para Caim cujas respostas não soubesse.
Não. Deus está procurando conversar com Caim e ajudá-lo a sair do seu erro.
Neste contexto Deus nos ensina algo que pode servir de guia para nossas
dificuldades emocionais como ira, por exemplo. Deus vê Caim furioso e não alisa
a fúria de Caim. Não, Deus lida com o problema de Caim. Deus diz que o que Caim
havia feito não era bom.
b)
Deus sonda o coração de Caim (4:1-8).
Deus
sonda o coração do homem e não o seu exterior (Sl. 139). Deus sondou o coração
de Caim e viu que existia algo de errado. Deus então falou com ele, mas ele não
quis ouvir. Deus sabia que o sentimento que estava brotando no coração de Caim
iria abalar o seu relacionamento com Ele e o fim era a morte. Por isto Deus o
alertou. E tem mais, quando se rejeita fazer o que é certo, não se é aceito. E
quando o que é errado - o pecado - o tentar, cuidado, tem a responsabilidade de
não se deixar dominar por ele. É sua responsabilidade não deixar que o pecado o
domine, pois quando escolher ser dominado pelo pecado as consequências serão
funestas. Isto é muito forte e importante para nós. Nós somos responsáveis por
nossos pecados. Não temos como fazer como Adão fez, transferindo para a Eva a
culpa da escolha errada dele. Não, quando agimos errado Deus está nos alertando
que a escolha foi ou é nossa.
Deus
sonda os nossos corações todos os dias. Quando Ele vê que há alguma coisa
errada, Ele nos alerta. Só permanece do jeito que está quem quer. Por que Ele
sempre está falando connosco, através da Palavra, de alguém, quando estamos
orando. Só Deus é capaz de conhecer o coração de cada homem, “Ele sonda o profundo e o escondido, conhece
o que está em trevas, e com Ele mora a luz” (Dn. 2:22).
Todo
aquele que não ouve ao Senhor é lançado para longe Dele. Para fora de Sua
presença Gn. 4:13-14 “É tamanho o meu
castigo, que já não posso suportá-lo. Eis que hoje me lanças da face da terra,
e de tua presença hei-de esconder-me”.
Precisamos
de valorizar o que Deus está falando connosco. Com certeza isto significará
sacrifícios, lutas e perseverança. Mas não há outro caminho.
Foi a falta de uma atitude coerente com o propósito de
Deus que levou Caim à ruína. Esse foi o problema dele. Sua atitude estava
divorciada de Deus. Por essa razão, a sua oferta não foi aceite, uma vez que a sua
atitude a estragou.
Aqui
começa o que Judas chama de “O Caminho de Caim”. Caim fez uma oferta a Deus.
Mas, esta oferta não representava o que Deus queria porque vinha de um coração
que não estava focado ou alinhado com Deus. De onde tiramos isto? O apóstolo
João em sua primeira carta no capítulo 3:11 diz que as obras de Caim eram más.
“Não sejamos como Caim, que pertencia ao
Maligno e matou seu irmão. E por que o matou? Porque suas obras eram más e as
de seu irmão eram justas” (1 Jo. 3:12). Caim não precisava de ter oferecido
algo a Deus. Mas se ofereceu, então precisava vir com um coração puro.
c)
Deus disciplina Caim por causa do caminho errado que
ele escolheu (4:8-14).
Caim
não ouve Deus. Caim resiste a Deus. Quando resistimos a Deus é como se
perdêssemos nossos limites e piores coisas podem acontecer. Deus estava ali
para ajudar Caim. O Deus que exerce justiça não a exerce antes de oferecer
graça. Se Caim houvesse perguntado, por exemplo, “Sim Deus, como posso sair de
perto deste domínio do pecado e oferecer para o Senhor algo que lhe agrade e
não apenas a minha religiosidade?” Mas, em vez de ouvir Deus, Caim sai da
presença de Deus e assassina seu irmão Abel. “Então o Senhor perguntou a Caim: Onde está Abel, teu irmão? E ele disse: Não sei; sou eu guardador do
meu irmão? E disse Deus: Que fizeste?
A voz do sangue do teu irmão clama a mim desde a terra. E agora maldito és tu desde a terra, que abriu a sua
boca para receber da tua mão o sangue do teu irmão. Quando lavrares a terra, não te dará mais a
sua força; fugitivo e vagabundo serás na terra. Então disse Caim ao Senhor: É
maior a minha maldade que a que possa ser perdoada. Eis que hoje me lanças da
face da terra, e da tua face me esconderei; e serei fugitivo e vagabundo na
terra, e será que todo aquele que me achar me matará” (Gn. 4:9-15).
Como
deveria Deus agir? Aqui Deus deixa claro. Somente ele tem a decisão sobre a
morte. E isto é mais problemático ainda. O assassinato clama por reparação.
Abel se torna passível de punição. Mas, note como Deus chega para Caim. Da
mesma forma como Ele chegou para Adão e Eva. Ele não chega já exercendo o seu
poder soberano de aplicar justiça. Não, ele chega para conversar, para
dialogar, para promover arrependimento, se a pessoa quiser. Caim perde o grande
momento de mudança. O problema poderia ter sido resolvido ali. Mas o caminho de
Caim passa pela auto-suficiência. Auto-suficiência é uma maneira de dizer para
Deus, eu não preciso de si. Em vez de dizer, “Senhor, eu extrapolei, errei,
quis lidar com a minha raiva da forma errada e olha o que fiz. Tem misericórdia
de mim”! Não, Caim continuou resistindo a Deus. Em Provérbios 28:13
encontramos, “aquele que encobre suas
transgressões jamais prosperará, mas aquele que as confessa e deixa, alcançará
misericórdia”.
Deus
então exerce a sua justiça. Deus disciplina Caim. Ele põe a própria terra ou o
solo contra ele. Aquele homem que havia vindo ao mundo como um presente de
Deus, cheio de vigor, agora se tornaria fraco fisicamente, mesmo que comesse
bem da terra que ele cultivasse. “Agora
maldito és tu desde a terra, que abriu a sua boca para receber da tua mão o
sangue do teu irmão. Quando lavrares a terra, não te dará mais a sua força;
fugitivo e vagabundo serás na terra” (11-12).
Mesmo
após essa sentença, a auto-suficiência de Caim continua e agora ele demonstra
apenas remorso, não arrependimento. Disse Caim ao Senhor: “Meu castigo é maior do que posso suportar. Hoje me expulsas desta
terra, e terei que me esconder da tua face; serei um fugitivo errante pelo
mundo, e qualquer que me encontrar me matará”. Ele reclama do castigo, acha
que o castigo foi demais, e que ele pode morrer. Deus já havia exercido a sua
justiça. Caim fora amaldiçoado e o fruto do trabalho em sua profissão não
traria beneficia para ele. Deus é justo, Deus tem o direito de exercer justiça disciplinando
e punindo o pecado.
Mas,
mesmo ao exercer justiça Deus expressa a sua graça (4:15-26). Caim, não merecia
ser poupado fisicamente. Ele que além de acariciar
sentimentos de rebeldia, e murmurar contra Deus por causa da maldição
pronunciada sobre a terra e sobre o género humano, devido ao pecado de Adão, havia matado seu
irmão. Deus poderia ter matado Caim. Mas, além de ter poupado a vida de Caim,
Deus resolve proteger Caim de ser assassinado. Deus puniu, mas mesmo assim Deus
ainda ouve um pedido de Caim. Ele não seria assassinado como Abel o fora. Pois
o Senhor lhe respondeu: “Não será assim;
se alguém matar Caim, sofrerá sete vezes a vingança”. E o Senhor colocou em
Caim um sinal, para que qualquer um que viesse a encontrá-lo não o matasse. Deus
exerceu a sua justiça, mas a exerceu permeada por graça. Deus por ser
Deus resolve oferecer graça a quem Ele quer, mas se compraz em ser adorado por
quem o ama (Hb.11:6).
d) A incredulidade é a porta de entrada para a
distância de Deus (Gn. 4:3; Hb. 11:6).
Este
foi o caminho de Deus para lidar com o caminho errante de Caim. Caim trilhou a
religiosidade, os ciúmes, resistiu a Deus, foi autossuficiente e cometeu
assassinato. Mas, sabe como tudo começou? Falta de fé. Caim resolveu não crer
que focar-se em Deus, fazer Deus o primeiro de tudo em sua vida era o melhor
para ele. Abel fez assim, por isso as suas obras foram boas. Mas, Caim preferiu
viver a vida dele com ele achava que era certo sem perguntar a Deus se era
certo ou não. O autor de Hebreus nos diz que “sem fé é impossível agradar a
Deus”.
O
primeiro nome da chamada galeria de fé em Hebreus 11 é Abel, em contraste com
Caim. Fé aqui, em relação a Abel, não é a fé salvadora que exercemos em Jesus,
mas a fé que quando Deus diz algo para nós, nós o aceitamos como palavra final.
Se Deus diz que é assim, que a minha vida deve ser é assim, que seja. Se for
assim, mesmo que eu venha a perder algo ou a deixar de ser algo que sou, a fé
me faz continuar confiando nos propósitos de Deus para a minha vida, pois Deus
tem o melhor para mim. Isto é fé. Nosso problema maior não é riqueza ou
pobreza, beleza ou feiura, ter ou não ter. Nosso maior problema é não
reconhecer que Deus é o nosso foco e que não podemos viver sem ele. E quando
tentamos viver sem ele entramos no caminho de Caim.
Caim começou bem a sua história. Seu
nome significa “... com a ajuda de Deus”.
Seu início foi brilhante. Se ele houvesse vivido a sua vida com o foco em Deus
teria recebido a ajuda que Deus lhe quis dar. Mas, ele escolheu o seu próprio
caminho, não o caminho de Deus. E para onde o levou o seu próprio caminho? No
versículo 16 diz que Caim retirou-se da presença de Deus. Foi a escolha dele. O
texto não diz que Deus o expulsou da Sua presença. Caim é o sujeito do verbo.
Pior do que andar com uma marca no rosto, pior do que trabalhar e o trabalho
não dar frutos, é viver longe da presença de Deus. Não podemos esquecer-nos que
o Deus que criou tudo bonito e que criou assim para colocar nele o clímax de
sua criação como um acto de amor, é um Deus santo. E porque Ele é santo, Deus
não pode ser conivente com o pecado. Deus sempre tem o escape. Quando
confessamos e nos arrependemos, o sangue de Jesus nos purifica de todo o pecado.
Mas, se ficamos resistindo a Deus, viveremos distantes dele. Não queremos, com
certeza, ter o final de Caim. Mas para não termos o final de Caim, precisamos de
fugir do caminho de Caim e trilharmos o caminho de Deus. Vamos ver como isto
funcionou na vida de Abel e Caim.
2. Deus Exerceu
Graça por Causa do Seu Carácter Amoroso e Relacional (Gn. 5:4; 5:18-24).
Dois
homens cresceram juntos, vieram da mesma família, mas viveram experiências
diferentes. Assim foi com Caim e Abel. Estes dois viveram em uma cultura onde o
pecado já imperava. A violência já fazia parte do contexto histórico. Assim, é
encorajador perceber a mão de Deu tratando suas criaturas de uma forma pessoal
no meio de um mundo corrupto. Assim também foi com Enoque, como veremos a
seguir.
a) Deus tem prazer
em receber adoração sincera (Gn. 4:4-5; Hb. 11:4, 6).
A
adoração é uma coisa que ocorre no íntimo do ser, no íntimo do coração que
salvo algumas vezes (quando é manifestada o tipo de vida que a pessoa leva), só
Deus pode saber quando uma pessoa está adorando ou não. E seguindo essa linha
de pensamento só consigo pensar que não existe adoração extravagante porque não
existe adorar mais ou adorar menos, ou você adora ou não adora, ou você é de
Deus ou não, ou você é um adorador ou não.
Adoração
requer uma vida debaixo da vontade de Deus, adoração não é uma manifestação
física, de modo que uma pessoa imóvel orando sentado em silêncio no fundo da
igreja pode ser uma adoradora mais autêntica do que um musicista cantando ou
tocando louvores no altar. Tudo depende de como está o coração, a vida da
pessoa com Deus. Quando estamos adorando não estamos mostrando nada a ninguém,
mas somente e tão-somente mostrando a Deus o quanto o amamos.
Vamos
voltar ao nosso texto no capítulo 4 e rever o início do conflito entre Caim e
Abel. Como dissemos, ainda não havia culto estabelecido em sua forma. Isto vai
aparecer apenas no capítulo 4:26 com o nascimento de Enos, neto de Adão. Mas,
Caim e Abel resolvem prestar uma homenagem ou expressar gratidão a Deus. “Caim trás dos frutos da terra que ele
cultivava. E Abel trouxe, por sua
vez, as partes gordas das primeiras crias do seu rebanho. O Senhor aceitou com
agrado Abel e a sua oferta” (Gn. 4:4). Qual foi a diferença entre as duas
ofertas? A diferença é muito subtil, mas, se formos muito cuidadosos e
estudiosos, podemos encontrar a diferença na linguagem usada para descrever
cada oferta. Caim deu “do fruto da terra”, enquanto Abel trouxe “os primogénitos
do seu rebanho, e os mesmos de gordura”. A diferença. Portanto, está na atitude
e no coração de cada um. Numa tradução mais antiga diz que Abel trouxe das
primícias do seu rebanho e da gordura deste.
Tal
distinção é pequena, mas os corações dos homens são revelados em pequenas
coisas como esta. É a falta de uma boa atitude que tem desmantelado a vida de
tantas pessoas. Uma vida de insucessos seja na área espiritual, emocional ou
física, começa com o envenenamento da atitude do nosso coração. Por isso, a
cura começa também pelo tratamento dessa atitude
Mas,
qual é a mensagem? Aqui pela primeira vez aparece uma nuance daquilo que Deus
estabeleceria mais tarde para o seu povo. O princípio dos primeiros frutos.
Talvez possamos achar uma ilustração que, mesmo superficialmente, nos ajude a entender
um pouco do significado da oferta de Abel. Lembra-se quando é que partiu o bolo
do seu casamento? Para quem foi o primeiro pedaço? Para quem deu as primícias
do seu bolo? Neste contexto é que as obras de Abel são citadas em Hebreus 11.
Abel
tinha um coração que procurava honrar Deus e porque procurava agradar a Deus,
trouxe o primeiro do seu rebanho, o mais significativo. Junto com a próxima
frase podemos entender o todo da expressão e porque Abel agradou a Deus.
Naquela época gordura não tinha nem a conotação nem certamente causava o dano
que causa hoje quando é parte da nossa alimentação. Gordura era sinal de
alegria, daquilo que se tem de melhor, de apreciável. Assim, podemos dizer que
Abel trouxe para Deus o primeiro e o melhor do que ele tinha.
John
Ortberg menciona que numa sociedade de escassez trazer os primeiros e melhores
frutos para Deus significava dizer, eu confio em ti. Ao trazer o melhor para
Deus, Abel estava dizendo, Tu és o primeiro, Tu és o foco da minha vida, em Ti confio.
Que diferença entre o caminho de Abel e o caminho de Caim. Um não teve
confiança que Deus o supriria e que teria o melhor para ele. Mas Abel confiou
em Deus ao ponto de trazer para Deus o melhor que ele tinha e este melhor que
ele tinha ele o dedicou ao Senhor.
Que
encorajamento para nós... Será que fazemos assim em nossas vidas? Será que do
nosso salário damos para Deus as primícias ou damos do que sobra e quando
sobra? E do nosso tempo e da nossa energia? Quando agimos assim, Deus tem
prazer em nós. Deus não se deixa comprar, mas Deus se alegre em receber o
melhor de nós.
Da
mesma forma que Deus verificou o coração de Caim e o rejeitou, Deus viu o
coração de Abel e viu que as obras dele eram boas. Deus está mais interessado
em nosso coração do que em nossas obras. A religiosidade de Caim o levou a
afastar-se de Deus. Ele era religioso. Por outro lado, Abel tinha um coração
direito com Deus.
Abel
chega perante Deus como um desprovido de qualquer mérito e dá o seu melhor para
Deus. Deus é Deus que exercita justiça, mas também expressa e exercita a sua graça.
Deus tem prazer em receber adoração sincera. Deus recebeu com alegria o que
Abel oferecera. Isto é graça, Deus não precisa disto, mas nos deu o privilégio
de podermos adorá-lo com o que temos.
b)
Deus tem prazer em andar com os que se oferecem a Ele (Gn. 5:22-24; Hb. 11:5;
Sl. 51:6).
A
civilização adâmica estava se desenvolvendo e os efeitos da queda se
alastrando. Caim edificou uma cidade, um local cercado, como aparece em Génesis
4:17. Surgem as primeiras profissões bem com a arte começa a se desenvolver.
Por outro lado, a corrupção e a violência também. O princípio de uma só carne
de um homem com uma única mulher estava já sendo violado. Imoralidade já se
tornara parte da cultura. Assim, é no contexto cultural de violência,
imoralidade e distância de Deus, ou numa sociedade que incluirá Deus, que surge
um homem chamado Enoque. No meio deste mundo violento surge um homem, marcado
pela sua vida com Deus. Seu nome Enoque – Enoque quer dizer “dedicado”. As
menções que se fazem nas genealogias desta época é que os homens viveram um
certo número de anos e morreram. Fulano viveu tantos e anos e morreu. Mas, em
relação a Enoque diz que Enoque viveu 365 anos e já não era porque Deus o tomara
para si. Por que Deus o tomara para si? Porque Enoque andava com Deus. Veja a
foto de Deus nesta passagem – Deus é um Deus que exercita sua justiça, como ele
fez com Caim. Deus abordou tantas vezes Caim para levá-lo a um arrependimento.
Mas,
Caim preferiu sair da presença de Deus. Agora o mesmo Deus relaciona-se
significativamente com Enoque. No meio de uma geração corrupta, Deus encontra
um homem, Enoque, que anda com ele. É interessante que Judas menciona Enoque em
sua carta como aquele que profetizou contra a impiedade de sua época. Isto quer
dizer que Enoque não foi alguém que viveu em constante vida ascética ou
separada de sua comunidade. Não, ele foi activo e por andar com Deus,
confrontou a cultura corrupta de sua época. Juntamente com Elias são os únicos
homens do Antigo Testamento sobre os quais é dito que não passaram pela morte.
A
relação de Deus com eles era tão intensa, bem como o andar deles com Deus era
tão íntegro que Deus os chamou para si de uma forma totalmente diferente. Deus
toma Enoque para si. Andar com Deus numa sociedade corrompida é algo totalmente
fora do comum. Assim, quando o autor de Génesis diz que Enoque andou com Deus,
várias coisas estavam implícitas:
1)
Andar com Deus significa que Enoque tinha comunhão com Deus. Pelo que podemos
perceber estudando o texto de Gn 5:24, mais especificamente a palavra “andou” não
significa um andar fisicamente. Não é isto que o texto de génesis ensina. Mas o
que percebo neste ensino é que a sua conduta mostrava um homem andando na
presença do Senhor. Não era um relacionamento unilateral religioso, como alguém
que se apresenta num certo momento e espera uma aparição de Deus. Não, Enoque
vivia num relacionamento de mão dupla. Enoque viveu uma vida de obediência à
Palavra de Deus... Ele não estava apenas diante de Deus num formato religioso,
ele andava ao lado, ele ouvia, ele falava, ele era impactado por Deus. Embora
ainda não houvesse a palavra escrita, entendemos que Deus falava diariamente
com o seu servo. Precisamos de nos espelharmos nos exemplos dos heróis da fé.
Muitos
de nós queremos que Deus ande connosco, ou seja, que ele nos acompanhe por onde
nós caminhamos. Enoque é um homem que segue a Deus. Ele nos ensina que a
espiritualidade é caminhar com Deus, é proceder em moral, em justiça e
observância de leis. Também o que podemos afirmar é que a morte é mostrada em génesis
como consequência do pecado. Enoque vive de maneira que as consequências do
pecado (a morte) não tenham efeito sobre ele. É o homem que sobrepuja o pecado.
Isto é espiritualidade. Viver de maneira que o pecado não tenha domínio sobre a
pessoa.
Andar
com Deus refere-se a uma prática diária de obediência à Sua Palavra. É uma vida
moral correta, pois Deus é santo e não aceita o pecado. Nossa comunhão com Deus
depende de andarmos na luz da Sua Palavra onde o pecado fica evidente. Andar em
comunhão com Deus significa “andar na luz”, aliás, significa andar de acordo
com o carácter de Deus, que é luz. “Ora, a mensagem que, da parte dele, temos
ouvido e vos anunciamos é esta: que Deus é luz, e não há nele treva nenhuma” (1
Jo. 1:5). É manter uma vida pura. O pecado interrompe a comunhão com Deus.
Quando pecamos devemos pedir perdão imediatamente a Deus para restaurarmos a
nossa comunhão com Ele. Não tem como andarmos com Deus se não obedecermos à Sua
vontade, temos que viver de acordo com os Seus princípios.
Como
filhos de Deus, pesa sobre nós a responsabilidade de mantermos uma comunhão com
Deus, ou seja andarmos com Ele em todos os momentos de nossa vida. Se
mantivermos um propósito de nos relacionar com Deus de uma forma íntima,
certamente nossa vida terá grande crescimento espiritual. Não nos abateremos
com facilidade perante às pressões de nosso inimigo. Pelo contrário o Deus que
está em nós nos fortalecerá e nos levará em triunfo.
O
andar com Deus é consistente com as responsabilidades terrestres. Isto nos
mostra que Enoque, embora desfrutasse de uma grande intimidade com Deus, não
desprezou suas tarefas terrenas, principalmente quanto ao cuidado de sua
família.
2)
O andar de Enoque com Deus fez com que Enoque permanecesse puro no meio de uma
geração impura. O que deve chamar a nossa atenção é a expressão: “andou”, que retrata
a intimidade, que é a essência da piedade que encontramos no Antigo Testamento.
O que podemos afirmar também é que Enoque foi um homem que desejou ser
diferente, desejou ter um relacionamento mais profundo com Deus do que os
outros. Não se conformou com o padrão dos outros. É o modelo de espiritualidade
contemporânea, que vem da antiguidade, nos primórdios da humanidade. É um homem
que anda com Deus.
Deus
por ser relacional, ao deixar-se conhecer por aqueles que o amam, tem prazer em
capacitar esta pessoa para viver uma vida abundante apesar das pressões
culturais e morais do meio no qual ela vive. Enoque viveu trezentos e sessenta
e cinco anos sem se deixar contaminar pela cultura pervertida na qual ele
viveu. Aqui entra o conceito de permanecer que Jesus ensinou em João 15. Se
permanecermos em Cristo, se ficarmos nos alimentando da videira, se dependermos
dela, teremos vigor.
Teremos
o vigor para lidarmos com o pecado que grunhe à nossa porta, da mesma forma
como grunhiu diante de Caim. A diferença é que por andarmos com Deus nossos
sentimentos e valores se identificam com os valores e sentimentos de Deus.
Assim, deixamos de fazer o que é errado não como fruto de uma obrigação, mas
como fruto do amor por ele. Se estamos permanecendo nele, receberemos o amor
dele mais e mais e por o amarmos mais e mais, fugiremos daquilo que o
desagrada. A vida fica leve.
3)
Enoque andava com Deus porque estava de acordo com a vontade de Deus. Enoque
era um homem de fé e foi esta a qualidade que fez dele o melhor homem dos
primeiros dez séculos de história. Pela fé Enoque andou com Deus. Caminhar com
Deus é fixar sempre Deus diante de nós, e agir como aqueles que sempre estão
debaixo do Seu olhar. É fazer da Palavra de Deus a nossa regra e a Sua glória,
conforme Ele exige e ordena na Sua própria Palavra. Ao andar com Deus, Enoque,
com certeza desenvolveu o seu amor para com Deus. Não tem como andarmos perto
de Deus e não aumentar nosso amor por Ele.
Quando andamos
perto de Deus nosso amor por Deus foca na pessoa dele e não nas coisas que Ele
pode nos dar. Queremos ficar perto dele porque nele existe razão para viver,
Ele nos satisfaz, mesmo quando não temos o que queremos.
4)
Ao andar com Deus Enoque pode lidar com a dureza e as dificuldades da vida.
Quando andamos com Deus entendemos claramente as palavras de Jesus “sem mim
nada podeis fazer”. A cultura na qual Enoque viveu era muito semelhante à qual
vivemos inseridos, e tinha fortes apelos. Sejam apelos sensuais ou
materialistas. Seja a pressão para desistir de uma vida santa ou viver uma vida
focada no prazer apenas.
Enoque
procurava ouvir a Deus, ter uma comunhão diária com Ele. Isso com certeza
significou sacrifícios, luta contra os desejos carnais e contra as paixões que
dominavam sua época e seus contemporâneos. Mas isto agradou a Deus.
Portanto,
eis um princípio. Fazer a vontade de Deus é ter uma vida de fé e de dependência
contínua nEle. É lutar contra os desejos e paixões carnais e isso nos leva a
ter uma vida diferente dos demais. Como precisamos de homens e mulheres que
façam a diferença em nossa geração! Homens consagrados ao Senhor, que busquem
comunhão diária com Ele, que vivam na dependência de Deus. Isso certamente
significa desafiar e se opor à moral e as coisas consideradas comuns em nossa
época. Agora, uma pergunta: “A nossa geração está melhor do que a de Enoque?”
Certamente que não, mas lá havia um Enoque a ser usado, e hoje?
Ao
falar com Deus e ouvir Deus, a fé é acrescida e sabemos para quem correr quando
estamos debaixo de pressão. Ande com Deus! Viva com Deus! Se você ainda não
começou esta caminhada já é hora de iniciar.
5)
Quando Enoque andou com Deus, a fé se tornou a sua marca. Enoque cresceu em sua
fé para confrontar aqueles que se distanciaram de Deus. Enoque pode ter fé para
esperar o tempo que Deus o livraria de dores e problemas. Já imaginou’ quantos
problemas ele enfrentou? Se em nossa vida de 80 anos lidamos com tantas dores,
quanto mais alguém que viveu 365 anos? Mas, por andar com Deus, sua fé cresceu.
Por isso, o autor de Hebreus diz que Enoque obteve testemunho de ter agradado a
Deus, por causa da fé. Sem fé impossível agradar a Deus (Hb. 11.6).
Enoque
andou de tal forma com Deus, lado a lado com Deus, que Deus fez com Enoque o
mesmo que fez com Elias, o tomou para si. Com o arrebatamento de Enoque Deus
quis sem dúvida marcar o ensino de que há uma imortalidade em comunhão eterna
com Ele reservada para aqueles que andam em Sua presença fazendo a Sua vontade,
e isto serviria de consolo e encorajamento para viverem na prática da justiça
todos aqueles santos que voltavam ao pó, na morte, de modo a saberem que
poderoso é o Senhor para ressuscitar os corpos dos justos, e de que há uma vida
melhor reservada para eles do que esta que eles vivem neste mundo. Que
diferença de fim de vida. Caim, por causa do seu caminho de falta fé, ciúmes,
auto-suficiência, termina sua vida distante da presença de Deus. Enoque quando
teria o chamado fim de sua vida, na realidade começa uma nova vida com Deus, a
vida eterna.
Ao
tomar Enoque para si Deus comunica algo muito claro – Existe vida depois da
morte. A morte não é o fim da nossa existência. Se homem pensa que a vida
consiste em viver apenas o agora não ter o mente um futuro, ele está totalmente
enganado. A vida abundante que Jesus veio oferecer começa aqui na terra mas a
total plenitude dela somente se realizará na presença de Deus, depois da morte,
em um local chamado Céu.
Aqueles
cujo testemunho no mundo é de santidade e cuja conversação é santa, terão uma
trasladação feliz, ainda que na morte, porque o Senhor tem feito a promessa de
que aqueles que são dele, ainda que morram, viverão, e não terão do que se
lamentar todos aqueles que procuram viver de modo que Lhe seja verdadeiramente
agradável.
Tanto
o coração de Abel como o de Enoque revelam aquele coração que David, no Salmo
51, se refere como sendo um coração que Deus não despreza – um coração
contrito.
Deus
é um Deus que exercita disciplina, que exercita justiça. Sim, mas também é um Deus
que tem prazer em demonstrar graça e acolhimento.
Qual é o seu caminho? E como tem visto
Deus em seu caminho? O Deus que Caim viu ou o Deus que Abel e Enoque adoraram?
3. Não Caia no Caminho
de Caim!
Veja
o contraste com a oferta de Abel – oferta que expressava uma vida que agradava
a Deus. A oferta dos dois nada tinha a ver com o que mais tarde a Lei
estabeleceria. Não, foi algo pessoal. O Caminho errado de Caim começa aqui
quando ele não demonstra crer em Deus ou que a sua vida devia agradar a Deus. O
Caminho de Caim Começa com Falta de Fé.
Deus
olha para Abel — para o seu coração — e o aceita, para depois aprovar a sua
oferta. O mesmo ocorre com Caim. Deus primeiro vê Caim — a atitude existente em
seu coração —, rejeita-o e, consequentemente rejeita a sua oferta também. Deus
não vê da mesma forma que o homem: “o homem vê a aparência, mas o Senhor vê o
coração”. Caim e Abel eram muito diferentes no seu carácter.
Caim
ofereceu algo secundário, porque a sua vida e seus desejos eram mais
importantes do que os desejos de Deus. Por isso, Deus dá este alerta para Caim
- Caim, o pecado está aí querendo dominá-lo. Escolha meu caminho e não o seu,
pois o seu vai terminar em morte. Mas, o caminho de Caim continua errado, pois
ele não responde ao apelo amoroso de Deus. Um segundo aspecto do erro de Caim
ou do Caminho de Caim é o ciúme. Note que a ira de Caim não teve a ver com a
riqueza de Abel ou qualquer outro traço de Abel. Caim teve ciúmes e pior ainda,
podemos dizer que certo ciúme espiritual. Já imagino isto? Sim. Pois Caim
estava vivendo uma vida religiosa, crente ao domingo, mas igual a todo mundo de
segunda a sábado.
Nos
dias de hoje, o caminho de Caim está presente, quando vemos pessoas, fazendo o
seu dever a contragosto, ao darem a Deus o que lhes convém, mantendo tudo como
o centro do ego. Tudo é para o ego - trazem a oferta, fazem o sacrifício,
atravessam os movimentos, mantêm as aparências, e apontando para estas “evidências”
como prova de que estão fazendo o trabalho de Deus.
Mas
o caminho de Caim vai além da mera falta de prestar ao Senhor as coisas que Lhe
pertencem. O mal não é limitado a algo ruim ou imoral; o mal é o resultado
natural e inevitável de agir no melhor interesse do próprio. Pode ser bom, mas
é bom para mim, agrada-me, é capaz de fazer-me sábio, capaz de fazer-me como
Deus, atende as minhas necessidades, e assim por diante?
Qual
foi a reação de Caim para com o Senhor quando seu sacrifício foi rejeitado? Foi:
“Eu pequei contra o céu e contra ti”? Ou foi: “Cria em mim um coração puro, ó
Deus, e renova um espírito recto dentro de mim”? Ou foi: “Sonda-me e
conhece-me, ensina-me e conduz-me nos teus caminhos, para que eu saiba o que
realmente te agrada“? Ou foi ter com Abel para lhe dizer: “Meu irmão, tu tens
algo em teu relacionamento com Deus que a mim me falta, por favor, ensina-me
para que eu também possa saber como adorar a Deus em Espírito e em Verdade”?
Não.
A Bíblia diz: “Caim ficou muito irritado, com o seu rosto decaído de raiva”. Quando
ele vê que seu esforço para dar algo para Deus ou mesmo agradar a Deus não
funciona, ele se enfurece por causa deste ciúme. Ciúmes. Quem pode dizer que
não tem ciúmes? O pastor, o líder de pequeno grupo, o diretor da empresa ou o
colaborador? Mas, como na vida de Caim, o ciúme começou antes. Quando olhamos
para o que temos com ingratidão aquilo que não temos se torna perigoso. Quando
não confiamos no cuidado de Deus para connosco ou não confiamos que Deus cuida
de nós, esta falta de fé pode nos levar para o ciúme daqueles que tem aquilo
que gostaríamos de ter e não temos.
Caim,
confrontado com a sua própria irrealidade e pretensão religiosa, não escolheu o
arrependimento e a restauração, ele irado escolheu a autojustificação. Ao invés
de se ajustar ao propósito e à vontade de Deus, entendeu que sabia melhor o que
fazer do que o Senhor. Caim queria que Deus se ajustasse a ele, e não o
contrário. Ele queria recriar Deus à sua própria imagem, e reinventar a Deus
como uma questão de sua conveniência pessoal. Ele não estava servindo a Deus,
mas servindo a sua própria ideia de quem ele pensava que Deus é. Seu sacrifício
deveria ser aceite e, portanto, ele pensou, o Senhor e Abel estão errados, e
não eu!
O
Senhor, no entanto, não se ajustou a Caim, nem permitiu que fosse manipulado
pela vã imaginação dele. “Por que te iraste”? Perguntou o Senhor. “Se bem fizeres, não é certo que serás
aceito? Mas se persistires em seguir o teu próprio caminho, lembra-te que o
pecado jaz à porta! Ele deseja dominar-te, mas sobre ele deves dominar” (Gn.
4:7).
Caim
ignorou o aviso. Ele não pode mudar a mente de Deus, mas também não iria mudar
a sua própria mente. Caim permitiu que a mente se deixasse levar pelo mesmo
caminho que tinha levado à queda de satanás, condescendendo com o desejo de
exaltação própria, pondo em dúvida a justiça e a autoridade divinas. Ele não
tinha o senso de pecado e, por isso, pensava que uma oferta de frutos seria o
bastante. Mas o
pecado jaz à porta o tempo todo, de tocaia, esperando a oportunidade para
entrar.
Ele agacha-se ou esconde-se junto à porta. A linguagem personifica virtualmente
o pecado como uma coisa má agachando-se como um animal louco junto à porta de
Caim. Então ele fez o que a maioria religiosamente cega faz - cuidadosamente
planeou o assassinato de seu irmão mais novo, Abel, atraiu-o para um campo e
matou-o a sangue frio. Tudo isso para eliminar a ameaça para o seu próprio ego.
“E falou Caim com seu irmão Abel; e
sucedeu que, estando eles no campo, se levantou Caim contra o seu irmão Abel e
o matou” (Gn. 4:8)
A primeira pergunta de Deus ao homem é: “Onde estás”? A
seguinte é: “Onde está o teu irmão”? Ele tinha avançado tanto no pecado que
perdera a intuição da contínua presença de Deus e da Sua grandeza e
omnisciência. Assim recorreu à mentira para esconder a sua culpa. Nós somos
tutores de nosso irmão. Todos os que estão relacionados connosco acham-se
dentro de nosso círculo de conhecidos, ou necessitando de nosso auxílio, têm o
direito de esperar algo de nós. Não devemos tirar vantagem deles. O seu
bem-estar e o nosso são inseparáveis. Deus mantém um registo de seus santos e
os desagravará. Seu sangue clamará a Deus contra aqueles que lhes fizeram mal.
No mundo há apenas um clamor mais forte que o deles: “O sangue de Jesus” (Ver
Hb. 12:24).
Nossos primeiros pais geraram uma numerosa família, e
como esses descendentes se casaram entre si, uma grande população começou a
povoar a primitiva sede da vida humana. Caim fundou uma cidade dedicada a tudo
que atendesse ao prazer sensual. Esse foi “o caminho de Caim”, brilhante mas
ímpio, longe da presença do Senhor Jd. 11). “O caminho de Caim” é a rota de colisão
entre o homem e Deus, e entre o homem e seu semelhante. O Caminho (que é
Cristo!) proposto pelo Evangelho é o do encontro, da reconciliação entre o
Criador e a criatura, e entre o homem e seu próximo.
Tanto
a colisão como o encontro são frutos de uma convergência entre pontos. A diferença
é que no encontro as partes se integram, se unem, e às vezes se fundem. Já a
colisão tem efeitos colaterais devastadores. As partes se chocam, produzem
atrito, e às vezes se esfacelam.
O texto bíblico diz que Caim irou-se por achar que Deus
não atentava para a sua oferta, como para a oferta de seu irmão Abel. Esse
descontentamento foi fruto da comparação. Por que ele, e não eu?
Toda a inveja e ciúme são fruto da comparação. Quando nos
comparamos uns com os outros, temos a tendência de achar que somos
injustiçados, preteridos, e que, de alguma maneira, nossos direitos estão sendo
lesados. Daí vem o senso de justiça própria.
O invejoso é aquele que acusa Deus de agir com injustiça,
por preferir uns, e preterir outros. Mas a Bíblia é clara ao dizer que para
Deus não há acepção de pessoas.
Abel não era o favorito de Deus, como insinuava Caim.
Suas ofertas eram aceitas porque eram feitas com o coração puro, sem a
pretensão de desbancar o seu irmão. Já as ofertas de Caim tinham a marca da
presunção.
Infelizmente, muitos que se dizem cristãos parecem ter-se
matriculado na escola de Caim. Até testemunhos são dados com a intenção de
demonstrar o quanto são importantes para Deus, em detrimento de seus irmãos.
Acham que dar testemunho é contar vantagem, se cartar, instigando seus irmãos à
inveja. - Vejam, vocês não têm a fé que eu tenho.
Esse espírito de Caim tem sido estimulado até dentro dos
lares, onde os filhos disputam a atenção e predileção dos pais.
As Escrituras nos advertem a não sermos como Caim, “que
era do maligno, e matou a seu irmão. E por que o matou? Porque as suas obras
eram más e as de seu irmão, eram justas” (1 Jo. 3:12).
A existência de Abel se tornou uma afronta para Caim. Por
isso, ele não hesitou em matá-lo. Convidou-o para um passeio no campo, e quando
seu irmão se distraiu, apunhalou-o pelas costas, cometendo o primeiro homicídio
narrado pelas Escrituras.
Talvez não tenhamos a coragem que ele teve de tirar a
vida do próprio irmão. Mas se nutrimos um sentimento de ódio, alimentado pela inveja
e pela justiça própria, aos olhos de Deus somos tão homicidas quanto Caim.
“Todo aquele que odeia
a seu irmão é homicida...” (1 Jo. 3:15a). E esse instinto homicida, uma vez
nutrido, pode nos levar a matar o nosso irmão, pelo simples facto de a sua
existência se tornar numa afronta para nós. Há muitas formas de “matar” alguém.
Podemos matá-lo à prestação, usando nossa língua como arma. Podemos matá-lo ao
privá-lo de seus direitos. Podemos interditar seus sonhos, boicotá-lo com
nossos comentários maldosos ou simplesmente ignorá-lo.
O Caminho de Caim é o caminho do ódio, do extermínio, que
busca se autojustificar alegando ser vítima de uma injustiça. Já o Caminho de
Cristo é o caminho do amor, que em vez de tirar a vida, se oferece para dar a
vida, sem qualquer pretensão de ser recompensado. “Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós. E devemos
dar a nossa vida pelos irmãos” (1 Jo. 3:16). O amor faz cessar toda a
contenda, toda a demanda, toda a reivindicação. O foco deixa de ser o nosso
direito para ser o bem-estar de nosso semelhante.
Sentimento
de inutilidade é sentir-se totalmente descartável, sem utilidade, pode levar a
pessoa a um estado de alma desesperador. O desespero que pode existir no
coração da pessoa, quando se sente desvalorizada, pode levá-la a destruir os
outros, ou, se destruir. Deus tinha um projecto de vida para Caim, independente
de sua oferta. Ele era o primogénito consagrado ao Senhor, mas a alma de Caim
estava aprisionada por sentimentos maus. O Senhor Deus ainda o levou à reflexão:
“Filho, cuidado, o pecado está à porta”. Mas, o espírito destruidor já havia
dominado a alma de Caim. Aproveitou a oportunidade para exercer uma pressão
mental sobre sua mente, levando-o a entrar no túnel de acusação, sem volta,
destruiu por completo sua vida e a vida da sua família. Caim feriu Abel, e sem
dúvida as mãos e o altar foram “manchados” Isto indica claramente que a falta
de amor fraterno destina a pessoa à esterilidade e a ausência de propósito na
vida. Caim era o primogénito, o primeiro filho, consagrado para as bênçãos dos
pais, dos irmãos e de toda a descendência. Poderia ter feito a diferença, mas,
a maldade estava à porta e, Caim deixou a ira dominar todo o seu ser.
O apóstolo João interpreta a narrativa de Génesis e
afirma que o motivo principal do crime era a natureza pecaminosa de Caim, cujo
coração era maligno e perverso. João é categórico ao dizer que Caim era do
Maligno e as suas obras eram más. Tendo em vista que nada incomoda mais as
trevas do que a luz, Caim nutria uma diabólica animosidade para com Abel, homem
de fé (Hb. 11:4) e justo (Mt. 23:35).
O motivo íntimo do desumano acto de Caim é revelado em 1
João 3:12. “Os actos de Caim era malignos, e os de seu irmão eram justos. O
termo justo, porém, é um termo que se refere a Jesus Cristo (1:9; 2:1, 29; 3:7)
Em outras palavras, Caim pertencia a Satanás e Abel pertencia a Deus”. Abel, tinha
um espírito de fidelidade para com Deus. Via justiça e misericórdia na forma
como Deus o Criador Se relacionava com a raça caída, e profundamente consciente
do pecado sentia que era necessário um sacrifício; portanto, sua fé o salvou;
por ela, ele se acha ligado a todos os que creem. (Ver Hb. 11:4). A fé é o
nosso sexto sentido. Ela nos dá a certeza das coisas invisíveis ou futuras, e
que nós conhecemos apenas através da Palavra divina; a mesma certeza que temos
das coisas que podemos ver e tocar. Quando nos sentimos conscientes da
realidade dessas coisas, naturalmente as levamos em consideração em tudo que
fazemos.
Não
podemos ouvir e ler estas três histórias sem procurarmos responder para nós
mesmos – Qual o caminho que estou seguindo? Em nossa caminhada de descobertas a
respeito de Deus vimos que desde o início da história Deus se revelou não
somente um Deus amoroso, mas também um Deus que lida e confronta o erro ou o
pecado da humanidade ou o nosso pecado pessoal. Deus é amor. Sim, estamos
acostumados a ouvir isto. Mas, também Deus é justiça. Vimos que Justiça e
Graça, aquilo que recebemos sem merecer não são incompatíveis. Elas vêm da
mesma fonte. Por isso, preciso perguntar a mim próprio, Que caminho estou
trilhando? O Caminho de Caim ou o de Abel e Enoque?
O
caminho de Caim termina em distância de Deus, longe de Deus. O de Abel e
Enoque, perto de Deus, impactando o mundo onde se vive. Falta de fé, ciúmes,
desobediência, auto-suficiência fazem parte do caminho de Caim. E como sair
deste caminho e escolher o caminho de Abel e Enoque? Só há uma maneira – Jesus.
Todos nós andávamos pelo caminho de Caim, e alguns ainda estão andando por ali.
Mas, Jesus disse, Eu Sou o Caminho, a Verdade e a Vida, e ninguém vem ao Pai se
não for por Mim. Jesus é o caminho para a mudança de vida, o caminho para a
liberdade. Eu preciso apenas de reconhecer – sim, tenho sido Auto-suficiente.
Tenho posto minha fé em mim mesmo ou em coisas que realmente não funcionam. Isso
pode ser resolvido hoje, mudando de caminho e correndo para Jesus.
Talvez
até hoje esteja resistindo em dizer para Deus, sim, tenho errado. Tenho apenas
entregue para o Senhor o que sobra da minha vida ou mesmo sido apenas
religioso. Mas, hoje eu quero mudar – hoje quero ouvir o Senhor e dizer, estou
errado, quero recomeçar. Ou, estou errado, quero entregar a minha vida ao
Senhor. Não importa onde tenha andado, ou por quanto tempo tenha andado no
caminho de Caim, quando corre para Jesus se torna aceito porque ele não somente
é o Deus que exercita justiça, mas o Deus que exercita graça em direcção a nós.
Apenas tem que escolher, ou fica onde está ou corre para Jesus e muda de
caminho.
Nossa
relevância, seja na igreja ou na sociedade, se faz perceptível quando nós encaramos
a responsabilidade de ser um exemplo diante das realidades de nosso tempo. Se
hoje vivemos no meio da superficialidade, sejamos nós um exemplo de profundidade
em nossas relações sociais, no saber e em tudo o que vier às nossas mãos para
ser feito. Diante do individualismo, mostremos que é possível o convívio
coletivo, marcado pela unidade através do amor e da solidariedade. Diante de um
hedonismo exacerbado, mostremos que o amor ao próximo não é uma filosofia
bonita, mas uma verdade vivida e experimentada não por aquilo que o próximo tem
a me oferecer, mas por aquilo que ele é. Diante de pessoas irresponsáveis,
mostremos que a responsabilidade é fruto de uma fé concreta e relevante,
preocupada com o aqui e agora. Diante de um mundo que cultua e erotiza
demasiadamente o corpo, ofereçamos nossos corpos como sacrifício vivo, santo e
agradável a Deus, através de um culto que celebra a vida, respeitando e
aceitando o ser em sua totalidade.
“Esta é a mensagem que ouvistes desde o princípio: que
nos amemos uns aos outros. Não como Caim, que era do maligno, e matou seu
irmão. E por que ele o matou? Porque as suas obras eram más e as de seu irmão eram
justas. Meus irmãos, não vos maravilheis, se o mundo vos odeia” (1 Jo. 1-3).
E para esclarecer, João explica que “o mundo” não é
limitado aos pecadores perdidos, mas inclui os que se dizem irmãos quando não
são nada. A maior ameaça para a simplicidade de Cristo não é um pecador
perverso no mundo, mas os religiosos que estão seguindo o caminho de Caim,
pessoas de dentro de nossas próprias fileiras:
“Porque se introduziram alguns, que já antes
estavam escritos para este mesmo juízo, homens ímpios, que convertem em
dissolução a graça de Deus, e negam a Deus, único dominador e Senhor nosso,
Jesus Cristo. Estes, porém, dizem mal do que não sabem; e, naquilo que
naturalmente conhecem, como animais irracionais se corrompem. Ai deles! Porque
entraram pelo caminho de Caim, e foram levados pelo engano do prémio de Balaão,
e pereceram na contradição de Coré” (Jd. 1:10-11).
4. Três atitudes de um rebelde
“Ai deles! Porque
foram pelo caminho de Caim, e por amor do lucro se atiraram ao erro de Balaão,
e pereceram na rebelião de Coré” (Jd. 11).
Esta epístola de Judas está dirigida a todos os crentes
do evangelho. Sua intenção é resguardar os crentes contra os falsos mestres que
haviam começado a infiltrar-se na Igreja cristã, e a disseminar preceitos
perigosos para reduzir todo o cristianismo a uma fé só de nome e a uma
profissão externa do evangelho. Tendo negado assim as obrigações da santidade
pessoal, ensinavam a seus discípulos a viver em sendas pecaminosas e, ao mesmo
tempo, os bajulavam com a esperança da vida eterna. Esta epístola demonstra o
vil caráter destes sedutores e pronuncia sua sentença, e conclui com
advertências, admoestações e conselhos para os crentes.
Nesta epístola são claras algumas atitudes de rebeldia
desses falsos mestres. Quando se fala em rebeldia está se falando da acção de
rebelar; qualidade do que é rebelde; oposição; insurreição; pertinácia. Assim,
tem-se nesta epístola exemplos de pessoas que se opuseram à autoridade divina e
de líderes da igreja, provocaram o povo a pecar e ainda eram insubmissos. Esse
texto nos serve de alerta (1 Co. 10:6)
Hoje não é diferente. Os filhos da carne passaram a odiar
os filhos do Espírito. Ismael zombou de Isaque, Saul perseguiu David, a
liderança religiosa condenou Jesus e o crucificaram. O amor esfriou, e ninguém
quer ser suporte do irmão. Homens e mulheres precisam de tomar cuidado para que
não caiam nos mesmos erros que alguns caíram anteriormente. Judas diz: “Ai deles! Porque foram pelo caminho de Caim,
e por amor do lucro se atiraram ao erro de Balaão, e pereceram na rebelião de
Coré” (v.11)
1 – Caminho de Caim - Intolerância
Caim era irmão de Abel. Foi “o primeiro assassino, e
Judas talvez queira dizer que assim como Caim assassinou o corpo de Abel, assim
também estes homens (os falsos mestres) assassinam as almas doutras pessoas”. A
narrativa Bíblica relata que Deus aceitou a oferta de Abel e rejeitou a de Caim
(Gn. 4:1-14). Sua postura e posição diante de seu irmão e de Deus demonstrou
que ele era um homem invejoso, intolerante e violento. Sua atitude de matar o
irmão prova que Caim não suportou ver o êxito de seu irmão e de forma
traiçoeira matou-o.
a) Intolerância. As
Escrituras nos falam de “suportar uns aos outros em amor” (Ef. 4:2). Esta
atitude revela amor, cuidado e compreensão. Este texto nos ensina como devemos
olhar para o próximo. Na realidade é uma admoestação para que exista paz e
harmonia entre os cristãos. Porém, o que se percebe em muitos indivíduos é um
coração rancoroso, cheio de ódio e que não suporta as outras pessoas. Estes
estão no mesmo caminho de Caim. Não conseguem ver o sucesso do outro. Os
holofotes devem estar todos voltados para eles senão não ficam satisfeitos. Não
conseguem se alegrar em ver que o outro é bem-sucedido. Há uma advertência para
este tipo de pessoa: “O que faz uma cova cairá nela; e a pedra voltará sobre
aquele que a revolve” (Pv. 26:27). Aquele que intenta mal contra o seu próximo
certamente colherá os frutos de sua acção. Além disso, as Escrituras advertem
contra as acções provenientes da carne. (Gl 5:19).
b) Atitude do intolerante. Gera morte. Geralmente aqueles que dizem não serem tolerantes têm a
tendência de gerar morte. Ferem as pessoas (emocional e fisicamente) e não se
arrependem disso. Veja que Caim não demonstrou nenhuma atitude de
arrependimento, pelo contrário, ao ser indagado por Deus acerca do seu irmão,
Caim respondeu de forma arrogante e soberba (Gn. 4:6). Há muitos na igreja que
com as suas atitudes têm provocado feridas e morte. Sua intolerância tem
destruído vidas, esfacelado famílias e produzido amargura, angústia e tristezas.
A única alternativa para sair dessa atitude é humilhar-se diante do Senhor e
arrepender-se (Lc. 3:8; At. 3:19).
Caim representa o carácter cínico e materialista que
desafia a Deus e despreza aos homens. Está destituído de fé e amor. Como tal, é
o protótipo dos homens com os quais Judas tem de lidar. Pela mesma forma,
hodiernamente enfrenta-se homens e mulheres cujos corações enfrentam a Deus e
desprezam as pessoas. São pessoas sem piedade, sem fé e sem amor verdadeiro.
Pergunto então: Como vê a seu irmão em Cristo? Você gera vida ou morte? É
invejoso? Não se arrepende?
2 – Erro de Balaão – Apostasia e Engano
Balaão era tido como profeta (Nm. 23:11). Tornou-se um
mercenário. Queria “vender” os seus serviços como profeta de Deus. Sua conduta
era de um homem que apesar de conhecer a verdade de Deus procurou andar por
outros caminhos, distorcendo a verdade de Deus e usando-a em benefício pessoal.
Não havia ética nele. Não importava para quem trabalhava, ou como usava o que
possuía.
a) Erro de Balaão (Nm. 22-24). Ele foi avarento. Sabendo que não poderia amaldiçoar o povo de Deus,
intentou então corrompê-los. Preparou para que os israelitas adoptassem ideias
pagãs e se envolvessem com mulheres moabitas e assim tornaram-se idólatras e
totalmente atolados em suas práticas contrárias à fé de Israel. A intenção de
Balaão foi a procura de ganhos independentemente se isto envolvia o povo de
Deus. Não estava preocupado em conhecer a verdade. Queria levar vantagem e não
se importava com o que deveria ser feito para atingir os seus objetivos. Ele
foi ganancioso. A sua atitude errônea foi a de levar o povo a pecar. Foi
responsável por enganar os israelitas. Ainda hoje há homens e mulheres cujo
carácter é deformado, e assim como Balaão, usam de todos os artifícios para
alcançarem lucro. Passam por cima das pessoas, de autoridades e da própria
Palavra de Deus. Não têm temor a Deus e servem-se da obra de Deus para seu
benefício. O obreiro é digno do seu salário (Lc. 10:7), mas, quando alguém se
serve da obra de Deus para abusar das pessoas, para usufruir benefícios
pessoais e lucro fácil está se desviando do propósito do ministério e também de
seu chamado. Este não terá como recompensa o galardão da justiça de Deus, mas
colherá da ira de Deus. (2 Pe. 2:15).
b) Prémio de Balaão. Esse prémio pode ser definido como o galardão daqueles que além de se
corromperem, fazem de tudo por corromper a Palavra de Deus e a Igreja de
Cristo. Seus ensinamentos são falsos, são enganadores e interesseiros. Seu fim
é de apostasia, ou seja de total distanciamento da verdade de Deus e de sua
salvação. A recomendação do apóstolo Pedro é de que a motivação para o
ministério seja a recompensa vinda do sumo pastor (1 Pe. 5:4) e não os lucros
obtidos, a imposição e a ganância. Quem se deixa levar por este caminho colherá
destruição. O resultado da vida de Balaão demonstra que se deixou perder.
Preocupou-se nos tesouros da terra e esqueceu dos tesouros do céu (Mt. 6:21ss).
Balaão achava que poderia ter o lucro amaldiçoando o povo de Deus e ainda
agradar a Deus. Hoje, isto ainda acontece. Muitos têm uma vida totalmente fora
da vontade de Deus, fazem coisas que não agradam ao Senhor e mesmo assim querem
agradar a Deus. Deus não aceita este tipo de comportamento.
3 – Caminho de Coré – Orgulho e Desobediência
Coré pertencia à tribo de Levi, e era um homem honrado.
Além disso, era um líder respeitado (Nm. 16). A atitude de Coré foi a de
produzir divisão, contenda, cismas. Não respeitou a autoridade que Deus
constituiu.
a) Levantar contra liderança (Nm 16:3). Coré e os que com ele estavam levantaram-se contra Moisés. Não possuíam
nenhuma fundamentação. Provocaram tumulto por nada. Não havia consistência em
suas palavras. Mostrou-se uma pessoa orgulhosa. Em suas palavras demonstrou
falta de humildade e de reconhecimento de autoridade sobre si. Aqueles que
querem andar pelos seus próprios caminhos e não aceitam a liderança estão
entrando pelo caminho da rebeldia, e uma das características dessa rebeldia é o
orgulho (achar que é melhor do que os outros). A desobediência também é chamada
de pecado de feitiçaria (1 Sm. 15:23) e isto implica na própria rejeição de
Deus. Coré não soube reconhecer o líder que Deus havia estabelecido sobre o
povo de Deus. Seu argumento é de que Israel não precisava mais desse líder. Mas
o que a Bíblia afirma é que os líderes são constituídos por Deus e devem ser
respeitados e imitados na fé (Hb. 13:7; 1 Tm. 5:17).
b) Provocar divisão. Coré não estava satisfeito com seu serviço (Nm. 16 - ver contexto). Não
reconheceu seu lugar diante de Deus e de seu povo. Ao se levantar contra Moisés
provocou divisão no meio do povo de Deus. A divisão foi resultado da não
submissão desse homem ao servo que Deus havia constituído sobre o seu povo.
Esta atitude ainda hoje está presente. Pessoas provocam divisão pois não são
submissas. Não reconhecem a autoridade de Deus na vida dos líderes.
Infelizmente o resultado de alguém insubmisso e que provoca divisão é o
julgamento de Deus. A recomendação bíblica é de unidade (Ef. 4:1), falar e
pensar a mesma coisa (1 Co. 1:10). Todos aqueles que se entregam a Cristo são
chamados para servir (Mc. 10:45) e não para reivindicar posição e autoridade
para nós. Todos nós fomos chamados a proclamar o seu evangelho, contar as boas
novas e encher de esperança corações que ainda precisam saber desse tão
grandioso amor de Deus para cada um de nós. No entanto, quem deixar seu coração
ser dominado pelo orgulho e desobediência certamente será uma pessoa marcada
pelo fracasso, pois quem se levanta contra os servos de Deus se levanta contra
o próprio Deus.
Os exemplos que Judas tira do Antigo Testamento apontam
assim para as características presentes nos falsos mestres de sua época. Eram
homens destituídos de amor, estavam dispostos a, em troca de dinheiro, ensinar
aos outros que o pecado não importava, e assim como Coré, desprezavam as
ordenanças de Deus e eram insubordinados aos líderes da igreja.
Judas tinha à frente o desafio de alertar a igreja sobre
indivíduos que eram intolerantes, enganadores e mercenários e desobedientes.
Eles estavam infiltrados na igreja, foram chamados de nuvens em água, ondas
furiosas, estrelas errantes. Isto significa, que eram superficiais, falsos,
passageiros e sem real significado. O julgamento de Deus está determinado para
aqueles que seguem estes caminhos. O chamado de Deus para o seu povo é o
caminho da santificação (Hb. 2:14), do amor (Rm. 12:10) e da obediência (At.
5:29; Dt. 30:8).
Aqueles que seguem o caminho de Caim vão descobrir que o
chão que pisam é amaldiçoado. Ele não vai produzir nada para eles. Eles nunca
serão frutíferos. Eles nunca estarão satisfeitos. Eles vão vagar pela terra e
nunca vão saber qual é a presença genuína do Senhor. Mas Caim continua teimoso,
mesmo reclamando sobre o juízo de Deus: “Meu
castigo é mais do que posso suportar” (Gn. 4:13). A carne se justifica em
cada momento.
Não deixe que Caim o impeça ou o distraia de dar as suas primícias
e o seu melhor para Deus. Se ficar focado em Caim o seu rosto vai ficar desfigurado
com raiva e acabará por se tornar como ele. Amarás o Senhor teu Deus com todo o
teu coração, alma, mente, corpo e força. Seja prudentemente dedicado a Deus, e
deixe Caim seguir o seu próprio caminho.
Não deixe que Caim o atraia para um campo com promessas
maravilhosas, pedidos de ajuda ou ofertas de amizade. Ele tem um motivo.
Procure a marca em sua carne e fique longe dele (cf. Gn. 4:15). Não vá com ele,
nem o deixe vir até si.
Se Caim atacar, não resista. Deixe que o seu amor por
Deus seja uma ameaça, bem como um alvo. Também percebemos que Deus não impediu
Caim de matar Abel, apesar de Abel ser justo. Isso só significa que a morte não
é o fim, mas o começo. Assim torna-se um sacrifício vivo, vertendo o fluxo de
sangue e água. Este é o trabalho da Cruz. Não tema o derramamento de seu
próprio sangue, mas tema o derramar de sangue de outra pessoa. Caim vai receber
a sua recompensa, e você receberá a sua. Aqueles que perderem a sua vida por
amor a Ele viverão.
A nossa
incapacidade de amar uns aos outros, a nossa incapacidade de cuidar de nossos
irmãos, é um pecado grave, que mostra que estamos seguindo o caminho de Caim. Vigiemos
e oremos, para que não entremos em tentação, e sejamos feitos nós filhos e
filhas de Abel para que saibamos o que é agradável e aceitável em sua visão.
5. O que está buscando em Deus?
Todo o ser humano em algum momento da sua vida buscará a
Deus. Talvez por querer entender o que aconteceu e o que acontecerá (Ec. 3:11).
Mas jamais conseguirá entender completamente os actos de Deus se não aceitar a
Sua mensagem e persistir nela, com a finalidade de praticar a vontade e a
verdade divina.
Todos buscam a verdade e todos a querem conhecer. Mas
quando estamos com Deus, temos que decidir em praticá-la ou não. Jesus certa
vez falou sobre isso em João 7:17. Ele dizia, que se as pessoas quisessem saber
se o que Ele falava e fazia era verdade, que praticassem a vontade Deus e assim
descobririam que Ele, Jesus, era o Filho de Deus. Ele estava tentando dizer que
em vez das pessoas ficarem especulando, filosofando e teologizando acerca da
verdade, que a praticassem e na prática, veriam como a vontade de Deus
funciona! Este é o verdadeiro “passo de fé”.
A verdade sempre funciona e quando praticada, ela se
materializa como “bem”. Jesus está desafiando as pessoas a saltarem ou a pularem
para os braços do Pai e descobrirão a presença constante de Deus em suas vidas,
pois a prova da verdade é que ela faz acontecer o que promete! Pular nos braços do Pai do Céu é dar boas e gostosas gargalhas, pois o
lugar é seguro e o Pai não nos deixará levar tombos violentos em nossa vida. Ninguém
nos ama mais do que o Pai do Céu!
Saiba que todos os
que buscam a Deus, sempre levam alguma coisa com eles, para colocar sobre um
altar. Interiormente, o agradecimento ou o ressentimento, a alegria ou a
tristeza, o prazer ou o desprazer, a crença ou a descrença, a fé ou a
incredulidade, o egoísmo ou o oferecer-se, o respeito ou o deboche, a aceitação
ou a provocação, a autossuficiência ou a entrega do ser.
6. O que Deus está vendo e esperando de si?
Caim. Repare bem no
verso 4 de Génesis 4: “O Senhor ficou
contente com Abel e com a sua oferta, mas rejeitou Caim e a sua oferta”.
Antes de qualquer oferecimento, Deus olha para dentro de nós e conhece o nosso
carácter. Deus olha primeiro para o coração, para a essência e a motivação do
ser (1 Sm. 16:7). Deus olhou para dentro de Abel e o mesmo fez com Caim. Pela
ordem, aprovou o piedoso e desaprovou o autossuficiente!
Nós temos uma explicação sobre como era Caim e o seu
caminho em 1 João 3:12 e em Judas 10, 11.
A Literatura Rabínica fala sobre o caminho de Caim:
deboche, paixões carnais, a cobiça, a autoindulgência e malignidade geral.
Acrescente a isso tudo a inveja e o ódio e terá um ser “depravado” ou
pervertido. Exemplos: O fariseu e o publicano. O irmão do filho pródigo.
Davi matou Urias, tentando consertar um erro com outro.
Esse é o caminho e a religião em que Caim é o patrono - um criminoso, fugitivo
e ausente de Deus!
Abel. Segundo Hebreus
11:4, possuía um caminho ou procedimento “correto”, porque tinha fé! Ele
entendia e eternizava o amor e a misericórdia divina. (c.f. Mt. 9:13)
A sua oferta era o resultado do significado da vida que
ele possuía em seu interior. Diferente de seu irmão Caim, ele expressava pela
sua oferta a sua impotência e dependência de Deus para seguir na vida. Ele
encontrava em Deus o mais puro e mais alto sentido para a sua vida. Seu
sacrifício significava profeticamente Cristo, o “Cordeiro de Deus” que já
estava morto antes da fundação do mundo. Ele celebrava a Graça, o perdão de
Deus e eternizava tudo isso por meio de sua oferta. Por isso está escrito que
(...) Por meio da sua fé, Abel, mesmo depois de morto, ainda fala. Sim, sua
vida fala por meio de Cristo que morreu e ressuscitou e está aqui entre nós!
O caminho e a religião de Abel expressa a impotência do
ser em manifestar bondade, fé e amor sem Deus. É a religião que se despe de
suas próprias roupagens e que aceita um revestimento divino. É a religião que
usa a verdade como colírio para seus olhos, a fim de curar a sua cegueira. É a
religião dos homens que morrem para si mesmos e renascem por Deus e para Deus!
Leia Gálatas 2:20. Esta era a experiência de Abel e será a nossa?
É sábio ter Deus envolvido nas nossas vidas naqueles
momentos quando as catástrofes vêm. Mas a intenção dEle é que tenhamos uma vida
mais plena, não importando quais sejam as circunstâncias. Ele quer ter uma
influência positiva em cada área de nossas vidas. Quando nos apoiamos nEle e
nas suas palavras, estamos construindo sobre a Rocha.