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domingo, 11 de março de 2012

Não julgueis

 
        “Não julgueis, para que não sejais julgados” (Mt. 7:1)
Jesus, no Sermão da Montanha, deu muitos e importantes ensinamentos para todos, mostrou principalmente como ter uma vida de santidade e, assim alcançar o Reino dos Céus. Vamos refletir sobre o capítulo 7 do Evangelho de Mateus, dos versículos de 1 e 5:
Num mundo marcado por falsos juízos, Jesus adverte-nos: “Não julgueis, e não sereis julgados (v.1). Esta expressão que se pode tranquilamente entender por criticar é das mais conhecidas, mas nem sempre é interpretada correctamente. Ela ensina que não devemos julgar os outros mais severamente do que nos julgamos a nós mesmos, nem condenar nos outros o que desculpamos em nós. Antes de reprovar uma falta de alguém, consideremos se a mesma reprovação não nos pode ser aplicada.
O julgamento que não devemos fazer é aquele em que nos colocamos no lugar de juiz para condenarmos, ou falarmos mal a respeito do nosso irmão ou nosso próximo segundo nossa própria avaliação. Isto, porém, não se refere ao discernimento que deve ser exercido pelo cristão ou pela igreja para se proteger contra os que praticam o mal ou ensinam falsidades, ou para manter a disciplina para o bem da igreja.
A censura de conduta alheia pode ter dois motivos: reprimir o mal, ou desacreditar a pessoa cujos atos criticamos. Este último motivo jamais tem desculpa, pois decorre da maledicência e da maldade. O primeiro pode ser louvável, e torna-se mesmo um dever em certos casos, pois dele pode resultar um bem, e porque sem ele o mal jamais será reprimido na sociedade. Aliás, não deve o homem ajudar o progresso dos seus semelhantes? Não se deve, pois, tomar no sentido absoluto este princípio: “Não julgueis para não serdes julgados”, porque a letra mata e o espírito vivifica.
Jesus não podia proibir de se reprovar o mal, pois ele mesmo nos deu o exemplo disso, e o fez em termos enérgicos. Mas quis dizer que a autoridade da censura está na razão da autoridade moral daquele que a pronuncia. Tornar-se culpável daquilo que se condena nos outros é abdicar dessa autoridade, e mais ainda, arrogar-se arbitrariamente o direito de repressão. A consciência íntima, de resto, recusa qualquer respeito e toda a submissão voluntária àquele que, investido de algum poder, viola as leis e os princípios que está encarregado de aplicar. A única autoridade legítima, aos olhos de Deus, é a que se apoia no bom exemplo. É o que resulta evidentemente das palavras de Jesus.
O julgamento das nossas ações pertence a Deus. Só Deus é perfeito. Como vamos julgar os outros, se somos imperfeitos? Jesus diz em João 8:15: “Vós julgais segundo a aparência; eu não julgo ninguém. E, se julgo, o meu julgamento é conforme a verdade, porque não estou sozinho, mas comigo está o Pai que me enviou.” Os homens e as mulheres têm dificuldades, para entender a verdade, tanto por parte dos sentidos e da imaginação como por parte das más inclinações, provenientes do pecado original. E como vamos julgar uma atitude do irmão se não vemos o que se passa no nosso coração e os motivos que o levam a agir dessa ou daquela maneira? Precisamos reconhecer que cada um de nós tem a sua história pessoal de vida onde estão envolvidos: o relacionamento pessoal, a família, os costumes, a cultura, a educação, os valores morais e a religião. E tudo isso junto faz com que sejamos diferentes uns dos outros. Precisamos buscar em Deus o amor que não faz acepção de pessoas, que acolhe e respeita o outro nas suas diferenças, que não critica, não julga, não fala mal.
Quem ousa julgar os outros, sofrerá a consequência dessa usurpação de poder, pois também virá a ser julgado pela mesma medida - e achado em falta!
Porque do mesmo modo que julgardes, sereis também vós julgados e, com a medida com que tiverdes medido, também vós sereis medidos (v. 2). É um alerta de Jesus para todos nós. O sábio é aquele que ouve a Palavra de Deus e a pratica. Então ouçamos o que Jesus nos está dizendo: seremos julgados também. Podemos constatar facilmente a verdade das Palavras de Jesus. Façamos o teste e veremos o quanto isso ocorre com mais frequência do que imaginamos. Paulo fala em I Coríntios 4:4-5: “De nada me acusa a consciência; contudo, nem por isso sou justificado. Meu juiz é o Senhor. Por isso, não julgueis antes do tempo; esperai que venha o Senhor. Ele porá às claras o que se acha escondido nas trevas. Ele manifestará as intenções dos corações. Então, cada um receberá de Deus o louvor que merece.” Qual é a medida do meu julgamento? É o amor, a misericórdia e a compreensão?
“Por que reparas no cisco que está no olho do teu irmão e não vês a trave que está no teu“ (v. 3)? A Palavra de Deus diz também assim em Tiago 4:12: “Não há mais que um legislador e um juiz: aquele que pode salvar e perder. Mas quem és tu, que julgas o teu próximo”? Julgamos o nosso irmão muitas vezes, sem termos os elementos necessários para formular um juízo, sem termos a visão total da situação, e essa visão só Deus a possui. Por causa da nossa cegueira espiritual somos falhos em nosso julgamento, então porque insistimos em julgar? E essa cegueira nos impede muitas vezes de ver o nosso próprio pecado. Talvez seja menos dolorido ver o erro do outro do que o erro que está em nós. Mas muitas vezes também somos juízes de nós mesmos, com muita dureza de coração. Peçamos a Deus um coração amoroso e complacente para com o nosso irmão e para connosco também.
“Como ousas dizer a teu irmão: Deixa-me tirar o cisco do teu olho, quando tens uma trave no teu” (v. 4)? Nos tempos de hoje há muita intolerância e impaciência com as fraquezas dos outros. Se parássemos para refletir saberíamos o quanto somos frágeis e dependentes uns dos outros… Busquemos os frutos do Espírito Santo, para sermos mais tolerantes com os defeitos dos nossos irmãos, já que também eles são tolerantes com os nossos defeitos. O Senhor continua a nos ensinar na sua Palavra em Tiago 3:17: “A sabedoria, porém, que vem de cima, é primeiramente pura, depois pacífica, condescendente, conciliadora, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade, nem fingimento. O fruto da justiça semeia-se na paz para aqueles que praticam a paz”. Nascemos para o amor. A nossa vocação é amar, pois faz parte da nossa natureza. Deus nos fez à sua imagem e semelhança (Gn. 1:26) e, Deus é Amor. Quando julgamos o outro, deixamos de amá-lo, então fazemos o mal a nós mesmos.
Lembremo-nos sempre das nossas próprias imperfeições antes de nos colocarmos no lugar de juiz para apontar as faltas dos outros. O Senhor Jesus chama isso de hipocrisia: é preciso primeiro eliminar as nossas próprias faltas e imperfeições antes de julgarmos as dos outros. As nossas, sob esta perspectiva, são maiores e se comparam a uma trave em nosso olho quando só podemos ver um argueiro no olho do nosso irmão.
Jesus condena os juízos temerários, malévolos, inconsiderados, inapelavelmente severos, que prenunciamos sem reflexão, não raro com verdadeira volúpia.
“Hipócrita! Tira primeiro a trave de teu olho e assim verás para tirar a palha do olho do teu irmão” (v. 5). Aprendamos a ser intransigentes com o pecado – a partir do nosso – e indulgentes com as pessoas. Ser fariseu é achar-se certinho, sem pecado, sem falhas; quando na verdade somos todos pecadores. Jesus chamou a atenção dos que julgavam e condenavam a mulher adúltera; então sugeriu de uma forma mansa, que cada um olhasse seu próprio pecado antes de atirar a primeira pedra: ”Quem de vós estiver sem pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra”. Estas palavras estão cheias da força da verdade, que abate o muro da hipocrisia e abre as consciências a uma justiça maior: a do amor, em que consiste a realização plena de cada preceito. O preceito de Deus (a Lei) é fundamentado no amor e na misericórdia. O Senhor continua a nos instruir na sua Palavra em Tiago 4:11: “Meus irmãos, não faleis mal uns dos outros. Quem fala mal de seu irmão, ou o julga, fala mal da Lei e julga a Lei. E se julgas a lei, já não és observador da lei, mas seu juiz”.
Jesus é o verdadeiro Juiz e Senhor, pois morreu pelos nossos pecados e, portanto cabe a Ele julgar toda a humanidade. A Igreja professa na oração do Creio que Jesus virá na glória, nos últimos dias, para julgar os vivos e os mortos. É dentro do Coração amoroso de Jesus, o juiz perfeito e misericordioso, que está o poder e a sabedoria do julgamento de todos nós. Deixemos, então, a tarefa de julgar para aquele que além de ser o nosso juiz, é também e, principalmente o nosso salvador. Então nada precisamos temer. Por amor Jesus morreu na cruz por nós. Quem duvida que Ele há de nos julgar com amor e misericórdia?
Recordemo-nos, hoje, da advertência de Jesus. Para não julgar, tenhamos o coração constantemente inclinado a essa disposição particular, e particular virtude, que se chama amor.
É preciso orar pelos que nos perseguem, caluniam e, continuamente, esforçam-se para nos prejudicarem tentando nos ferir (Lc. 6:29). Devemos plantar a boa semente no coração dos homens, pedindo a Deus misericórdia por aqueles que nos ofendem. Mesmo nas situações em que os ofensores forem longe demais, não podemos vingar-nos deles com nossas próprias mãos, mas sim, confiar esse direito ao Senhor Jesus (Jr. 11:20; 15:15). A vingança pertence a Deus. Não falem mal dos irmãos de outras denominações, orem uns pelos outros. Os ministros das Igrejas pertencem a Deus, se há pecado entre alguns, orem, clamem a Deus por justiça. Somente a Deus pertence a justiça.
O outro não é o inferno. O outro é o caminho para o céu. No fundo tudo passa pelo outro. A relação com o outro suscita a responsabilidade. É o outro que faz emergir a ética em nós. Ama o outro como a ti mesmo.

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