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quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Jonas, o Profeta Escolhido Pelo Senhor

Leitura: Jonas 1-4
Introdução
Todos os outros livros proféticos apresentam mensagens de Javé a Israel por intermédio de um profeta. O livro de Jonas é singular por ser um relato do que ocorreu a um profeta, não uma coletânea de suas mensagens. Uma vez que esse livro foi colocado no cânon entre os profetas, podemos concluir que a história das experiências e reações de Jonas é a mensagem. E a história envolve muito mais do que ser engolido por um peixe.
Ao estudar o livro de Jonas, que diz muito sobre a soberania de Deus, que fala de maneira explícita e implícita, e nos ensina alguns conceitos valiosos sobre a soberania de Deus, percebemos que fora escrito com o propósito de lembrar o alto valor da pregação missionária e de lembrar que o conflito entre a vontade humana e a vontade divina é o foco do livro, tal como o é em toda a Bíblia. Muitas vezes estas duas vontades opõem-se. Quando o homem escolhe fazer a sua vontade em vez de seguir a vontade divina encontra sempre problemas. Portanto, é bom que aprendamos estas lições e nos lembremos delas para que possamos manter o relacionamento certo com nosso Criador. Deus não quer que ninguém se perca, mas deseja que todos venham ao arrependimento (2 Pd. 3:9).
A vontade divina, no Antigo Testamento, era transmitida aos homens pela Lei escrita, mais principalmente pelos profetas. A principal função do profeta era comunicar ao povo a vontade do Senhor. A responsabilidade dos profetas do antigo Testamento não era principalmente a de predizer o futuro no sentido moderno da palavra “profetizar”, era mais a de anunciar a vontade de Deus que Ele comunicara através da revelação, a de serviram como canais de comunicação entre Deus e o seu povo, conscientizando-o acerca da vontade e do conhecimento divinos. Na Nova Aliança, continua a ser a Palavra escrita a indicar-nos a vontade do Senhor, em ligação ao Espírito Santo que habita em cada nascido-de-novo (Hb. 1:1-2).
A historicidade do livro de Jonas se comprova com 2 Reis 14:25 e pela referência a Jonas feita pelo próprio Senhor Jesus em Mateus 12:39-41. Pelas características, o livro é de autoria do próprio Jonas que, à semelhança de Moisés, relata os acontecimentos com minúcias, procurando a glória de Deus e não a sua. Seu livro difere consideravelmente dos outros livros proféticos do Antigo Testamento, visto que é inteiramente composto de narrativa.
Jonas, cujo nome significa “pomba”, Nascido em Gate-Hefer, perto de Nazaré e, portanto, era galileu, bem como Naum, Malaquias e Jesus, que profetizou no Reino do Norte durante a época de Jeroboão II, rei de Israel, no séc. VIII a.C. e que predisse a expansão territorial conseguida por esse soberano (2 Rs. 14:25-27), foi chamado para pregar a Palavra de Deus em Nínive. Mas, ele procura fugir, embarcando para Társis, um lugar bem distante, onde, conforme se acreditava, Javé não estava. Diante desta reação, Javé provoca uma forte tempestade. No navio, os marinheiros estrangeiros trabalham duramente para sobreviver ao temporal e, enquanto isso, Jonas, membro do povo de Israel, dorme profundamente no porão. Ao ser questionado pelos marinheiros, o próprio Jonas pede que seja atirado ao mar para aplacar a ira de Javé. Se morrer, não terá de assumir a ordem de Javé. Mas um grande peixe, por ordem da divindade, engole-o e, após três dias, vomita-o em terra firme. Nas entranhas do peixe, Jonas ora. Novamente, Jonas recebe a ordem de ir a Nínive e, desta vez, obedece. Ele vai e anuncia a destruição da cidade. Todos os habitantes se convertem: homens, mulheres, rei e animais. Deus se compadece, e Jonas fica indignado com a atitude misericordiosa de Javé.
A história de Jonas é muito conhecida, e uma das cenas preferidas é a de Jonas engolido por um peixe e sua permanência por três dias e três noites (Jn. 2:1-2:11). As primeiras comunidades cristãs também conheciam esta história, e volta e meia ela era relembrada. No evangelho de Mateus, lemos: “Como Jonas esteve no ventre do monstro marinho por três dias e três noites, assim ficará o Filho do Homem três dias e três noites no seio da terra” (Mt. 12:40). A conversão dos habitantes de Nínive é citada como modelo e censura para Israel (Mt. 12:41-42; Lc. 11:32).
A fuga de Jonas não é diferente da atitude de muitos hoje. Esse comportamento de fugir de Deus não aconteceu somente com Jonas, mas também ocorre com muitas pessoas. Podemos traçar um paralelo entre as razões da fuga de Jonas e de suas consequências com alguns dos motivos pelos quais os filhos de Deus fogem aos propósitos Dele nos dias atuais, assim como, as consequências que essas fugas trazem. Israel se tinha afastado muito de seu chamado missionário original, pois deveria estar sendo uma luz de redenção para os povos (Gn. 12:1-3; Is. 49:6. Este livro é um sério apelo para a ação evangelística e missionária da Igreja, que foi chamada para proclamar a palavra.
I - O Mundo Clama Por Profetas (1:1-2:10)
Os tempos são difíceis. A nossa cidade, o nosso país e o mundo clamam por pessoas que estejam dispostas a anunciar a Palavra e Deus quer levantar pregadores. Foi isso que ocorreu com Jonas. Urge que o povo se mobilize. Não dá para virar o rosto como os religiosos da Parábola do Bom Samaritano. Contudo, faltam profetas!
Precisamos de profetas que pela transformação do seu carácter e do ensino acerca da misericórdia divina, com obediência incondicional e conhecedores de que o amor de Deus se estende a todos os homens, forneçam conteúdos éticos à consciência política e ao tecido social; que sejam capazes de encarar até a autoridade máxima da nação para defenderem viúvas pobres; que amargam a pobreza para denunciar desvios morais entre o povo. Precisamos de profetas que mostrem a impotência dos rituais religiosos para mudar realidades; que tenham a coragem de Isaías para proclamar: “Parem de trazer ofertas inúteis… Não consigo suportar vossas assembleias cheias de iniquidade… Quando estenderem as mãos em oração, esconderei de vós os meus olhos; mesmo que multipliquem as vossas orações, não as escutarei” (Is. 1:13)!
Precisamos de profetas que sintam as dores divinas, que percebam que a história está descambando, que sofrem, indignados com a banalização da vida e com a morte desnecessária de inocentes, que mais do que porta-vozes do além, encarnam o coração paterno de Deus, colocando-se na brecha, com o dedo em riste, saiam do palácio para clamar no deserto, mesmo sabendo que não serão ouvidos, insistem em prenunciar os despenhadeiros que a falta de amor abre, avisando que o jejum que Deus quer não é abstinência de comida, mas o esforço para se restabelecer a justiça: “Será esse jejum que escolhi, que apenas um dia o homem se humilhe, incline a cabeça como o junco e se deite sobre pano de saco e cinza? É isso que vós chamais de jejum, um dia aceitável ao Senhor? O jejum que desejo não é este: soltar as correntes da injustiça, desatar as cordas do jugo, pôr em liberdade os oprimidos e romper todo o jugo? Não é partilhar sua comida com o faminto, abrigar o pobre desamparado, vestir o nu que encontrou, e não recusar ajuda ao próximo” (Is. 58:5-7)?
Precisamos de profetas que não fujam da picada das dificuldades; que as suas palavras sejam martelos que despedaçam os corações de pedra; que de seus olhos saiam faíscas do fogo consumidor da justiça; que como moscas atrapalham a sala do perfumista corrupto. O país carece de homens que não tenham preço. É necessário surgirem profetas que, a exemplo de Micaias, não permitam que seus nomes constem na folha de pagamento dos poderosos. Josafá, rei de Judá, desejou firmar uma aliança com o rei de Israel, mas antes procurou consultar a Deus. Acabe tinha cerca de 400 profetas assalariados. Josafá se intrigou com a unanimidade e pediu para se aconselhar com alguém independente. Havia Micaías, que estava preso. Ao buscá-lo, o mensageiro advertiu: “Veja, todos os outros profetas estão predizendo que o rei terá sucesso. Sua palavra também deve ser favorável”. Micaías, porém, respondeu: “Juro pelo nome do Senhor que direi o que o Senhor me mandar” (1 Rs. 22).
Precisamos de profetas que não alicercem seus ministérios em blefes do jogo do poder, em dar um ar de status, um ar de poder, de acesso privilegiado ao sobrenatural, em manifestações sobrenaturais de sinais, mas que estejam contentes de poderem transmitir a verdade de Jesus. Que sejam como João Batista, pois nenhum milagre se fez por intermédio dele, mas tudo o que ensinou a respeito de Jesus era verdade (Jo. 10:14). Quem dera se mais homens falassem como Paulo: “Os judeus pedem sinais miraculosos, e os gregos procuram sabedoria, nós, porém, pregamos a Cristo crucificado, o qual, de facto, é escândalo para os judeus e loucura para os gentios, mas para os que foram chamados, tanto judeus como gregos, Cristo é o poder de Deus e a sabedoria de Deus” (1 Co. 1:22).
Precisamos de profetas que sejam sentinelas nas muralhas que protegem as cidades, bússulas na incipiente ética primitiva, faróis da esperança futura; que saibam lamentar como Jeremias e chorem porque o processo de evangelização no país priorizou salvar almas e não pessoas; prometeu o céu, mas descuidou em gerar ações transformadoras da história, gastou recursos financeiros em proveito da própria instituição e desperdiçou oportunidades de ser referência ética. O país precisa de mais profetas chorões. Só eles saberão fazer a espiritualidade ser mais solidária com os miseráveis da terra.
 Precisamos de profetas que sabe escutar e atender o chamado de Deus para a vida; que sentem as dores de Deus ao olhar para os seus filhos que se estão perdendo; que se deparam com o mundo e choram ao ver o rumo maldito que as coisas estão tomando; que compreendem e vivem a plenitude do amor divino e, por isso, “não se conformam com esse século”; que protestam onde e a quem for preciso, denunciando tudo o que se opõe à vida sem temer, dotadom da força e coragem do Reino, afrontam o rei, imperador, sacerdote, presidente, deputado, papa, pastor, a sociedade inteira se for preciso, dispostos a andar na contramão se for este o caminho que aponta para a vida e justiça, guiados pelo amor.
Precisamos de profetas que sempre clamam ainda que ninguém os ouça, ainda que ameaçados, tachados de loucos e deixados de lado; que estando sozinhos, falam e agem mesmo assim, porque mesmo que o povo os rejeite, o sistema religioso os condene e os persiga, Deus está com eles. Precisamos de profetas que se esqueçam de si próprios e enfrentem a peleja apesar das circunstâncias, mesmo sabendo que, provavelmente, só quando estiverem mortos dirão: “eles tinha razão”.
Precisamos de profetas que sejam como chama de esperança para os homens, como porta-vozes do Reino e do amor de Deus para a sua criação. Num mundo como o de hoje, onde os valores são trocados e a religião corrompida, um mundo de relacionamentos falidos, de homens sozinhos, os profetas são fundamentais. Deus já o tem chamado há muito tempo para esse ofício? Se ainda não ouviu a Sua voz, o momento chegará.
Os dias são difíceis. Oremos para que se levantem pregoeiros da justiça antes que as pedras comecem a clamar. Sem eles, Deus não fala, o futuro inexiste, toda a perspectiva se esgarça e o inferno se viabiliza. Nunca se precisou tanto deles, principalmente, agora, nesse protestantismo cooptado pelo mercado e instrumentalizado pela ganância.
O profeta toma para si o problema dos outros, assume a responsabilidade do mundo. Quando tudo diz morte, o profeta clama vida; quando tudo diz individualismo, soberba e ganância, o profeta brada comunhão e partir do pão; quando todos dizem lei, o profeta diz amor. O profeta é apaixonado. Apaixonado por Deus, apaixonado pela vida.
a) O chamado (1:1-2). Jonas ben Amitai foi um profeta que predisse a expansão do reino do norte no reinado de Jeroboão II, por volta de 780 a.C. (2 Rs.14:25). O livro de Jonas nada nos fala de sua atividade profética em Israel. Simplesmente começa com a ordem de Javé para que profetize contra a perversa Nínive. Em vez de ir para leste, rumo à Assíria, Jonas embarcou num navio para Társis – em direção oposta, para longe da presença do Senhor (v. 3), o mais longe que a mente da época conseguia imaginar.
A vontade humana é simbolizada no livro de Jonas por Társis, pois era a vontade do profeta a sobrepor-se. Jonas, ao invés de obedecer, indo para Nínive, decide fugir para o lugar mais distante, então conhecido, isto é, a cidade de Társis, localizada ao sul da Península Ibérica. A ida para Társis foi iniciativa humana e contrária à ordem do Senhor.
Na Bíblia, normalmente, os profetas são pessoas obedientes e exemplares. Contudo isto não aconteceu no caso de Jonas: “Os profetas não eram meros autómatos, pois tinham poder de resistir à vontade de Deus. Todavia, este é o único caso de que se tem notícia de um profeta que se recusou a levar a cabo a sua comissão”.
A vontade do Senhor para o mundo é a salvação de toda a humanidade: “...o qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade” (I Tm. 2:4). A vontade divina para o homem como colectividade é simbolizada no livro de Jonas por Ninive, uma grande cidade, capital da Assíria, nas margens do rio Tigre, com uma população de mais de 120 mil pessoas (Jn. 4:11), conhecida pela sua corrupção, pela sua maldade que incluía a idolatria e a extrema brutalidade contra os prisioneiros de guerra além de forte imoralidade (1:2). A ordem acerca da ida do profeta para levar a Palavra à cidade reflecte uma preocupação pelo colectivo, pois Jonas não foi enviado a uma pessoa única, como aconteceu a outros profetas (por exemplo: Elias e a viúva de Sarepta em I Rs. 17). Esta é uma cidade pagã, inimiga de Israel. No entanto, o desejo de salvação universal é claramente manifesto pela ordem (“Levanta-te”) dada a Jonas para pregar ali o arrependimento (Jn. 1:2).
b) Um missionário desobediente – Fugindo de Deus e do Dever (1:3). Jonas evidentemente era muito patriota e não perdeu as esperanças em seu país, mesmo nos dias mais sombrios. Portanto, essa missão a Nínive não era do seu agrado, visto que não sentia o desejo de ver essa grande cidade gentia arrependida, de joelhos. E ainda iria passar-se um século antes que Isaías e Miqueias proclamassem que o mundo gentio se voltaria para Deus (Mq. 4:1-2; Is. 2:2).
Em vez de desincumbir-se dessa missão de misericórdia, Jonas correu para o porto em direção a Társis, numa tentativa de esquivar-se ao seu dever. Como pode um homem imaginar poder escapulir dos planos do Senhor que tudo vê (Hb. 4:13)? O pecado é sempre uma descida; sempre temos de pagar pesadas taxas e passagens quando seguimos nosso próprio caminho em lugar do de Deus, e jamais devemos supor que a possibilidade de fazer algo significa permissão.
c) As consequências da desobediência (1:4-17). Cansado pelo nervosismo e pela viagem, o profeta nem se percebeu da partida do navio. As adversidades que bloqueiam o caminho da desobediência são mais duras do que as dificuldades para atender a ordem de Deus.
O pecado produz sempre algo negativo para aquele que o pratica, quer este seja ou não servo do Senhor. A confiança em si próprio é já, em si mesma, pecado, e conduz à desobediência. A desobediência, por seu lado, é a expressão da vontade humana.
Obviamente a atitude de Jonas não ficaria sem retribuição. Como um exemplo da soberania de Deus no livro de Jonas vemos como Deus empregou a sua criação para cumprir o seu plano divino. Observemos a operação divina: “Veio a palavra do Senhor… o Senhor lançou um forte vento e fez-se no mar uma grande tempestade, e o navio estava a ponto de se despedaçar (v. 4). Preparou o Senhor um grande peixe (v. 17). Vemos então como Deus controlou os elementos do tempo para trazer o seu propósito desejado, para chamar a atenção de Jonas. Aqueles marinheiros gentios, a quem Jonas causou pavor e desespero (1:4-11), provocou uma situação suicida (1:12-16), possuíam belos traços que deveriam ter deixado o profeta envergonhado. As orações deles aos seus ídolos e o seu esforço para salvar esse estrangeiro hebreu são admiráveis além de ser uma lição para nós.
No meio da tempestade, em que o mar ficava cada vez mais tempestuoso (vs. 11, 13), depois da desobediência, Jonas reconheceu que pelo facto de ser profeta do Senhor, não significava que pudesse ter qualquer atitude impunemente e, portanto, reconheceu que a tempestade tinha origem divina, e que a finalidade era impedir a sua fuga. Ele sabia discernir quando era o Senhor a agir. Por isso, Jonas desistiu da sua fuga e ofereceu a sua vida para que a vida dos marinheiros fosse salva. É surpreendente esta mudança! Depois de ver que não podia escapar ao poder de Deus, resolve entregar-lhe a vida (Jn. 1:12). Enquanto Nínive era uma cidade distante, os marinheiros eram pessoas que conheceu face a face. Jonas sentiu o seu medo e aflição. Talvez por isso Jonas tenha conseguido identificar-se com aqueles homens pagãos e decidir trazer sobre eles a bênção da vida.
Muitas vezes os cristãos não agem assim, mas ignoram os que os rodeiam. Isto porque para muitos de nós, diferentemente de Jonas, a tragédia do mundo parece nada ter a ver connosco. Todavia tem tudo a ver. A razão é simples: aqueles que são designados a ser bênção para o mundo tornam-se maldição para a sociedade, quando não assumem seu papel de bênção na vida.
Os cristãos muitas vezes têm a sua salvação por garantida e colocam em segundo plano a obediência ao Senhor. A Bíblia diz que a eleição divina não depende de obras: “... (pois não tendo os gémeos ainda nascido, nem tendo praticado bem ou mal, para que o propósito de Deus segundo a eleição permanecesse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama)...” (Rm. 9:11). No entanto, ainda que a eleição não dependa de obras, após a eleição devem existir obras (Tg. 2:14).
Quando a vontade humana se submete à vontade divina e a carne se submete ao Espírito, dá-se um fenómeno geralmente denominado de conversão. A conversão do homem é sujeição da vontade ao Senhor. Isto implica a renúncia do “eu” humano em função do “Eu” divino. Por isso Paulo diz de si mesmo: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé no filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim” (Gl 2:20).
Jonas, devido à sua desobediência ia perdendo a vida na tempestade (Jn. 1:4, 15, 17). Assim, também, Cristo, ao tomar sobre si a nossa desobediência foi castigado em nosso lugar pagando com a morte. O pecado é sempre uma desobediência e a sua consequência é sempre morte, seja ela na vida espiritual, na vida material ou na vida física, como está escrito: “Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus nosso Senhor” (Rm. 6:23).
d) O clamor durante a calamidade – Uma Oração nas Profundezas (2:1-9). O vento e as ondas obedeceram a Deus, mas Jonas não obedeceu. Ao exercer o seu livre arbítrio, primeiro ele se recusou a ir a Nínive como Deus havia mandado. Como resultado desta desobediência, Deus deu uma oportunidade para Jonas se arrepender. Depois de ser lançado ao mar pelos colegas do navio, ele foi engolido por uma criatura do mar. O versículo 17 do capítulo 1 diz que a criatura que o engoliu foi preparada por Deus. Tem-se preocupado muito no decorrer dos anos em relação à identidade desta criatura.
O grande peixe era, provavelmente, um tubarão. O mesmo que enviou a tempestade preparou o peixe. A vida é cheia de expedientes por parte do grande Amigo dos homens. Seja qual for a nossa opção o amor paterno do Senhor está connosco para nos ajudar, sem desistir de nós, a encontrar o caminho certo. Na desobediência humana, a presença do Senhor mantém-se e pode contemplar-se, como em nenhuma outra ocasião, a incompreensível misericórdia divina. Mergulhar nas ondas é cair nos braços dele. Várias vezes já foram encontrados corpos humanos no ventre de tubarões no Mediterrâneo.
Jonas, quase a afogar-se na tempestade, foi salvo pelo peixe que o engoliu. O Senhor não deixou, simplesmente, que o profeta morresse, mas voltou a dar-lhe mais uma oportunidade. O Senhor deseja dar-nos sempre uma nova oportunidade! Ao “castigo” sobre Cristo seguiu-se também uma nova oportunidade para a humanidade.
A eficácia da oração tem sido comprovada nas mais diversas situações e Deus tem respondido a homens e mulheres que têm clamado dos mais variados lugares na face da terra, mesmo dentro do “ventre de um peixe” (2:1). Deus miraculosamente manteve Jonas vivo por três dias no estômago do peixe. Por ser um facto verídico Jesus, usou o incidente do peixe que engoliu Jonas para ilustrar sua própria morte, sepultamento e ressurreição (Mt. 12:39-41).
O Salmo que se segue é de grande inspiração para os que caíram nas profundezas por causa de seus erros. Deus os ouvirá, mesmo que gritem do “ventre do abismo”. Se alguém pensa que foi lançado fora das vistas de Deus para sempre, olhe para o “seu santo templo”, e verificará que o amor divino está gradualmente retirando-o do abismo. Confiar em nossos próprios esforços e expedientes é entregar-nos à idolatria vã e abandonar aquele que nos é misericordioso. “Ao Senhor pertence a salvação”. A natureza inteira aguarda a palavra de Deus. Tanto os enormes tubarões como os menores peixinhos estão sob o comando de Deus para auxiliar o homem. Apenas “lembrem-nos” de Deus, e, depois quando formos libertos, não deixemos de pagar os nossos votos!
Foi sempre o amor que provocou a acção do Senhor para com Jonas: o amor por Ninive, o amor pelos marinheiros, o amor por Jonas... É por amor que Deus intervém na viagem do barco onde viajava o profeta, como comenta Caio Fábio: “De repente os até então bem-sucedidos planos de Jonas são confrontados pelo pior de todos os oponentes: o amor apaixonado de Deus. Isso porque nenhuma fuga de Deus dura para sempre, quando aquele que foge é alguém que o conhece.”
e) O arrependimento de Jonas (2:10). O arrependimento e a mudança de carácter estão sempre nos objectivos de Deus ao lidar com o ser humano. O Senhor corrige aqueles a que ama como diz a seguinte passagem: “Ainda não resististes até o sangue, combatendo contra o pecado; e já vos esquecestes da exortação que vos admoesta como a filhos: Filho meu, não desprezes a correcção do Senhor, nem te desanimes quando por ele és repreendido; pois o Senhor corrige ao que ama, e açoita a todo o que recebe por filho. É para disciplina que sofreis; Deus vos trata como a filhos; pois qual é o filho a quem o pai não corrija? Mas, se estais sem disciplina, da qual todos se têm tornado participantes, sois então bastardos, e não filhos. Além disto, tivemos nossos pais segundo a carne, para nos corrigirem, e os olhávamos com respeito; não nos sujeitaremos muito mais ao Pai dos espíritos, e viveremos? Pois aqueles por pouco tempo nos corrigiam como bem lhes parecia, mas este, para nosso proveito, para sermos participantes da sua santidade. Na verdade, nenhuma correcção parece no momento ser motivo de gozo, porém de tristeza; mas depois produz um fruto pacífico de justiça nos que por ele têm sido exercitados” (Hb. 12:4-11).
A experiência de Jonas dentro do peixe foi para ele o mais valioso dos “retiros espirituais”. Jonas viu que estava fazendo tudo errado (v. 9). Ali, percebendo que agia como um idólatra (ou ateu), encontrou o arrependimento e a consciência da grandeza e do poder de Deus, e retomou o caminho da obediência (1 Sm. 15:23).
Existem semelhanças entre a experiência de Jonas e a experiência de Cristo. Jonas sente-se como estando no “Sheol”, termo hebraico para “lugar dos mortos” ou “inferno”. A oração de Jonas poderia ser a oração do Senhor quando se encontrava nas “profundezas da terra”, durante o tempo em que esteve morto. Ela reflete a angústia e o isolamento como consequência directa do pecado (Jn. 2).
O arrependimento cancela toda a maldição ou consequência espiritual de pecados passados (Jn. 3:10). Não há outro caminho possível, apenas o arrependimento ou a morte, seja ela espiritual ou física. Jonas só quando se encontrou próximo da morte é que encontrou o arrependimento (Jn. 2:7). Ao seu arrependimento seguiu-se a vida na presença do Senhor, como está escrito: “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, de sorte que venham os tempos de refrigério, da presença do Senhor” (At. 3:19).
II - UM MUNDO CLAMANDO POR MISSÕES
Nossa teologia determina a nossa visão de mundo. Precisamos de viver como cidadãos de dois reinos. Nossa missiologia precisa de ser teologicamente fundamentada, e nossa teologia missiológica focada.
Deus havia chamado o profeta eHe gives him a message to proclaim. lhe havia dado uma mensagem a proclamar. E o resultado da pregação é declarado e conhecido de antemão. Em outras palavras, o propósito divino é feito conhecido e realizado por um Deus que está disposto e capaz de fazer tudo o que Ele deseja. Deste modo, a segunda parte do livro mostra um novo Jonas, arrependido e disposto a cumprir o mandado missionário.
a) O novo chamado (3:1-2). A vida está cheia de distrações e interrupções. Uma coisa que a fé em Deus faz é nos trazer de volta ao centro. Nos traz de volta ao lugar onde devemos estar. É desta posição que podemos discernir o nosso verdadeiro lugar neste mundo e o nosso relacionamento com Deus. Ele é uma força inevitável. Ele está no controle. Ele rege. Quanto mais cedo aprendermos esta lição, mais cedo descobriremos o seu verdadeiro sentido e sua direção nas nossas vidas.
Por mais que tentasse, Jonas não podia escapar de Deus. Quanto mais ele tentou cumprir a sua própria vontade, mais forte Deus o puxou de volta. A chamada de Deus é sonora e clara. O alcance de Deus é longo e largo. A vontade de Deus não pode ser evitada ou negada sem consequências. Jonas pôde correr mas não pôde se esconder, e nem nós podemos.
Javé deu uma nova oportunidade a Jonas, voltando a convocá-lo para ir a Nínive, dizendo: “levanta-te”. Dessa vez, Jonas que estava na praia, por certo ainda meio confuso com tudo o que ocorrera, mas percebendo que não adianta fugir da obrigação de entregar mensagens duras, foi. As únicas palavras registadas de sua mensagem profética são: “Ainda quarenta dias, e Nínive será subvertida” (3:4). Surpreendentemente “os ninivitas creram em Deus” (v. 5). O povo e o rei de Nínive (v. 6) vestiram-se de panos de saco, e dedicaram-se ao jejum, à oração e ao arrependimento para evitar a destruição. Javé perdoou devidamente.
Os pregadores do Evangelho são semelhantemente convocados a proclamarem todo o conselho de Deus (At. 20:27; 2 Tm. 4:2). Devem pregar tanto a misericórdia quanto a ira de Deus; ou seja, o perdão e a condenação. Devem pregar de tal forma que as pessoas que ouvem se voltem de seus pecados.
Agradeçamos a Deus pelas segundas chances que ele nos dá. Dessa vez o profeta não hesitou. Levantou-se e foi. A história de sua libertação parece ter chegado a Nínive e ter preparado o povo da cidade para receber a palavra dele (Lc. 11:30). Só devemos pregar e entregar as mensagens de Deus do modo como ele ordena. Ele nos dirá o que devemos dizer.
b) O missionário obediente (3:3-4). Apenas ao compreendermos a soberania de Deus que é Absoluto, Senhor, Supremo, Soberano, e se O reconhecemos como tal, podemos compreender a importância de inteiramente obedecer a Deus e não aos homens (At. 5:29). Apenas então podemos apreciar o aviso, “Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo” (Mt. 10:28).
Toda a obediência deve, acima de tudo, ter como raiz o amor. Sem amor nenhum acto tem valor para o Senhor, como está escrito: “E ainda que distribuísse todos os meus bens para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria” (I Co. 13:3).
Nínive era importante por abrigar mais de 120 mil almas; essa era a preocupação e o seu valor para Deus (4:11). A submissão de Jonas pode ser vista por expressões significativas, tais como: “Levantou-se... e foi” (3:3); “começou Jonas a percorrer a cidade... e pregava” (3:4).
A obediência tem grande importância para o Senhor. Foi com uma desobediência que entrou o pecado no mundo, mas foi com uma obediência que esse pecado foi vencido (I Co. 15:21-48). “Tomar a cruz” é obedecer e todos somos exortados a tomar a nossa cruz e a seguir o Senhor, como está escrito: “E chamando a si a multidão com os discípulos, disse-lhes: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, e siga-me” (Mc. 8:34). A importância da obediência é tal que no livro de Actos o Espírito Santo é referido da seguinte forma: “... o Espírito Santo, que Deus deu àqueles que lhe obedecem“ (At. 5:32).
Ser servo do Senhor é opor-se ao individualismo, que é uma doutrina moral, econômica ou política que valoriza a autonomia individual, em detrimento da hegemonia da coletividade despersonalizada, na busca da liberdade e satisfação das inclinações naturais, e ao culto do eu, que diz respeito ao conjunto de atitudes ou comportamentos de um indivíduo que se refere essencialmente a si mesmo. Em Isaías 53, fala do Servo que se oferece a sim mesmo para obedecer. Jonas obedeceu a segunda vez, dizendo: “o que votei pagarei...” (Jn. 2:9). Provavelmente havia prometido, como profeta que era, ir onde o Senhor o enviasse. Na sua segunda oportunidades decide pagar os seus votos.
Cristo, com alegria, obedeceu sempre à vontade do Pai, dizendo: “...A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou, e completar a sua obra“ (Jo. 4:34). Ele obedeceu até à morte: “...e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz” (Fp. 2:8). Filipenses 2 contrasta com a atitude de Jonas. Este obedeceu, mas não de coração, pois foi necessário chegar perto da morte.
c) Consequências da obediência (3:5-10). - A pregação de Jonas produziu resultados e os moradores de Nínive arrependeram-se de seus pecados. Houve, por um certo período, um retorno ao monoteísmo.
O arrependimento foi geral (v.5); foi prático (v. 8); e voltado para Deus (v. 9). Que contraste com Israel! Ali, vários e vários profetas foram repelidos e mesmo mal tratados. Seja qual for o tipo de temor que a mensagem despertou nos homens, o facto é que da parte de Deus não houve hesitação. Ele perdoou plenamente! (Ver Is. 55:7).
Nessa fase aconteceram duas grandes pragas, nos anos 765 e 759 a.C., e um eclipse solar, em 763 a.C. Esses acontecimentos podem ter sido interpretados como sinais de julgamento divino e, portanto, preparado a cidade para receber a mensagem profética de Jonas. Como expressão visível de seu verdadeiro arrependimento, “eles jejuaram, vestiram-se de pano de saco” (3: 5).
d) Lição e censura a Jonas – Deus Censura a Visão Limitada do Profeta (4:4-11).
Quando Deus agiu, salvando os ninivitas, Jonas ficou contrariado (v. 8), e toma a iniciativa de fugir para Társis, porque está apenas a pensar em si mesmo e na segurança política de Israel. Jonas se esqueceu de todos os votos que muito provavelmente fizera como profeta (Jn 2:9) e decide “fugir” da presença do Senhor, como se isso fosse possível. Para Israel, a presença do Senhor estava em Jerusalém, mais especificamente no templo, logo Jonas pensou que se afastasse o mais possível de Jerusalém conseguiria fugir do Senhor (I Rs. 9:7 II Rs. 17:20, 23; 24:20; Jr. 52:3). O profeta em primeiro lugar procura isolar-se, mas não é o lugar físico onde se encontre que o afasta de Deus e sim o seu pecado de desobediência. Assim como a sua separação do Senhor não é da “sua presença”, mas da “sua comunhão”.
Jonas tinha a escolha de ir a Nínive ou de fugir. No primeiro capítulo, o vemos fugindo de Deus mas depois, no terceiro capítulo, quando Deus o manda para Nínive, ele decide ir. O povo de Nínive encarou a certeza de destruição iminente por causa dos seus pecados passados e persistentes. Mesmo assim, sem Jonas oferecer uma alternativa para eles, escolheram se arrepender dos seus pecados. Eles assim fizeram na esperança de transformar a ira de Deus em bênçãos. Deus não sente prazer em destruir as pessoas. “Porque não tenho prazer na morte de ninguém, diz o Senhor Deus. Portanto, convertei-vos e vivei” (Ez. 18:32). No Novo Testamento aprendemos que “Ele é longânimo para convosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento” (2 Pe. 3:9). Por causa do arrependimento de Nínive, Deus com o seu poder soberano reverteu a sua decisão de destrui-los.
Ninive era um inimigo político de Israel. Mas Deus olha para todos os homens com o mesmo interesse. O profeta, porém, não considerou de importante pregar o arrependimento a uma nação pagã, tão desagradável aos israelitas. Jonas apenas estava pensando só em si, no seu bem-estar, naquilo que lhe agradava, no seu prazer, no seu conforto. Esse é um paradoxo que se vivência quando se está encharcado de perspectivas ideológicas do tipo colectivista. Neste caso o colectivismo pode gerar um tremendo egoísmo em relação a um único ser que a pessoa não deixa de levar em consideração, que é ele próprio.
Ele colocou os seus interesses pessoais à frente dos interesses do reino de Deus. Foi preciso que Deus o levasse a sentir o valor de uma alma. Se Jonas creu ser razoável irar-se por uma planta com a qual não contribuiu em nada para a sua existência, como não dar a face para compreender o tão grande e poderoso amor de um Deus-Criador, que fizera com carinho e doçura cada criatura que estava naquela metrópole?
A visão de Jonas quanto à sua missão se reduziu em função da sua cartilha ideológica. Sua atitude obstinada contra Ninive não é propriamente o resultado do seu senso de justiça, mas do seu condicionamento ideológico. Prova disso é o facto de que encontramos nele duas categorias de justiça. A primeira é aquela justiça que ele aplicava aos que estavam do lado de fora de Israel, vistos por ele como inimigos dos seus sonhos políticos e nacionalistas.
Esse capítulo assinala uma era no desenvolvimento da visão espiritual do povo hebreu. Aqui uma cidade gentia que se arrependeu foi perdoada. Ficou claro que Javé era Deus não apenas dos hebreus, mas também dos gentios. Contudo, Jonas não sentiu prazer nessa revelação. Apegou-se à amarga estreiteza do preconceito nacional, temendo que, quando o seu povo recebesse a notícia do arrependimento e livramento de Nínive, se sentisse fortalecido em sua obstinada rejeição da lei de Deus.
Jonas toma uma posição carnal ao colocar o seu comodismo pessoal acima de valores eternos. Enquanto a cidade de Ninive perecia, o profeta pensava apenas no seu bem-estar pessoal. Tal como Jonas, muitas vezes os cristãos fogem à responsabilidade da pregação aos ímpios (Jn. 1:3).
e) Deus expressa o seu amor por Nínive: Todo o capítulo 4 do livro de Jonas é uma lição acerca do amor e misericórdia de Deus. O amor do Senhor estende-se a todos os homens e não apenas aos seus profetas ou servos. Até os animais são alvo da misericórdia divina. Sabiamente, usando uma aboboreira, Deus ensinou acerca da compaixão.
Isto porque Jonas traz a Deus as suas queixas, suas razões, seus complexos, sua amargura, seus direitos, suas reivindicações, e no fim ouve Deus dizer: “Alto lá! Tu te preocupas com a sombra para a tua cabeça enquanto queres que o meu fogo caia na cabeça de uma cidade? Tu te preocupas com a vida de uma planta, e não dás a mínima para a existência de toda uma civilização? Tu sofres a perda do que não te custou nada e queres que eu despreze o que criei? Então Deus diz: “Alto lá, Jonas, eu tenho mais o que fazer”! Sou Eu quem está no controle do destino das nações. A cidade de Nínive e o seu futuro está sob o meu controle. Se é desejo meu destrui-la, será destruída. Se meu desejo é salvá-la, será salva.
Jonas não tinha nenhuma soberania no assunto. Não seria feito de acordo com a sua vontade, mas de acordo com a vontade de Deus. Paulo, ao falar com os atenienses, disse: “de um só fez toda a raça humana para habitar sobre toda a face da terra, havendo fixado os tempos previamente estabelecidos e os limites da sua habitação” (At. 17:26).
O destino dos homens e das nações está na mão soberana de Deus. Foi pela soberania de Deus que a mensagem chegou a Nínive. Se Jonas tivesse insistido na sua recusa de ir a Nínive, teria impedido Deus de enviar outro? Certamente não! Deus poderia ter enviado um outro profeta. Aqueles que pensam que as nações se levantam e caem por causa de uma defesa nacional forte, prosperidade económica, alianças com outras nações, ou pela vontade dos homens, são ignorantes da soberania de Deus.
1) O amor do Criador por seus filhos, embora tenham eles vivido em pecado e rebelião contra suas Leis, vai além de qualquer amor ou sentimento humano (Rm. 5:8).
Jonas foi enviado a pregar a salvação para o maior inimigo de Israel: a Assíria. Esta é a nova lei de Cristo, amar o mundo, amar o inimigo... Cristo soube perdoar aqueles que executavam a sua própria morte.
Esta é a sua vontade: o amor a Ele mesmo e o amor aos homens. Tudo o que Ele nos ordena caminha para este alvo. Este é o “caminho excelente” que Paulo descreve em I Coríntios 13.
2) O amor de Deus pela humanidade estende-se para além de qualquer fronteira, até às pessoas perdidas em qualquer lugar. Esta verdade foi plenamente vista:
a) quando Deus enviou seu Filho Jesus para morrer por todas as pessoas (Jo 3:16); e
b) quando Jesus enviou os discípulos a todo o mundo para pregar o Evangelho e fazer discípulos de todas as nações (Mt. 28:18-20).
Deus é universal e ama todo o mundo (Jo. 3:16): ele ama tanto o judeu como o gentio e deseja o arrependimento de todas as nações. O livro de Miqueias refere esta ideia: “Quem é Deus semelhante a ti, que perdoas a iniquidade, e que te esqueces da transgressão do resto da tua herança? O Senhor não retém a sua ira para sempre, porque ele se deleita na benignidade” (Mq. 7:18). A misericórdia divina é sem limites e foge à nossa compreensão. Em Jonas 4:11, diz ter compaixão dos homens e até mesmo dos animais, por isso derramou sobre Nínive o seu perdão. No final todos aprenderam acerca do amor do Pai. Caio Fábio comenta esta lição da seguinte forma: “Jonas diz: “Eu sabia”, mas na realidade não sabia nada sobre o amor de Deus (4:2). Já os ninivitas dizem: “Quem sabe?” (3:9) afirmando suspeita cheia de convicção. E recebem a graça que suspeitam existir no coração de Deus”.
Conclusão
Jonas é o mais humano de todos os profetas. Talvez por isso tenha sido escolhido para simbolizar Cristo no seu sacrifício pela humanidade. A história de Jonas pode descrever de forma simples a tentativa divina de conduzir o homem à obediência incondicional, ao amor ao inimigo e ao entendimento acerca da pessoa de Deus.
Cristo, agindo em substituição do homem pecador, foi castigado em seu lugar descendo ao Sheol. Após esta experiência seguiu-se a salvação para o mundo. Assim também Jonas pagou pela sua desobediência e seguidamente proclamou salvação que resultou no perdão da cidade de Nínive.
Nínive representa a vontade do Senhor, que está sempre ligada à Palavra de Deus. Certamente na nossa vida têm surgido Nínives! Sabemos qual é a vontade do Senhor, mas teimosamente resistimos, porque não aceitamos ou não compreendemos qual o propósito divino. Obediência é estar disposto a cumprir uma ordem mesmo que não seja compreendida.
Társis representa a nossa vontade. É o “lugar” para onde queremos fugir. Desobediência é seguir o nosso próprio desejo numa atitude egocêntrica e individualista. Optar pelo nosso querer coloca-nos numa posição de distância para com o Senhor, no que diz respeito à comunhão com ele e não a uma distância física. Ele continua presente convencendo-nos do pecado (Jo. 16:8) e corrigindo-nos sem nunca desistir.
Jonas escolheu o caminho mais difícil. Foi necessário, quase perder a vida, para compreender a obediência. Talvez nem tenha chegado a compreendê-la: aquela obediência que age apenas por amor.
O ponto que precisamos de compreender é que tudo obedeceu a Deus. O vento obedeceu, a criatura do mar obedeceu, a planta obedeceu e o verme obedeceu. Tudo obedeceu a Deus perfeitamente, menos Jonas. Toda a criação de Deus o obedece perfeitamente, exceto o homem. Deus deu a Jonas uma escolha e Deus nos dá uma escolha. Escolhemos fazer a vontade de Deus ou resistir e fugir dele. Deus não abandona a sua soberania neste assunto. Foi da sua vontade soberana que o homem exercesse o livre arbítrio.
 
 
 
 
 

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