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terça-feira, 9 de outubro de 2012

Imputação


Texto: Filemom 1:1-25
A carta a Filemom é uma história de amor fraternal, entre um escravo e um missionário Paulo, mas também fala da restauração e o perdão de uma dissensão entre um escravo Onésimo e Filemom seu dono.
È uma linda história da capacidade do cristianismo em agregar, unir polos opostos: escravo e livre, rico e pobre, negro e branco, analfabeto e culto; e também da capacidade de romper barreiras crónicas, que para muitos é impossível de serem removidas: de perdoar pecados remotos, de suprimir ressentimentos e suplantar amarguras antigas.
Filemom, a partir do nome grego pronunciado fil-ei-mone, ou seja, amigável, foi o destinatário da carta bíblica do apóstolo Paulo, que foi escrita quando ele estava na prisão. A cela de Paulo em Roma tornou-se um púlpito de onde o Evangelho se espalhou para multidões na capital do Império Romano. Entre aqueles que foram transformados pelo Evangelho estava Onésimo, um escravo fugitivo, que conhecera o apóstolo anteriormente, quando Paulo visitou a casa de seu amo Filemom, cristão colossense, que parece ter sido um homem de certa importância. Sua casa era bastante grande para nela reunir-se uma igreja, bem como acomodar o apóstolo e seus companheiros de viagem por ocasião de sua visita à cidade.
Onésimo tinha sido um escravo de Filemon, mas tinha fugido de Colossos na Ásia Menor para Roma, por alguma razão desconhecida, e ali se convertera pelo ministério de Paulo – “que gerei entre algemas”. Talvez tenha até mesmo roubado de seu amo para fazer a viagem, conforme se dá a entender na própria carta (Cl. 4:9; Fm. 18). Onésimo tornou-se associado de Paulo em Roma e logo se tornou cristão, tornando-se assim filho espiritual do apóstolo (Fm. 10). Em grande contraste com sua anterior inutilidade a Filemon como escravo, ele tornou-se então utilíssimo a Paulo como ministro, um “fiel e amado irmão”, a quem Paulo chama de “as minhas próprias ternas afeições”, ou o meu próprio coração (Cl. 4:9; Fm. 11, 12).
No entanto, o status de Onésimo era o mais baixo que alguém poderia ter no mundo antigo, ele não era protegido por nenhuma lei e estava sujeito a todo tipo de abuso. Pelo facto dele ser um escravo fugido, a estrutura social daqueles dias obrigava Paulo a mandá-lo retornar a seu amo, embora com relutância da parte de Paulo, em virtude de quão bom companheiro Onésimo se tornara, e quão útil ele se demonstrou ser para o apóstolo. Contudo, ele não tinha meios de obrigar Onésimo a retornar, de modo que isso dependia e resultaria da própria disposição de Onésimo de retornar. Os escravos fugidos normalmente iam para as grandes cidades, partes remotas do estado de Roma, e para áreas desabitadas. A essa altura, a captura deles e a sua volta era normalmente um arranjo informal entre o proprietário e o administrador provincial. Eles eram frequentemente espancados sem misericórdia ou colocados para realizar tarefas que diminuiria suas expectativas de vida.
1.     Um apelo em favor de um escravo.
Paulo, prisioneiro de Cristo Jesus, e o irmão Timóteo, ao amado Filémon, nosso companheiro de trabalho, e à nossa irmã Áfia, e a Arquipo, nosso companheiro de lutas, e à igreja que está em tua casa: Graças a vós, e paz da parte de Deus nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo. Sempre dou graças ao meu Deus, lembrando-me de ti nas minhas orações, ao ouvir falar do amor e da fé que tens para com o Senhor Jesus e para com todos os santos; para que a comunicação da tua fé se torne eficaz, no pleno conhecimento de todo o bem que em nós há para com Cristo. Pois tive grande gozo e consolação no teu amor, porque por ti, irmão, os corações dos santos têm sido reanimados. Pelo que, embora tenha em Cristo plena liberdade para te mandar o que convém, todavia prefiro rogar-te por esse teu amor, sendo eu como sou, Paulo o velho, e agora até prisioneiro de Cristo Jesus, sim, rogo-te por meu filho Onésimo, que gerei nas minhas prisões; o qual outrora te foi inútil, mas agora a ti e a mim é muito útil; eu to torno a enviar, a ele que é o meu próprio coração. Eu bem quisera retê-lo comigo, para que em teu nome me servisse nas prisões do evangelho; mas sem o teu consentimento nada quis fazer, para que o teu benefício não fosse como por força, mas, sim, voluntário” (Fm. 1-14).
Paulo escreveu esta carta em favor de Onésimo, escravo de Filemom, que, depois de fugir do seu senhor, converteu-se sob o ministério de Paulo. No verso 10, a seguir aos cumprimentos, Paulo, dirige-se a Filémon de irmão para irmão, indicando a razão pela qual a escreveu. Ele diz: “… embora pudesse ser muito ousado em Cristo para mandar o que é justo, mas por amor eu prefiro apelar a ti”. Ele teria a capacidade de ordenar mas não o fez. Em vez disso, Paulo evita invocar sua autoridade apostólica para ordenar Filemom a fazer o que convém, isto é, a coisa certa. Antes, ele apela, implora, faz um pedido, por Onésimo, para o seu amigo em nome do amor, como alguém que tem direito de ser ouvido: ele é Paulo, “um embaixador” e agora um prisioneiro de Jesus Cristo. Paulo não exercia autoridade como um superior sobre seus súbditos. Nem manipulou. Sim ele tinha a autoridade para mandar, mas se ele a utilizasse não seria em nome do amor e é o Amor que importa. O que ele faz, por amor, porque é o amor que importa, é apelar – em vez de comandar, exigir ou manipular.
Se o apóstolo está fazendo distinção entre a autoridade apostólica e o tipo de autoridade exercida pelos outros líderes cristãos não o sabemos com certeza. Em qualquer dos casos, ele dá o exemplo de como a verdadeira liderança cristã pode funcionar de maneira mais eficiente.
A seguir ele diz uma outra coisa: Estou a mandá-lo (Onésimo) regressar. Recebe-o pois, isto é do coração, que desejaria mantê-lo comigo, para que em teu nome ele pudesse servir-me nas prisões do evangelho. Paulo se refere ao seu convertido dizendo tê-lo gerado. Embora fosse escravo numa família cristã, presumivelmente Onésimo não abraçou a fé cristã até que fugiu e se colocou sob a influência de Paulo.
Paulo podia ter mantido Onésimo na prisão e ter enviado uma carta a Filemom ordenando que recebesse de volta o seu escravo. Ou podia ter-lhe dito para esquecer o Onésimo porque ele, Paulo, precisava dele. Paulo não fez nada disso. Antes mandou Onésimo voltar para Filemom apelando a que ele recebesse de volta o escravo fugitivo, exortando-o a perdoar, aceitando-o como um irmão em Cristo, e para isso, providenciou que Tíquico o acompanhasse e que os dois levassem uma carta e um relatório a Colossos (Cl. 4:7-9).
Paulo continua no seu apelo por Onésimo, dizendo a Filémon que, embora ele o tivesse deixado, sendo apenas escravo, agora volta como algo mais, assegurando-o do bom desempenho de Onésimo no ministério cristão e de sua nova personalidade, e na qual suplicava que o reencontro fosse mais o de dois cristãos do que o de um escravo e seu amo.
Fazendo voltar o escravo que, depois de fugir, tornou-se cristão e servo de Paulo, e que foi de considerável ajuda a Paulo em suas algemas... por causa do evangelho, o apóstolo se quisesse continuar fazendo uso dos seus préstimos – certamente que Filemom teria alegremente aprovado. Mas Paulo, sendo sensível à ética da situação, recusou-se a tomar liberdades com a estima de Filemom. Ele queria que seu amigo agisse segundo o seu próprio consentimento e voluntariamente, sem se sentir forçado ou acuado. O apóstolo não só nos instruiu em relação aos princípios que regem o relacionamento entre os irmãos cristãos, como faz-nos lembrar também que estes princípios não devem ser “por força, mas voluntários” (Fm. 14).
Em Cristo há uma estrutura de referência completamente diferente que transforma todos os relacionamentos terrestres; a fraternidade é o ponto central sobre o qual todos os outros relacionamentos devem ser avaliados. Paulo não faz polémica contra a escravidão, mas no decorrer dos séculos, a fé cristã chegou a compreender que a prática da escravidão é incompatível com os princípios aqui enunciados por Paulo.
2.     Ser recebido como um irmão.
“Porque bem pode ser que ele se tenha separado de ti por algum tempo, para que o recobrasses para sempre, não já como escravo, antes mais do que escravo, como irmão amado, particularmente de mim, e quanto mais de ti, tanto na carne como também no Senhor. Assim pois, se me tens por companheiro, recebe-o como a mim mesmo. E, se te fez algum dano, ou te deve alguma coisa, lança-o minha conta. Eu, Paulo, de meu próprio punho o escrevo, eu o pagarei, para não te dizer que ainda a ti mesmo a mim te deves. Sim, irmão, eu quisera regozijar-me de ti no Senhor; reanima o meu coração em Cristo. Escrevo-te confiado na tua obediência, sabendo que farás ainda mais do que peço. E ao mesmo tempo, prepara-me também pousada, pois espero que pelas vossas orações hei-de ser concedido. Saúda-te Epafras, meu companheiro de prisão em Cristo Jesus, assim como Marcos, Aristarco, Demas e Lucas, meus cooperadores. A graça do Senhor Jesus Cristo seja com o vosso espírito. Amém” (Fm. 15-25)
Paulo mandou de volta ao seu mestre Filemom, o escravo Onésimo que tinha fugido dele. Onésimo conheceu Paulo e tornou-se um crente muito útil para Paulo, ministrando lhe nas “prisões do evangelho”. Mesmo assim Paulo nunca pensou que isto lhe daria o direito de fazer algo diferente do que seria o certo. Imagino que hoje muitos Cristãos reagissem de modo diferente do que Paulo fez. Muitos diriam ter (ou tentariam ter) uma revelação divina para obrigar Filemom a fazer o que eles queriam que ele fizesse. Na próxima vez que alguém o pressionar fazendo-o sentir-se condenado se não fizer o que ele quer, por favor leia Filemom! Paulo sabia que não era necessário uma revelação divina para resolver este caso mas senso comum conjugado com honestidade e verdade.
Onésimo volta como um querido irmão no Senhor, não como escravo, mas por cima de escravo como irmão amado especialmente para mim, quanto mais para ti tanto na carne como no espírito e no Senhor” (16). Pense Filemom que tudo poderia ter sido um ato da Providência que afastou um escravo e entregou um irmão, irmão tanto para Paulo como para Onésimo, que pela utilidade e a companhia próxima pode ser considerado carnal, para não falar do espírito que a todos impulsava e unia no Senhor.
Mas é possível que Onésimo devesse dinheiro a Filemom quando fugiu. O que vai ser desta dívida? Paulo reconhecia que a dívida feita por Onésimo devia ser paga antes de haver qualquer possibilidade de restauração. Porém, o escravo, nada possuía com que saldar o seu débito, assim, ao escrever a carta, o apóstolo Paulo, solicitava que qualquer dívida pendente de Onésimo para com Filemom fosse debitada na sua própria conta. “Se, portanto, me consideras companheiro, recebe-o, como se fosse a mim mesmo. E se algum dano te fez, ou se te deve alguma coisa, lança tudo em minha conta” (vs. 17-18).
Paulo não ordena a Filemom que “as apague” ou que “as esqueça” porque: “sabe que são agora irmãos!” O que Paulo diz a Filémon não são ordens mas sim apelos. E relativamente às dívidas, é o que ele diz: “…se ele te deve alguma coisa, põe isso na minha conta, eu pagar-te-ei”. Isto é amor entre irmãos. Não seria amor fraternal de obrigar o Filemom a esquecer as dívidas que o seu velho escravo lhe devia. Mas é amor de dizer como fez o apóstolo Paulo: “ ..irmão recebe-o novamente. Eu tomo conta das suas dívidas. Eu pagar-te-ei. Não te preocupes com isso”. Isto é amor fraternal. Paulo diz-lhe que ele mesmo lhe deve. Filemom encontrou a fé através do trabalho de Paulo. Mas ele não se refere a isto para não exercer pressão sobre ele. É uma verdade mas não a vai usar para resolver assuntos materiais. Ao terminar o seu apelo ele diz: “…Tendo confiança na tua obediência, escrevo-te, sabendo que tu farás mais do que eu digo”. Paulo sabia que Filemom era um verdadeiro irmão em Cristo. No início da carta chama-o “querido irmão trabalhador”, e que ouviu do seu amor e da sua fé para com o Senhor Jesus Cristo e com todos os santos. Paulo e Filemon não eram estranhos. Eles conheciam-se. O apelo do Paulo não se dirigiu a um estranho mas a um irmão querido e um trabalhador conhecido pela sua fé. Foi um apelo de um irmão de Fé a outro irmão de Fé. E Paulo tem a confiança que Filemom não só vai honrar o seu pedido mas vai fazer muito mais do que isso.
Paulo deve ter colocado Filemom numa posição precária de facto. Ao suplicar pelo perdão e a restituição de Onésimo sem punição isso era óbvio para todos, ele estava confrontando a ordem social e económica estabelecida. Enquanto que ele não pede por sua alforria, até mesmo o seu pedido de clemência por Onésimo e sua designação para Paulo põe abaixo a tradição Romana. Por sua súplica Paulo está também concedendo nova dignidade à classe dos escravos.
Paulo é um prisioneiro, ele não pode fazer as coisas que um homem livre poderia fazer para ajudar um escravo. Ele não pode fazer nada mais do que escrever uma carta pedindo clemência por seu recém-achado irmão e apenas pode sugerir que ele espere pela sua visita que seria breve para acrescentar peso ao seu pedido a Filemon. Debaixo de circunstancias normais, um homem livre poderia assumir a custódia de um escravo fugido depois dele ter dado garantia de seu retorno aos oficiais público, e ele poderia dizer que o escravo lhe fora concedido por um tempo. Isso não era incomum.
Paulo estava ciente de tudo isso, o que pode explicar por que ele se ofereceu para pagar qualquer dívida de Onésimo (v. 18). Isto faria com que a sua ideia revolucionária para perdoar o escravo fugido fosse mais fácil para Filemom de engolir, ele poderia ter Onésimo de volta sem perda real e até mesmo dizer que ele não havia cometido nenhum tabu porque outro pagou para o seu retorno. No entanto, a vontade de Paulo para tornar-se o responsável por qualquer custo a Filemom não foi a principal razão para que ele se reconcilie com Onésimo. Em vez disso, o relacionamento de Filemom com o apóstolo foi para movê-lo a fazer o que era inédito na época. Se Paulo era verdadeiramente o seu parceiro e amigo, ele tomaria Onésimo de volta (v. 17). Em essência, o apóstolo estava chamando Filemom para praticar a comunhão com ele, alegou Paulo. Ele tinha que confiar na palavra do apóstolo, que Onésimo era um novo homem, e recebê-lo de volta. Se ele realmente conhecia e amava Paulo, então ele seria capaz de agir sobre as palavras do apóstolo.
Os apelos do apóstolo Paulo em favor da restauração de Onésimo à sua antiga posição de confiança na casa de Filemom são muito tocantes. Ele sugere, em primeiro lugar, que pode ter havido um propósito divino em tudo aquilo, e que Deus permitira a fuga como um passo para a renovação plena da natureza do escravo. Como Filemom e Onésimo eram dois cristãos, seu relacionamento deveria sofrer uma transformação. “Na carne, Filemom tem um escravo que é irmão; no Senhor, Filemom tem um irmão que é escravo”. Então, no versículo 17 Paulo se identifica com Onésimo, e somos levados lembrar do Senhor se identificando connosco, porque, como diz Lutero, todos nós somos Onésimos. Mais adiante, no versículo 18, Paulo se prepõe a assumir todas as perdas que Onésimo tenha acarretado a Filemom, e assina a promissória pessoalmente.
Da mesma forma o Senhor Jesus Cristo tomou a dívida que tínhamos com Deus e cobrou o grande preço de resgate, nosso Débito por nós de Si mesmo, colocando a sua justiça em nossa conta. Temos diante de Deus (como um divino contador), nossas contas, e desta forma duas colunas a serem lançadas: os débitos e os créditos. Por fim, no versículo 19, ele relembra subtilmente ao seu amigo que lhe devia muito mais que uma insignificante quantia em dinheiro: sua vida espiritual. Não nos parece que o Senhor se dirige a nós em termos semelhantes? Com toda a certeza nós devemos-lhe a nossa vida! Com estas palavras o apóstolo nos deu um exemplo clássico da grande doutrina cristã da imputação.
A palavra “imputação” significa “debitar, atribuir responsabilidade” ou “lançar na conta de alguém”. É a transferência de virtudes, características, méritos ou penalidades para outrem, sem que esse tenha tido qualquer participação ativa no ato original. Paulo está mostrando o que Deus fez por nós em Cristo Jesus. Assim como o apóstolo assumiu a dívida de Onésimo, solicitando que Filemom – que tinha sido prejudicado – lançasse o débito na conta dele, Paulo. Do mesmo modo Jesus Cristo tomou a nossa dívida que tínhamos (Fm. 18, 19). Aquele que fora ofendido – Deus – e cobrou de Si mesmo o nosso débito, colocando Sua justiça em nossa conta.
3.     Deus pagou um débito que não era dEle.
Deus atribuiu a si mesmo a tarefa de equilibrar a nossa conta. Nós não podemos lidar com os nossos próprios pecados. “Quem pode perdoar pecados, senão Deus” (Mc. 2:7)? Jesus é “o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo. 1.29). Como Deus lida com o nosso débito? Deixa-o passar? Ele poderia tê-lo feito. Poderia ter queimado o extrato. Poderia ter ignorado o seu cheque sem fundos. Mas iria um Deus santo fazer isso? Poderia um Deus santo ter riscado seu nome do livro e varrido da face da Terra?
É com um amor eterno que Ele o ama. Nada pode separá-lo do amor de Deus. Então o que fez Ele? “Deus em Cristo estava reconciliando consigo o mundo, não lançando em conta os pecados dos homens. Deus tornou pecado por nós aquele que não tinha pecado, para que nele nos tornássemos justiça de Deus” (2 Co. 5.19, 21). Não perca o sentido do que aconteceu. Ele pegou sua demonstração de contas, escorrendo tinta vermelha e cheques ruins, e colocou o próprio nome em cima. Pegou o demonstrativo bancário dEle mesmo, com o registo de um milhão de depósitos, e nenhuma retirada, e pôs em cima o seu nome. Ele assumiu a sua dívida. Nós assumimos a fortuna dEle. E isso não é tudo. Ele ainda pagou por nós a pena. Jesus não apenas equilibrou-lhe a conta, como lhe pagou a pena. Ele tomou-lhe o lugar e pagou o preço por seu pecado. “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós” (G. l3:13). “Pois também Cristo sofreu pelos pecados uma vez por todas, o justo pelos injustos, para conduzir-nos a Deus. Ele foi morto no corpo, mas vivificado pelo Espírito” (1 Pe. 3:18). “Mas ele foi ferido pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados” (Is. 53:5). “Porque com uma só oblação aperfeiçoou para sempre os que são santificados” (Hb. 10:14). Nenhum sacrifício mais precisa de ser feito. Depósitos não são mais necessários. Tão perfeito foi o pagamento que Jesus usou um termo bancário para proclamar sua salvação. “Está consumado”! (Jo. 19:30).
Assim foi o amor de Jesus Cristo por nós ao morrer na cruz do Calvário. Por causa do pecado e da desobediência a Deus estávamos condenados a passar a eternidade longe do Senhor, porém Jesus, “agora, na consumação dos séculos, uma vez por todas se manifestou, para aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo” (Hb. 9:26). Jesus, além de pagar o preço pelos meus pecados, cancelar a nossa dívida, perdoar o nosso débito e purificar-nos, nos justificou diante de Deus. Quando nossa dívida foi paga fomos justificados. Recebemos esse benefício pela fé (Rm. 5:1). pagou o preço de nossa dívida e.
Em Isaías 53:5 está escrito que “... ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e esmagado por causa das nossas iniquidades. O castigo que nos trás a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados”.
Quando reconhecemos o nosso pecado e confiamos no sacrifício de Jesus, tornamo-nos livres. A alegria verdadeira volta a brotar em nossa vida, um horizonte de esperança se abre à nossa frente e a certeza de termos o nome escrito no Livro da Vida nos conduz à felicidade. “Nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Rm. 8:1)
O grande facto da imputação é que o pecado da humanidade foi imputado por Deus, o Pai, a Deus, o Filho. Foi feita uma transferência divina na qual lançou-se judicialmente na conta de Jesus Cristo aquilo que não lhe pertencia. “Certamente ele tomou sobre Si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre Si” (Is. 53:4).
Neste grande ato da imputação Deus está concedendo a quem se aproxima dEle através de Jesus Cristo, aquilo que não lhe pertence. O ato que creditou a justiça de Cristo à conta do pecador foi um dom da graça. Em Filipenses 3:8-9 o apóstolo Paulo fala desta grande dávida divina. “Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual, perdi todas as coisas, e as considero como refugo, para ganhar a Cristo, e ser achado nele, (atenção!) não tendo justiça própria, que procede da lei, senão a que vem pela fé em Cristo, a saber, a justiça que vem de Deus pela fé”.
4.     O novo relacionamento de Onésimo com Filemom.
Uma perda insignificante resultou num ganho imensurável. Para sempre. Permanentemente. O termo é reminiscência da provisão feita para a escravidão voluntária em Êxodo 21:6. Mas o relacionamento não devia mais ser encarado em termos de senhor e servo. Ser cristão é ser irmão dos outros crentes. E este é o factor determinante em todos os outros relacionamentos humanos, quer sejam na carne, isto é, no plano natural, quer no Senhor, isto é, no plano espiritual, na esfera da “nova geração”. Entretanto, os relacionamentos de ambos os planos devem ser desenvolvidos simultaneamente. Filemom era irmão e senhor; Onésimo era irmão e escravo. Tal relacionamento duplo fazia surgir problemas difíceis na igreja primitiva. E tais problemas ainda complicam relacionamento económico e social dos cristãos hoje em dia (I Tm. 6:2).
 Filemom e Onésimo iniciam um novo relacionamento: De irmãos em Cristo, lavados e redimidos pelo sangue de Cristo. Onésimo continuaria a servir a Filemom, não mais constrangido, por obrigação, mas por amor ao seu dono e pertencente àquele que o comprou por preço.
Agora somos reputados ‘amigos de Deus’: Vós sereis meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando. Já vos não chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer” (Jo. 15:14-15).
Somos também considerados filhos de Deus: “Porque não recebestes o espírito de escravidão, para outra vez estardes em temor, mas recebestes o Espírito de adoção de filhos, pelo qual clamamos: Aba, Pai. O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus. E, se nós somos filhos, somos logo herdeiros também, herdeiros de Deus, e co-herdeiros de Cristo: se é certo que com ele padecemos, para que também com ele sejamos glorificados” (Rm. 8:15-17).
Filemom, em forma tipológica representa Deus, Paulo, representa Jesus, que leva a palavra da salvação e paga o preço do pecado do escravo, Onésimo, representa o pecador, que através de seu pecado se afasta para um lugar distante, buscando liberdade, tornando a ser preso nas masmorras do pecado. Mas é resgatado através da Palavra pregada e volta a se reconciliar com o seu dono e a usufruir de todas as bênçãos que lhe cabe como servo do Rei, adotado como filho amado pela aliança de amor, comprado e redimido pelo sangue da cruz do calvário.
Não existe nenhum pecado, que não possa ser pago pelo “sangue” de Cristo, derramado na cruz. Esse foi o preço pago pelo próprio Deus por nós. É preciso que ao ouvir o Evangelho, creiamos nesse tão grande sacrifício, sejamos feitos filhos de Deus pelo arrependimento e sendo transformados, caminhemos em novidade de vida, servindo ao Senhor como novas criaturas.
Mas Deus prova o seu próprio amor para connosco pelo facto de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores. Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira” (Rm. 5:8, 9).
A epístola é uma expressão autêntica dos verdadeiros relacionamentos cristãos. Depois de agradecer pessoalmente a Filemom e seus companheiros crentes, Paulo expressa ação de graças por seu amor e fé em relação a Cristo e a seus companheiros crentes.
O amor fraternal normalmente exige graça e misericórdia práticas, e Paulo logo chega a esse tópico. Ele explica a conversão de Onésimo e o novo valor do escravo no ministério e família de Jesus Cristo (12-16). Essa transformação, junto com a profunda amizade de Paulo com os dois homens, é a base de um novo começo.
Não se trata de um apelo superficial de Paulo, pois ele preenche um “cheque em branco” em nome de Onésimo para quaisquer dívidas a pagar (vs 17-19). Ele faz a petição já sabendo que o amor e caráter de Filemom prevalecerão. Como ele conclui, as pessoas podem ver a unidade do Espírito entre todos os santos envolvidos.


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