“Jesus falou assim, e, levantando os seus
olhos ao céu disse: Pai é chegada a hora; glorifica a teu Filho, para que
também o Teu Filho te glorifique a. Ti. Assim como lhe deste poder sobre toda a
carne, para que dê a vida, eterna a todos quantos lhe deste. E a vida eterna é
esta: que te conheçam, a Ti só, por único Deus, verdadeiro, e ai Jesus Cristo,
a quem enviaste” (Jo. 17:1-3).
A Glória Final
Jesus
acabara de tomar a Última Ceia com os discípulos e agora, prega a sua última
mensagem na terra. Terminada a sua instrução aos discípulos, na qual
estabeleceu o fundamento de sua comunidade (caps. 13-14), chega o momento mais
solene, em que os leva à presença de Deus, proferindo em prol deles a sua
última oração na terra. Jesus passa da comunhão que tem com os seus discípulos
para a comunhão com seu Pai em favor deles. É verdadeiramente uma oração
sacerdotal, em que ora, não somente por eles, como também por todos os membros
futuros da sua Igreja.
À
medida que o Senhor Jesus olhava para o futuro, Ele se sentia confortado com as
profecias que falavam da Sua ressurreição e glórias futuras (Hb. 12:2). Podemos
especular que nos dias que antecederam estes momentos o Senhor Jesus deve ter
lido e relido, meditado e orado acerca daquelas partes das escrituras que podiam
lançar luz sobre o Seu futuro imediato. Ele acreditava na palavra do Pai e
prosseguiu sabendo que Seu Pai seria fiel à palavra empenhada (Is. Caps. 52, 53
e 61).
Ele
está pronto a encarar o gólgota, mas para isso, precisa de falar com o Pai em oração,
descriminando os três aspectos básicos do relacionamento que se constituiu a
partir de seu ministério, entre Ele e o Pai, Ele e os seus discípulos, e os
seus discípulos e os futuros novos discípulos. Esta é a sua oração de
consagração tendo em vista o sacrifício iminente na cruz, mas em certo sentido
já pressupõe a apresentação e a aceitação do sacrifício, tornando-se o
protótipo da intercessão perpétua em que, Jesus, como sumo-sacerdote dos seus,
está empenhado em favor deles à mão direita do Pai (Hb. 7:25).
O
capítulo 17 do Evangelho de João é, sem dúvida, chamado o santuário interior
dos Evangelhos. Este capítulo contém de facto a mais extensa e profunda oração
de Jesus que nós temos. O nosso Sumo-sacerdote está a dar um relatório a Seu
Pai da Sua vida e ministério, no qual expressa os sentimentos, pensamentos e
vontades mais íntimas d’Ele em relação aos seus discípulos.
Jesus
havia construído uma bela história pública com o Pai entre os seus familiares,
amigos e discípulos. Em todas as suas atividades, a sua relação com o Pai
sempre foi marcante, desde o início de sua presença entre os homens - uma
relação de testemunho do Pai (Mt. 3:13-17); de confirmação das Escrituras (Mt.
12:17-21); de companhia do Pai (Mt. 15:5); e de unidade com o Pai (Jo. 17:21).
Agora, após erguer os olhos ao céu em oração, que, por sua excelência e
invisibilidade, é símbolo da esfera divina, Jesus disse que chegara a sua
“hora”, - anunciada em Canaã (Jo. 2:4), cujo período começou seis dias antes da
Páscoa (Jo. 12:1-23) - o ponto central do plano redentor de Deus. Agora, pelo
que Ele diz, ela é chegada. Prevendo-a, Ele dissera pouco antes: “É chegada a hora de ser glorificado o Filho
do homem” (Jo. 12:23); agora Ele ora para que seja glorificado. Ninguém, a
não ser o Pai, pode glorificá-lo; ao contrário de outros, Ele busca “a glória que vem do Deus único” (5:44).
Ele sabe muito bem que a cruz e a sua ressurreição dentre os mortos será o
instrumento desta glorificação, e ora para que possa aceitá-la de forma a
glorificar o Pai também.
Ao
pedir ao Pai que manifeste a glória de seu Filho, Jesus evidencia o carácter
dinâmico da comunicação da glória, a qual não é um bem transmitido de uma vez
para sempre e que age independentemente de sua fonte, mas pelo contrário, a
comunicação é incessante, ininterrupta, como expressão continua do amor do Pai
ao Filho. Jesus não pode manifestar sua própria glória sem o acordo do Pai,
porque o que o manifesta é a glória que o Pai lhe comunica. Vê-se, pois, que a
expressão de João 1:32: “… Eu vi o
Espirito descer dos céus como pomba e permanecer sobre Ele”, não
significava que o Espirito se separava do Pai para ficar em Jesus, mas que
desde aquele momento, a comunicação total do Espirito do Pai a Jesus não sofre
interrupção.
Ele
glorificará o Pai fazendo a Sua vontade, suportando até a cruz, e cumprindo o
propósito do Pai de ser uma bênção para muitos, mediante a conversão de pessoas
de todas as nações, através desta cruz. A prioridade de Jesus, enquanto vivesse
nesta terra, era a de trazer glória ao Seu Pai, vivendo de acordo com um
cronograma divino - “Nas tuas mãos, estão
os meus dias” (Sl. 31:15) - e essa glória seria concretizada em sua obra
consumada na cruz. O acto de aceitar a cruz, de facto, é o exercício da
autoridade que o Pai lhe deu sobre toda a carne – isto é, toda a raça humana. É
na cruz que o facto de Ele ser rei é proclamado (veja Jo. 19:19); é pela cruz
que ele cumprirá a missão que o Pai lhe deu de abençoar o seu povo com vida
eterna
A
vida eterna consiste no conhecimento de Deus. Já que tal conhecimento é
concedido pelo revelador que Deus enviou, e na verdade é personificado nele, o
conhecimento do revelador é a mesma coisa que o conhecimento de Deus que é
revelado. O Pai e o Filho se conhecem em amor mútuo, e através do conhecimento
de Deus as pessoas são admitidas ao mistério deste amor divino, amando a Deus,
sendo amadas por Ele e, em resposta, amando umas às outras. De Jesus depende o
êxito da obra criadora de Deus, pois somente através d’Ele se pode comunicar
aos homens a vida definitiva (Jo. 5:24-26). Jesus tem a capacidade de fazer com
que o homem nasça de Deus (Jo. 1:13), dando-lhe assim a capacidade de fazer-se
filho.
Embora
se tratasse de momentos de íntima comunhão entre o Filho e o Pai, era, ao mesmo
tempo, uma lição solene que o Mestre ensinava aos discípulos. Era o momento de
manifestar o esplendor de sua autoridade, de conceder vida eterna a todos os
eleitos (Jo. 6:44; 1:11-12). Tudo o que Jesus ensinou e realizou manifestava a
compaixão, a verdade, a sabedoria e o poder do Pai. Através de tudo o que fez
Jesus trouxe, de contínuo, glória a Deus.
Nessas
maravilhosas palavras, há um tom de fé, de firme confiança, como se Ele
soubesse que estava pedindo o que estava no coração e no pensamento do Pai. O
Senhor fala como se já tivesse passado pela morte e estivesse fazendo Sua
súplica perante o trono de Deus. Ele está contente pela autoridade que possui
só porque por ela pode conceder vida. A obra da redenção de almas, assim como a
igreja, não foram coisas que aconteceram por mero acaso, tudo foi planeado pela
Trindade antes do mundo, ser criado.
Nos
seus últimos momentos, Jesus demonstra em suas últimas palavras dirigidas ao
Pai o seu anseio para que os discípulos aprofundassem o conhecimento deles
referente a Deus. Só conseguimos nos relacionar intimamente com alguém a quem
conhecemos de modo profundo. Como o profeta Oseias recomenda: “Conheçamos e prossigamos em conhecer ao
Senhor” (Os. 6:3).
Os ensinos de Jesus na chamada oração
sacerdotal podem dar-nos novo fervor e nova vida todas as manhãs.
A oração é muito importante
A
oração é a mais importante das atividades humanas. Orar não é balbuciar
palavras ao vento, é falar com Deus; não é apenas fechar os olhos ou dobrar os
joelhos, mas dobrar o coração e a mente; não é a repetição mecânica de frases
prontas, é relacionar-se sinceramente com Deus. Orar produz intimidade com
Deus. A oração nos aproxima Dele. É na oração que buscamos a face de Deus e
nela encontramos o prazer da Sua presença. Na conversa sincera com Deus, o
conhecemos melhor; e Ele nos faz conhecer melhor a nós mesmos.
Jesus,
mesmo sendo Deus, em muitos momentos, retirou-se do meio do povo para ficar
sozinho em oração. Ele buscava mais a intimidade com o Pai do que a
popularidade (Mc. 1:35). Apesar das multidões, das tarefas e das pressões das
pessoas, Jesus nunca deixou de dedicar tempo para estar a sós com Deus. Jesus
era um Homem de oração e fez dos Seus discípulos, homens de oração, pois ensinou-os
a orar (Mt. 6:5-13); apontou a necessidade da oração; e insistiu sobre seu
poder espiritual (Mt. 7:7; 17:21). Nele, sempre vemos diversas razões pelas
quais a oração é importante. É por isso que a oração tem de ser prioridade em
nossa vida. Nela encontramos a intimidade de Deus e por sua instrumentalidade
somos conformados à imagem de Seu Filho Jesus Cristo. Por isso, ore!
Jesus
orou para o benefício de todos os presentes (11:41-42), e o mesmo é verdade
aqui também (17:13). A vida inteira de Jesus tem sido uma revelação do Pai, em
união com ele, por isso é apropriado que o seu ensino termina na forma de
oração, o género mais intimamente associada com a união com Deus. E damos
graças a Deus porque o Espírito Santo conservou esta oração para que ainda hoje
pudéssemos, meditar nela, sendo ao mesmo tempo animados e fortalecidos por ela.
Cristo
não menciona a Sua morte neste capítulo, mas o plano completo de Deus incluía,
os resultados profundos da Sua, morte. Se dessemos um breve resumo de Cristo e
da Sua obra na terra, diríamos como Paulo na sua, primeira carta aos Coríntios,
capítulo 15 e versos 3 e 4: “Que Cristo morreu
por nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado, e que
ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras”. Mas esse ponto não é
focado neste capítulo 17 de João. Toda, a ênfase está nos filhos que Ele veio
buscar para o Pai. Filhos esses que estavam na mente da Trindade e pelos quais
a Trindade ansiava antes do mundo ser criado. Deus queria, filhos santos que O
amassem e Lhe obedecessem. A obra eterna da redenção é de trazer filhos à
glória. Deus estava em Cristo (Emanuel quer dizer Deus connosco), não somente
para nos perdoar os pecados e nos purificar mas, também para nos dar uma,
natureza nova e, pelo Seu Espirito, fazer morada em nós. Para além disso, Ele
quer moldar-nos à Sua semelhança. A Sua vontade é que vivamos em santidade,
como vemos em Hebreus 10:10: “Na qual vontade
temos sido santificados (feitos santos) pela oblação do corpo de Jesus Cristo,
feito uma, vez”.
O
homem procura glória na guerra e de muitas outras maneiras. Há soldados que arriscam
as suas vidas com a finalidade de receberem uma medalha. Porém, o verdadeiro
homem é humilde, é um homem de oração, porque a sabedoria e a coragem recebe-se
de joelhos no chão.
João
escreveu o seu Evangelho quando tinha noventa anos de idade. Ele ouviu esta
oração uma vez e, com a ajuda, do Espírito Santo, registou-a sessenta anos mais
tarde. O que eu quero dizer é que o Espírito Santo o inspirou a fazê-lo, dando-lhe
palavra por palavra. E a mesma afirmação podemos fazer em relação aos 40
escritores dia Bíblia. Deus deu-lhes palavra por palavra.
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