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domingo, 5 de agosto de 2012

A ALIANÇA COM ABRAÃO



“Para vir a ser (Abraão) o pai de todos os que creem” (Rm. 4:11).
O diabo, porém, continuou com a sua estratégia, tentando os que eram maus e matando os que eram bons. Passaram-se muitos anos antes que Deus encontrasse alguém. Finalmente, apareceu Abraão, um homem fiel, na terra que hoje é o Iraque, milhares de anos depois de Adão.
Então, Deus lhe disse: “De todos os povos na Terra, tu és a única pessoa em quem achei lealdade. Façamos uma aliança entre nós: sê leal a mim e eu serei leal a ti; darei somente a ti, entre todos os filhos da humanidade, os direitos de propriedade sobre todo este planeta.”
A primeira coisa que Deus lhe pediu foi que saísse do Iraque e fosse para o ocidente. Por quê? Porque quando Deus expulsou Adão e Eva do jardim, por causa de sua infidelidade, ele os enviou para o oriente. Agora, ao encontrar um homem fiel, Deus o chamou para o ocidente, ou seja, na direção contrária, para voltar ao lugar de onde Adão saíra. Deus lançou Adão fora, mas chamou Abraão para voltar. Ele queria recomeçar com Abraão o que pretendia fazer com Adão.
É importante entender que Deus não estava propondo que Abraão fosse dono apenas de uma pequena faixa de terra no Médio Oriente; na verdade, era o primeiro passo para assumir o controle sobre toda a Terra. Tinha de começar em algum lugar: onde seria melhor? No mesmo lugar onde havia colocado Adão originalmente.
Deus poderia ter começado com qualquer pessoa íntegra. Deus não escolheu Abraão por outra razão. Não o escolheu por ser judeu (porque ainda não existia a raça judaica), mas simplesmente porque era honesto e fiel.
Deus fez um concerto com Abraão (em hebraico “Brith bein habetarim”) - aliança abraâmica – que foi chamado “concerto perpétuo”, porque é extensivo às gerações vindouras e já apontando para o Reino Eterno de Cristo (Gn. 17:7). Como parte da aliança, Deus prometeu fazer de Abraão uma grande nação e abençoar todas as famílias da terra através dele (Gn. 12:2-3); dar a terra de Canaã aos seus descendentes, que seriam grandemente multiplicados: “E te farei frutificar grandiosamente e de ti farei nações, e reis sairão de ti” (Gn. 12:7, 15; 13:16; 15:5; 17:2, 6, 7, 8, 9). O concerto foi feito com Abrão, nome mudado por Deus para Abraão (pai da multidão) (Gn. 17:39). Como parte da aliança, Abraão deveria circuncidar todos os machos, filhos e servos sob sua autoridade, como selo do concerto e de aceitação de Deus como Senhor (Gn. 17:10-14, 23). Deus prometeu estender a aliança a Isaque, o filho da promessa que iria nascer (Gn. 17:16, 19).
1. A Torre De Babel
Leia Génesis 11.
Com o fim do dilúvio, os animais saíram da arca, espalhando-se pelo mundo e repovoando-o. Sem, Caim e Jafet – filhos de Noé – deram origem às estirpes de homens que se espalharam pela terra. Todos falavam a mesma língua e se compreendiam, diferenciando-se por hábitos e pelo aspeto. O ponto de vista de um, o poderoso, era o de todos. E a atividade agro pastoril igualava as pessoas.
Deus havia ordenado aos filhos de Noé que repovoassem a terra, mas as gerações seguintes, como demonstração de que haviam rejeitado a Deus, começaram a se unir em cidades e segundo a narrativa bíblica em Génesis intentaram em construir a Torre de Babel, que significa a “porta do céu” ou a “porta de Deus”, como uma das construções mais ambiciosas do homem e que deu origem à cidade Babilónia, com o objetivo de que o cume chegasse ao céu, para chegarem a Deus, estarem mais perto dEle e eternizarem os seus nomes. Isto era uma afronta dos homens a Deus, pois eles queriam se igualar a Deus. Isto provocou a ira de Deus que, para castigá-los, parou o projeto e fez com que a torre ruísse, e depois castigou os homens confundindo-lhes a linguagem de modo que os eles não se pudessem entender uns aos outros, não pudessem voltar a construir uma torre e espalhou-os por toda a Terra (Gn. 11:1-9). Esta história é usada para explicar a existência de muitas línguas e raças diferentes. A localização da construção teria sido na planície entre os rios Tigre e Eufrates, na Mesopotâmia (atual Iraque), uma região célebre por sua localização estratégica e pela sua fertilidade.
Pouco se conhece sobre os 400 anos decorridos entre Noé e Abraão. Mas a construção da torre de Babel é importante para a nossa compreensão desta aliança. Em Génesis 9:20 a 11:32 registam-se estes factos:
a)   O pecado de Noé e o seu filho, Cão (Gn. 9:20-22).
b) Ninrode estabelece um governo imperial e a idolatria (Gn. 10:10).
c) Em Babel (cujo significado original é “o portão de Deus”) Ninrode constrói uma torre para “tornar célebre o nosso nome” (Gn. 11:4).
d) Deus desce e frustra o plano do homem de elevar-se ao nível da divindade, confundindo seu linguarejar e espalhando-o sobre a face da terra. Babel passa a significar “confusão” (Gn. 11:6-9).
Até aqui, a intervenção de Deus na história humana foi marcada pelo dilúvio e pela confusão de línguas para impedir as tentativas humanas de violarem os propósitos de Deus. É no meio de todas essas circunstâncias que Deus faz aliança com Abraão.
2. A Doutrina Da Eleição
Eleição é uma doutrina fundamental. É a soberania de Deus em relação à salvação do homem. Ela é uma expressão de Sua providência superveniente A Eleição refere-se ao decreto divino de criar, dentre a humanidade condenada, certos indivíduos para serem beneficiários do Dom gratuito da salvação. Deus fez isso sem referência aos méritos, ao estado da vontade ou à fé prevista dos eleitos. A reprovação tem tudo a ver com o decreto divino mediante o qual Deus deixa uma parte da humanidade pecadora seguir o seu caminho até à condenação eterna, servindo desta maneira de objeto da ira santa de Deus. Mas Deus não os obriga a pecar. Tão pouco é o Autor do pecado deles. Simplesmente os deixa continuar seu caminho como castigo por seus pecados.
A Eleição é como uma luz que ilumina o significado da palavra “graça”. Sem ela, a graça é entendida como a recompensa por alguma atividade ou disposição humana e não como a causa desta disposição. Se a definição correta da palavra “graça” é “um favor imerecido”, então a graça tem que ser independente de qualquer atividade humana. No momento em que aceitamos este conceito, entendemos porque a graça e a eleição são inseparáveis. Não é lógico proclamar a doutrina da salvação pela graça enquanto negamos que a Eleição o seja. Paulo expressou esta unidade com estas palavras: “Assim pois também agora, no tempo de hoje sobrevive um remanescente segundo a eleição da graça” (Rm. 11:5).
Da geração de Sem, filho de Noé, nasce Abrão, que é chamado por Deus para sair do meio de sua parentela e peregrinar para uma terra prometida (Gn. 12).
Em Génesis 12, logo no início das Escrituras, vemos a absoluta soberania de Deus para de acordo com a Sua própria vontade e graça, fazer Suas escolhas. A não ser que aceitemos o facto da escolha soberana de Deus, nenhuma razão lógica parece ter havido para que Abraão fosse escolhido. Note os elementos desta seleção:
Abraão não pertencia a uma família que adorava a Deus. Seu pai, Terá, e seu avô, Naor, eram idólatras (Js. 24:2). Não havia em Abraão qualquer virtude especial que pudesse justificar a sua escolha entre os seus vizinhos (Is. 51:1-2).
Deus apareceu pessoalmente a Abraão (At. 7:2-3). Esta é a primeira teofania (Deus aparecendo em forma humana) registada.
Ao chamar Abraão, Deus interveio pessoal e ativamente na história, porém agora em misericórdia, não em julgamento. Toda a história de Abrão/Abraão pode ser organizada em quatro fases, cada uma começando com uma revelação pessoal de Jeová. A primeira, quando o patriarca foi chamado para a missão (Gn. 12-14); a segunda, quando recebeu a promessa de um herdeiro e uma aliança foi estabelecida com ele (Gn. 15 e 16); a terceira, quando aquela aliança foi estabelecida ao ter seu nome mudado de Abrão para Abraão e a circuncisão foi determinada como sinal e selo da aliança (Gn. 17-21); a quarta, quando a fé de Abraão foi provada e aperfeiçoada no oferecimento de Isaque (Gn 22-25). Estes são, por assim dizer, os pontos altos na história de Abraão.
Nota-se frequentemente, no Antigo Testamento, que a eleição se concretiza numa “aliança”. Deus estabelece com o escolhido um vínculo bilateral de ordem afetiva. Promete-lhe muito, abre-lhe horizontes quase sempre de perspetivas universais, mas também exige colaboração, por vezes generosa e até incondicional. Podemos dizer que a etapa de preparação para Cristo está dominada pela ideia força da aliança. Nos momentos difíceis e críticos da história sagrada, apela-se para a aliança. Ou então, celebra-se entusiasticamente a aliança como prova da fidelidade de Deus que cumpre o que estabelecera.
Esta chamada divina foi feita na certeza de que Abraão obedeceria. A omnisciência de Deus escolheu o homem certo para ser o pai de todos os que creem. Este chamado, pelo qual Abrão foi escolhido por Deus para cumprir uma missão, é de importância imensurável, pois determina a viagem e guia nossa interpretação de cada passo no caminho – os passos de Abraão, de seus descendentes, e os nossos próprios passos ao unirmo-nos em viagem. Essa jornada decorreu de um chamado.
Em uma notável aplicação desse episódio à vida dos cristãos, pergunta-se: Quem está pronto, para o chamado da Providência, para renunciar planos acariciados e relações familiares? Quem aceitará novos deveres e entrará em campos não experimentados, fazendo a obra de Deus com um coração firme e voluntário, considerando por amor a Cristo suas perdas como ganho? Aquele que deseja fazer isto tem a fé de Abraão, e com ele partilhará daquele ‘peso eterno de glória muito excelente (2 Co. 4:17), com o qual ‘as aflições deste tempo presente não são para comparar’ (Rm 8:18).
A eleição consiste no ato soberano de Deus em escolher aqueles que entendeu necessários para concretizar os seus planos. Os eleitos possuem características próprias de acordo com o propósito para que foram eleitos.
A doutrina de eleição nos ensina que a fonte de todas as decisões de Deus é Seu próprio prazer (Ef. 1:9). Deus abençoa a quem abençoar.
Eleição! Que palavra abençoada! Que doutrina gloriosa! Quem não se regozija em saber que foi escolhido para uma grande bênção! A eleição é para a salvação - a maior de todas as bênçãos.
3. A Resposta De Abraão
Leia Génesis 12:1-4.
Lembre-se de que uma aliança inclui três partes:
a)   As duas (ou mais) pessoas envolvidas;
b)   As condições do acordo;
c)    A promessa feita.
Vemos então que esta aliança foi completa, visto que estava condicionada à obediência de Abraão ao chamado de Deus. Abraão não apenas cria em Deus, mas também lhe obedecia: “Partiu pois Abraão, como lhe ordenara o Senhor” (Gn. 12:4). Abraão tinha uma fé genuína, pela qual ele perseverava, cria, confiava, obedecia, fortalecia-se e dava glória a Deus (Rm. 4:16-21).
A fé de Abraão é um facto frequentemente mencionado (Hb. 11:8-10). Não podemos nos esquecer de que foi a sua obediência ao chamado de Deus que lhe assegurou as bênçãos da promessa da aliança. Se ele houvesse permanecido em Ur, jamais se teria tornado no pai dos que creem. Deus disse assim, em Gn. 26:5: “Abraão obedeceu à minha palavra, e guardou os meus mandamentos, os meus preceitos, os meus estatutos e as minhas leis”.
As condições das alianças que Deus faz com os homens deveriam ser sempre lembradas. Abraão foi chamado para ir para uma terra que “devia receber por herança” (Hb. 11:8). Deus não dá ao pecador uma garantia incondicional de chegar ao céu, mas exige dele que venha para a vida eterna através da porta estreita do arrependimento, exigindo que ande em obediência aos Seus mandamentos. Isto não significa que a nova aliança seja baseada em obras, mas apenas que todas as alianças são fatalmente condicionais, inclusive a da graça.
E nem mesmo as condições de fé e obediência à mensagem do Evangelho introduzem à nova aliança o elemento “mérito humano”. Somos salvos exclusivamente pela graça (Ef. 2:8, 9). Não são de forma alguma nossas boas obras que nos asseguram a vida eterna, mas a nossa resposta voluntaria à oferta da graça.
A Bíblia caracteriza Abraão como um homem de fé. A fé de Abraão não era nenhuma experiência miraculosa. Era uma vida de obediência e serviço humildes de acordo com a vontade revelada de Deus. Ao receber a ordem divina, sem saber aonde o caminho da obediência o levaria, Abraão partiu de Ur dos Caldeus (Gn. 11:31), começando uma longa viagem para a terra de Canaã.
A Sua fé foi tal, que ele não vacilou, nem olhou para trás. A Sua fé era centrada em Deus, não nele mesmo Aquela obediência expedita de Abraão é uma das provas mais notáveis de fé a serem encontradas em toda a Bíblia. Para ele, a fé era “o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não veem” (Hb. 11:1). Confiando na promessa divina, sem a menor garantia exterior de seu cumprimento, abandonou o lar, os parentes e a terra natal, e saiu, sem saber para onde, a fim de seguir aonde Deus o levasse. “Pela fé habitou na terra da promessa, como em terra alheia, morando em cabanas com Isaque e Jacó, herdeiros com ele da mesma promessa” (Hb. 11:9).
A história de Abraão é impressionante em todos os sentidos. Olhamos para esse pai da fé e admiramos sua confiança, sua pronta obediência, seu quebrantamento, a aliança com Deus que deu origem à nação hebraica e toda a riqueza que envolve a vida desse simples mortal usado por Deus para deixar um eterno legado à humanidade.
4. O Aspecto Histórico Desta Aliança
Toda a história da salvação, desde o princípio até ao fim dos tempos, não é outra coisa senão o estabelecimento de uma aliança entre Deus e os homens, aliança que é oferta gratuita de Deus e que há-de ter aceitação humilde e agradecida da parte do homem. Mas há momentos mais significativos no estabelecimento desta aliança. Um deles, que é o seu ponto de partida mais explícito, é o da Aliança com Abraão, o crente por excelência, que, pela fé, se entrega totalmente à palavra de Deus. Nesta leitura, a aliança é significada por meio de um antigo rito: os animais oferecidos e esquartejados são o gesto do homem e o fogo que passa pelo meio deles é o sinal da presença de Deus. Assim, de aliança em aliança, nos encaminhamos para a celebração da nova e eterna aliança do Senhor.
Nenhuma aliança deve ser considerada como ato isolado de Deus, mas como parte de uma contínua revelação de Si mesmo ao homem, da qual a nova aliança é a inteira revelação em Cristo. Note como esta aliança é mais completa que aquelas com Adão e Noé.
Desde a promessa inicial de um Redentor, em Génesis 3:15, nada mais se disse sobre o Messias que haveria de vir. Vemos nesta aliança com Abraão algo sobre a família na qual Ele nasceria, e que a terra de Canaã seria o local de Sua missão. Mateus lembra-nos que Jesus Cristo é filho de Abraão (Mt. 1:11). O Redentor devia vir do descendente da mulher (Gn. 3:15), depois dos descendentes de Sete, de Noé e agora de Abraão (Gn. 12:2-3).
Esta aliança foi feita naquele ponto da história humana entre a criação do primeiro Adão e a encarnação do “segundo Adão”.
5. A Aliança
A aliança com Abraão foi um grande passo, pois indicou que Deus escolhera Abraão e sua posteridade, para cumprir seu propósito de revelar-se ao mundo e trazer salvação para a humanidade. Esta aliança pode ser dividida em três partes distintas: a promessa, a aliança e a confirmação.
A promessa - Génesis 12:1-3.
Quando Deus chamou Abraão, falou-lhe sobre uma terra que seria sua e prometeu-lhe que ele seria um grande homem e que a partir dele, Deus produziria uma grande nação e que dele sairia o Redentor que traria salvação a todos os homens. A bênção de Deus repousaria sobre Abraão, e por meio dele a bênção alcançaria todas as famílias da Terra.
Por causa da posição especial de Abraão no propósito de Deus, a promessa era determinada: “Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gn. 12: 3).
Há nesta profecia dois níveis de cumprimento. Em primeiro lugar, Israel deveria ser o porta-voz de Deus para as nações, de tal forma que influenciaria seus vizinhos, tornando-se em bênção para eles. Contudo, em sentido mais profundo e amplo, essa promessa atinge o seu cumprimento definitivo em Jesus, a semente de Abraão por excelência (Gn. 12:3; ver Gl. 3:29). Havia ainda a promessa de tornar-se uma grande nação (Gn. 12:2; 18:18), quando Abraão ainda não tinha um filho. Essa promessa cumpriu-se em duas etapas. No Egito, numericamente e, no Sinai, em termos de uma comunidade religiosa, quando Israel se tornou uma nação santa. Deus também prometeu a Abraão um grande nome. Aquilo que os construtores da torre de Babel tentaram alcançar por méritos próprios, Deus promete livremente a Abraão (Gn. 12:2). Outra promessa de grande importância foi a promessa da terra. Deus revelou a Abraão que, 400 anos mais tarde, seus descendentes receberiam a terra de Canaã (Gn. 15:13 e 16). Esta promessa começou a realizar-se no período da conquista da terra com Josué e alcançou seu cumprimento mais pleno nos dias de Davi e Salomão (1 Rs. 4:21).
A tremenda amplitude das promessas de Deus para Abraão tem se cumprido na história. A Bíblia regista a bênção de Deus sobre Abraão e sua posteridade. Foi da linhagem de Abraão que vieram os escritores do Antigo Testamento, os profetas, como também a maioria dos escritores do Novo Testamento e os doze apóstolos. Mas isto ainda não era a aliança.
A aliança - Génesis 17:7, 8.
Há um momento singular na jornada de Abraão que eu gostaria de destacar aqui: Prostrou-se Abrão, rosto em terra, e Deus lhe falou: Quanto a mim, será contigo a minha aliança; serás pai de numerosas nações. Abrão já não será mais o teu nome, e, sim, Abraão; porque por pai de numerosas nações te constituí (Gn. 17:3-5).
Deus trabalha em nossa identidade! Ele se empenha para que vivamos na visão correta sobre nós mesmos, a visão que ele próprio possui acerca de nós. Nesse ponto da história, o Senhor toca na identidade de Abrão, aos 99 anos de idade, dando-lhe uma forte proclamação divina: “pai de nações”. Gosto de pensar nessa identidade e na responsabilidade advinda dela.
Vejamos a seguir algumas características da aliança de Deus com Abraão. Em primeiro lugar, nota-se que a referida aliança foi motivada pela graça de Deus. Embora Abraão fosse um homem justo e fiel, a sua escolha não foi motivada por seus méritos pessoais. Sua escolha se fundamentou na graça, no amor e na fidelidade de Deus.
Nenhuma outra aliança tem consequências tão profundas, e nenhum outro conjunto de promessas tem uma abrangência tão ampla como aquelas concedidas a Abraão.
Os termos da aliança eram simples: Deus daria sempre a Abraão e à sua descendência, uma terra. Um dos grandes erros na interpretação desta aliança é torná-la geográfica (Palestina) e nacional (judaica) sem refletir nas implicações muito mais profundas desta “cidade que tem fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e edificador” (Hb. 11:10).
Abraão foi tomado por sua identidade e fez dela um alvo de vida. O resultado foi a formação de uma grande nação, e, nela, Cristo nasceu, morreu e ressuscitou, trazendo definitivamente a paternidade para toda a humanidade. Essa continua sendo a expectativa de nosso Pai: que nos vistamos de nossa filiação, levando em conta seus privilégios e responsabilidades, e geremos frutos eternos entre os homens da Terra.
A confirmação - Génesis 22:15-18.
Abraão, o homem de fé, e que estava crescendo em fé, precisou enfrentar o teste supremo de fé. O comovente relato da prova a que Abraão foi submetido, bem como a sua obediência e fé encontram-se em Génesis 22. Abraão foi instruído a oferecer Isaque como holocausto, em uma montanha na terra de Moriá. Na cultura em que Abraão fora criado, em Ur dos Caldeus, sacrifícios humanos não eram desconhecidos. E na terra de Canaã, achavam-se estabelecidos nos bosques os altares dos falsos deuses, e sacrifícios humanos eram oferecidos nos lugares altos que ficavam próximos. Contudo, tais sacrifícios eram completamente opostos a tudo o que Abraão conhecia do Deus a quem adorava. Não obstante, a Bíblia regista neste exemplo uma obediência completa e imediata. Esse foi um teste supremo, tanto para Abraão quanto para o seu filho, enquanto prosseguiam na viagem rumo ao lugar determinado por Deus. E quando Abraão segurava a faca para cumprir a ordem recebida, eis que o Anjo de Deus interrompeu o sacrifício, porque Isaque não era o Messias; era apenas uma figura do Messias. Porém, o facto de Abraão ter-se disposto a sacrificar Isaque deu a Deus a permissão de sacrificar o Filho dele.
Veja, Deus deu autoridade nesta Terra aos homens e, por conseguinte, não pode simplesmente fazer o que quer. Ele precisa fazer as coisas aqui por meio de parcerias, com nossa permissão. Deus já tinha um plano de sacrificar Jesus, mas ele não podia executá-lo sem a permissão do homem. Foi quando encontrou um parceiro de aliança em Abraão, que se dispôs a sacrificar o próprio filho, que Deus obteve permissão para dar Jesus pelos nossos pecados.
Foi por isso que aquele Anjo de Deus, que muito provavelmente era o Filho de Deus pré-encarnado, bradou do Céu a Abraão no monte e disse-lhe: “Pare agora Abraão; sei que não entende o que aconteceu nem precisa entender, mas por me ter obedecido, tornou-se efetivamente meu parceiro de aliança. Isso é suficiente, e posso dizer-lhe que, por intermédio de seu filho Isaque, virá a semente que prometi a Adão e Eva. Por essa semente, todas as nações da Terra serão abençoadas, todas as nações do mundo serão salvas porque obedeceu-me e seguiu a minha aliança. Por causa de sua fidelidade, por ser meu parceiro de aliança, é a sua semente que trará o Salvador para destruir Satanás e o pecado e tomar a Terra de volta para o Reino de Deus. Vou começar com esse pequeno pedaço de terra porque ainda é uma família pequena”.
Nota-se, então, que o sacrifício de Isaque pôde ser suspenso, porém, o sacrifício do Filho de Deus no Calvário não foi interrompido, para que os propósitos de Deus para a raça humana se pudessem concretizar. Abraão tomou um carneiro e o ofereceu em holocausto em lugar de seu filho (Gn. 22:13). Naquela ocasião, devido à obediência de Abraão a Deus, ele recebeu mais uma vez a promessa de bênçãos inumeráveis, de vitória sobre os inimigos e de que todos os seus descendentes seriam numerosos e todas as nações abençoadas através deles (22:17-18). Depois, a mesma promessa foi confirmada a Isaque (26:24) e a Jacó (27:29).
Por causa da obediência de Abraão à voz de Deus - condição desta aliança - o Senhor voltou para jurar fidelidade à Sua promessa. Estas três passagens devem ser consideradas como partes da aliança completa. A aliança de Deus com Abraão incluiu os aspectos da semente, da terra e do sacrifício, tudo o que era necessário para o plano de redenção.
A partir daí, o plano continuou e passou de um indivíduo (Abraão) para uma família, da família para um grupo de tribos (os doze filhos de Jacó) e do grupo de tribos para uma nação. Quando a descendência da Jacó estava no Egito, multiplicando-se, Satanás começou a ficar nervoso. Havia já milhares de descendentes, e ele não conseguia saber quem era a semente prometida.
6. O Propósito Desta Aliança
Leia Gálatas 3:6-29.
É de fundamental importância entendermos os propósitos de Deus através desta aliança com Abraão. Sem uma interpretação clara e correta deste ponto, muitas passagens, tanto do Antigo como do Novo Testamento, se tornam destituídas de sentido. Examinemos cuidadosamente estes propósitos:
1)   Revelar a família da qual nasceria o Messias (Gn. 12:3). Jesus era da descendência de Abraão (Gl. 3:16).
2)   Mostrar que a herança espiritual se transmite pela fé, e não por privilégio racial. Gálatas 3:16 fala do “descendente”. Isto descreve a dupla natureza da aliança: a natural e a espiritual. Nós que, a despeito da nossa origem racial, nos cremos filhos de Abraão, somos dessa forma herdeiros da promessa a ele feita. “Sabei, pois, que os da fé é que são filhos de Abraão” (Gl. 3:17). Perder esta verdade é cair no erro do literalismo em exegese - erro comum dos fundamentalistas.
3)   Fazer uma promessa de proteção e bênção espiritual através do mesmo processo de aliança, ou seja, através da fé e da obediência. Leia Gl. 3:8, 9, 14, 28, 29. Estes Versículos nos unem claramente à aliança feita por Deus com Abraão, e nos chamam de “herdeiros de todas as promessas”.
4)   Declarar eterna a aliança de Deus feita com os herdeiros espirituais da promessa. “Essa é a razão por que provém da fé, para que seja segundo a graça, a fim de que seja firme a promessa para toda a descendência, não apenas aos que estão sob o regime da lei, mas também aos que têm da fé que Abraão teve (porque Abraão é o pai de todos nós)” (Rm. 4:16).
5)   Mostrar Abraão como modelo para todos os que crerem nas promessas de Deus. Tal interpretação da aliança estabelece para nós uma direção confiável através do “labirinto de profecia”, tão confuso para tanta gente.
Agora veja o que diz o Novo Testamento sobre os que creem em Cristo:
a) Somos os filhos de Abraão - Rm. 4:16; Gl. 3:7.
b) Somos da circuncisão (o sinal da aliança com Abraão - Fp. 3:3.
c) Somos o Israel de Deus - Gl. 6:16, Gl. 2:12, 13.
A conclusão destas evidências é que nas promessas de Deus a Abraão e à sua descendência não foram feitas à sua descendência natural, mas pertencem a todos os que tiveram uma fé como a dele.
7.       As Conclusões Desta Interpretação
Os descendentes de Jacó que não haviam crido, bem como a posteridade de Ismael e de Esaú, foram excluídos das promessas feitas a Abraão. Pertenciam à sua descendência física, não espiritual. Pois não creram na promessa.
Também os judeus e israelitas de nossos dias, que não creem, não são igualmente herdeiros das promessas de Deus. É um erro grave e grosseiro fazer de tais homens blasfemos e corruptos herdeiros de Abraão e da aliança de Deus.
Não podemos nos esquecer do que as Escrituras dizem: “E se sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão e herdeiros segundo a promessa” (Gl. 3:29).
A despeito de muitas interpretações proféticas populares, que induzem a uma falsa compreensão da escatologia (acontecimentos do fim dos tempos), não há como fugir a esta conclusão.
Seguida e insistentemente faz o apóstolo Paulo referência à aliança com Abraão. Sua preocupação era ilustrar os privilégios concedidos aos cristãos e as bases sobre as quais tal concessão é feita - uma fé onde a obediência é a grande prova.
8. O Sinal Da Aliança
Leia Génesis 17:9-14.
Tenhamos em mente que a aliança com Abraão foi condicional. Alguns evangélicos insistem que essa aliança era incondicional e que, portanto, as promessas do concerto continuam em vigor para os judeus, por serem descendentes carnais de Abraão. Assim, de acordo com esse raciocínio, Deus tem um plano especial para a salvação dos judeus, distinto do plano para a igreja. Nota-se, no entanto, que a Bíblia sugere que a aliança com Abraão era condicional. Veja-se, por exemplo Génesis 17:9, onde é dito que Abraão e sua descendência deveriam guardar o concerto que Deus fizera com eles. Génesis 18:18 e 19 relata que Abraão deveria ensinar seus filhos para que o Senhor pudesse cumprir Suas promessas. Génesis 17:14 sugere que o concerto poderia ser quebrado. Isso evidencia claramente que a aliança poderia ser quebrada ou rompida por uma das partes, sendo, portanto, condicional.
Havia o sinal da circuncisão para identificar os participantes dessa aliança (Gn. 17:11). A circuncisão deveria comunicar várias verdades importantes, como assinalar o povo de Deus (ver Ef. 2:11); perpetuar a memória do concerto (Gn. 17:11) e simbolizar a circuncisão do coração; estimular o cultivo da pureza moral (Dt. 10:16); representar a justiça que vem pela fé (Rm. 4:11) e prefigurar a ordenança cristã do batismo (Cl. 2:11 e 12).
Vez após vez, observamos ser a circuncisão física a evidência do relacionamento com Deus através da aliança.
a) Exigia-se que todos os homens que comessem a carne da páscoa fossem circuncidados (Ex. 12:44, 48).
b) A geração nascida no deserto carecia de circuncisão antes de chegar à terra prometida (Js. 5:7, 8).
O ensinamento é claro: faltando o sinal, automaticamente estaria a aliança quebrada. Génesis 17:14 diz: “O incircunciso, que não for circuncidado na carne do prepúcio, essa vida será eliminada do seu povo; quebrou a minha aliança”.
Temos que estar atentos ao princípio de que não significaria a circuncisão física a automática garantia das bênçãos da aliança para aqueles que, desobedecendo aos mandamentos de Deus, rompiam com ela. O apóstolo Paulo esclarece muito bem este assunto, afirmando que, sem envolvimento de fé, a circuncisão não tem valor algum (Rm. 2:28, 29).
9. Algumas Conclusões
Dos estudos e pesquisas feitas, podemos chegar às seguintes afirmações referentes à aliança entre Deus e Abraão:
a) A escolha de Abraão e de sua descendência não era para dar-lhes a exclusividade da salvação, mas para conceder-lhes os privilégios e as responsabilidades da missão de mediar o plano salvífico de Deus para todas as nações. Ela proclamou o alcance universal e internacional da misericórdia divina.
b) Revelou a família da qual viria o Messias. Embora, da perspetiva humana, Israel tenha falhado, da perspetiva divina, o propósito mais amplo da aliança abraâmica foi alcançado através de Jesus Cristo, a semente de Abraão.
c) Anunciou ser exclusivamente através da fé e da obediência que nos tornamos herdeiros da promessa.
d) Revelou ainda Abraão como modelo de Cristo, cuja descendência usufruiria dos benefícios da sua obediência a Deus (Gn. 15:5, 10, 11).
e) Mostrou-nos através da promessa de Canaã a herança que temos em Cristo no Reino de Deus. 

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