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sexta-feira, 11 de outubro de 2013

É Mais Nobre Servir do Que Ser Servido

 
Nada façais por espírito de partido ou vanglória, mas que a humildade vos ensine a considerar os outros superiores a vós mesmos” (Fp. 2:3).
Introdução
Gostaria de começar por falar de como é nobre, esplêndido e honroso servir uns aos outros. Hoje em dia muitas pessoas se esqueceram de praticar este lindo acto, pois vivemos numa sociedade onde a grandeza tem como ícone o poder e num contexto em que ser grande é ser servido. Quem serve é visto como alguém sem esperteza.
Mas Jesus, alguém que tem os anjos para O servirem, abriu mão dessa mordomia, se fez carne e veio e viveu para servir aos homens a ponto de dar a sua vida para resgatá-los da morte, deixando assim claro que servir é a maneira mais nobre de viver. Ele nos ensina que ser grande é ser servo de todos. Almejar ser servido o tempo todo não é algo saudável. O autor Jim Smith comenta que: “Querer e precisar ser servido pelos outros não é um factor gerador de vida, mas um fator destruidor de alma”.
Hoje a maioria dos crentes não querem servir a Deus, mas servirem-se de Deus. Enxergam a igreja como um balcão de serviços a seu favor. Não se enxergam como serviçais mas como senhores e Deus como o serviçal. Basta Deus fazer um milagre e tudo o que querem é o milagre e não mais o Deus que o fez.
Vejamos este fenómeno acontecer no exemplo do milagre da multiplicação. “E disse Jesus: Mandai assentar os homens. E havia muita relva naquele lugar. Assentaram-se, pois, os homens em número de quase cinco mil. E Jesus tomou os pães e, havendo dado graças, repartiu-os pelos discípulos, e os discípulos, pelos que estavam assentados; e igualmente também os peixes, quanto eles queriam. Vendo, pois, aqueles homens o milagre que Jesus tinha feito, diziam: Este é, “verdadeiramente, o profeta que devia vir ao mundo. Sabendo, pois, Jesus que haviam de vir arrebatá-lo, para o fazerem rei, tornou a retirar-se, ele só, para o monte (Jo. 6:10-15). 
Assim que a multidão viu o milagre da multiplicação dos pães, viram logo uma oportunidade de terem aquele milagre de forma permanente: “Vamos fazê-lo Rei, e assim teremos pão de graça todos os dias”.
Tente no seu dia-a-dia mudar de posição, deixando de se focar somente em si e focando-se no outro. “Quem preferem ser? O que come o jantar ou o que serve? Preferem comer e ser servidos? Mas eu assumi entre vós o lugar de quem serve” (Lc. 22:27).
Paulo, no grande hino do capítulo treze da primeira Carta aos Coríntios, diz que o amor não busca os seus próprios interesses (1 Co. 13:5), e exorta também os cristãos de Filipos a nada fazer por espírito de partido ou vanglória, mas – como ele escreve – “que a humildade vos ensine a considerar os outros superiores a vós mesmos. Cada qual tenha em vista não os seus próprios interesses, e sim os dos outros” (Fl. 2:3-4). Essas palavras são um eco da constante exortação de Cristo a servir, atitude imprescindível para imitá-Lo: “O Filho do homem veio, não para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mt. 20:28).
Estas últimas palavras foram pronunciadas por Jesus para encerrar um triste incidente que se deu entre os Apóstolos. Vale a pena recordá-lo…, para meditar e aprender.
Aconteceu que, indo Jesus a caminho de Jerusalém com os seus discípulos, Tiago, João e sua mãe foram até Jesus solicitar privilégios na consumação do reino de Deus. A mãe adotou um ar solene, um olhar suplicante: Prostrou-se diante de Jesus, para lhe fazer um pedido. E o que pediu? O melhor para os filhos, como é próprio de uma mãe: Ordena que estes meus dois filhos se sentem no teu Reino, um à tua direita e outro à tua esquerda. Nada menos! Pedia os dois primeiros lugares naquele Reino que tanto ela como os filhos ainda o imaginavam como um reino terreno.
Jesus olhou-a, imagino que carinhosamente divertido, e não disse nem que sim, nem que não, mas aproveitou para reforçar que o reino de Deus é reino de servos e, portanto, os servos são os verdadeiros governantes do mundo. Sorrindo, dirigiu-se aos dois que tinham vindo conchavados com a mãe, e disse-lhes: Não sabeis o que pedis. Podeis vós beber o cálice que eu devo beber? Cristo ia ser, certamente, Rei, mas o seu Reino seria conquistado pela Cruz, por meio da sua entrega redentora. Eles não sabiam ainda o que isso significava, saberiam mais tarde; mas, mesmo assim, com simplicidade inconsciente, respondem sem hesitar: Podemos! Como que a dizer: “Estamos dispostos a tudo, contanto que nos tenhas, no Reino, como homens de confiança, bem perto de ti”.
Foi aí que irrompeu o conflito. Os dez outros (Apóstolos), que haviam ouvido tudo, indignaram-se contra os dois irmãos. Pronto, já estava armada a briga. O Evangelho não a descreve com detalhes, mas todos sabemos as caras que fazemos, as palavras que dizemos e o tom com que falamos quando estamos morrendo de raiva. No caso, morrendo de inveja: “Quem pensam que são esses dois, que querem passar à frente de todos nós, e ainda por cima com artimanhas de politicagem materna”?
Jesus, calmo e entristecido pelo espetáculo, chamou-os. “E disse-lhes: Sabeis que os chefes das nações as subjugam, e que os grandes as governam com autoridade. Não seja assim entre vós. Todo aquele que quiser tornar-se grande entre vós faça-se vosso servo. E o que quiser tornar-se entre vós o primeiro faça-se vosso escravo. Assim como o Filho do homem – o próprio Jesus – veio, não para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por uma multidão” (Mt. 20:20-28).
A ambição dos dois irmãos e a explosão irritada dos outros dez deram ensejo ao Senhor para expor uma das lições mais belas do Evangelho: o espírito de serviço. Por outras palavras, diz-lhes: “Não se comparem, para ver se um é mais do que o outro; não se deixem arrastar pela inveja e uma competitividade vaidosa; pelo contrário, a vossa ambição deve ser dar-se totalmente e servir, por amor, como Eu faço. Aí encontrarão a felicidade: servindo e dando alegrias, e não procurando a alegria vaidosa de ser mais que todos”.
Servir é para quem conhece o amor, de tal maneira que desconhece preço elevado demais para que possa continuar servindo. Servir é para quem conhece o fim a que se pode chegar servindo e amando, de tal maneira que não é motivado pelo reconhecimento, a gratidão ou a recompensa, mas pelo próprio privilégio de servir. Servir é para gente parecida com Jesus. Servir é para muito pouca gente.
Muitos desejam o poder do trono sem estarem preparados para pagar o preço do sofrimento. Outros dizem levianamente: “Nós podemos”, pouco apercebidos do que a sua escolha envolve, e que nada, senão a graça de Deus, pode tornar possível o cumprimento do voto. Mas a graça é suficiente! Basta buscá-la. Deus não falhará! Observe o versículo 28. O Senhor ministra a todos nós, todos os dias, paciente e amorosamente. Ele tomou a forma de servo e se mostrou obediente. Sirvamos a todos os homens por amor a Ele! Temos de descer para chegar ao seu lado.
Talvez o pedido dos dois irmãos fosse motivado mais pelo desejo de estar perto do Mestre do que pela ambição; mas, em qualquer caso, há somente um preço a ser pago. Precisamos de conhecer a comunhão dos seus sofrimentos se pretendemos participar de sua glória (2 Tm. 2:11 e seguintes). É fácil dizer: “Nós somos capazes”; mas se estes dois pretendentes não tivessem vivido a experiência do dia de Pentecostes, com toda a certeza teriam fracassado (Fp. 4:13). Se alguém não foi chamado para sofrer com ele, então deve servir. Um serviço semelhante ao de Cristo o levará para junto do trono dele, como sua participação no seu sofrimento. Como no caso de Bartimeu, os obstáculos e as dificuldades, ao invés de nos desalentar, devem nos incitar a orar com maior fervor. Somente a fé poderia fazer com que um cego lançasse de si a capa. Jesus certamente lhe restauraria a visão, e ele sabia que, então, seria capaz de reencontrá-la.
1.     A Grandeza de Servir, Servir, Servir
Servir uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus” (1 Pe. 4:10).
Espelhando-me no adágio popular, “quem não vive para servir, não serve para viver”, digo que só se serve servindo. Servir uns aos outros e não uns e outros é um dos mandamentos recíprocos que precisa de ser colocado em prática nos relacionamentos interpessoais; a exemplo do Mestre da Vida, Jesus, que veio para servir e não para ser servido. Todos precisam imitar esta nobre virtude do Mestre. Este espírito de servir deve estar presente em toda gente, principalmente nos que são identificados como o sal da terra e a luz do mundo. Toda a liderança só será eficaz se exercitar o espírito de servir e servir sem acepção de pessoas; é uns aos outros que devemos servir e não uns e outros. Tudo o que temos e somos vem de Deus, portanto devemos ser bons mordomos de tudo o que temos e somos; recebemos o dom não para nos apropriarmos dele, mas para o serviço do reino, para um fim proveitoso, para a edificação do corpo de Cristo, a sua Igreja. O Espírito Santo nos concede o dom para servirmos e não sermos servidos. Deus não quer filhos egoístas, retentores das bênçãos, quer filhos generosos, altruístas, amorosos, abençoadores, servos...
A mensagem é clara: para termos o espírito de serviço que é próprio do cristão, devemos pôr-nos em condições de ser úteis, e estar dispostos a servir realmente.
Com efeito, servir significa, em primeiro lugar, que alguém é útil, serve, presta, cuida, exerce, oferece, fornece; da mesma maneira que dizemos das coisas materiais: “esta ferramenta serve; esse tecido não presta, não tem serventia”. Para servir, é preciso ter qualificação, preparo, condições pessoais para poder prestar determinados serviços.
Servir é um acto muito mais ligado ao qualitativo do que ao quantitativo; muito mais ao emocional do que ao racional; muito mais ao satisfazer-te do que ao satisfazer-me. Mas ser servo não basta, é preciso ter um coração de servo de fato, onde o levará a servir espontaneamente, sem esperar nada em troca e nem ser reconhecido. Cada um de nós deve ter os irmãos como superiores, deve buscar atender os interesses dos irmãos e não os próprios interesses. Isso é servir! É assim que, verdadeiramente, somos servos! É sair do “eu” para o “nós”. E sair da vontade, da preferência, da visão, do desejo, do pensamento, do serviço, pessoal para viver a vontade, a visão, a preferência, o desejo, o pensamento, o serviço, comunitário.
Ter os outros como superiores não é algo só para ser vivido entre os irmãos, mas para ser estendido a todos os que nos rodeiam, para nossa família, para Igreja e para o mundo. É ser servo de todos, ou seja, é ter os irmãos como superiores. Mas é claro, que a comunidade, por sua realidade oferece, sem dúvida, infinitas oportunidades para buscarmos os interesses dos outros e não os nossos.
Numa segunda acepção, o verbo servir indica o acto e o espírito de serviço: a atitude da pessoa prestativa, serviçal, dedicada, sacrificada. Para servir…, o único jeito é dedicar-se, servir mesmo.
Em ambos os sentidos, servir é caminhar na contramão do egocentrismo; é esforçar-se com generosidade em colaborar com o bem e a alegria dos outros.
A Bíblia diz que o servo é aquele que se faz escravo, não reivindica nada, não exige os seus direitos. O que reivindica e exige seus direitos não é servo, é empregado. Podemos servir com um sorriso, abraço, uma palavra, atenção a alguém, etc… “porque, sendo livre de todos, fiz-me escravo de todos, a fim de ganhar o maior número possível” (1 Co 9.19).
O caminho do serviço é estreito, poucos são os que andam por ele, é mais fácil o caminho da zona de conforto, do ser servido. Mas, apesar de ser estreito o caminho dos servos, é um caminho fascinante de se andar, fomos chamados para sermos uma bênção e brilharmos diante dos homens com as nossas boas obras, para que eles glorifiquem ao nosso Pai que está nos céus.
Se almeja alguma posição, como cristão, torne-se primeiro um servo. Ponha isso na mente, só se serve servindo. Ponha o dom recebido do Espírito Santo a serviço dos outros. É abençoando que somos abençoados. Existem pessoas que possuem sonhos e metas, mas não alcançam seus objetivos porque não aprenderam a servir. Temos que ser servos em qualquer posição em que estamos servindo. “Se alguém me quiser servir, siga-me; e onde eu estiver, ali estará também o meu servo; se alguém me servir, o Pai o honrará” (Jo. 12:26).
O maior exemplo de servo é Jesus, onde nos ensina de como servir ao Pai Celestial e também uns aos outros. “Assentando-se, Jesus chamou os doze e disse: Se alguém quiser ser o primeiro, será o último, e servo de todos” (Mc. 9:35).
Eu poderia escrever mais sobre este assunto, mas melhor do que escrever, é começarmos a viver mais este acto tão simples, nobre e perfeito que Jesus nos ensinou, que é servir.
Tende em vós aquele sentimento que houve também em Cristo Jesus, o qual, subsistindo em forma de Deus, não considerou o ser igual a Deus coisa a que se devia aferrar, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, tornando-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até à morte, e morte de cruz. Pelo que também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu o nome que é sobre todo nome; para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai” (Fp. 2:5-11).
Que vivamos para servir os irmãos em unidade com a vontade de Deus! Que saibamos aproveitar as oportunidades que Deus nos oferece através de nossas comunidades e, assim, que passemos a “considerar os outros superiores”. Amém.
2.     Honrar aos Outros Com o Nosso Ouvir
Nada façais por espírito de partido ou vanglória, mas que a humildade vos ensine a considerar os outros superiores a vós mesmos” (Fl. 2:3).
Se avaliarmos hoje, ainda que superficialmente, as nossas incompatibilidades comportamentais e os desajustes de nossos relacionamentos, veremos que, quase na sua totalidade, estas se dão por conta de uma comunicação esfacelada, onde muito dos ouvintes quase nunca ouvem aquilo que lhes é comunicado, retendo tudo do mesmo modo como lhes fora transmitido, surgindo, portanto, mais uma das implicações que tem tornado difícil à tarefa do ouvir.
Gostaria de partilhar convosco algo que aprendi em oração, numa ocasião em que pedi ao Senhor para ser uma pessoa menos impulsiva ao falar, pois sempre me apressava a dar a minha opinião sobre tudo.
Aprendi a dar ao meu ouvido um novo sentido, “emprestando”, por assim dizer, os meus ouvidos ao Senhor para se tornarem ouvidos de discípulo, esforçando-me para ouvir mais, ser mais atento, não me apressando em falar, fazendo do acto de ouvir um acto sagrado. Passei a exercitar a cautela, a prudência, não me apressando a dar a minha opinião sobre tudo.
Existe, um diferencial entre aquele que ouve e aquele que simplesmente escuta. O ouvir é diferente, pois o seu exercício é criteriosamente responsável pelas informações que lhe são transmitidas e, uma vez tendo sido armazenadas em nossa mente, esta é que condicionará todo o nosso comportamento, principalmente em relação àquele com quem se está comunicando.
Percebi então que saiu um grande peso de minhas costas quando passei a dar menos importância ao facto de os outros saberem ou não o que penso sobre tudo. Passei a fazer uma espécie de silêncio em oração, orando no meu coração ao Senhor enquanto ouvia os outros falarem. Surpreendi-me de como o meu entendimento ficou apurado, refinado através do ouvir os outros, percebia melhor as nuances das verdadeiras intenções dos outros ao falarem e, sobretudo, uma maior clareza do certo e do errado. Na minha impulsividade eu era também rápido em aderir à opinião dos outros, mas passei a submeter minha opinião ao Senhorio de Jesus.
Ao consagrar ao Senhor os meus ouvidos e o meu julgamento das coisas, eu sentia como se o meu silêncio fosse uma espécie de espera na presença de Deus, até que Ele se manifestasse, dando-me clareza sobre o que falar e quando falar. Sentia que Deus agia enquanto eu orava em silêncio, iluminando meu entendimento.
Outra coisa, ainda, foi que passei a ter uma atitude mais humilde, não mais supervalorizando a minha opinião e passando a considerar que os outros também poderiam ter algo importante para dizer e que talvez o que eles tivessem a dizer se aproximasse mais da verdade do que eu poderia supor. Passei a honrar os outros no meu coração e nos meus pensamentos e isso melhorou muito o meu relacionamento com as pessoas.
Que o Senhor nos ajude e continue a nos ensinar para que possamos ser cada vez mais mansos e humildes e termos assim o nosso coração em paz.
3. Ouvir de Modo Adequado
 Ouvir de maneira que se compreenda a profundeza das intenções do coração de alguém é, sem dúvida, uma prática que está fora do nosso alcance, mesmo porque o atributo da omnisciência pertence somente a Deus. O máximo que podemos conseguir é conjecturar através de uma interpretação decorosa e subtil e, ainda assim, carregada de indubitáveis imperfeições.
A maneira como nos propomos a ouvir é que determina a qualidade de nossas atitudes. Por exemplo, quando os irmãos de José (do Egito), filho mais novo de Jacó, o ouviram contar acerca do sonho que tivera, estes o invejaram (Gn. 37:11), pois não admitiam que seu irmão mais novo estivesse dizendo que, algum dia, exerceria autoridade e domínio sobre eles. E, como resultado dessa leviana interpretação auditiva, traíram José e o venderam aos mercadores midianitas (Gn. 37:28).
Se obstinadamente nos inclinarmos a ouvir tudo de modo arrogante, certamente nossa atitude será coagida a proceder de modo similar. Por outro lado, se formos humildes e nos detivermos numa compreensão desarmadora de nosso próprio egoísmo, estaremos então atingindo a verdadeira diplomacia auditiva.
Precisamos de aprender a ouvir. Ainda quando crianças, nossas primeiras palavras foram ditas como resultado de um intenso exercício da audição. Isso porque, ao ouvirmos as pessoas falar, tentávamos reproduzir, de igual modo, alguns fonemas. Assim que, uma vez tendo aprendido a falar ouvindo, devemos, portanto, aprender a ouvir nos calando. Já nos recomenda as Escrituras, dizendo: ”todo homem seja pronto para ouvir, tardio para falar...” (Tg. 1:19).
4.     O Benefício de Quem Realmente Ouve
A palavra de Deus nos traz a menção realçada da importância do ouvir verdadeiramente o que está a ser dito, processar a informação e usá-la de forma efetiva, e ser beneficiado por essa iniciativa: : “Se quiserdes e me ouvirdes comereis o melhor desta terra” (Is. 1:19); “Inclinai os vossos ouvidos, e vinde a mim, ouvi e a vossa alma viverá...” (Is. 55:3). Essas são apenas algumas das citações bíblicas, entre tantas outras, que nos dão todo o aparato legal para usufruirmos os deleites de uma boa audição. Devemos admitir que, como seres humanos falhos e susceptíveis às tendências do engano, acabamos por exercer a audição de maneira negligente, e, por essa razão, sofremos com as consequências. Por isso, é comum encontrarmos pessoas por aí dizendo: Fulano não me quis ouvir... por isso quebrou a cara!
Acredito existir apenas duas razões principais por que as pessoas se recusam a ouvir atentamente umas às outras: a primeira por causa do orgulho. Aquilo que é dito pelos outros quase nunca tem relevância para o ouvinte orgulhoso, pois julga que somente ele é que detém o “conhecimento” e que as demais pessoas nada sabem. A segunda por causa da ignorância. O desconhecimento de alguns assuntos muitas vezes impede que as pessoas destinem total interesse em ouvir aquilo que lhes é comunicado.
5.     Ouvir é Também Ministrar.
O Senhor nos dotou dessa excepcional capacidade para nos oferecermos a Ele como instrumentos da sua justiça (Rm. 6:19). Compete a nós exercê-la de tal modo que Deus venha a ser glorificado. Veja o que Dietrich Bonhoeffer, teólogo luterano do século passado, diz a esse respeito:
“O primeiro serviço que alguém deve ao outro na comunidade é ouvi-lo. Assim como o amor a Deus começa com o ouvir a sua Palavra, assim também o amor ao irmão começa com aprender a escutá-lo. É prova do amor de Deus para connosco, que não apenas nos dá a sua Palavra, mas também nos empresta o ouvido. Portanto é realizar a obra de Deus no irmão quando aprendemos a ouvi-lo. Cristãos, e especialmente os pregadores, sempre acham que têm algo a ‘oferecer’ quando se encontram na companhia de outras pessoas, como se isso fosse o seu único serviço. Esquecem-se que ouvir pode ser um serviço maior do que falar. Muitas pessoas procuram um ouvido atento, e não o encontram entre os cristãos, porque esses falam quando deveriam ouvir...” (Vida em Comunhão, 1938).
Bonhoffer traduz, com precisão, aquilo de que tanto necessitamos resgatar em nossas comunidades cristãs, que é o serviço da audição. Temo-nos detido em diversas atividades com vistas ao serviço ao próximo, entretanto pouco temos enfatizado sobre a real necessidade de se ouvir, sem reservas, os anseios e angústias do coração humano. Que a preciosa graça de nosso Senhor Jesus Cristo nos ajude a frutificar em toda boa obra. Ouvir é uma delas (Cl. 1:10).
6.     Uma Fina Camada de Prata Faz a Diferença
Nada façais por espírito de partido ou vanglória, mas que a humildade vos ensine a considerar os outros superiores a vós mesmos. Cada qual tenha em vista não os seus próprios interesses, e sim os dos outros (Fp 2:3-4).
A palavra de Paulo está alicerçada no modelo de Amor de Jesus. Os cristãos, em todos os tempos, têm como referencial a forma como Jesus amou e se doou às pessoas. Eles seguem o novo modelo de vida chamado Jesus.
O Senhor Jesus convida-o a olhar para além de Si mesmo e perceber que há outras pessoas neste mundo. É incrível: elas precisam do seu amor, cuidado e carinho. Quem se volta para si mesmo, pensa que é o único. Engana-se e é privado da razão de viver. O Amor de Jesus, porém, liberta-nos de nós mesmos e nos dispõem a repartir nosso pão.
7.     Em Meus Passos, o Que Faria Jesus?
Um vizir (título usado em alguns países muçulmanos para designar autoridades como ministros de Estado), conhecido por sua avareza, arrogância e orgulho, conversava com um sábio, buscando conselho e orientação. Vivia inquieto e angustiado, mas sem saber ao certo os motivos de sua preocupação. O sábio levou o ministro à janela e, mostrando-lhe a rua, perguntou: “o que o senhor está vendo?” Ele respondeu: “vejo muita gente andando, homens, mulheres, crianças”. Então o sábio colocou na janela, entre o vizir e a rua, um espelho. “E agora”, perguntou o conselheiro, “o que o senhor vê?” “ Vejo-me a mim mesmo!” “O que distingue o vidro da janela e do espelho é apenas uma fina camada de prata. A prata impede que o senhor veja os outros e faz com que se concentre em si mesmo”, argumentou o conselheiro.
Pergunte-se novamente: o que tem preocupado o seu coração? Ou: o que tem ocupado o seu coração no dia-a-dia? São seus planos e sonhos pessoais? Suas conquistas têm determinado o ritmo de sua vida?
O Senhor Jesus convida-o a olhar para além de Si mesmo e perceber que há outras pessoas neste mundo. É incrível: elas precisam do seu amor, cuidado e carinho. Quem se volta para si mesmo, pensa que é o único. Engana-se e é privado da razão de viver. O Amor de Jesus, porém, liberta-nos de nós mesmos e nos dispõem a repartir nosso pão. Deixe Jesus fazer a sua vida tornar-se diferente.
 
      8.     Exame de consciência
Tendo presente o que acabamos de ver, talvez nos ajude a meditar e a falar com Deus um exame de consciência sobre como vivemos os dois sentidos desse verbo servir.
Primeiro: por que são tantas as ocasiões em que dizemos: “Não sei fazer, não tenho jeito, não tenho condições”? É lógico que não saibamos fazer tudo nem sejamos aptos para todas as tarefas. Mas há muitas coisas que deveríamos saber fazer. Por exemplo, um pai e uma mãe deveriam saber educar os filhos e, se não sabem, é porque não se deram ao trabalho de aprender, de formar-se, de preparar-se (o que é, para eles, um dever grave). Outro exemplo: uma mãe de família, por mais que tenha que trabalhar fora de casa, deveria saber cuidar com primor de todas as coisas que tornam um lar agradável, aconchegante e bem cuidado. Que pena ver mães com os filhos desleixados, mães que não sabem nem proporcionar uma comida variada e gostosa, nem fritar um ovo, nem meter a roupa na máquina de lavar sem que saia desfiada e desbotada. Se a mãe não sabe, é porque não foi responsável: deveria ter-se preparado. A sua inaptidão e despreparo rouba alegrias que deveria dar à família.
Segundo: assim como é muito cômodo não saber fazer as coisas, também é muito cômodo saber fazê-las, mas “ficar na moita”, esconder-se, mascarar-se, omitir-se. Estamos no segundo sentido da palavra servir.
Será que já percebemos a enorme capacidade inativa de ajudar (portanto, de servir), que todos nós temos? Que acha se, para não ficarmos na teoria, pegássemos um papel e um lápis e fizéssemos uma lista – em várias colunas – com as nossas possibilidades? Por exemplo, as seguintes:
- Primeira coluna: Pequenos serviços que eu poderia prestar, se fosse generoso, às pessoas da minha casa (pensando em todas elas, uma por uma). Serviços materiais (ordem, tarefas, compras, limpeza, atendimento da porta, do telefone, etc.) que posso fazer. Ajuda no estudo dos filhos. Auxílios mais profundos, de orientação, de aconselhamento moral e espiritual, de formação nas virtudes, que poderia dar e não dou…
- Segunda coluna: Pequenos serviços que poderia prestar – além dos “grandes” serviços do próprio trabalho – no meu ambiente profissional. Modos possíveis de auxiliar, facilitar e tornar mais amável o trabalho a colegas e subordinados. Será que podem contar comigo, se estão atribulados? Sabem que estou disposto a ouvir, e por isso me confidenciam as suas dificuldades?
- Terceira coluna: E no clube, na equipe de futebol, na turma de pescadores, na bicicleta de montanha, na dos integrantes da banda, será que não poderia ser mais prestativo, ter mais iniciativas, ser um apoio maior, dar o couro quando é preciso preparar festas, churrascos e outros bons momentos?
- Quarta coluna: E com os necessitados, com os que sofrem? Que faço? Digo que não posso fazer nada, a não ser dar esmolas de vez em quando, uma contribuição para o orfanato e o dízimo na igreja? Digo que não sei falar, ensinar, dar aula e, por isso, não posso prestar serviços? Mas… posso visitar doentes. Posso fazer visitas a algum hospital ou asilo. Posso prestar algum serviço de voluntariado (uma vez por semana, uma vez por mês…) baseado nos meus conhecimentos profissionais (assessoria jurídica gratuita, assistência médica ou dentária, assistência técnica para a construção de casinhas populares, aulas de complementação, etc, etc).
Há, sem dúvida, outras colunas, que cada qual pode descobrir sozinho e preencher; mas sejam quantas forem, o que importa é tirar delas propósitos concretos de servir mais, muito mais, conscientes de que assim daremos as alegrias que devemos aos outros, e ao mesmo tempo, o nosso coração irá ficando mais cheio de alegria e mais próximo do coração de Cristo que não veio para ser servido, mas para servir, e do coração de Maria, quer só queria ser a serva do Senhor, pronta para fazer tudo quanto Ele lhe pedisse: Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra (Lc. 1:38).
 

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