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Orar à Maneira de Jesus


Para orar à maneira de Jesus, a nossa oração terá sempre necessidade de ser evangelizada. Cada dia são mais os indiferentes, os afastados, os jovens e até as crianças que não contam com Deus nem com a Igreja. O Evangelho chega apenas a uns poucos, aos de sempre. E assim a nossa Igreja, a Igreja de Deus, não avança; pelo contrário, adormece e arrefece. Para isso, precisamos entrar e manter-nos no diálogo de Jesus com o Pai a respeito dos homens.

Muitos homens viram os sinais realizados por Jesus, comeram à mesa com Ele, ouviram-no falar com autoridade, mas não acreditaram nele (Jo. 2:23-24). Não bastava tê-lo visto enquanto vivo, nem mesmo sobre a cruz, para descobrir o seu mistério. Assim o homem pode ver a Jesus e não atingir o que nele há de mais íntimo, pois possui um segredo que o torna fascinante para os que o encontram, e desesperante para aqueles que passam ao lado.

Orar à maneira de Jesus jamais pode ser confundido como um negócio a realizar com Deus, mas deve nos levar à descoberta de sua vontade e a servi-lo. Por isso, preste atenção, não vá a Jesus para comer à medida do seu desejo, porque o que honra a Deus não são apenas listas de com­pras, mas procure-o, unicamente para que lhe dê o verdadeiro alimento, aquele que é para a vida eterna (Jo. 6:26-27). Se crê nele, não se surpreenda de pertencer a um pequeno número, pois eram cinco mil à partida (Jo. 6:10) e não serão senão doze à chegada (Jo. 6:67).

Então o que lhe falta para trabalhar na obra de Deus? Uma coisa muito simples, mas terrivelmente difícil porque você é complicado: “A obra de Deus é que creia naquele que Ele enviou” (Jo. 6:28). Crer em Jesus, que foi enviado por causa do amor de Deus por nós, é descobri-lo no seu ser de homem e de Filho de Deus, e é ser iniciado nessa misteriosa relação que o leva a dizer: “Como tu, Pai, estás em mim, e Eu em ti, que eles também sejam um em nós” (Jo. 17:21).

Este segredo habita em si, mas você não se encontra suficientemente esvaziado para que ele lhe revele o seu mistério. É preciso que Jesus lhe chame seu amigo e lhe faça partilhar o objeto do seu diálogo com o Pai: “Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas chama-vos amigos porque tudo quanto ouvi de meu Pai, vo-lo dei a conhecer” (Jo. 15:15).

No fundo, entre o Pai e Jesus passou-se um diálogo misterioso. O Pai levou o Filho a partilhar com ele o seu amor angustiado face a todos os homens que se perdem recusando-o, e Jesus fez, livremente, eco a esse sofrimento de Deus, como homem. Ele disse: “Eis-me aqui, ó Deus para fazer a tua vontade” (Hb. 7:10). O Pai e o Filho entenderam-se entre si, e foram os homens que beneficiaram. Não é necessário conhecer esse diálogo para ser salvo, mas Deus concede a alguns o dom de partilhar. Quem saberá a delicadeza de amor de tal diálogo? É caso para dizer como o salmista: “Eu estou como um bruto animal diante de ti” (Sl. 22:73). Em hebreu diz-se: “Sou como um Béhémot”, uma espécie de hipopótamo!

Jesus passou três anos a dar a pressentir aos apóstolos este segredo e nem por isso o conseguiu, porque lhes faltava a inteligência de coração (Lc. 24:25). Foi necessário enviar-lhes o Espírito Santo, para que finalmente compreendessem o coração de Deus e deixassem de persegui-lo pela sua dureza. Pelo seu sacrifício glorioso, Jesus salvou-o, mas deseja que seja iniciado nesse segredo e que saiba que há três pessoas em Deus. É este o dom que leva em si como um tesouro num vaso de barro (2 Co. 4:7).

Mas Jesus reserva-lhe “coisa melhor” (Hb. 11:40). Quer que conheça esse tesouro e use dele plenamente. O seu privilégio extraordinário é de prolongar o diálogo de Jesus com o Pai para salvar os homens. É isto evangelizar a sua oração, fazendo “memória” da oração de Jesus ao Pai. Releia o capítulo 17 de João, chamado o santuário interior dos Evangelhos, e peça ao Espírito Santo que venho socorrer a sua fraqueza (Rm. 8:26). Jesus, o nosso Sumo-Sacerdote, deseja que conheça o Pai, pois manifestou-lhe o seu nome (Jo. 6:17) e é por si que ele ora (Jo. 9:17). A sua oração ultrapassa o círculo dos discípulos e abrange todos os homens que crêem nele: “Eu não peço somente por eles, mas também por aqueles que, graças à sua palavra, cerarão em mim” (Jo. 17:20).

Durante as suas noites de oração (Lc. 6:12), Jesus pedia ao Pai, com insistência tal que o levaria à morte, que todos os homens contemplassem a sua glória, e fossem introduzidos na comunhão do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Quando ele lhe convida a orar, pede-lhe que prossiga e prolongue no seu coração e na sua carne aquilo que falta ao seu sacrifício, pelo Seu Corpo que é a Igreja (Cl. 1:24).

Quer seja crente, escondido no mais profundo do deserto, ou em plena cidade no coração do mundo, a sua oração prolonga esse diálogo de Jesus com o Pai, acerca dos homens. É em nome deles que intercede junto do Pai, visto que não faz senão um com Cristo: “Por isso, Ele capaz de salvar de modo definitivo aqueles que se aproximam de Deus, vivendo sempre para interceder eles” (Hb. 7:25).

Perguntar-me-á, talvez, qual é o conteúdo desse diálogo. Encontrá-lo-á em João, na oração sacerdotal de Jesus (Jo. 17), dando um relatório a seu Pai da sua vida e ministério, mas é preciso que essa mensagem se torne palavra Rehma para si, como cristão consciente da sua missão sinta e saboreie que esta Palavra é viva, actual e eficaz e para isso, ela terá que ser transmitida por alguém com um rosto – o de Jesus – que a torna viva pelo sopro do seu Espírito. Trata-se de uma necessidade que está inscrita no projecto salvífico de Deus. Jesus não pode eximir-se a esse preciso dever, até porque qualifica a sua missão: “Para isso fui enviado” e cada um de nós foi também enviado. “Para isso fui enviado”: é como dizer que não há evangelização sem missão. Enquanto trabalhamos, cuidamos, servimos e ministramos vamos lembrar de aproveitar cada oportunidade para falar de Jesus para alguém.

Vivamos de tal modo, que a nossa fé e a nossa vida, que os nossos gestos e os acontecimentos da vida pessoal e comunitária, que a oferta da beleza da nossa fé, se tornem assim atractivos e significativos, para o nosso meio ambiente. Que os outros, se sintam atraídos pela beleza, pela alegria, e pelo entusiasmo da nossa fé (cf. At. 5:16).

É importante separar um período regular para o diálogo, por­que sem regularidade do diálogo jamais se tornará um hábito. Se desejamos viver na presença de Deus, devemos deixar o mun­do de lado e nos sintonizarmos com Deus todos os dias, sem falharmos. Precisamos deixar de lado outras preocupações e direcionar nossos pensamentos para Deus, olhar para Ele, falar com Ele, ouvi-lo, permanecer em silêncio diante dele. É no diálogo íntimo, pessoal com Deus que brota uma força que nada e ninguém pode parar.

Deus não quer um amontoado de frases que impressionam. Não quer que usemos palavras sem refletir no significado de­las. O que Deus deseja é que falemos com Ele como falamos com um amigo ou com o pai: com autenticidade, com reverên­cia, com sinceridade, em particular.

Na oração, desenrola-se aquele diálogo com Jesus que faz de nós seus amigos íntimos: “Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós” (Jo. 15:4).

Pr. Manuel Rodrigues