Deus manifestou as Suas maravilhas ao povo de Israel,
mostrando o caminho e dando ao povo uma terra preciosa. O povo presenciou todos
os milagres de Deus feitos por intermédio de Moisés, provando assim a Faraó e
ao povo egípcio quem verdadeiramente era o Senhor dos exércitos. Deus foi longânime
e paciente e, mesmo assim, Israel virou as costas várias vezes ao Senhor. O
Senhor escolheu Israel porque o amava e para cumprir a promessa feita a Abraão
(Gn. 12:7).
Deus sempre amou o seu povo e quis o seu bem. Deus é fiel para com os que
cumprem os seus mandamentos. Mas aqueles que não ouvem a sua palavra, Deus os
faz perecer (Dt. 7:9-10).
A antiga aliança foi dada com um propósito limitado (Gl.
3:21-25), e o povo, pelos seus pecados e infidelidade, não continuou nela. Então,
o Senhor anunciou uma nova aliança, como a melhor solução para a rebelião
humana e que seria inscrita nos corações: “Porque esta é a aliança que firmei com a
casa de Israel, depois daqueles dias, diz o Senhor: Na mente, lhes imprimirei
as minhas leis, também no coração lhas inscreverei; eu serei o seu Deus, e eles
serão o meu povo” (Jr. 31:33).
A lei do Senhor já não está escrita em tábuas de pedra, mas em corações
humanos (2 Co. 3:3). A nova aliança é como uma fonte de esperança para o seu
povo, trazendo perdão pelos pecados, além de ser eterna. “Farei com eles aliança eterna, segundo a qual não deixarei de lhes
fazer o bem; e porei o meu temor no seu Coração, para que nunca se apartem de
mim” (Jr. 32:40).
Essa é uma das grandes profecias do Antigo
Testamento que descreve a Nova Aliança que Deus fará; um pacto gracioso baseado
na morte de Cristo, o qual possibilita que Deus perdoe Israel e os gentios que
o buscarem.
Todas as outras alianças passadas foram quebradas
pelos homens. Esta Nova aliança em Cristo jamais pode ser anulada, pois foi
selada com o sangue de Jesus, com o seu sacrifício voluntário, com a sua morte
expiatória: “Isto é o meu sangue, o
sangue da nova aliança, que é derramado por muitos, para remissão de pecados”
(Mt. 26:28). Somente
através do seu sangue temos a indulgência dos nossos pecados, e não há outra
forma de chegarmos à presença do Deus vivo. Devemos reconhecer a importância do
sacrifício de Cristo, pois é o sangue de Cristo que “purificará a nossa consciência de
obras mortas...” (Hb. 9:14).
A nova aliança é superior
à antiga: “Mas agora alcançou ele
ministério tanto mais excelente, quanto é mediador de ‘um melhor Concerto’, que
está confirmado em melhores promessas” (Hb. 8:6). E as melhores promessas
são: os que se arrependem têm seus pecados totalmente perdoados (Hb. 8.12); um
novo coração e uma nova natureza recebem aqueles que verdadeiramente amam e
obedecem a Deus (Ez. 11:19-20); são recebidos como filhos de Deus (Rm. 8:15-16);
têm experiência maior em relação ao Espírito Santo (Jl. 2:28; At. 1:5, 8).
Como vimos, de aliança em
aliança Deus prosseguiu na execução do seu plano de salvação dos homens, sempre
oferecendo novas oportunidades. A primeira manifestação desse plano está em Génesis
3:15: “E porei inimizade entre ti e a
mulher, e entre a tua descendência e o seu descendente; este te ferirá a
cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar”. Para isso, “Deus mandou o seu Filho unigénito, para que todo aquele que nele crê
não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo. 3:16). Já não é mais necessário
sacrifício de animais para reparar nossas culpas, como no antigo concerto. O
sangue do “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” manifestou-se por um
ato único, perfeito e eficaz; o sacrifício voluntário de Jesus Cristo abriu o
caminho da reconciliação do pecador com Deus.
Deus é fiel connosco. Nós agora podemos olhar para a eternidade com
confiança na aliança eterna que nos dá a esperança da vida eterna.
Mas, antes de tratarmos da nova aliança, não
podemos esquecer uma influência sumamente importante, que se tornou proeminente
no espaço de aproximadamente mil anos entre Davi e Cristo - o ofício de
profeta.
1.
Profeta Do Antigo Testamento
Apesar de não ser novo o dom de profecia, após a
aliança com Davi o ministério de profeta foi prodigamente concedido a grande
número de pessoas. Moisés foi o profeta com quem Deus falou face a face (Nm.
12:8). Foi ele quem levou ao povo a Sua mensagem.
O profeta é um homem chamado por Deus para
transmitir a Sua Palavra. No tom da sua voz é possível sentir o poder de Deus
que o impele a proclamar a Palavra. Em cada profeta o momento da Vocação divina
é determinante, de facto, ele tem a consciência de falar em nome de Deus.
Com os profetas, que eram homens de Deus que,
espiritualmente, achavam-se muito acima de seus contemporâneos, o Antigo Testamento
alcança o ápice, seja como valor espiritual absoluto, seja como preparação para
o Novo Testamento. Os profetas eram homens em quem Deus investia diretamente do
seu espírito para uma missão espiritual no seio do seu povo, em tempos de
perigo ou de necessidade religiosa e moral. Tornavam-se assim, guias
espirituais do povo de Israel, pelo mesmo titulo com que outrora os juizes
suscitados por Deus, eram os chefes políticos e militares, os libertadores no
tempo de aflição.
Devido ao aspeto dramático de “predição” do
ministério profético, quase totalmente esquecido se tornou o mais importante
propósito do profeta. No ministério profético de Moisés, a predição teve um
lugar insignificante; alguns profetas dos mais desatacados, como Samuel, Elias
e Eliseu, por sua vez também fizeram raras predições de futuro.
O trabalho mais importante dos profetas era o de
comunicar ao povo as instruções divinas; revelar-lhe seus pecados; fazer advertências
aos que colocavam sua confiança em outras coisas e não em Deus, tais como na
sabedoria humana (Jr. 8:8, 9; 9:23, 24); na riqueza (Jr. 8:10); na autoconfiança
(Os. 10:12, 13); no poder opressor; em outros deuses; chamá-lo de volta à
retidão e indicar-lhe seus deveres diante de Deus. Uma cuidadosa leitura do Antigo
Testamento mostrar-lhe-á que o profeta era um homem levantado para testemunhar
de Deus, para ser Seu porta-voz junto ao povo, para aconselhá-lo nos tempos de
confusão e instrui-lo nos Seus caminhos.
Os profetas não aceitavam uma sociedade injusta,
mas lutavam pela manutenção dos princípios do pacto do Sinai e por eles davam a
vida. Condenavam especialmente a opressão social, ou seja, não admitiam que os
mais ricos explorassem os que nada tinham (Am. 4:1). Também pregavam contra a
bajulação aos abastados, usada para conseguir qualquer favor (Am. 6:1). Por
esses posicionamentos, vemos que o povo de Deus tinha e tem de ser comprometido
com o seu Deus e não com o homem. A mensagem profética é muito atual.
Sendo embora a “previsão” uma parte do ministério
profético, até mesmo este “dizer no futuro” servia aos objetivos mais imediatos
da chamada do povo ao arrependimento e ao serviço a Deus.
A dupla natureza do ministério profético do Antigo
Testamento, deve ser compreendida a fim de que corretamente se interpretem as
passagens referentes ao futuro.
A maioria dos homens ainda não conhece e nem vive
essas verdades e o Senhor está esperando que seus pregadores despertem e
anunciem a Sua santa vontade.
2.
As Duas Escolas De Interpretação
Profética
Muitos evangélicos (fundamentalistas,
dispensacionalistas) seguem o método da interpretação literal das profecias, do
Antigo Testamento. Creem eles que o profeta ao falar sobre “Israel”, ele estava
sempre se referindo ao povo judeu. Em seu conceito as profecias são nacionais,
geográficas e literais, destituídas de um sentido espiritual mais profundo. O “trono
de Davi” seria simplesmente uma cadeira feita por mãos humanas, colocada num
templo igualmente construído por mãos humanas na cidade conhecida como
Jerusalém, Israel.
Como podemos observar, tais escolas de
interpretação induzem a conclusões que se opõem, tanto à letra como ao espírito
do Evangelho. Elas surgiram através dos ensinamentos do Sr. Darby, da Igreja
Plymouth Brethren, Inglaterra, no século XIX (1840), sendo perpetuadas pelo Dr.
Scofield nas notas em sua Bíblia. A teoria do dispensacionalismo, de interpretação
profética, exclui a Igreja das promessas feitas ao povo de Deus sob a velha
aliança, colocando no futuro (milénio) o Reino de Deus. Este “retalhamento” da
Bíblia é obra de homens, sem qualquer base nas Escrituras.
Cremos que a maneira mais bíblica de interpretar
as profecias do Antigo Testamento é seguir a orientação dos escritores do Novo
Testamento, que frequentemente lhes fazem referências como a “símbolos” e “figuras”
das grandes verdades do Evangelho.
“Israel” equivale ao povo escolhido de Deus, em
todas as gerações. Ao referir-se Paulo a “Israel segundo a carne” (1 Co.
10:181, ele está falando do povo judeu; “Israel de Deus”, por sua vez,
significa para ele todos quantos são novas criaturas em Cristo Jesus, onde “nem a circuncisão é coisa alguma, nem a
incircuncisão” (Gl. 6:1-5).
Com esta compreensão sobre a profecia, podemos
agora entender as palavras de Paulo: “Porque
não é judeu quem o é apenas exteriormente, nem é circuncisão a que é somente na
carne. Porém judeu é aquele que o é interiormente, e circuncisão a que é do
coração, no espírito, não segundo a letra, e cujo louvor não procede dos
homens, mas de Deus” (Rm. 2:28, 29).
A leitura cuidadosa de Gálatas 2-4 mostrará
claramente o caráter anti-bíblico da escola de interpretação literal. Após esta
rápida introdução, observemos agora o mistério dos profetas.
3.
As Profecias
Primeiramente, permita-nos dizer que quem não
conhece as profecias bíblicas está, na verdade, em falta diante do Eterno. A
genuína fé implica em estarmos fundamentados nos ensinos dos profetas, sem os
quais não temos como conhecer e justificar nossa esperança.
O estudo das profecias visa assegurar a esperança
e a certeza do futuro com mais significado para o cristão. Pedro disse que as
profecias são como uma luz que alumia lugares escuros, ou seja, revelam-nos o
desconhecido (2 Pe. 1:19).
O Eterno sempre mostrou antecipadamente aos
profetas as coisas do porvir e não quer que estejamos em trevas, ignorantes e
desorientados. O que revelou é para conhecimento de Seu povo: “Certamente, o Senhor o Eterno não fará
coisa alguma, sem primeiro revelar o seu segredo aos seus servos, os profetas”
(Am. 3:7).
Isaías foi o mais iluminado de todos os profetas
do Antigo Testamento. Suas profecias referentes ao Messias que Se assenta no
trono de Davi (Is. 9:6-7) e ao sofrimento do Salvador (Is. 53:1-12) fazem clara
alusão à pessoa de Jesus. Nos capítulos 54 e 55, as profecias feitas a Israel
significam uma chamada à retidão por parte da nação e uma promessa de graça
para todo o povo de Deus.
Jeremias repete a promessa de Deus a Abraão a
respeito da terra (Jr. 32:37), reportando-se também claramente à nova aliança
que Ele faria com a casa de Israel. “Eis
que aí vem dias, diz o Senhor, e firmarei nova aliança com a casa de Israel e
com a casa de Judá. Não conforme a aliança que fiz com seus pais, no dia em que
os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; porquanto eles anularam a
minha aliança, não obstante eu os haver desposado, diz o Senhor. Porque esta
terra é a aliança que firmarei com a casa de Israel, Depois Daqueles Dias, diz
o Senhor. Na mente lhes imprimirei as minhas leis, também no coração lhas
inscrevereis; eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo. Não ensinará jamais
cada um ao seu próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece ao Senhor,
porque todos me conhecerão, desde o menor até ao maior deles, diz o Senhor.
Pois perdoarei as suas iniquidades, e dos seus pecados jamais me lembrarei”
(Jer. 31:31-34).
Isso ao mesmo tempo mostra a espiritualidade da
nova aliança. Suas exigências não são simplesmente dadas na forma de regras
externas, mas no Espírito de vida que possui o coração, a lei torna-se um
princípio interno de dominação, e assim a verdadeira obediência é garantida.
O apóstolo Paulo repete esta profecia de Jeremias
em Hebreus 8:8-12. Seu argumento se baseia em que, se não tivesse havido falhas
na primeira aliança, não haveria razão para uma segunda (v. 7). Conclui dizendo
que, ao fazer-se a nova aliança, a antiga consequentemente se tornou “antiquada e envelhecida, prestes a
desaparecer” (v. 13).
Ezequiel, contemporâneo de Jeremias, ao referir-se
a uma futura aliança de paz - sem obras - usa quase a mesma linguagem: “Farei com eles aliança de paz; será aliança
perpétua. Estabelecê-los-ei, e os multiplicarei, e porei o meu santuário no
meio deles para sempre. O meu tabernáculo estará com eles; Eu serei, o seu Deus
e eles serão o meu povo” (Ez. 37:26, 27).
O bispo Tiago, em Atos 15:16, cita a profecia de
Amós 9:11 para demonstrar que o tabernáculo de Davi, ou seja o tabernáculo de
louvor, é a herança dos gentios e de todos aqueles que procuram o senhor.
O Soberano Deus afirma que o que está registado na
Bíblia por seus servos e profetas são suas palavras. Dentro deste livro Deus
reivindica soberania sobre todas as coisas que existem e sobre todos os seres
humanos e seu destino eterno. A Bíblia é o único livro sobre o planeta Terra,
que pode demonstrar que a sua inspiração sobrenatural em sua origem e que é de
um ser que existe fora desse mundo físico. Uma maneira de fazer isso é de
prever com uma precisão incrível eventos pessoais e do mundo antes que eles
aconteçam e, em seguida, trazer esses eventos para passar em todos os detalhes
dentro de um período de tempo especificado. O cumprimento da profecia é a maior
prova da existência de Deus e que ele tem autoridade e poder soberano sobre sua
criação.
4.
A Casa De Israel
Devido a uma errónea e radical conceção a respeito
da identidade de “Israel”, muitos problemas surgiram na interpretação de
profecias. Para reconhecer as promessas que lhe são feitas, temos que saber
quem é realmente Israel.
O nome “Israel” aparece pela primeira vez nas
Escrituras em Génesis 32:28: “Então
disse: Já não te chamaras Jacó, e sim, Israel: pois como príncipe lutastes com
Deus e com os homens, e prevaleceste”.
É muito importante saber que este nome não lhe
pertencia pela natureza, mas pela graça. O nome Israel selou Jacó como um homem
regenerado, indicando logo de início que ele seria outorgado aos “descendentes
espirituais de Abraão” e não seus mandamentos naturais. Desde sempre o nome
Israel teve um duplo sentido - o natural e o espiritual.
Com estes dois sentidos, natural e espiritual,
frequentemente se referem os Salmos a Israel: “Com efeito Deus é bom para com Israel, para com os de coração limpo”
(Sl. 73:1). Aqui o salmista faz alusão não ao Israel judeu, mas aqueles cujo
coração estava limpo diante de Deus.
Desejando estabelecer distinção entre os dois
significados da palavra “Israel”, o apóstolo Paulo escreveu a respeito do “Israel
segundo a carne” (1 Co. 10:18). Quem seria então o “Israel segundo o espírito”?
Pois, todos aqueles nascidos de novo e que adoram a Deus em espírito e em
verdade. A esta altura está mais do que evidente que o termo Israel possui mais
de um significado.
Referências mais pormenorizadas do Novo
Testamento, sobre Israel, podem ser compreendidas apenas no contexto do “Israel
espiritual”, não do “Israel nacional”. Vejamos apenas algumas delas:
a) At. 13:23 – “trouxe Deus a Israel o Salvador,
que é Jesus”.
b) At. 28:20 – “é pela esperança de Israel que
estou preso...”
c) Gl. 6:16
- “E a todos quantos andarem... e sobre o Israel de Deus”.
d) Rm. 9:6
- “... porque nem todos os de Israel são de facto israelitas”.
O Novo Testamento ensina claramente que as
promessas feitas sob a antiga aliança não se destinavam a uma “nação”, mas a um
“povo”, e foram recebidas não pelo nascimento natural e sim espiritual. Essa é
a razão por que provém da fé, para que seja segundo a graça, a fim de que seja
firme a promessa para toda a descendência, não somente ao que está no regime da
lei, mas também ao que é da fé que teve Abraão - porque Abraão é pai de todos
nós... (Rm. 4:16).
Também a “Jerusalém” podem ser aplicados os mesmos
princípios de dupla interpretação. Tanto no Antigo como no Novo Testamento a
Igreja é representada por esse nome: “Falai
ao coração de Jerusalém” (Is. 40:2). Ainda: (Gl. 4:25, 26 e Ap. 3:12).
5.
Os Filhos De Abraão
Jeová disse repetidamente aos israelitas que eles
eram um “povo
escolhido”,
um povo de “propriedade
especial” de Deus (Êx. 19:5-6; Dt. 7:6), e estas mesmas
expressões são aplicadas ao povo de Deus em Cristo, Israel espiritual (1 Pe.
2:9; Tt. 2:14). Aqueles que obedecem ao chamado do evangelho, que vêm para a
comunhão com Deus em Jesus Cristo, são o povo de Deus num sentido “especial”.
No tempo de Jesus os fariseus argumentavam que,
sendo eles “filhos de Abraão”, eram justos e não precisavam de aceitar o
Evangelho. Censurando-os, Jesus lhes disse: “Se sois filhos de Abraão, praticai as obras de Abraão” (Jo. 8:39).
Eles eram na realidade filhos de Abraão, mas apenas segundo a carne.
Se os judeus, e aqueles que declaram ser
israelitas espirituais, lerem Deuteronómio 7:7-8, esta afirmação significativa
desanimaria o falso orgulho. “Não vos teve o Senhor afeição, nem vos escolheu porque fôsseis mais numerosos do que qualquer povo, pois éreis o
menor de todos os povos, mas porque o Senhor vos amava e, para guardar o juramento
que fizera a
vossos pais, o Senhor vos tirou com mão poderosa e vos resgatou da casa
da servidão, do poder de Faraó, rei do Egito”.
Foi o amor de Deus pela humanidade caída que
iniciou sua aliança e promessas a Abraão – que uma nação especial seria
construída e que em seu descendente (singular, Cristo) seriam “abençoados
todos os povos” (Gl. 3:8-16). A passagem em Deuteronómio
7 conta aos judeus que eles eram os “escolhidos”, não para glorificação de uma
raça, mas para a bênção de todos os povos em Cristo.
Novamente nos deparamos com o duplo significado da
profecia: o natural e o espiritual. “Sabei,
pois, que os da fé é que são filhos de Abraão” (Gl. 3:7). Tomando o
princípio dessas palavras dirigidas aos judeus, devemos refletir no facto de que
nós, como cristãos, somos os verdadeiros
descendentes (filhos) de Abraão,
e todas as promessas que Deus lhe fez pertencem-nos, pela fé em Jesus Cristo.
Com versículos como este podemos enterrar
definitivamente todo o literalismo da escola dispensacional de interpretação.
6.
A Nova Aliança é Um Testamento
Antes de mais, entender a diferença entre o Antigo
e o Novo Testamento é um dos fundamentos mais importantes que devem ser
estabelecidas para compreender corretamente a Palavra de Deus.
O significado da palavra “testamento” na Bíblia vai no
sentido de “última vontade e testamento”, ou como comummente acabamos por chamar
de “vontade”. A última vontade e testamento de uma pessoa só pode ser
exercido, depois que essa mesma pessoa tenha morrido, a fim de que a herança seja
recebida por aqueles nomeados no testamento.
Na Bíblia, isto também é verdade para a Nova
Aliança para entrar em vigor. Quando Jesus estava vivo na Terra, ele ensinou
sob a antiga aliança ou do Antigo Testamento. Ele ensinou ao abrigo da lei, que
incluiu os dez mandamentos e todos os ensinamentos de Moisés, que muitos anos
antes foi dada por Deus a Moisés.
Quando Jesus morreu, rectificou a Nova aliança,
transformando-a num testamento. Por esta razão, Cristo é o Mediador da nova
aliança, para que os que são chamados recebam a promessa da herança eterna,
visto que ele morreu como resgate pelas transgressões cometidas sob a primeira
Aliança (Hb. 9:15).
A mesma palavra grega (diatheke) é usada para descrever a Nova Aliança e o
Novo Testamento. A antiga aliança jamais foi chamada de testamento, pois um
testamento (que significa também uma promessa) somente pode ser feito por
alguém que vai morrer.
A antiga aliança foi escrita em pedra fria, mas a
nova está escrita em nossos corações e mentes! A primeira foi uma cópia
do celestial e classificada como a sombra.
A nova é um ser espiritual
(Rm. 7:7, 12, 14).
O “sangue da aliança” citado por Moisés (Êx. 24:8)
era o símbolo do sangue do Novo Testamento: o precioso sangue de Jesus vertido
no Calvário (Mt. 26:28). Por Sua morte, Cristo retificou a aliança,
transformando-a num testamento.
7.
O Conteúdo Da Nova Aliança
A aliança cristã é composta de promessas divinas
que garantem a santificação e a preservação do povo de Deus até ao dia final de
salvação. Em Hebreus 8:10-12 elas se encontram resumidas em quatro palavras:
regeneração, reconciliação, santificação e justificação.
Regeneração –– “Nas suas mentes (que é o lugar onde procedem nossos pensamentos,
ideias, raciocínio...) imprimirei as
minhas leis; também sobre os seus corações (que é o centro de nossas
emoções, desejos e sentimentos - o âmago da nossa alma) as inscreverei” (Hb. 8:10). O homem não mais está sujeito a uma lei
externa; ele agora reage segundo a obra interior do Espírito, que recebe por
graça. O povo de Deus não se esforça, como antes, para se mudar a si mesmo pela
obediência, pois ele foi transformado pela atuação de Deus, e a Sua vontade e
lei foram escritas nos seus corações e mentes.
Reconciliação – “E Eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo” (Hb. 8:10). O povo
de Deus não precisa mais ficar do lado de fora do tabernáculo, enquanto apenas
um deles entra no lugar santíssimo. Novo relacionamento foi estabelecido.
Quebrou-se a maldição do pecado de Adão. O homem pode novamente desfrutar de
uma aproximação com o seu Pai celestial, acompanhado de todas as bênçãos de
provisão e proteção.
Santificação – “E não ensinará jamais cada um ao seu próximo nem cada um ao seu irmão,
dizendo: Conhece ao Senhor; porque todos me conhecerão, desde o menor deles até
ao maior” (Hb. 8:11).
Israel era uma nação pecaminosa, não santificada. “O boi conhece o seu possuidor e o jumento o
dono da sua manjedoura; mas Israel não tem conhecimento, o meu povo não
entende. Ai desta nação pecaminosa, povo carregado de iniquidade, raça de
malignos, filhos corruptores; abandonaram o Senhor, blasfemaram do Santo de
Israel, voltaram para trás” (Is. 1:3-4).
Na nova aliança o Espírito Santo está dentro de
nós, como o guia à verdade e o revelador de Jesus Cristo. Pela primeira vez é
possível o processo divino da santificação.
Justificação – Um ato judicial de Deus no
qual Ele declara, sobre a base da justiça de Jesus Cristo que todas as demandas
da lei estão satisfeitas com respeito ao pecador. Os que são justificados tem
“paz com Deus”, “Segurança da salvação” (Rm. 5:1-10) e uma herança entre os que
são santificados (At. 26:18). “Pois, para
com as suas iniquidades usarei de misericórdia, e dos seus pecados jamais me
lembrarei” (Hb. 8:12). Eis aqui a promessa bendita do completo perdão de
pecados. Vemos o quanto a nova aliança é “melhor” do que a antiga, que
significava apenas uma promessa de coisas que estavam por vir. Enquanto na antiga
aliança havia uma “recordação de pecados
todos os anos” (Hb. 10:3), na nova eles são inteiramente perdoados e
esquecidos. Toda a sorte de maldade é incluída nesta oferta maravilhosa de
misericórdia: injustiça, pecados e iniquidades.
8. As Condições Da
Nova Aliança
A mais dramática diferença entre a velha e a nova
aliança é a condição exigida de todos no sentido de se entrar em relação de
aliança com Deus.
Veja Romanos 4 e Gálatas 3. Nestes dois grandes
capítulos Paulo ensina a doutrina da justificação pela fé. A base desta
ilustração é a velha aliança, que exigia obediência à lei, e mediante a qual
ninguém poderia ser jamais tido por justo.
Devemos notar que condição alguma é imposta ao
pecador que procura perdão e salvação, a não ser a fé na obra completa de Jesus
Cristo. Qualquer outro evangelho é um evangelho falso.
Foi a leitura e a meditação sobre esta verdade
bendita que dissuadiu Martinho Lutero da doutrina de obras, pregada pela Igreja
Católica Romana e por ela praticada através da venda do “indulgências do pecado”,
a par de pagamento em dinheiro - subornos a fim de se praticar impune e
livremente a maldade.
Quando, pela iluminação do Espírito Santo, Lutero
pode perceber que o homem se tornaria justo tão-somente através da fé, e que
pelos mesmos meios da fé ele permaneceria neste estado de graça, então ele se
separou do sistema romano, tornando-se o pai da Reforma da Igreja.
Nos lugares onde ainda se prega o “evangelho de
obras”, e onde o dom gratuito de Deus não é compreendido, as pessoas estão
vivendo negras épocas de bancarrota espiritual. Desastradamente muitos desses
lugares são chamados de “igrejas evangélicas”.
9. Conclusão
A nova aliança (o N. T.) é uma dispensação de
promessas gratuitas de graça e misericórdia, aos pecadores culpados e
condenados. Ela fala em primeiro lugar ao indivíduo, convidando-o a aceitar a
oferta da salvação; depois o trata como membro do Corpo de Cristo, o povo
escolhido, o Israel de Deus - os verdadeiros herdeiros das promessas de todas
as alianças.
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