Leitura: Jonas 1-4
Introdução
Todos
os outros livros proféticos apresentam mensagens de Javé a Israel por
intermédio de um profeta. O livro de Jonas é singular por ser um relato do que
ocorreu a um profeta, não uma coletânea de suas mensagens. Uma vez que esse
livro foi colocado no cânon entre os profetas, podemos concluir que a história
das experiências e reações de Jonas é a mensagem. E a história envolve muito
mais do que ser engolido por um peixe.
Ao
estudar o livro de Jonas, que diz muito sobre a soberania de Deus, que fala de
maneira explícita e implícita, e nos ensina alguns conceitos valiosos sobre a
soberania de Deus, percebemos que fora escrito com o propósito de lembrar o
alto valor da pregação missionária e de lembrar que o conflito entre a vontade
humana e a vontade divina é o foco do livro, tal como o é em toda a Bíblia.
Muitas vezes estas duas vontades opõem-se. Quando o homem escolhe fazer a sua
vontade em vez de seguir a vontade divina encontra sempre problemas. Portanto,
é bom que aprendamos estas lições e nos lembremos delas para que possamos
manter o relacionamento certo com nosso Criador. Deus não quer que ninguém se
perca, mas deseja que todos venham ao arrependimento (2 Pd. 3:9).
A
vontade divina, no Antigo Testamento, era transmitida aos homens pela Lei
escrita, mais principalmente pelos profetas. A principal função do profeta era
comunicar ao povo a vontade do Senhor. A responsabilidade dos profetas do
antigo Testamento não era principalmente a de predizer o futuro no sentido
moderno da palavra “profetizar”, era mais a de anunciar a vontade de Deus que
Ele comunicara através da revelação, a de serviram como canais de comunicação
entre Deus e o seu povo, conscientizando-o acerca da vontade e do conhecimento
divinos. Na Nova Aliança, continua a ser a Palavra escrita a indicar-nos a
vontade do Senhor, em ligação ao Espírito Santo que habita em cada
nascido-de-novo (Hb. 1:1-2).
A
historicidade do livro de Jonas se comprova com 2 Reis 14:25 e pela referência
a Jonas feita pelo próprio Senhor Jesus em Mateus 12:39-41. Pelas
características, o livro é de autoria do próprio Jonas que, à semelhança de
Moisés, relata os acontecimentos com minúcias, procurando a glória de Deus e
não a sua. Seu livro difere consideravelmente dos outros livros proféticos do Antigo
Testamento, visto que é inteiramente composto de narrativa.
Jonas,
cujo nome significa “pomba”, Nascido em Gate-Hefer, perto de Nazaré e, portanto,
era galileu, bem como Naum, Malaquias e Jesus, que profetizou no Reino do Norte
durante a época de Jeroboão II, rei de Israel, no séc. VIII a.C. e que predisse
a expansão territorial conseguida por esse soberano (2 Rs. 14:25-27), foi
chamado para pregar a Palavra de Deus em Nínive. Mas, ele procura fugir,
embarcando para Társis, um lugar bem distante, onde, conforme se acreditava,
Javé não estava. Diante desta reação, Javé provoca uma forte tempestade. No
navio, os marinheiros estrangeiros trabalham duramente para sobreviver ao
temporal e, enquanto isso, Jonas, membro do povo de Israel, dorme profundamente
no porão. Ao ser questionado pelos marinheiros, o próprio Jonas pede que seja
atirado ao mar para aplacar a ira de Javé. Se morrer, não terá de assumir a
ordem de Javé. Mas um grande peixe, por ordem da divindade, engole-o e, após
três dias, vomita-o em terra firme. Nas entranhas do peixe, Jonas ora.
Novamente, Jonas recebe a ordem de ir a Nínive e, desta vez, obedece. Ele vai e
anuncia a destruição da cidade. Todos os habitantes se convertem: homens,
mulheres, rei e animais. Deus se compadece, e Jonas fica indignado com a
atitude misericordiosa de Javé.
A
história de Jonas é muito conhecida, e uma das cenas preferidas é a de Jonas
engolido por um peixe e sua permanência por três dias e três noites (Jn. 2:1-2:11).
As primeiras comunidades cristãs também conheciam esta história, e volta e meia
ela era relembrada. No evangelho de Mateus, lemos: “Como Jonas esteve no ventre do monstro marinho por três dias e três
noites, assim ficará o Filho do Homem três dias e três noites no seio da terra”
(Mt. 12:40). A conversão dos habitantes de Nínive é citada como modelo e
censura para Israel (Mt. 12:41-42; Lc. 11:32).
A fuga de Jonas não é diferente da
atitude de muitos hoje. Esse comportamento de fugir de Deus não aconteceu
somente com Jonas, mas também ocorre com muitas pessoas. Podemos traçar um
paralelo entre as razões da fuga de Jonas e de suas consequências com alguns
dos motivos pelos quais os filhos de Deus fogem aos propósitos Dele nos dias
atuais, assim como, as consequências que essas fugas trazem. Israel se tinha
afastado muito de seu chamado missionário original, pois deveria estar sendo
uma luz de redenção para os povos (Gn. 12:1-3; Is. 49:6. Este livro é um sério
apelo para a ação evangelística e missionária da Igreja, que foi chamada para
proclamar a palavra.
I
- O Mundo Clama Por Profetas (1:1-2:10)
Os
tempos são difíceis. A nossa cidade, o nosso país e o mundo clamam por pessoas
que estejam dispostas a anunciar a Palavra e Deus quer levantar pregadores. Foi
isso que ocorreu com Jonas. Urge que o povo se mobilize. Não dá para virar o
rosto como os religiosos da Parábola do Bom Samaritano. Contudo, faltam
profetas!
Precisamos
de profetas que pela transformação do seu carácter e do ensino acerca da
misericórdia divina, com obediência incondicional e conhecedores de que o amor
de Deus se estende a todos os homens, forneçam
conteúdos éticos à consciência política e ao tecido social; que sejam capazes
de encarar até a autoridade máxima da nação para defenderem viúvas pobres; que amargam
a pobreza para denunciar desvios morais entre o povo. Precisamos de
profetas que mostrem a impotência dos rituais religiosos para mudar realidades;
que tenham a coragem de Isaías para proclamar: “Parem de trazer ofertas inúteis…
Não consigo suportar vossas assembleias cheias de iniquidade… Quando estenderem
as mãos em oração, esconderei de vós os meus olhos; mesmo que multipliquem as vossas
orações, não as escutarei” (Is. 1:13)!
Precisamos
de profetas que sintam
as dores divinas, que percebam que a história está descambando, que sofrem,
indignados com a banalização da vida e com a morte desnecessária de inocentes,
que mais do que porta-vozes do além, encarnam o coração paterno de Deus, colocando-se
na brecha, com
o dedo em riste, saiam
do palácio para clamar no deserto, mesmo sabendo que não serão ouvidos, insistem
em prenunciar os despenhadeiros que a falta de amor abre, avisando que o
jejum que Deus quer não é abstinência de comida, mas o esforço para se
restabelecer a justiça: “Será esse jejum
que escolhi, que apenas um dia o homem se humilhe, incline a cabeça como o
junco e se deite sobre pano de saco e cinza? É isso que vós chamais de jejum,
um dia aceitável ao Senhor? O jejum que desejo não é este: soltar as correntes
da injustiça, desatar as cordas do jugo, pôr em liberdade os oprimidos e romper
todo o jugo? Não é partilhar sua comida com o faminto, abrigar o pobre
desamparado, vestir o nu que encontrou, e não recusar ajuda ao próximo”
(Is. 58:5-7)?
Precisamos
de profetas que não fujam da picada das dificuldades; que as suas palavras sejam
martelos que despedaçam os corações de pedra; que de seus olhos saiam faíscas
do fogo consumidor da justiça; que como moscas atrapalham a sala do perfumista
corrupto. O
país carece de homens que não tenham preço. É necessário surgirem profetas que,
a exemplo de Micaias, não permitam que seus nomes constem na folha de pagamento
dos poderosos. Josafá, rei de Judá, desejou firmar uma aliança com o rei de
Israel, mas antes procurou consultar a Deus. Acabe tinha cerca de 400 profetas
assalariados. Josafá se intrigou com a unanimidade e pediu para se aconselhar
com alguém independente. Havia Micaías, que estava preso. Ao buscá-lo, o
mensageiro advertiu: “Veja, todos os outros profetas estão predizendo que o rei
terá sucesso. Sua palavra também deve ser favorável”. Micaías, porém,
respondeu: “Juro pelo nome do Senhor que direi o que o Senhor me mandar” (1 Rs.
22).
Precisamos
de profetas que não alicercem seus ministérios em blefes do jogo do poder, em dar um ar
de status, um ar de poder, de acesso privilegiado ao sobrenatural, em manifestações
sobrenaturais de sinais, mas que estejam contentes de poderem transmitir a
verdade de Jesus. Que sejam como João Batista, pois nenhum milagre se fez por
intermédio dele, mas tudo o que ensinou a respeito de Jesus era verdade (Jo. 10:14).
Quem dera se mais homens falassem como Paulo: “Os judeus pedem sinais miraculosos, e os gregos procuram sabedoria,
nós, porém, pregamos a Cristo crucificado, o qual, de facto, é escândalo para
os judeus e loucura para os gentios, mas para os que foram chamados, tanto
judeus como gregos, Cristo é o poder de Deus e a sabedoria de Deus” (1 Co.
1:22).
Precisamos
de profetas que sejam sentinelas nas
muralhas que protegem as cidades, bússulas na incipiente ética primitiva,
faróis da esperança futura; que saibam lamentar como Jeremias e
chorem porque o processo de evangelização no país priorizou salvar almas e não
pessoas; prometeu o céu, mas descuidou em gerar ações transformadoras da
história, gastou recursos financeiros em proveito da própria instituição e
desperdiçou oportunidades de ser referência ética. O país precisa de mais
profetas chorões. Só eles saberão fazer a espiritualidade ser mais solidária
com os miseráveis da terra.
Precisamos de
profetas que sabe escutar e atender o chamado de Deus para a vida; que sentem
as dores de Deus ao olhar para os seus filhos que se estão perdendo; que se
deparam com o mundo e choram ao ver o rumo maldito que as coisas estão tomando;
que compreendem e vivem a plenitude do amor divino e, por isso, “não se
conformam com esse século”; que protestam onde e a quem for preciso,
denunciando tudo o que se opõe à vida sem temer, dotadom da força e coragem do
Reino, afrontam o rei, imperador, sacerdote, presidente, deputado, papa,
pastor, a sociedade inteira se for preciso, dispostos a andar na contramão se
for este o caminho que aponta para a vida e justiça, guiados pelo amor.
Precisamos de profetas que sempre clamam ainda que
ninguém os ouça, ainda que ameaçados, tachados de loucos e deixados de lado;
que estando sozinhos, falam e agem mesmo assim, porque mesmo que o povo os
rejeite, o sistema religioso os condene e os persiga, Deus está com eles. Precisamos
de profetas que se esqueçam de si próprios e enfrentem a peleja apesar das
circunstâncias, mesmo sabendo que, provavelmente, só quando estiverem mortos
dirão: “eles tinha razão”.
Precisamos de profetas que sejam como chama de
esperança para os homens, como porta-vozes do Reino e do amor de Deus para a sua
criação. Num mundo como o de hoje, onde os valores são trocados e a religião
corrompida, um mundo de relacionamentos falidos, de homens sozinhos, os
profetas são fundamentais. Deus já o tem chamado há muito tempo para esse
ofício? Se ainda não ouviu a Sua voz, o momento chegará.
Os
dias são difíceis. Oremos para que se levantem pregoeiros da justiça antes que
as pedras comecem a clamar. Sem eles, Deus não fala, o
futuro inexiste, toda a perspectiva se esgarça e o inferno se viabiliza. Nunca
se precisou tanto deles, principalmente, agora, nesse protestantismo cooptado
pelo mercado e instrumentalizado pela ganância.
O profeta toma para si o problema dos outros, assume a
responsabilidade do mundo. Quando tudo diz morte, o profeta clama vida; quando
tudo diz individualismo, soberba e ganância, o profeta brada comunhão e partir
do pão; quando todos dizem lei, o profeta diz amor. O profeta é apaixonado.
Apaixonado por Deus, apaixonado pela vida.
a)
O chamado (1:1-2). Jonas
ben Amitai foi um profeta que predisse a expansão do reino do norte no reinado de
Jeroboão II, por volta de 780 a.C. (2 Rs.14:25). O livro de Jonas nada nos fala
de sua atividade profética em Israel. Simplesmente começa com a ordem de Javé
para que profetize contra a perversa Nínive. Em vez de ir para leste, rumo à
Assíria, Jonas embarcou num navio para Társis – em direção oposta, para longe
da presença do Senhor (v. 3), o mais longe que a mente da época conseguia
imaginar.
A
vontade humana é simbolizada no livro de Jonas por Társis, pois era a vontade
do profeta a sobrepor-se. Jonas, ao invés de obedecer, indo para Nínive, decide
fugir para o lugar mais distante, então conhecido, isto é, a cidade de Társis,
localizada ao sul da Península Ibérica. A ida para Társis foi iniciativa humana
e contrária à ordem do Senhor.
Na
Bíblia, normalmente, os profetas são pessoas obedientes e exemplares. Contudo
isto não aconteceu no caso de Jonas: “Os profetas não eram meros autómatos,
pois tinham poder de resistir à vontade de Deus. Todavia, este é o único caso
de que se tem notícia de um profeta que se recusou a levar a cabo a sua
comissão”.
A
vontade do Senhor para o mundo é a salvação de toda a humanidade: “...o qual deseja que todos os homens sejam
salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade” (I Tm. 2:4). A vontade
divina para o homem como colectividade é simbolizada no livro de Jonas por
Ninive, uma grande cidade, capital da Assíria, nas margens do rio Tigre, com
uma população de mais de 120 mil pessoas (Jn. 4:11), conhecida pela sua
corrupção, pela sua maldade que incluía a idolatria e a extrema brutalidade
contra os prisioneiros de guerra além de forte imoralidade (1:2). A ordem
acerca da ida do profeta para levar a Palavra à cidade reflecte uma preocupação
pelo colectivo, pois Jonas não foi enviado a uma pessoa única, como aconteceu a
outros profetas (por exemplo: Elias e a viúva de Sarepta em I Rs. 17). Esta é
uma cidade pagã, inimiga de Israel. No entanto, o desejo de salvação universal
é claramente manifesto pela ordem (“Levanta-te”) dada a Jonas para pregar ali o
arrependimento (Jn. 1:2).
b)
Um missionário desobediente – Fugindo de Deus e do Dever (1:3). Jonas evidentemente era muito patriota e não perdeu as esperanças em seu
país, mesmo nos dias mais sombrios. Portanto, essa missão a Nínive não era do
seu agrado, visto que não sentia o desejo de ver essa grande cidade gentia
arrependida, de joelhos. E ainda iria passar-se um século antes que Isaías e
Miqueias proclamassem que o mundo gentio se voltaria para Deus (Mq. 4:1-2; Is.
2:2).
Em vez de desincumbir-se dessa missão de
misericórdia, Jonas correu para o porto em direção a Társis, numa tentativa de esquivar-se ao seu dever.
Como pode um homem imaginar poder escapulir dos planos do Senhor que
tudo vê (Hb. 4:13)? O pecado é sempre
uma descida; sempre temos de pagar pesadas taxas e passagens quando seguimos
nosso próprio caminho em lugar do de Deus, e jamais devemos supor que a
possibilidade de fazer algo significa permissão.
c)
As consequências da desobediência (1:4-17). Cansado
pelo nervosismo e pela viagem, o profeta nem se percebeu da partida do navio.
As adversidades que bloqueiam o caminho da desobediência são mais duras do que
as dificuldades para atender a ordem de Deus.
O
pecado produz sempre algo negativo para aquele que o pratica, quer este seja ou
não servo do Senhor. A confiança em si próprio é já, em si mesma, pecado, e
conduz à desobediência. A desobediência, por seu lado, é a expressão da vontade
humana.
Obviamente
a atitude de Jonas não ficaria sem retribuição. Como um exemplo da soberania de
Deus no livro de Jonas vemos como Deus empregou a sua criação para cumprir o
seu plano divino. Observemos a operação divina: “Veio a palavra do Senhor… o Senhor lançou um forte vento e fez-se no mar uma grande tempestade, e o navio estava a
ponto de se despedaçar (v. 4). Preparou o Senhor um grande peixe” (v. 17). Vemos então como Deus
controlou os elementos do tempo para trazer o seu propósito desejado, para
chamar a atenção de Jonas. Aqueles marinheiros gentios, a quem Jonas causou
pavor e desespero (1:4-11), provocou uma situação suicida (1:12-16), possuíam
belos traços que deveriam ter deixado o profeta envergonhado. As orações deles
aos seus ídolos e o seu esforço para salvar esse estrangeiro hebreu são
admiráveis além de ser uma lição para nós.
No
meio da tempestade, em que o mar ficava cada vez mais tempestuoso (vs. 11, 13),
depois da desobediência, Jonas reconheceu que pelo facto de ser profeta do
Senhor, não significava que pudesse ter qualquer atitude impunemente e,
portanto, reconheceu que a tempestade tinha origem divina, e que a finalidade
era impedir a sua fuga. Ele sabia discernir quando era o Senhor a agir. Por
isso, Jonas desistiu da sua fuga e ofereceu a sua vida para que a vida dos
marinheiros fosse salva. É surpreendente esta mudança! Depois de ver que não
podia escapar ao poder de Deus, resolve entregar-lhe a vida (Jn. 1:12).
Enquanto Nínive era uma cidade distante, os marinheiros eram pessoas que
conheceu face a face. Jonas sentiu o seu medo e aflição. Talvez por isso Jonas
tenha conseguido identificar-se com aqueles homens pagãos e decidir trazer
sobre eles a bênção da vida.
Muitas
vezes os cristãos não agem assim, mas ignoram os que os rodeiam. Isto porque
para muitos de nós, diferentemente de Jonas, a tragédia do mundo parece nada
ter a ver connosco. Todavia tem tudo a ver. A razão é simples: aqueles que são
designados a ser bênção para o mundo tornam-se maldição para a sociedade,
quando não assumem seu papel de bênção na vida.
Os
cristãos muitas vezes têm a sua salvação por garantida e colocam em segundo
plano a obediência ao Senhor. A Bíblia diz que a eleição divina não depende de
obras: “... (pois não tendo os gémeos ainda nascido, nem tendo praticado bem ou
mal, para que o propósito de Deus segundo a eleição permanecesse firme, não por
causa das obras, mas por aquele que chama)...” (Rm. 9:11). No entanto, ainda
que a eleição não dependa de obras, após a eleição devem existir obras (Tg.
2:14).
Quando
a vontade humana se submete à vontade divina e a carne se submete ao Espírito,
dá-se um fenómeno geralmente denominado de conversão. A conversão do homem é
sujeição da vontade ao Senhor. Isto implica a renúncia do “eu” humano em função
do “Eu” divino. Por isso Paulo diz de si mesmo: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive
em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé no filho de Deus, o qual
me amou, e se entregou a si mesmo por mim” (Gl 2:20).
Jonas,
devido à sua desobediência ia perdendo a vida na tempestade (Jn. 1:4, 15, 17).
Assim, também, Cristo, ao tomar sobre si a nossa desobediência foi castigado em
nosso lugar pagando com a morte. O pecado é sempre uma desobediência e a sua
consequência é sempre morte, seja ela na vida espiritual, na vida material ou
na vida física, como está escrito: “Porque
o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em
Cristo Jesus nosso Senhor” (Rm. 6:23).
d)
O clamor durante a calamidade – Uma Oração nas Profundezas (2:1-9). O vento e as
ondas obedeceram a Deus, mas Jonas não obedeceu. Ao exercer o seu livre
arbítrio, primeiro ele se recusou a ir a Nínive como Deus havia mandado. Como
resultado desta desobediência, Deus deu uma oportunidade para Jonas se
arrepender. Depois de ser lançado ao mar pelos colegas do navio, ele foi
engolido por uma criatura do mar. O versículo 17 do capítulo 1 diz que a
criatura que o engoliu foi preparada por Deus. Tem-se preocupado muito no
decorrer dos anos em relação à identidade desta criatura.
O
grande peixe era, provavelmente, um tubarão. O mesmo que enviou a tempestade
preparou o peixe. A vida é cheia de expedientes por parte do grande Amigo dos
homens. Seja qual for a nossa opção o amor paterno do Senhor está connosco para
nos ajudar, sem desistir de nós, a encontrar o caminho certo. Na desobediência
humana, a presença do Senhor mantém-se e pode contemplar-se, como em nenhuma
outra ocasião, a incompreensível misericórdia divina. Mergulhar nas ondas é
cair nos braços dele. Várias vezes já foram encontrados corpos humanos no
ventre de tubarões no Mediterrâneo.
Jonas,
quase a afogar-se na tempestade, foi salvo pelo peixe que o engoliu. O Senhor não
deixou, simplesmente, que o profeta morresse, mas voltou a dar-lhe mais uma oportunidade.
O Senhor deseja dar-nos sempre uma nova oportunidade! Ao “castigo” sobre Cristo
seguiu-se também uma nova oportunidade para a humanidade.
A
eficácia da oração tem sido comprovada nas mais diversas situações e Deus tem
respondido a homens e mulheres que têm clamado dos mais variados lugares na
face da terra, mesmo dentro do “ventre de um peixe” (2:1). Deus miraculosamente
manteve Jonas vivo por três dias no estômago do peixe. Por ser um facto
verídico Jesus, usou o incidente do peixe que engoliu Jonas para ilustrar sua
própria morte, sepultamento e ressurreição (Mt. 12:39-41).
O
Salmo que se segue é de grande inspiração para os que caíram nas profundezas
por causa de seus erros. Deus os ouvirá, mesmo que gritem do “ventre do
abismo”. Se alguém pensa que foi lançado fora das vistas de Deus para sempre,
olhe para o “seu santo templo”, e verificará que o amor divino está gradualmente
retirando-o do abismo. Confiar em nossos próprios esforços e expedientes é
entregar-nos à idolatria vã e abandonar aquele que nos é misericordioso. “Ao
Senhor pertence a salvação”. A natureza inteira aguarda a palavra de Deus.
Tanto os enormes tubarões como os menores peixinhos estão sob o comando de Deus
para auxiliar o homem. Apenas “lembrem-nos” de Deus, e, depois quando formos
libertos, não deixemos de pagar os nossos votos!
Foi
sempre o amor que provocou a acção do Senhor para com Jonas: o amor por Ninive,
o amor pelos marinheiros, o amor por Jonas... É por amor que Deus intervém na
viagem do barco onde viajava o profeta, como comenta Caio Fábio: “De repente os
até então bem-sucedidos planos de Jonas são confrontados pelo pior de todos os
oponentes: o amor apaixonado de Deus. Isso porque nenhuma fuga de Deus dura
para sempre, quando aquele que foge é alguém que o conhece.”
e)
O arrependimento de Jonas (2:10). O arrependimento e a mudança de carácter
estão sempre nos objectivos de Deus ao lidar com o ser humano. O Senhor corrige
aqueles a que ama como diz a seguinte passagem: “Ainda não resististes até o sangue, combatendo contra o pecado; e já
vos esquecestes da exortação que vos admoesta como a filhos: Filho meu, não
desprezes a correcção do Senhor, nem te desanimes quando por ele és
repreendido; pois o Senhor corrige ao que ama, e açoita a todo o que recebe por
filho. É para disciplina que sofreis; Deus vos trata como a filhos; pois qual é
o filho a quem o pai não corrija? Mas, se estais sem disciplina, da qual todos
se têm tornado participantes, sois então bastardos, e não filhos. Além disto,
tivemos nossos pais segundo a carne, para nos corrigirem, e os olhávamos com
respeito; não nos sujeitaremos muito mais ao Pai dos espíritos, e viveremos? Pois
aqueles por pouco tempo nos corrigiam como bem lhes parecia, mas este, para
nosso proveito, para sermos participantes da sua santidade. Na verdade, nenhuma
correcção parece no momento ser motivo de gozo, porém de tristeza; mas depois
produz um fruto pacífico de justiça nos que por ele têm sido exercitados”
(Hb. 12:4-11).
A
experiência de Jonas dentro do peixe foi para ele o mais valioso dos “retiros espirituais”.
Jonas viu que estava fazendo tudo errado (v. 9). Ali, percebendo que agia como
um idólatra (ou ateu), encontrou o arrependimento e a consciência da grandeza e
do poder de Deus, e retomou o caminho da obediência (1 Sm. 15:23).
Existem
semelhanças entre a experiência de Jonas e a experiência de Cristo. Jonas
sente-se como estando no “Sheol”, termo hebraico para “lugar dos mortos” ou
“inferno”. A oração de Jonas poderia ser a oração do Senhor quando se
encontrava nas “profundezas da terra”, durante o tempo em que esteve morto. Ela
reflete a angústia e o isolamento como consequência directa do pecado (Jn. 2).
O arrependimento cancela toda a maldição
ou consequência espiritual de pecados passados (Jn. 3:10). Não há outro caminho
possível, apenas o arrependimento ou a morte, seja ela espiritual ou física.
Jonas só quando se encontrou próximo da morte é que encontrou o arrependimento
(Jn. 2:7). Ao seu arrependimento seguiu-se a vida na presença do Senhor, como
está escrito: “Arrependei-vos, pois, e
convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, de sorte que venham
os tempos de refrigério, da presença do Senhor” (At. 3:19).
II - UM MUNDO
CLAMANDO POR MISSÕES
Nossa
teologia determina a nossa visão de mundo. Precisamos de viver como cidadãos de
dois reinos. Nossa missiologia precisa de ser teologicamente fundamentada, e
nossa teologia missiológica focada.
Deus
havia chamado o profeta e lhe havia dado uma mensagem a proclamar. E o
resultado da pregação é declarado e conhecido de antemão. Em outras palavras, o
propósito divino é feito conhecido e realizado por um Deus que está disposto e
capaz de fazer tudo o que Ele deseja. Deste modo, a segunda parte do livro
mostra um novo Jonas, arrependido e disposto a cumprir o mandado missionário.
a)
O novo chamado (3:1-2). A vida está cheia de distrações e interrupções. Uma
coisa que a fé em Deus faz é nos trazer de volta ao centro. Nos traz de volta
ao lugar onde devemos estar. É desta posição que podemos discernir o nosso
verdadeiro lugar neste mundo e o nosso relacionamento com Deus. Ele é uma força
inevitável. Ele está no controle. Ele rege. Quanto mais cedo aprendermos esta
lição, mais cedo descobriremos o seu verdadeiro sentido e sua direção nas
nossas vidas.
Por
mais que tentasse, Jonas não podia escapar de Deus. Quanto mais ele tentou
cumprir a sua própria vontade, mais forte Deus o puxou de volta. A chamada de
Deus é sonora e clara. O alcance de Deus é longo e largo. A vontade de Deus não
pode ser evitada ou negada sem consequências. Jonas pôde correr mas não pôde se
esconder, e nem nós podemos.
Javé deu uma nova oportunidade a Jonas, voltando a
convocá-lo para ir a Nínive, dizendo: “levanta-te”. Dessa vez, Jonas que estava na praia, por certo ainda meio
confuso com tudo o que ocorrera, mas percebendo que não adianta fugir da
obrigação de entregar mensagens duras, foi.
As únicas palavras registadas de sua mensagem profética são: “Ainda quarenta
dias, e Nínive será subvertida” (3:4). Surpreendentemente “os ninivitas creram
em Deus” (v. 5). O povo e o rei de Nínive (v. 6) vestiram-se de panos de
saco, e dedicaram-se ao jejum, à oração
e ao arrependimento para evitar a destruição. Javé perdoou devidamente.
Os
pregadores do Evangelho são semelhantemente convocados a proclamarem todo o
conselho de Deus (At. 20:27; 2 Tm. 4:2). Devem pregar tanto a misericórdia
quanto a ira de Deus; ou seja, o perdão e a condenação. Devem pregar de tal
forma que as pessoas que ouvem se voltem de seus pecados.
Agradeçamos
a Deus pelas segundas chances que ele nos dá. Dessa vez o profeta não hesitou.
Levantou-se e foi. A história de sua libertação parece ter chegado a Nínive e ter
preparado o povo da cidade para receber a palavra dele (Lc. 11:30). Só devemos
pregar e entregar as mensagens de Deus do modo como ele ordena. Ele nos dirá o
que devemos dizer.
b)
O missionário obediente (3:3-4). Apenas ao compreendermos a soberania de
Deus que é Absoluto, Senhor, Supremo, Soberano, e se O reconhecemos como tal, podemos
compreender a importância de inteiramente obedecer a Deus e não aos homens (At.
5:29). Apenas então podemos apreciar o aviso, “Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes,
aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo” (Mt.
10:28).
Toda
a obediência deve, acima de tudo, ter como raiz o amor. Sem amor nenhum acto
tem valor para o Senhor, como está escrito: “E ainda que distribuísse todos os meus bens para sustento dos pobres, e
ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada
disso me aproveitaria” (I Co. 13:3).
Nínive
era importante por abrigar mais de 120 mil almas; essa era a preocupação e o
seu valor para Deus (4:11). A submissão de Jonas pode ser vista por expressões
significativas, tais como: “Levantou-se... e foi” (3:3); “começou Jonas a
percorrer a cidade... e pregava” (3:4).
A
obediência tem grande importância para o Senhor. Foi com uma desobediência que
entrou o pecado no mundo, mas foi com uma obediência que esse pecado foi
vencido (I Co. 15:21-48). “Tomar a cruz” é obedecer e todos somos exortados a
tomar a nossa cruz e a seguir o Senhor, como está escrito: “E chamando a si a multidão com os
discípulos, disse-lhes: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome
a sua cruz, e siga-me” (Mc. 8:34). A importância da obediência é tal que no
livro de Actos o Espírito Santo é referido da seguinte forma: “... o Espírito Santo, que Deus deu àqueles que
lhe obedecem“ (At. 5:32).
Ser
servo do Senhor é opor-se ao individualismo, que é uma doutrina moral,
econômica ou política que valoriza a autonomia individual, em detrimento da
hegemonia da coletividade despersonalizada, na busca da liberdade e satisfação
das inclinações naturais, e ao culto do eu, que diz respeito ao conjunto de
atitudes ou comportamentos de um indivíduo que se refere essencialmente a si
mesmo. Em Isaías 53, fala do Servo que se oferece a sim mesmo para obedecer.
Jonas obedeceu a segunda vez, dizendo: “o que votei pagarei...” (Jn. 2:9). Provavelmente
havia prometido, como profeta que era, ir onde o Senhor o enviasse. Na sua
segunda oportunidades decide pagar os seus votos.
Cristo,
com alegria, obedeceu sempre à vontade do Pai, dizendo: “...A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou, e completar
a sua obra“ (Jo. 4:34). Ele obedeceu até à morte: “...e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, tornando-se
obediente até a morte, e morte de cruz” (Fp. 2:8). Filipenses 2 contrasta
com a atitude de Jonas. Este obedeceu, mas não de coração, pois foi necessário
chegar perto da morte.
c)
Consequências da obediência (3:5-10). - A pregação de Jonas produziu
resultados e os moradores de Nínive arrependeram-se de seus pecados. Houve, por
um certo período, um retorno ao monoteísmo.
O
arrependimento foi geral (v.5); foi prático (v. 8); e voltado para Deus (v. 9).
Que contraste com Israel! Ali, vários e vários profetas foram repelidos e mesmo
mal tratados. Seja qual for o tipo de temor que a mensagem despertou nos
homens, o facto é que da parte de Deus não houve hesitação. Ele perdoou
plenamente! (Ver Is. 55:7).
Nessa
fase aconteceram duas grandes pragas, nos anos 765 e 759 a.C., e um eclipse
solar, em 763 a.C. Esses acontecimentos podem ter sido interpretados como
sinais de julgamento divino e, portanto, preparado a cidade para receber a
mensagem profética de Jonas. Como expressão visível de seu verdadeiro
arrependimento, “eles jejuaram, vestiram-se de pano de saco” (3: 5).
d)
Lição e censura a Jonas – Deus Censura a Visão Limitada do Profeta (4:4-11).
Quando Deus agiu, salvando os ninivitas,
Jonas ficou contrariado (v. 8), e toma a iniciativa de fugir para Társis, porque
está apenas a pensar em si mesmo e na segurança política de Israel. Jonas se esqueceu
de todos os votos que muito provavelmente fizera como profeta (Jn 2:9) e decide
“fugir” da presença do Senhor, como se isso fosse possível. Para Israel, a
presença do Senhor estava em Jerusalém, mais especificamente no templo, logo
Jonas pensou que se afastasse o mais possível de Jerusalém conseguiria fugir do
Senhor (I Rs. 9:7 II Rs. 17:20, 23; 24:20; Jr. 52:3). O profeta em primeiro
lugar procura isolar-se, mas não é o lugar físico onde se encontre que o afasta
de Deus e sim o seu pecado de desobediência. Assim como a sua separação do
Senhor não é da “sua presença”, mas da “sua comunhão”.
Jonas tinha a escolha de ir a Nínive ou
de fugir. No primeiro capítulo, o vemos fugindo de Deus mas depois, no terceiro
capítulo, quando Deus o manda para Nínive, ele decide ir. O povo de Nínive
encarou a certeza de destruição iminente por causa dos seus pecados passados e
persistentes. Mesmo assim, sem Jonas oferecer uma alternativa para eles,
escolheram se arrepender dos seus pecados. Eles assim fizeram na esperança de
transformar a ira de Deus em bênçãos. Deus não sente prazer em destruir as
pessoas. “Porque não
tenho prazer na morte de ninguém, diz o Senhor Deus. Portanto, convertei-vos e
vivei” (Ez. 18:32). No Novo Testamento aprendemos que “Ele é longânimo para convosco, não querendo
que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento” (2 Pe.
3:9). Por causa do arrependimento de Nínive, Deus com o seu poder soberano
reverteu a sua decisão de destrui-los.
Ninive era um inimigo político de
Israel. Mas Deus olha para todos os homens com o mesmo interesse. O profeta,
porém, não considerou de importante pregar o arrependimento a uma nação pagã,
tão desagradável aos israelitas. Jonas apenas estava pensando só em si, no seu
bem-estar, naquilo que lhe agradava, no seu prazer, no seu conforto. Esse é um
paradoxo que se vivência quando se está encharcado de perspectivas ideológicas
do tipo colectivista. Neste caso o colectivismo pode gerar um tremendo egoísmo
em relação a um único ser que a pessoa não deixa de levar em consideração, que
é ele próprio.
Ele colocou os seus interesses pessoais
à frente dos interesses do reino de Deus. Foi preciso que Deus o levasse a
sentir o valor de uma alma. Se Jonas creu ser razoável irar-se por uma planta
com a qual não contribuiu em nada para a sua existência, como não dar a face
para compreender o tão grande e poderoso amor de um Deus-Criador, que fizera
com carinho e doçura cada criatura que estava naquela metrópole?
A
visão de Jonas quanto à sua missão se reduziu em função da sua cartilha
ideológica. Sua atitude obstinada contra Ninive não é propriamente o resultado
do seu senso de justiça, mas do seu condicionamento ideológico. Prova disso é o
facto de que encontramos nele duas categorias de justiça. A primeira é aquela
justiça que ele aplicava aos que estavam do lado de fora de Israel, vistos por
ele como inimigos dos seus sonhos políticos e nacionalistas.
Esse
capítulo assinala uma era no desenvolvimento da visão espiritual do povo
hebreu. Aqui uma cidade gentia que se arrependeu foi perdoada. Ficou claro que
Javé era Deus não apenas dos hebreus, mas também dos gentios. Contudo, Jonas
não sentiu prazer nessa revelação. Apegou-se à amarga estreiteza do preconceito
nacional, temendo que, quando o seu povo recebesse a notícia do arrependimento
e livramento de Nínive, se sentisse fortalecido em sua obstinada rejeição da
lei de Deus.
Jonas
toma uma posição carnal ao colocar o seu comodismo pessoal acima de valores
eternos. Enquanto a cidade de Ninive perecia, o profeta pensava apenas no seu
bem-estar pessoal. Tal como Jonas, muitas vezes os cristãos fogem à
responsabilidade da pregação aos ímpios (Jn. 1:3).
e)
Deus expressa o seu amor por Nínive: Todo o capítulo 4 do livro de Jonas é
uma lição acerca do amor e misericórdia de Deus. O amor do Senhor estende-se a
todos os homens e não apenas aos seus profetas ou servos. Até os animais são
alvo da misericórdia divina. Sabiamente, usando uma aboboreira, Deus ensinou
acerca da compaixão.
Isto
porque Jonas traz a Deus as suas queixas, suas razões, seus complexos, sua
amargura, seus direitos, suas reivindicações, e no fim ouve Deus dizer: “Alto
lá! Tu te preocupas com a sombra para a tua cabeça enquanto queres que o meu
fogo caia na cabeça de uma cidade? Tu te preocupas com a vida de uma planta, e
não dás a mínima para a existência de toda uma civilização? Tu sofres a perda
do que não te custou nada e queres que eu despreze o que criei? Então Deus diz:
“Alto lá, Jonas, eu tenho mais o que fazer”! Sou Eu quem está no controle do
destino das nações. A cidade de Nínive e o seu futuro está sob o meu controle.
Se é desejo meu destrui-la, será destruída. Se meu desejo é salvá-la, será
salva.
Jonas não tinha nenhuma soberania no
assunto. Não seria feito de acordo com a sua vontade, mas de acordo com a
vontade de Deus. Paulo, ao falar com os atenienses, disse: “de um só fez toda a raça humana para habitar
sobre toda a face da terra, havendo fixado os tempos previamente estabelecidos
e os limites da sua habitação” (At. 17:26).
O destino dos homens e das nações está
na mão soberana de Deus. Foi pela soberania de Deus que a mensagem chegou a
Nínive. Se Jonas tivesse insistido na sua recusa de ir a Nínive, teria impedido
Deus de enviar outro? Certamente não! Deus poderia ter enviado um outro
profeta. Aqueles que pensam que as nações se levantam e caem por causa de uma
defesa nacional forte, prosperidade económica, alianças com outras nações, ou
pela vontade dos homens, são ignorantes da soberania de Deus.
1) O amor do Criador por seus
filhos, embora tenham eles vivido em pecado e rebelião contra suas Leis, vai
além de qualquer amor ou sentimento humano (Rm. 5:8).
Jonas foi enviado a pregar a salvação
para o maior inimigo de Israel: a Assíria. Esta é a nova lei de Cristo, amar o
mundo, amar o inimigo... Cristo soube perdoar aqueles que executavam a sua
própria morte.
Esta é a sua vontade: o amor a Ele mesmo
e o amor aos homens. Tudo o que Ele nos ordena caminha para este alvo. Este é o
“caminho excelente” que Paulo descreve em I Coríntios 13.
2) O amor de Deus pela humanidade
estende-se para além de qualquer fronteira, até às pessoas perdidas em qualquer
lugar. Esta verdade foi plenamente vista:
a) quando Deus enviou seu Filho Jesus
para morrer por todas as pessoas (Jo 3:16); e
b) quando Jesus enviou os discípulos a
todo o mundo para pregar o Evangelho e fazer discípulos de todas as nações (Mt.
28:18-20).
Deus
é universal e ama todo o mundo (Jo. 3:16): ele ama tanto o judeu como o gentio
e deseja o arrependimento de todas as nações. O livro de Miqueias refere esta
ideia: “Quem é Deus semelhante a ti, que
perdoas a iniquidade, e que te esqueces da transgressão do resto da tua
herança? O Senhor não retém a sua ira para sempre, porque ele se deleita na
benignidade” (Mq. 7:18). A misericórdia divina é sem limites e foge à nossa
compreensão. Em Jonas 4:11, diz ter compaixão dos homens e até mesmo dos
animais, por isso derramou sobre Nínive o seu perdão. No final todos aprenderam
acerca do amor do Pai. Caio Fábio comenta esta lição da seguinte forma: “Jonas
diz: “Eu sabia”, mas na realidade não sabia nada sobre o amor de Deus (4:2). Já
os ninivitas dizem: “Quem sabe?” (3:9) afirmando suspeita cheia de convicção. E
recebem a graça que suspeitam existir no coração de Deus”.
Conclusão
Jonas
é o mais humano de todos os profetas. Talvez por isso tenha sido escolhido para
simbolizar Cristo no seu sacrifício pela humanidade. A história de Jonas pode
descrever de forma simples a tentativa divina de conduzir o homem à obediência
incondicional, ao amor ao inimigo e ao entendimento acerca da pessoa de Deus.
Cristo,
agindo em substituição do homem pecador, foi castigado em seu lugar descendo ao
Sheol. Após esta experiência seguiu-se a salvação para o mundo. Assim também
Jonas pagou pela sua desobediência e seguidamente proclamou salvação que resultou
no perdão da cidade de Nínive.
Nínive
representa a vontade do Senhor, que está sempre ligada à Palavra de Deus.
Certamente na nossa vida têm surgido Nínives! Sabemos qual é a vontade do
Senhor, mas teimosamente resistimos, porque não aceitamos ou não compreendemos
qual o propósito divino. Obediência é estar disposto a cumprir uma ordem mesmo
que não seja compreendida.
Társis
representa a nossa vontade. É o “lugar” para onde queremos fugir. Desobediência
é seguir o nosso próprio desejo numa atitude egocêntrica e individualista.
Optar pelo nosso querer coloca-nos numa posição de distância para com o Senhor,
no que diz respeito à comunhão com ele e não a uma distância física. Ele
continua presente convencendo-nos do pecado (Jo. 16:8) e corrigindo-nos sem nunca
desistir.
Jonas
escolheu o caminho mais difícil. Foi necessário, quase perder a vida, para
compreender a obediência. Talvez nem tenha chegado a compreendê-la: aquela
obediência que age apenas por amor.
O
ponto que precisamos de compreender é que tudo obedeceu a Deus. O vento
obedeceu, a criatura do mar obedeceu, a planta obedeceu e o verme obedeceu.
Tudo obedeceu a Deus perfeitamente, menos Jonas. Toda a criação de Deus o
obedece perfeitamente, exceto o homem. Deus deu a Jonas uma escolha e Deus nos
dá uma escolha. Escolhemos fazer a vontade de Deus ou resistir e fugir dele.
Deus não abandona a sua soberania neste assunto. Foi da sua vontade soberana
que o homem exercesse o livre arbítrio.
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