“Há um Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo
Homem, o qual se deu a si mesmo em preço de redenção” (I Tm. 2:5-6).
Introdução
Dois
mil anos depois o mesmo ainda é verdadeiro. Ainda “não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa
que sejamos salvos” (At. 4:12). Jesus Cristo ainda é “o caminho, a verdade e a vida”, e ninguém vem ao Pai, excepto
através dele (Jo. 14:6). O próprio Jesus declarou que o destino eterno de todos
os homens depende da crença deles nele: “se
não crerdes que EU SOU (o nome actual para Deus, Jeová), morrereis nos vossos pecados” (Jo.
8:24). Portanto, qualquer que seja o interesse dramático da Bíblia; qualquer
que seja o interesse que possamos encontrar em ouvir os eloquentes discursos
dos eruditos, o valor final da Bíblia é mais profundo do que tudo isso.
Verificamo-lo no facto do Verbo se ter encarnado e ter-se feito verdadeiro
homem, sem deixar de ser verdadeiramente Deus. O único Redentor dos eleitos de
Deus é o Senhor Jesus Cristo.
A
natureza do homem precisa de Deus para se poder realizar plenamente. Aquilo de
que o homem mais precisa não lhe pode ser garantido por lei. Para gozar de uma
existência em plenitude, precisa de algo mais íntimo, que somente lhe pode ser
concedido por Deus. Ninguém pode viver, no sentido total da palavra, a não ser
que tenha uma relação consciente com Deus. É verdade que Deus relaciona-se com
todos os homens. Não há meio de Lhe escapar. Não há uma só vida na terra que
esteja fora do alcance de Deus. Ele é o Deus em quem nós vivemos, nos movemos e
temos existência (At. 17:28). E isso independentemente da nossa atitude para
com Ele. Podemos lembrar aqui uma velha e conhecida ilustração: na noite escura
e fatídica em que Belsazar e seus grandes se entregavam à embriaguez e
obscenidades, Daniel, antes de lhe apresentar uma interpretação do que havia sido
escrito na parede por uma mão misteriosa, disse: “…A Deus, em cuja mão está a tua vida, e todos os teus caminhos, a ele
não glorificaste” (Dn.
5:23).
Este
tipo de contacto com Deus não é suficiente para que uma vida se realize
plenamente. O facto de que Deus faz brilhar o sol de maneira a curar e a
abençoar, sem fazer depender isso do carácter da pessoa, não assegura só por si
a plena realização duma vida. De facto, a vida só se torna completa quando o
homem, como por um acto de rendição alcança o poder da cruz, para uma vida
separada, tem uma conduta baseada em ter uma atitude certa para com Deus; quando
se relaciona directa e conscientemente com Deus. É nisso que consiste a
verdadeira dignidade da vida. Toda a tragédia do fracasso humano resulta do
facto de que o homem se tem vindo a considerar mesquinho em vez de grandioso.
Com
esta certeza, temos também de enfrentar um senso universal de distância, ou de
alguma discrepância entre Deus e o homem, de modo que o ser humano não consegue
ter uma comunhão consciente com Deus. A oração parece ser uma afirmação do
vácuo, sem que haja uma voz que responda. Por conseguinte, quando em virtude de
tensões ou stress de qualquer tipo o homem se torna consciente da sua
necessidade de comunhão com Deus, ganha no mesmo momento consciência da sua
necessidade dum intermediário.
Paulo a afirma numa fórmula
explicitamente dogmática: “Há um só
mediador entre Deus e os homens” (1 Tm. 2:5). Isto é o evangelho resumido.
Isto é fundamentalmente o cristianismo. A humanidade elementar, despertada para
um senso da necessidade de Deus e para uma consciência de que não pode alcançar
Deus, clama por alguém que se coloque entre ambos. Finalmente, e duma forma
inconfundível, a resposta é encontrada na declaração de Alguém, “Jesus Cristo Homem, que se deu em resgate
por todos” (6).
1.
Jesus Cristo, o Mediador
Examinemos
um pouco mais de perto esta afirmação. O termo “Mediador” significa um
intermediário, ou, alguém que se coloca entre o homem e Deus; alguém que coloca
a mão sobre Deus com autoridade, a autoridade do companheirismo e comunhão;
autoridade do facto que é um com Deus e que penetra em todos os conselhos
divinos, alguém que, ao mesmo tempo, coloca sobre mim a sua mão, com a mesma
autoridade, autoridade baseado no facto da sua própria humanidade, de que Ele
conhece a natureza humana não meramente com o conhecimento intelectual da
Divindade, mas com o conhecimento experimental da encarnação. “Jesus Cristo
Homem” põe assim a sua mão sobre Deus e sobre o homem.
Por
outro lado, lemos a respeito deste Mediador, na Bíblia, que “se entregou em redenção”. Imediatamente
atingimos o ponto fundamental e a interpretação. Não significa apenas que Ele é
divino e humano, mas que por Ele foi feito algo que torna possível o acesso a
Deus. À luz desta afirmação, poderíamos concluir: Jesus é o caminho de Deus e
para Deus.
Este,
portanto, que une o Criador infinito com a humanidade finita, que estabelece
relações, que implora e consegue favores de Deus, que leva os nossos pedidos
Àquele que é a santidade em si mesmo, – é o sumo e único Mediador.
a) “Só Cristo é o
perfeito mediador entre Deus e os homens, porquanto através de sua morte
reconciliou o género humano com Deus”.
O
que está implícito nesta declaração, “se
entregou em redenção”, torna-se, na verdade, uma revelação. O que separa o
homem de Deus? Um profeta hebreu, dirigindo-se um dia ao povo da sua própria
nacionalidade, proferiu estas significativas palavras: “Eis que a mão do Senhor não está encolhida, para que não
possa salvar; nem surdo o seu ouvido, para que não possa ouvir” (Is. 59:1).
Isto quer dizer que se o homem é incapaz de alcançar Deus, Deus pode alcançar o
homem e ouvi-lo. O profeta deu então a razão desta impossibilidade por parte do
homem: “As vossas iniquidades fazem
divisão entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de
vós, para que vos não ouça” (Is. 59:2). É por este motivo que o homem não
consegue chegar a Deus e manter uma relação com Ele. O homem ideal, isto é, o
homem em harmonia com o propósito divino, não necessita de qualquer mediador
entre si e Deus. Um homem sem pecado não precisa de qualquer Mediador. Não irá
clamar por um mediador. O homem ideal anda com Deus e fala com Deus. Isto
dava-se com o homem quando ele foi criado, de acordo com a revelação bíblica.
Quando
passamos por cima dos séculos ou milénios encontramos o Segundo Homem de Deus.
Ele não precisou de mediador entre si e Deus. Ele andava com Deus em qualquer
parte: ouvia a beleza da mensagem divina nos cânticos das aves e via a glória
divina a brilhar nas flores.
A
razão por que o homem está consciente da sua impossibilidade de ter assim uma
comunhão com Deus é que algo se interpôs entre os dois. Deu-se uma ruptura e,
portanto, existe uma falta de articulação. O homem foi criado para andar e
falar com Deus, para pensar em harmonia com os pensamentos de Deus. Todo o
sucesso humano ao longo das linhas da ciência resulta simplesmente do facto de
que o homem luta por conseguir isso. No entanto, sempre tem existido uma lacuna
definida, uma brecha entre o homem e Deus. Ora, de acordo com o relato bíblico,
essa ruptura surgiu quando o homem caiu do nível espiritual para o psíquico.
Perdeu o contacto com Deus em virtude de sua rebelião, perdeu o senso de Deus e
o senso da sua própria natureza espiritual. Isto não quer dizer que o psíquico
ou mental esteja essencialmente errado; mas a verdade é que falha sempre quando
se encontra divorciado do espiritual. Quando o homem, pela sua rebelião desceu
ao nível do simplesmente mental, começou a buscar a Deus com os poderes da sua
mente e nunca conseguiu encontrá-lo.
Jó,
no capítulo 11:7-8, diz: “Porventura
alcançarás os caminhos de Deus, ou chegarás à perfeição do Todo-Poderoso? Como
as alturas dos céus é a sua sabedoria; que poderás tu fazer? É mais profunda do
que o inferno, que poderás tu saber?”
No
mundo inteiro e em todos os tempos, as religiões engendradas pelo homem, se
esforçam para abrir caminhos para Deus. Buscam agradar a divindade por meio de
obras, rituais e sacrifícios. É uma tentativa desesperada e inócua de abrir
caminhos da terra para o céu. Nomeiam uma infinidade de mediadores entre Deus e
os homens, no propósito fracassado de conseguir o favor divino. As Escrituras,
porém, são categóricas em nos dizer que há um só Deus e um só Mediador entre
Deus e os homens, Jesus Cristo Homem. Só há um caminho que leva o homem a Deus
e esse Caminho é Jesus. Só há uma porta de acesso ao céu e essa Porta é Jesus.
Há outros caminhos que parecem ser caminhos de vida, mas no final são caminhos
de morte.
A
luta da humanidade no sentido de estabelecer contacto com Deus por meio de uma
busca que emprega apenas o mental, é sempre um fracasso e um desastre.
É
importante ponderar que, sendo Deus infinitamente superior a todos, e nós em relação
a Ele infinitamente inferiores, necessário se tornava que o mediador tivesse
algo de comum com Deus e com os homens. Isto se realizou perfeitamente em
Cristo, que, sendo Deus, encarnou-se, tornando-se perfeitamente homem. Tudo o que
pertence à essência da verdadeira humanidade é verdadeiro nEle. Jesus é tão
verdadeiramente humano como todos nós, pois, exatamente como Ele possui todos
os elementos da Divindade, Ele tem também todos os elementos essenciais à
natureza humana: um corpo humano, uma alma humana, uma mente humana, uma
vontade humana e emoções humanas. Sua mente humana não foi substituída pela
mente divina. Em vez disso, Ele tem tanto a mente humana como a mente divina.
Por causa disso, é errado usar frases como: “Jesus é Deus num corpo humano”, ou
então: “Jesus é Deus na pele humana”.
A verdade descrita acima é fundamental,
pois a compreensão dela dará ao pecador a garantia de segurança eterna, a
salvação assegurada pelo trabalho de Cristo, o único mediador. Afinal, a Bíblia
é conclusiva a respeito de Cristo, “Porque
há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens: Jesus Cristo, homem”
(I Tm. 2:5), o qual se deu como preço da redenção eterna, substituindo o
miserável pecador na cruz, o justo pelo injusto, para que ao seu tempo venha
servir de testemunho, a sua morte trouxe vida ao pecador merecedor do inferno
“...o salário do pecado é a morte” (Rm.
6:23). Logo só ele é o legítimo mediador, todos os demais pretensos mediadores elencados
(sejam católicos ou protestantes) neste artigo não passam de ladrões e
salteadores, pois estão sequestrando uma função inerente exclusivamente ao
nosso Senhor Jesus Cristo.
2.
Jesus Cristo é o
nosso único e suficiente Mediador
Assim
como existe apenas um Deus vivo e verdadeiro, existe também apenas “um Mediador
entre Deus e os homens”, e esse Mediador é o homem Cristo Jesus. Em outras
palavras, não há outra maneira pela qual os homens podem ser salvos, excepto
mediante Jesus Cristo.
Cristo
é declarado o único Mediador no mesmo sentido em que Deus é declarado o único
Deus. Assim como só existe um Criador do homem, também só existe um Mediador
para os homens. Há somente um Deus desde a eternidade; somente um mediador,
cuja mediação tem a mesma data que a fundação do mundo, e corre paralela a
esta.
Jesus
é o único Mediador entre Deus e os homens porque Ele é Deus-Homem. Jesus é Deus
e Homem ao mesmo tempo. Ele é perfeitamente Deus e perfeitamente Homem. É uma
só Pessoa, mas com duas naturezas distintas. Jesus não deixou de ser Deus ao
tornar-se Homem. Aquele que nem o céu dos céus pode contê-lo, desceu da glória,
esvaziou-se e fez-se carne. Vestiu a nossa pele, nasceu numa manjedoura,
cresceu numa carpintaria e morreu numa cruz. Ele é a ponte que nos liga a Deus,
o caminho que nos dá acesso ao Pai e a porta de entrada da bem-aventurança
eterna.
“Há um Mediador
entre Deus e os homens, Jesus Cristo Homem, o qual se deu a si mesmo em preço
de redenção” (I Tm. 2:5-6).
Uma análise do termo “em redenção” mostra que este se
refere a uma actividade na qual e pela qual o pecado que nos separou de Deus é
removido; é, portanto, uma actividade na qual e pela qual nós somos levados de
volta, do âmbito do simplesmente mental para o âmbito do espiritual. Fica assim
aberto o caminho para Deus. Por conseguinte, o ministério salvador de Jesus
Cristo está resumido na afirmação de que Ele é o “Mediador entre Deus e os homens” (1 Tm. 2:5).
Jesus
Cristo é a segunda Pessoa da Trindade, o Eterno que entrou no tempo, o Infinito
e Imenso que se esvaziou, o Deus que se fez homem, o Senhor do universo que se
fez servo. Sendo bendito fez-se maldição, para que nós, filhos da ira, fôssemos
abençoados com toda sorte de bênção. Sendo santo fez-se pecado para que
fôssemos resgatados da condenação, do poder e da presença do pecado. Jesus é o
Verbo que se fez carne e vestiu pele humana para revelar-nos a graça e a glória
do Pai. Jesus é o Caminho que nos conduz a Deus. É a porta de entrada do céu. É
o Mediador que nos reconcilia com o Pai. Jesus é singular tanto pela natureza
de sua Pessoa como pela exclusividade da sua obra.
Por essa mediação, Ele restaura a possibilidade duma
comunhão directa e imediata com Deus. Quando o homem se entrga, não
teoricamente mas de facto, o Homem Jesus Cristo, que é o Mediador, descobre que
o mal que o havia cegado e o tornara insensivel a Deus é removido. Uma relação
directa com Deus torna-se agora não apenas possivel, mas uma experiência
autêntica. Como Paulo afirma noutra das suas cartas: “Temos acesso” por Ele ao
Pai. Jesus Cristo é o nosso caminho de volta a Deus, por meio dele temos
comunhão com o Pai, Ele promove a reconciliação e aproximação de Deus. Ele é o
caminho, Ele faz a ligação da nossa vida a Deus. Além de ser o caminho é o
único, pois é seguro, verdadeiro e suficiente. Tal acesso não significa unicamente
conhecer muito a respeito de Deus, mas realmente conhecer Deus.
O clamor, nascido do nosso senso da falta dum contacto
em primeira mão com Deus encontra a sua plena e completa resposta em UM da nossa
humanidade, mas que é ao mesmo tempo UM com Deus, que se torna Mediador; colocando
a Sua mão com suprema autoridade sobre Deus e sobre o Homem, trazendo-os, assim,
a uma comunhão consciente.
Jesus
é o único Mediador entre Deus e os homens porque é o nosso representante e
fiador. Jesus veio ao mundo para ser nosso representante e fiador. Não veio
apenas para estar ao nosso lado, mas em nosso lugar. Não veio apenas para falar
por nós, mas para morrer por nós. Não veio apenas para nos defender, mas para
nos substituir. Sua morte na cruz foi um sacrifício, um sacrifício
substitutivo. Ele morreu a nossa morte. Ele pagou a nossa dívida. Ele sofreu o
duro golpe da lei que deveríamos sofrer. Ele sorveu sozinho o cálice amargo da
ira de Deus que nós deveríamos beber. Ele recebeu em si mesmo a merecida
punição do nosso pecado. Ele cumpriu com todas as demandas da justiça divina ao
morrer em nosso lugar, em nosso favor, para nos oferecer perdão e vida eterna.
Em
Jesus Cristo, Homem e Deus, a humanidade liga-se de novo a Deus. Poderíamos
dizer: Jesus é o caminho de Deus e para Deus. “Eu sou o caminho a verdade e a vida, ninguém chega ao Pai senão por mim”
(Jo. 14:6).
Cristo
mediador tem, em seu ser, a perfectibilidade da mediação, pois ele partilha de
ambas as naturezas: a de Deus, pois é seu Verbo e seu Filho, e a dos homens,
pois é Homem perfeito e nosso irmão maior – “o primogénito entre muitos irmãos”, como diz Paulo na Carta aos
Romanos 8:29.
Jesus
é o único Mediador entre Deus e os homens porque ressuscitou, venceu a morte,
triunfou sobre os principados e potestades e nos fez assentar com ele nas
regiões celestes. A morte de Cristo na cruz não foi um sinal de fraqueza e
derrota, mas de retumbante vitória. Ele matou a morte e arrancou o seu
aguilhão, quando ressuscitou dentre os mortos. A vitória de Cristo é a nossa
vitória. Morremos com ele e com ele ressuscitamos. Estamos escondidos com
Cristo em Deus. Estamos assentados com ele nas regiões celestes, acima de todo
principado e potestade. Nele somos mais do que vencedores. Por meio dele temos
livre acesso ao trono da graça e chegaremos ao Céu, ao Paraíso, ao Seio de
Abraão, à Casa do Pai, à Cidade Santa, à Nova Jerusalém. Ele é o nosso irmão
mais velho e seguindo as suas pegadas, entraremos pelos portais da glória
trajando vestes alvas e com palmas em nossas mãos. Com ele, assentar-nos-emos
em tronos e, com ele, reinaremos em seu reino de glória, para todo o sempre.
Porque Cristo foi tudo para nós na terra, no tempo, na vida e na morte, ele
será tudo para nós no céu, na glória e isso, por toda a eternidade.
Sem comentários:
Enviar um comentário