Leitura: 1
Samuel 1:1-17
Elcana era, evidentemente, um bom esposo para Ana, mas
com o relaxamento geral da moral, o casamento deteriorara, e os amargos efeitos
da poligamia estão aqui ilustrados. Como Ana era amada de um modo especial,
Penina a odiava.
A grande tristeza de Ana, de ser uma mulher estéril, levou-a
a buscar a Deus. Nele, ela encontrou o seu único socorro. Quando o nosso
coração está prestes a romper-se, o que mais podemos fazer senão derramar nossa
queixa diante daquele que está sempre pronto a ouvir nosso clamor? Nós podemos
confiar a Deus os nossos segredos; nossa confiança para Ele é sagrada. O amor
de Elcana pode ser muito precioso, mas, na maior parte do tempo, temos que
pisar as uvas no lagar sozinhos. Depois de termos comido e bebido juntamente com
os nossos amigos de tal maneira que eles nem sequer imaginam o que se passa
dentro de nós, precisamos de encontrar um ponto onde possamos relaxar e abrir
as comportas da tristeza. E que lugar melhor que o propiciatório? Não precisamos
de fazer votos pensando em subornar Deus para que nos socorra. As dádivas de
seu amor são mais abençoadas para ele que as dá do que para nós que as
recebemos. Mas, simplesmente por amor a Deus podemos votar o que quisermos.
Ana era a esposa estéril de Elcana. Ela não tinha
filhos e, por isso, vivia em oração aos pés do Senhor. Um dia, em grande
aflição de alma, orou de forma especial ao Senhor pedindo-Lhe um filho varão.
Nessa oração, fez um pacto com Deus em que determinou que esse filho seria
nazireu, dedicado a Ele todos os dias de sua vida.
Há na Bíblia muitos servos e servas cujas vidas são
exemplos e desafios de fé para todos nós. Em Ana, a mãe de Samuel, por suas
experiências, vemos características especiais, que não cabem só às mães, mas a
todos os cristãos em geral. São virtudes básicas para quem quer inaugurar um
tempo profético na sua vida e história, debaixo de uma unção capaz de gerar
vitórias e desatar conquistas segundo o coração de Deus. Poderíamos dizer que
Ana foi um exemplo a ser seguido.
O Senhor então usa o sacerdote Eli para liberar a
palavra profética do milagre, que quebrou o ciclo da esterilidade e inaugurou o
tempo profético da conquista e da vitória. O Senhor fez a Sua parte e
concedeu-lhe Samuel. Samuel era mais do que o filho de Ana, era mais do que um
profeta: ele era o milagre, o selo da intervenção sobrenatural de Deus não só
na vida de Ana, mas também na sua casa, na nação de Israel e em nossas vidas.
Com o nascimento de Samuel podemos dizer que não
nasceu só um grande profeta de Deus, mas com ele nasceu uma geração profética
que, pelas suas características, continua influenciando a vida de muitos servos
e servas de Deus. Samuel foi o resultado de um grande milagre: o profeta nasceu
para selar o fim de um ciclo de esterilidade na vida de sua mãe.
Como Igreja do Senhor, que crê em palavras e ações proféticas, que crê que
o tempo dos sinais, prodígios e maravilhas de Deus não foram apenas coisas do
passado, que crê que os ciclos de esterilidade e derrota podem (e vão!) ser
quebrados e substituídos pelos ciclos da conquista e da vitória, quando olhamos
para esse episódio maravilhoso, percebemos, na vida daquela mulher, pelo menos
três características ou qualidades que precisamos ter para que o tempo
profético e os frutos da profecia se cumpram em nossas vidas.
1.
Três características importantes de
Ana:
É certo que muitos pais colocam o
nome Ana em suas filhas por causa da personagem bíblica do Antigo Testamento, a
mãe de Samuel. Ela entrou para a história como alguém que foi feliz em sua
oração feita a Deus, atendida por Ele de modo especial. Vejamos algumas
características desta oração:
a) Prática da oração (1:10-11).
Orar sempre, e nunca esmorecer, é porque ela sabia que
a oração produz poder, e um servo de Deus sem poder, é como uma candeia
colocada debaixo do alqueire, não serve para nada porque não ilumina.
É incrível que, mesmo triste e abatida por ser uma
mulher estéril, Ana não se afastava da presença do Senhor. Ela levava aos
ouvidos do Senhor as suas necessidades em oração. Quando o nosso coração está
prestes a romper-se, o que mais podemos fazer senão derramar nossa queixa
diante daquele que está sempre pronto a ouvir o nosso clamor? Precisamos
aprender a gemer longamente diante de Deus, para que Ele nos conceda as bênçãos
que buscamos, sem nos preocuparmos com o que estão pensando de nós (1:12-14).
No seu propósito de ir ao Senhor em oração pela conceção do seu filho, ela não
se preocupou em ser considerada extravagante e orava com o coração. Isto pode
confundir os homens, mas com certeza abre as janelas dos céus.
Eis aqui um encantador modelo da comunhão íntima com
Deus e seus resultados. Muitos iam e vinham ao pátio do tabernáculo. Não era o
melhor lugar para uma oração particular ou pessoal; e essa triste mulher não
tinha condições de proferir petições audíveis, por isso falava consigo mesma.
Todos podemos agir desse modo no meio das multidões que passam alegremente junto
de nós em seu caminhar despreocupado. Não desanimemos pelo cansaço. “Demorando-se ela no orar perante o Senhor”.
As pessoas podem nos interpretar mal e censurarem-nos. Os Elis que julgam
superficialmente podem chegar a conclusões apressadas, mas continuemos orando!
Continuemos orando mesmo que a oração pareça impossível de ser atendida!
Continuemos orando, embora o coração e a carne falhem! Continuemos orando,
porque Deus ainda levantará o pobre do pó e o necessitado do monturo! E depois
que tivermos entregado nossa causa a Deus, podemos ir em paz e não fiquemos
mais tristes.
“Lembrando-se
dela o Senhor”. Claro que
se lembrou. Ele nos tem gravado na palma de suas mãos e os arruinados muros da
nossa paz estão sempre diante dele. A hora virá quando, como Ana, nós estaremos
de volta ao ponto onde a oração foi feita, para confessar que Deus atendeu à
petição que lhe fizemos. Deus não pode falhar e as suas dádivas são mais doces
e mais seguras quando seus filhos as devolvem a eles.
É necessário desenvolvermos essa prática em casa, nos
grupos e onde for necessário. É com espírito de oração, intercessão e súplicas,
que as bênçãos espirituais são concebidas e os céus proféticos são abertos, e
que pessoas comuns são transformadas em incomuns por sua dedicação a Deus. Como
homens e mulheres de Deus, só conquistaremos no sobrenatural de Deus, inclusive
almas para Jesus, quando pedirmos ao Pai com intensidade.
b) Fidelidade (1.25-28).
O facto de não poder ter filhos
era algo que médico algum poderia resolver, o que fez com que Ana fizesse de
Deus o seu único recurso. Diferente de Sara e Raquel, esposas de Abraão e
Isaque, que deram suas servas aos maridos para que gerassem filhos (com graves
consequências), Ana decidiu esperar totalmente pela provisão de Deus, sem tentar
dar um “jeitinho” ou um “plano B” para receber uma resposta positiva.
Ana expôs de maneira específica o
anseio de seu coração. Deus parece se alegrar quando somos diretos em nossas
orações, e Ana deixou isto bem claro: queria um menino. Como Salomão que pediu
sabedoria a Deus para poder reinar (1 Rs. 3:5); como Bartimeu que, diante da
pergunta de Jesus: “que queres que eu te
faça?”, foi direto – “que eu volte a
ver!” (Mc. 10:51-52); nós precisamos ser claros e diretos em nossas
orações. Isto não quer dizer que vamos forçar Deus a nos dar o que queremos,
mas, como Jesus no Getsêmani, dizer: eu quero isto, mas que a Tua vontade seja
feita.
Ela não deixou de adorar a Deus porque ainda não havia
recebido a sua bênção; pelo contrário, mesmo sendo escarnecida e afligida por
Penina, pelo facto de ser estéril, Ana permaneceu fiel ao Senhor e perseverou
na adoração. Ana fez um voto ao Senhor, caso recebesse a sua bênção, e foi
abençoada concebendo Samuel. No tempo devido, Ana foi ao templo com seu marido
para apresentar Samuel ao Senhor.
O voto de Ana, que demonstra toda
a sua fidelidade e gratidão a Deus, mostrou que o seu foco não estava apenas em
si mesma. Ela estava pronta para abrir mão da bênção que tanto queria, caso
fosse esta a vontade de Deus. E abrir mão de um filho único, na antiguidade,
era como abrir hoje mão do plano de aposentação. Ao fazer o voto de entregar o
filho ao sacerdote, Ana estava quebrando o ciclo da barganha com Deus para
declarar que sua prioridade era o Reino, e não ela mesma. E Deus agradou-se
tanto de dar um filho a Ana que fez dele um dos maiores líderes que Israel
conheceu naqueles dias.
Para muitos, isso bastaria. Mas a fidelidade de Ana
exigia mais, exigia que ela cumprisse o voto que fizera. Para exercitar tal
fidelidade foi necessário a autonegação: a bênção que ela tanto queria, que
tanto pediu ao Senhor, deveria ser entregue, devolvida ao Senhor, para
cumprimento do seu voto. Ana não fez um pacto com o Senhor só para receber a
bênção. Recebeu o filho nos braços e o colocou nos braços do Senhor.
Que exemplo este de Ana para nós.
Deus lhe concebeu o dom de ser mãe e ela agora volta e agradece ao Deus de sua
bênção entregando o próprio filho ao Senhor. Da mesma forma que Miriam (Êx.
15:21-22), Débora (Jz. 5), ela agora louva ao Deus de sua vida (1Sm. 2). Nosso
Deus é digno de toda a honra, toda a glória e todo o louvor, pois demonstrou
para com a humanidade inteira o seu infinito amor, entregando seu filho por
amor de nós? “Porque Deus amou o mundo de
tal maneira que deu o seu Filho unigénito, para que todo aquele que nele crê
não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo. 3:16).
Pela
fidelidade e persistência, Deus honrou a humilde Ana. Mulher de oração, mulher
de determinação, mulher que não tinha egoísmo, mulher que reconhecia que Deus
merecia o melhor da sua vida. Ana não se desesperava, antes, derramava a sua
alma nos pés do Senhor. Quieta, não se descabelava, mas orava baixinho, parece
que mantinha um segredo com Deus, e tinha. Ana serve de exemplo não somente
para as mulheres, mas também para muitos obreiros que lutam e lutam e
permanecem infrutíferos. Tudo quanto vão fazer dá errado. Não realizam
batismos, não ganham almas. Este é o momento em que o obreiro deve correr para
a amurada do barco (no caso do obreiro, a amurada do altar do Senhor) e banhar
esta de lágrimas quentes vertidas entre sussurros inefáveis com Deus. Clamando,
Senhor: dai-me almas, dai-me filhos na fé, dai-me o dom do céu. Senhor, que eu
tenha palavras temperadas com sal; que eu possa falar inspirado não por sabedoria
secular, mas pela do Espírito.
É preciso ter a consciência de que não somos donos de
coisa alguma; tudo vem do Senhor e aos Seus pés tudo deve ser depositado.
Nossas vitórias, independentemente de quais sejam, devem ser colocadas aos pés
do Senhor. É assim que se transita em tempos proféticos, onde o sobrenatural de
Deus flui soberanamente. Os milagres e vitórias recebidos, e até os “nossos
filhos” carnais e espirituais, na verdade não são nossos e devem ser colocados
aos pés do Senhor. A expressão da nossa fidelidade a Deus é um selo profético
da nossa aliança com Ele e sempre requererá algum nível de autonegação, de
renúncia e de desprendimento.
c) Espírito de gratidão (2:1-10).
Ana não vivia somente pedindo ao Senhor; ela orava
também agradecida a Ele, em louvor e adoração. “Então, orou Ana e disse: O meu coração se regozija no Senhor, a minha
força está exaltada no Senhor; a minha boca se ri dos meus inimigos, porquanto
me alegro na tua salvação. Não há santo como o Senhor; porque não há outro além
de ti; e não há Rocha nenhuma, como o nosso Deus. Não multipliqueis palavras de
orgulho, nem saiam coisas arrogantes da vossa boca; porque o Senhor é o Deus da
sabedoria e pesa todos os feitos na balança. O arco dos fortes é quebrado,
porém os débeis, cingidos de força. Os que antes eram fartos hoje se alugam por
pão, mas os que andavam famintos não sofrem mais fome; até a estéril tem sete
filhos, e a que tinha muitos filhos perde o vigor. O Senhor é o que tira a vida
e a dá; faz descer à sepultura e faz subir. O Senhor empobrece e enriquece;
abaixa e também exalta. Levanta o pobre do pó e, desde o monturo, exalta o
necessitado, para o fazer assentar entre os príncipes, para o fazer herdar o
trono de glória; porque do Senhor são as colunas da terra, e assentou sobre
elas o mundo. Ele guarda os pés dos seus santos, porém os perversos emudecem
nas trevas da morte; porque o homem não prevalece pela força. Os que contendem
com o Senhor são quebrantados; dos céus troveja contra eles. O Senhor julga as
extremidades da terra, dá força ao seu rei e exalta o poder do seu ungido”
(O Salmo de Ana 2:1-10)
A gratidão nos une porque requer
um senso de humildade. Você não pode ser grato e orgulhoso ao mesmo tempo.
David é humilde o suficiente para saber a quem agradecer por seus talentos, sua
saúde, sua família, seu emprego. Esta humildade o torna acessível a mim e a si
e nos coloca no mesmo patamar, como recetores de uma sorte para além da razão
dada por um Deus incomparável.
Precisamos de aprender com ela, mesmo que ainda o
nosso milagre não tenha chegado, nosso coração deve permanecer plenamente grato
a Deus. Num mundo onde o mais comum é a murmuração, precisamos de aprender a
orar com gratidão ao Senhor. Há muitos cristãos ingratos, só se relacionam com
Deus enquanto são atendidos e O avaliam erroneamente pelo que ainda não
receberam dEle. Um coração ingrato atrai maldições, mas um espírito agradecido
prepara o solo para o Senhor multiplicar as bênçãos (2:20-21).
Intercessores proféticos geram gerações proféticas e
desatam tempos proféticos. Muitos continuam em territórios de esterilidade, em
várias áreas, por causa da ausência de pelo menos um desses três aspetos
encontrados em Ana. É preciso mudanças radicais no aspeto pessoal, para que o
tempo das maravilhas de Deus se cumpra em nossas vidas. Tome uma posição
profética agora mesmo e decida permanecer na oração fervorosa pelas as suas
causas, expresse a sua fidelidade a Deus em todos os níveis e em qualquer
circunstância e, sempre, coloque diante de Deus um coração agradecido a Ele pelo
que Ele é, e não somente por causa das bênçãos recebidas.
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