“Para vir a ser
(Abraão) o pai de todos os que creem” (Rm. 4:11).
O diabo, porém, continuou com a sua estratégia,
tentando os que eram maus e matando os que eram bons. Passaram-se muitos anos
antes que Deus encontrasse alguém. Finalmente, apareceu Abraão, um homem fiel,
na terra que hoje é o Iraque, milhares de anos depois de Adão.
Então, Deus lhe disse: “De todos os povos na
Terra, tu és a única pessoa em quem achei lealdade. Façamos uma aliança entre
nós: sê leal a mim e eu serei leal a ti; darei somente a ti, entre todos os
filhos da humanidade, os direitos de propriedade sobre todo este planeta.”
A primeira coisa que Deus lhe pediu foi que saísse
do Iraque e fosse para o ocidente. Por quê? Porque quando Deus expulsou Adão e
Eva do jardim, por causa de sua infidelidade, ele os enviou para o oriente.
Agora, ao encontrar um homem fiel, Deus o chamou para o ocidente, ou seja, na
direção contrária, para voltar ao lugar de onde Adão saíra. Deus lançou Adão
fora, mas chamou Abraão para voltar. Ele queria recomeçar com Abraão o que
pretendia fazer com Adão.
É importante entender que Deus não estava propondo
que Abraão fosse dono apenas de uma pequena faixa de terra no Médio Oriente; na
verdade, era o primeiro passo para assumir o controle sobre toda a Terra. Tinha
de começar em algum lugar: onde seria melhor? No mesmo lugar onde havia
colocado Adão originalmente.
Deus poderia ter começado com qualquer pessoa
íntegra. Deus não escolheu Abraão por outra razão. Não o escolheu por ser judeu
(porque ainda não existia a raça judaica), mas simplesmente porque era honesto
e fiel.
Deus fez um concerto com Abraão (em hebraico “Brith
bein habetarim”) - aliança abraâmica – que foi chamado “concerto perpétuo”,
porque é extensivo às gerações vindouras e já apontando para o Reino Eterno de
Cristo (Gn. 17:7). Como parte da aliança, Deus prometeu fazer de Abraão uma
grande nação e abençoar todas as famílias da terra através dele (Gn. 12:2-3);
dar a terra de Canaã aos seus descendentes, que seriam grandemente
multiplicados: “E te farei frutificar grandiosamente e de ti farei nações, e
reis sairão de ti” (Gn. 12:7, 15; 13:16; 15:5; 17:2, 6, 7, 8, 9). O concerto
foi feito com Abrão, nome mudado por Deus para Abraão (pai da multidão) (Gn.
17:39). Como parte da aliança, Abraão deveria circuncidar todos os machos,
filhos e servos sob sua autoridade, como selo do concerto e de aceitação de
Deus como Senhor (Gn. 17:10-14, 23). Deus prometeu estender a aliança a Isaque,
o filho da promessa que iria nascer (Gn. 17:16, 19).
1. A Torre De Babel
Leia Génesis 11.
Com o fim do dilúvio, os animais saíram da arca,
espalhando-se pelo mundo e repovoando-o. Sem, Caim e Jafet – filhos de Noé –
deram origem às estirpes de homens que se espalharam pela terra. Todos falavam
a mesma língua e se compreendiam, diferenciando-se por hábitos e pelo aspeto. O
ponto de vista de um, o poderoso, era o de todos. E a atividade agro pastoril
igualava as pessoas.
Deus havia ordenado aos filhos de Noé que
repovoassem a terra, mas as gerações seguintes, como demonstração de que haviam
rejeitado a Deus, começaram a se unir em cidades e segundo a narrativa bíblica
em Génesis intentaram em construir a Torre de Babel, que significa a “porta do
céu” ou a “porta de Deus”, como uma das construções mais ambiciosas do homem e
que deu origem à cidade Babilónia, com o objetivo de que o cume chegasse ao
céu, para chegarem a Deus, estarem mais perto dEle e eternizarem os seus nomes.
Isto era uma afronta dos homens a Deus, pois eles queriam se igualar a Deus.
Isto provocou a ira de Deus que, para castigá-los, parou o projeto e fez com
que a torre ruísse, e depois castigou os homens confundindo-lhes a linguagem de
modo que os eles não se pudessem entender uns aos outros, não pudessem voltar a
construir uma torre e espalhou-os por toda a Terra (Gn. 11:1-9). Esta história
é usada para explicar a existência de muitas línguas e raças diferentes. A
localização da construção teria sido na planície entre os rios Tigre e
Eufrates, na Mesopotâmia (atual Iraque), uma região célebre por sua localização
estratégica e pela sua fertilidade.
Pouco se conhece sobre os 400 anos decorridos
entre Noé e Abraão. Mas a construção da torre de Babel é importante para a nossa
compreensão desta aliança. Em Génesis 9:20 a 11:32 registam-se estes factos:
a) O pecado de Noé e o seu filho, Cão (Gn.
9:20-22).
b) Ninrode estabelece um governo imperial e a
idolatria (Gn. 10:10).
c) Em Babel (cujo significado original é “o portão
de Deus”) Ninrode constrói uma torre para “tornar célebre o nosso nome” (Gn.
11:4).
d) Deus desce e frustra o plano do homem de
elevar-se ao nível da divindade, confundindo seu linguarejar e espalhando-o
sobre a face da terra. Babel passa a significar “confusão” (Gn. 11:6-9).
Até aqui, a intervenção de Deus na história humana
foi marcada pelo dilúvio e pela confusão de línguas para impedir as tentativas
humanas de violarem os propósitos de Deus. É no meio de todas essas
circunstâncias que Deus faz aliança com Abraão.
2. A Doutrina Da Eleição
Eleição é uma doutrina fundamental. É a soberania de Deus em relação à salvação do
homem. Ela é uma expressão de Sua providência superveniente A Eleição refere-se
ao decreto divino de criar, dentre a humanidade condenada, certos indivíduos
para serem beneficiários do Dom gratuito da salvação. Deus fez isso sem
referência aos méritos, ao estado da vontade ou à fé prevista dos eleitos. A
reprovação tem tudo a ver com o decreto divino mediante o qual Deus deixa uma
parte da humanidade pecadora seguir o seu caminho até à condenação eterna,
servindo desta maneira de objeto da ira santa de Deus. Mas Deus não os obriga a
pecar. Tão pouco é o Autor do pecado deles. Simplesmente os deixa continuar seu
caminho como castigo por seus pecados.
A Eleição é como uma luz que ilumina o significado
da palavra “graça”. Sem ela, a graça é entendida como a recompensa por alguma
atividade ou disposição humana e não como a causa desta disposição. Se a
definição correta da palavra “graça” é “um favor imerecido”, então a graça tem
que ser independente de qualquer atividade humana. No momento em que aceitamos
este conceito, entendemos porque a graça e a eleição são inseparáveis. Não é
lógico proclamar a doutrina da salvação pela graça enquanto negamos que a
Eleição o seja. Paulo expressou esta unidade com estas palavras: “Assim pois
também agora, no tempo de hoje sobrevive um remanescente segundo a eleição da
graça” (Rm. 11:5).
Da geração de Sem, filho de Noé, nasce Abrão, que
é chamado por Deus para sair do meio de sua parentela e peregrinar para uma
terra prometida (Gn. 12).
Em Génesis 12, logo no início das Escrituras,
vemos a absoluta soberania de Deus para de acordo com a Sua própria vontade e
graça, fazer Suas escolhas. A não ser que aceitemos o facto da escolha soberana
de Deus, nenhuma razão lógica parece ter havido para que Abraão fosse
escolhido. Note os elementos desta seleção:
Abraão não pertencia a uma família que adorava a
Deus. Seu pai, Terá, e seu avô, Naor, eram idólatras (Js. 24:2). Não havia em
Abraão qualquer virtude especial que pudesse justificar a sua escolha entre os seus
vizinhos (Is. 51:1-2).
Deus apareceu pessoalmente a Abraão (At. 7:2-3).
Esta é a primeira teofania (Deus aparecendo em forma humana) registada.
Ao chamar Abraão, Deus interveio pessoal e
ativamente na história, porém agora em misericórdia, não em julgamento. Toda a
história de Abrão/Abraão pode ser organizada em quatro fases, cada uma
começando com uma revelação pessoal de Jeová. A primeira, quando o patriarca
foi chamado para a missão (Gn. 12-14); a segunda, quando recebeu a promessa de
um herdeiro e uma aliança foi estabelecida com ele (Gn. 15 e 16); a terceira,
quando aquela aliança foi estabelecida ao ter seu nome mudado de Abrão para
Abraão e a circuncisão foi determinada como sinal e selo da aliança (Gn.
17-21); a quarta, quando a fé de Abraão foi provada e aperfeiçoada no
oferecimento de Isaque (Gn 22-25). Estes são, por assim dizer, os pontos altos
na história de Abraão.
Nota-se frequentemente, no Antigo Testamento, que
a eleição se concretiza numa “aliança”. Deus estabelece com o escolhido um
vínculo bilateral de ordem afetiva. Promete-lhe muito, abre-lhe horizontes
quase sempre de perspetivas universais, mas também exige colaboração, por vezes
generosa e até incondicional. Podemos dizer que a etapa de preparação para
Cristo está dominada pela ideia força da aliança. Nos momentos difíceis e
críticos da história sagrada, apela-se para a aliança. Ou então, celebra-se
entusiasticamente a aliança como prova da fidelidade de Deus que cumpre o que
estabelecera.
Esta chamada divina foi feita na certeza de que
Abraão obedeceria. A omnisciência de Deus escolheu o homem certo para ser o pai
de todos os que creem. Este chamado, pelo qual Abrão foi escolhido por Deus
para cumprir uma missão, é de importância imensurável, pois determina a viagem
e guia nossa interpretação de cada passo no caminho – os passos de Abraão, de seus
descendentes, e os nossos próprios passos ao unirmo-nos em viagem. Essa jornada
decorreu de um chamado.
Em uma notável aplicação desse episódio à vida dos
cristãos, pergunta-se: Quem está pronto, para o chamado da Providência, para
renunciar planos acariciados e relações familiares? Quem aceitará novos deveres
e entrará em campos não experimentados, fazendo a obra de Deus com um coração
firme e voluntário, considerando por amor a Cristo suas perdas como ganho?
Aquele que deseja fazer isto tem a fé de Abraão, e com ele partilhará daquele
‘peso eterno de glória muito excelente (2 Co. 4:17), com o qual ‘as aflições
deste tempo presente não são para comparar’ (Rm 8:18).
A eleição consiste no ato
soberano de Deus em escolher aqueles que entendeu necessários para concretizar
os seus planos. Os eleitos possuem características próprias de acordo com o
propósito para que foram eleitos.
A doutrina de eleição nos ensina que a fonte de
todas as decisões de Deus é Seu próprio prazer (Ef. 1:9). Deus abençoa a quem
abençoar.
Eleição! Que palavra abençoada! Que doutrina
gloriosa! Quem não se regozija em saber que foi escolhido para uma grande
bênção! A eleição é para a salvação - a maior de todas as bênçãos.
3. A Resposta De Abraão
Leia Génesis 12:1-4.
Lembre-se de que uma aliança inclui três partes:
a) As duas (ou mais) pessoas envolvidas;
b) As condições do acordo;
c) A promessa feita.
Vemos então que esta aliança foi completa, visto
que estava condicionada à obediência de Abraão ao chamado de Deus. Abraão não
apenas cria em Deus, mas também lhe obedecia: “Partiu pois Abraão, como lhe
ordenara o Senhor” (Gn. 12:4). Abraão tinha uma fé genuína, pela
qual ele perseverava, cria, confiava, obedecia, fortalecia-se e dava glória a
Deus (Rm. 4:16-21).
A fé de Abraão é um facto frequentemente
mencionado (Hb. 11:8-10). Não podemos nos esquecer de que foi a sua obediência
ao chamado de Deus que lhe assegurou as bênçãos da promessa da aliança. Se ele
houvesse permanecido em Ur, jamais se teria tornado no pai dos que creem. Deus
disse assim, em Gn. 26:5: “Abraão obedeceu à minha palavra, e guardou os meus
mandamentos, os meus preceitos, os meus estatutos e as minhas leis”.
As condições das alianças que Deus faz com os
homens deveriam ser sempre lembradas. Abraão foi chamado para ir para uma terra
que “devia receber por herança” (Hb. 11:8). Deus não dá ao pecador uma garantia
incondicional de chegar ao céu, mas exige dele que venha para a vida eterna
através da porta estreita do arrependimento, exigindo que ande em obediência
aos Seus mandamentos. Isto não significa que a nova aliança seja baseada em
obras, mas apenas que todas as alianças são fatalmente condicionais, inclusive
a da graça.
E nem mesmo as condições de fé e obediência à
mensagem do Evangelho introduzem à nova aliança o elemento “mérito humano”.
Somos salvos exclusivamente pela graça (Ef. 2:8, 9). Não são de forma alguma
nossas boas obras que nos asseguram a vida eterna, mas a nossa resposta
voluntaria à oferta da graça.
A Bíblia caracteriza Abraão como um homem de fé. A
fé de Abraão não era nenhuma experiência miraculosa. Era uma vida de obediência
e serviço humildes de acordo com a vontade revelada de Deus. Ao receber a ordem
divina, sem saber aonde o caminho da obediência o levaria, Abraão partiu de Ur
dos Caldeus (Gn. 11:31), começando uma longa viagem para a terra de Canaã.
A Sua fé foi tal, que ele não vacilou, nem olhou para
trás. A Sua fé era centrada em Deus, não nele mesmo Aquela obediência expedita
de Abraão é uma das provas mais notáveis de fé a serem encontradas em toda a
Bíblia. Para ele, a fé era “o firme fundamento das coisas que se esperam, e a
prova das coisas que se não veem” (Hb. 11:1). Confiando na promessa divina, sem
a menor garantia exterior de seu cumprimento, abandonou o lar, os parentes e a
terra natal, e saiu, sem saber para onde, a fim de seguir aonde Deus o levasse.
“Pela fé habitou na terra da promessa, como em terra alheia, morando em cabanas
com Isaque e Jacó, herdeiros com ele da mesma promessa” (Hb. 11:9).
A história de Abraão é impressionante em todos os
sentidos. Olhamos para esse pai da fé e admiramos sua confiança, sua pronta
obediência, seu quebrantamento, a aliança com Deus que deu origem à nação
hebraica e toda a riqueza que envolve a vida desse simples mortal usado por
Deus para deixar um eterno legado à humanidade.
4. O Aspecto Histórico Desta Aliança
Toda a história da salvação, desde o princípio até
ao fim dos tempos, não é outra coisa senão o estabelecimento de uma aliança
entre Deus e os homens, aliança que é oferta gratuita de Deus e que há-de ter
aceitação humilde e agradecida da parte do homem. Mas há momentos mais
significativos no estabelecimento desta aliança. Um deles, que é o seu ponto de
partida mais explícito, é o da Aliança com Abraão, o crente por excelência,
que, pela fé, se entrega totalmente à palavra de Deus. Nesta leitura, a aliança
é significada por meio de um antigo rito: os animais oferecidos e esquartejados
são o gesto do homem e o fogo que passa pelo meio deles é o sinal da presença
de Deus. Assim, de aliança em aliança, nos encaminhamos para a celebração da
nova e eterna aliança do Senhor.
Nenhuma aliança deve ser considerada como ato
isolado de Deus, mas como parte de uma contínua revelação de Si mesmo ao homem,
da qual a nova aliança é a inteira revelação em Cristo. Note como esta aliança
é mais completa que aquelas com Adão e Noé.
Desde a promessa inicial de um Redentor, em Génesis
3:15, nada mais se disse sobre o Messias que haveria de vir. Vemos nesta
aliança com Abraão algo sobre a família na qual Ele nasceria, e que a terra de
Canaã seria o local de Sua missão. Mateus lembra-nos que Jesus Cristo é filho
de Abraão (Mt. 1:11). O Redentor devia vir do descendente da mulher (Gn. 3:15),
depois dos descendentes de Sete, de Noé e agora de Abraão (Gn. 12:2-3).
Esta aliança foi feita naquele ponto da história
humana entre a criação do primeiro Adão e a encarnação do “segundo Adão”.
5. A Aliança
A aliança com Abraão foi um grande passo, pois
indicou que Deus escolhera Abraão e sua posteridade, para cumprir seu propósito
de revelar-se ao mundo e trazer salvação para a humanidade. Esta aliança pode
ser dividida em três partes distintas: a promessa, a aliança e a confirmação.
A promessa - Génesis 12:1-3.
Quando Deus chamou Abraão, falou-lhe sobre uma
terra que seria sua e prometeu-lhe que ele seria um grande homem e que a partir
dele, Deus produziria uma grande nação e que dele sairia o Redentor que traria
salvação a todos os homens. A bênção de Deus repousaria sobre Abraão, e por
meio dele a bênção alcançaria todas as famílias da Terra.
Por causa da posição especial de Abraão no
propósito de Deus, a promessa era determinada: “Abençoarei os que te abençoarem
e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias
da terra” (Gn. 12: 3).
Há nesta profecia dois níveis de cumprimento. Em
primeiro lugar, Israel deveria ser o porta-voz de Deus para as nações, de tal
forma que influenciaria seus vizinhos, tornando-se em bênção para eles.
Contudo, em sentido mais profundo e amplo, essa promessa atinge o seu
cumprimento definitivo em Jesus, a semente de Abraão por excelência (Gn. 12:3;
ver Gl. 3:29). Havia ainda a promessa de tornar-se uma grande nação (Gn. 12:2;
18:18), quando Abraão ainda não tinha um filho. Essa promessa cumpriu-se em
duas etapas. No Egito, numericamente e, no Sinai, em termos de uma comunidade
religiosa, quando Israel se tornou uma nação santa. Deus também prometeu a
Abraão um grande nome. Aquilo que os construtores da torre de Babel tentaram
alcançar por méritos próprios, Deus promete livremente a Abraão (Gn. 12:2).
Outra promessa de grande importância foi a promessa da terra. Deus revelou a
Abraão que, 400 anos mais tarde, seus descendentes receberiam a terra de Canaã
(Gn. 15:13 e 16). Esta promessa começou a realizar-se no período da conquista
da terra com Josué e alcançou seu cumprimento mais pleno nos dias de Davi e
Salomão (1 Rs. 4:21).
A tremenda amplitude das promessas de Deus para
Abraão tem se cumprido na história. A Bíblia regista a bênção de Deus sobre
Abraão e sua posteridade. Foi da linhagem de Abraão que vieram os escritores do
Antigo Testamento, os profetas, como também a maioria dos escritores do Novo
Testamento e os doze apóstolos. Mas isto ainda não era a aliança.
A aliança - Génesis 17:7, 8.
Há um momento singular na jornada de Abraão que eu
gostaria de destacar aqui: Prostrou-se Abrão, rosto em terra, e Deus lhe falou:
Quanto a mim, será contigo a minha aliança; serás pai de numerosas nações.
Abrão já não será mais o teu nome, e, sim, Abraão; porque por pai de numerosas
nações te constituí (Gn. 17:3-5).
Deus trabalha em nossa identidade! Ele se empenha
para que vivamos na visão correta sobre nós mesmos, a visão que ele próprio
possui acerca de nós. Nesse ponto da história, o Senhor toca na identidade de
Abrão, aos 99 anos de idade, dando-lhe uma forte proclamação divina: “pai de
nações”. Gosto de pensar nessa identidade e na responsabilidade advinda dela.
Vejamos a seguir algumas características da
aliança de Deus com Abraão. Em primeiro lugar, nota-se que a referida aliança
foi motivada pela graça de Deus. Embora Abraão fosse um homem justo e fiel, a sua
escolha não foi motivada por seus méritos pessoais. Sua escolha se fundamentou
na graça, no amor e na fidelidade de Deus.
Nenhuma outra aliança tem consequências tão
profundas, e nenhum outro conjunto de promessas tem uma abrangência tão ampla
como aquelas concedidas a Abraão.
Os termos da aliança eram simples: Deus daria sempre
a Abraão e à sua descendência, uma terra. Um dos grandes erros
na interpretação desta aliança é torná-la geográfica (Palestina) e nacional
(judaica) sem refletir nas implicações muito mais profundas desta “cidade que
tem fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e edificador” (Hb. 11:10).
Abraão foi tomado por sua identidade e fez dela um
alvo de vida. O resultado foi a formação de uma grande nação, e, nela, Cristo
nasceu, morreu e ressuscitou, trazendo definitivamente a paternidade para toda
a humanidade. Essa continua sendo a expectativa de nosso Pai: que nos vistamos
de nossa filiação, levando em conta seus privilégios e responsabilidades, e
geremos frutos eternos entre os homens da Terra.
A confirmação - Génesis 22:15-18.
Abraão, o homem de fé, e que estava crescendo em
fé, precisou enfrentar o teste supremo de fé. O comovente relato da prova a que
Abraão foi submetido, bem como a sua obediência e fé encontram-se em Génesis
22. Abraão foi instruído a oferecer Isaque como holocausto, em uma montanha na
terra de Moriá. Na cultura em que Abraão fora criado, em Ur dos Caldeus,
sacrifícios humanos não eram desconhecidos. E na terra de Canaã, achavam-se
estabelecidos nos bosques os altares dos falsos deuses, e sacrifícios humanos
eram oferecidos nos lugares altos que ficavam próximos. Contudo, tais
sacrifícios eram completamente opostos a tudo o que Abraão conhecia do Deus a
quem adorava. Não obstante, a Bíblia regista neste exemplo uma obediência
completa e imediata. Esse foi um teste supremo, tanto para Abraão quanto para o
seu filho, enquanto prosseguiam na viagem rumo ao lugar determinado por Deus. E
quando Abraão segurava a faca para cumprir a ordem recebida, eis que o Anjo de
Deus interrompeu o sacrifício, porque Isaque não era o Messias; era apenas uma
figura do Messias. Porém, o facto de Abraão ter-se disposto a sacrificar Isaque
deu a Deus a permissão de sacrificar o Filho dele.
Veja, Deus deu autoridade nesta Terra aos homens
e, por conseguinte, não pode simplesmente fazer o que quer. Ele precisa fazer
as coisas aqui por meio de parcerias, com nossa permissão. Deus já tinha um
plano de sacrificar Jesus, mas ele não podia executá-lo sem a permissão do
homem. Foi quando encontrou um parceiro de aliança em Abraão, que se dispôs a
sacrificar o próprio filho, que Deus obteve permissão para dar Jesus pelos
nossos pecados.
Foi por isso que aquele Anjo de Deus, que muito
provavelmente era o Filho de Deus pré-encarnado, bradou do Céu a Abraão no
monte e disse-lhe: “Pare agora Abraão; sei que não entende o que aconteceu nem
precisa entender, mas por me ter obedecido, tornou-se efetivamente meu parceiro
de aliança. Isso é suficiente, e posso dizer-lhe que, por intermédio de seu
filho Isaque, virá a semente que prometi a Adão e Eva. Por essa semente, todas
as nações da Terra serão abençoadas, todas as nações do mundo serão salvas
porque obedeceu-me e seguiu a minha aliança. Por causa de sua fidelidade, por
ser meu parceiro de aliança, é a sua semente que trará o Salvador para destruir
Satanás e o pecado e tomar a Terra de volta para o Reino de Deus. Vou começar
com esse pequeno pedaço de terra porque ainda é uma família pequena”.
Nota-se, então, que o sacrifício de Isaque pôde
ser suspenso, porém, o sacrifício do Filho de Deus no Calvário não foi
interrompido, para que os propósitos de Deus para a raça humana se pudessem
concretizar. Abraão tomou um carneiro e o ofereceu em holocausto em lugar de
seu filho (Gn. 22:13). Naquela ocasião, devido à obediência de Abraão a Deus,
ele recebeu mais uma vez a promessa de bênçãos inumeráveis, de vitória sobre os
inimigos e de que todos os seus descendentes seriam numerosos e todas as nações
abençoadas através deles (22:17-18). Depois, a mesma promessa foi confirmada a
Isaque (26:24) e a Jacó (27:29).
Por causa da obediência de Abraão à voz de Deus -
condição desta aliança - o Senhor voltou para jurar fidelidade à Sua promessa.
Estas três passagens devem ser consideradas como partes da aliança completa. A
aliança de Deus com Abraão incluiu os aspectos da semente, da terra e do
sacrifício, tudo o que era necessário para o plano de redenção.
A partir daí, o plano continuou e passou de um
indivíduo (Abraão) para uma família, da família para um grupo de tribos (os
doze filhos de Jacó) e do grupo de tribos para uma nação. Quando a descendência
da Jacó estava no Egito, multiplicando-se, Satanás começou a ficar nervoso.
Havia já milhares de descendentes, e ele não conseguia saber quem era a semente
prometida.
6. O Propósito Desta
Aliança
Leia Gálatas 3:6-29.
É de fundamental importância entendermos os
propósitos de Deus através desta aliança com Abraão. Sem uma interpretação
clara e correta deste ponto, muitas passagens, tanto do Antigo como do Novo
Testamento, se tornam destituídas de sentido. Examinemos cuidadosamente estes
propósitos:
1) Revelar a família da qual nasceria o Messias
(Gn. 12:3). Jesus era da descendência de Abraão (Gl. 3:16).
2) Mostrar que a herança espiritual se transmite
pela fé, e não por privilégio racial. Gálatas 3:16 fala do “descendente”. Isto
descreve a dupla natureza da aliança: a natural e a espiritual. Nós que, a
despeito da nossa origem racial, nos cremos filhos de Abraão, somos dessa forma
herdeiros da promessa a ele feita. “Sabei, pois, que os da fé é que são filhos
de Abraão” (Gl. 3:17). Perder esta verdade é cair no erro do literalismo em
exegese - erro comum dos fundamentalistas.
3) Fazer uma promessa de proteção e bênção
espiritual através do mesmo processo de aliança, ou seja, através da fé e da
obediência. Leia Gl. 3:8, 9, 14, 28, 29. Estes Versículos nos unem claramente à
aliança feita por Deus com Abraão, e nos chamam de “herdeiros de todas as
promessas”.
4) Declarar eterna a aliança de Deus feita com os
herdeiros espirituais da promessa. “Essa é a razão por que provém da fé, para
que seja segundo a graça, a fim de que seja firme a promessa para toda a
descendência, não apenas aos que estão sob o regime da lei, mas também aos que têm
da fé que Abraão teve (porque Abraão é o pai de todos nós)” (Rm. 4:16).
5) Mostrar Abraão como modelo para todos os que
crerem nas promessas de Deus. Tal interpretação da aliança estabelece para nós
uma direção confiável através do “labirinto de profecia”, tão confuso para
tanta gente.
Agora veja o que diz o Novo Testamento sobre os
que creem em Cristo:
a) Somos os filhos de Abraão - Rm. 4:16; Gl. 3:7.
b) Somos da circuncisão (o sinal da aliança com
Abraão - Fp. 3:3.
c) Somos o Israel de Deus - Gl. 6:16, Gl. 2:12,
13.
A conclusão destas evidências é que nas promessas
de Deus a Abraão e à sua descendência não foram feitas à sua descendência
natural, mas pertencem a todos os que tiveram uma fé como a dele.
7.
As Conclusões Desta Interpretação
Os descendentes de Jacó que não haviam crido, bem
como a posteridade de Ismael e de Esaú, foram excluídos das promessas feitas a
Abraão. Pertenciam à sua descendência física, não espiritual. Pois não creram
na promessa.
Também os judeus e israelitas de nossos dias, que
não creem, não são igualmente herdeiros das promessas de Deus. É um erro grave
e grosseiro fazer de tais homens blasfemos e corruptos herdeiros de Abraão e da
aliança de Deus.
Não podemos nos esquecer do que as Escrituras
dizem: “E se sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão e herdeiros
segundo a promessa” (Gl. 3:29).
A despeito de muitas interpretações proféticas
populares, que induzem a uma falsa compreensão da escatologia (acontecimentos
do fim dos tempos), não há como fugir a esta conclusão.
Seguida e insistentemente faz o apóstolo Paulo
referência à aliança com Abraão. Sua preocupação era ilustrar os privilégios
concedidos aos cristãos e as bases sobre as quais tal concessão é feita - uma
fé onde a obediência é a grande prova.
8. O Sinal Da Aliança
Leia Génesis 17:9-14.
Tenhamos em mente que a aliança com Abraão foi
condicional. Alguns evangélicos insistem que essa aliança era incondicional e
que, portanto, as promessas do concerto continuam em vigor para os judeus, por
serem descendentes carnais de Abraão. Assim, de acordo com esse raciocínio,
Deus tem um plano especial para a salvação dos judeus, distinto do plano para a
igreja. Nota-se, no entanto, que a Bíblia sugere que a aliança com Abraão era
condicional. Veja-se, por exemplo Génesis 17:9, onde é dito que Abraão e sua
descendência deveriam guardar o concerto que Deus fizera com eles. Génesis
18:18 e 19 relata que Abraão deveria ensinar seus filhos para que o Senhor
pudesse cumprir Suas promessas. Génesis 17:14 sugere que o concerto poderia ser
quebrado. Isso evidencia claramente que a aliança poderia ser quebrada ou
rompida por uma das partes, sendo, portanto, condicional.
Havia o sinal da circuncisão para identificar os
participantes dessa aliança (Gn. 17:11). A circuncisão deveria comunicar várias
verdades importantes, como assinalar o povo de Deus (ver Ef. 2:11); perpetuar a
memória do concerto (Gn. 17:11) e simbolizar a circuncisão do coração;
estimular o cultivo da pureza moral (Dt. 10:16); representar a justiça que vem
pela fé (Rm. 4:11) e prefigurar a ordenança cristã do batismo (Cl. 2:11 e 12).
Vez após vez, observamos ser a circuncisão física
a evidência do relacionamento com Deus através da aliança.
a) Exigia-se que todos os homens que comessem a
carne da páscoa fossem circuncidados (Ex. 12:44, 48).
b) A geração nascida no deserto carecia de
circuncisão antes de chegar à terra prometida (Js. 5:7, 8).
O ensinamento é claro: faltando o sinal,
automaticamente estaria a aliança quebrada. Génesis 17:14 diz: “O incircunciso,
que não for circuncidado na carne do prepúcio, essa vida será eliminada do seu
povo; quebrou a minha aliança”.
Temos que estar atentos ao princípio de que não
significaria a circuncisão física a automática garantia das bênçãos da aliança
para aqueles que, desobedecendo aos mandamentos de Deus, rompiam com ela. O
apóstolo Paulo esclarece muito bem este assunto, afirmando que, sem
envolvimento de fé, a circuncisão não tem valor algum (Rm. 2:28, 29).
9. Algumas Conclusões
Dos estudos e pesquisas feitas, podemos chegar às
seguintes afirmações referentes à aliança entre Deus e Abraão:
a) A escolha de Abraão e de sua descendência não
era para dar-lhes a exclusividade da salvação, mas para conceder-lhes os
privilégios e as responsabilidades da missão de mediar o plano salvífico de
Deus para todas as nações. Ela proclamou o alcance universal e internacional da
misericórdia divina.
b) Revelou a família da qual viria o Messias.
Embora, da perspetiva humana, Israel tenha falhado, da perspetiva divina, o
propósito mais amplo da aliança abraâmica foi alcançado através de Jesus
Cristo, a semente de Abraão.
c) Anunciou ser exclusivamente através da fé e da
obediência que nos tornamos herdeiros da promessa.
d) Revelou ainda Abraão como modelo de Cristo,
cuja descendência usufruiria dos benefícios da sua obediência a Deus (Gn. 15:5,
10, 11).
e) Mostrou-nos através da promessa de Canaã a
herança que temos em Cristo no Reino de Deus.
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