“E,
entrando numa certa aldeia, saíram-lhe ao encontro dez homens leprosos, os
quais pararam de longe; e levantaram a voz dizendo: Jesus, Mestre, tem
misericórdia de nós. E ele, vendo-os, disse-lhes: Ide e mostrai-vos aos
sacerdotes. E aconteceu que, indo eles ficaram limpos. E um deles, vendo que
estava são, voltou glorificando a Deus em alta voz. E caiu aos seus pés, com o
rosto em terra, dando-lhe graças e este era samaritano. E Jesus respondendo
disse: Não foram dez os limpos? E onde estão os nove? Não houve quem voltasse
para dar glória a Deus senão este estrangeiro? E disse-lhe: Levanta-te, e vai a
tua fé te salvou” (Lc. 17:12-19).
Introdução
Este
acontecimento que acabamos de ler, da cura dos dez leprosos, deu-se já nos
últimos dias da vida do Mestre. Lucas diz-nos que Jesus caminhava para
Jerusalém e atravessou a Galileia e a Samaria. Portanto ele caminhava para sul.
Esta
informação parece que não tem nada de especial. Jesus atravessou a Galileia.
Mas atravessar a Samaria, é que não era habitual nessa época. Devido ao
tradicional ódio entre esses dois povos, geralmente os judeus só se aventuravam
a atravessar a Samaria se formassem um grupo grande e bem organizado e armado.
Se fosse um pequeno grupo como o de Jesus com os seus discípulos, seria muito
perigoso passar pela Samaria. Mas o nosso Mestre, não só atravessou a Samaria,
como até entrou em aldeias de samaritanos.
Certamente
que a fama de Jesus já era bem conhecida, e penso que nesta época, o Mestre já
se começava a demarcar da mentalidade judaica que esperava um Messias judeu,
para libertar os judeus, e estabelecer um grande império em que os outros povos
seriam subjugados, à semelhança dos antigos reis de Israel.
Jesus
entra em aldeias de samaritanos, pois o Messias veio para todos os povos, não
para os dominar pela força, mas para morrer por eles. Diz o texto bíblico, na
tradução da Ferreira de Almeida, que quando Jesus entrava em certa aldeia da
Samaria, saíram-lhe ao encontro “dez homens leprosos”.
A
miséria comum reuniu esses pobres párias e isso os ajudou a esquecer as ferozes
antipatias nacionalistas entre judeus e samaritanos. Quando foram convidados a
se apresentarem ao sacerdote antes que houvesse sinais de cura, para serem
examinados por eles, partiram, dando assim evidência de sua confiança no facto
de que haviam sido curados. Foi essa fé que os salvou, porque uma fé assim abre
as portas à virtude curadora de Deus.
Esta é uma grande surpresa. Todo o mundo
esperaria que um dos Judeus voltasse para agradecer ao Senhor, mas isso não
aconteceu. Eles agem como se fosse normal que foram curados. Mas não é assim. O
que aconteceu era anormal. Era um milagre. Deus mostrou a sua misericórdia para
com estes homens. Eles pedirem: tem compaixão de nós. E o Senhor teve compaixão
deles, mas a maioria dos homens não reconheceu o milagre que aconteceu na sua
vida. Não acharam motivo para agradecer a Deus, ou para agradecer o Servo do
Senhor que fez este milagre na sua vida. Os nove judeus continuam a sua vida
como se nada tivesse acontecido, mas um deles, um samaritano, reconheceu o
milagre e voltou para agradecer a Deus. Por causa disso Jesus lhe perguntou: Os
dez não ficaram purificados? Onde estão os outros nove?
1. Muitos São Abençoados e Logo se Afastam de
Deus.
Jesus
tinha um ministério itinerante na Palestina, mas esta seria a sua última viagem
(Lc. 17:11). Estava indo a Jerusalém para ser crucificado. No caminho, passando
pela Galileia e Samaria, entrou numa aldeia (17:12). Era um pequeno povoado,
tão insignificante que nem o seu nome foi citado. Entretanto, Jesus entrou ali.
Ele não ficou fora, distante, indiferente. Ele se importava com aquele povo.
Havia ali vidas que Jesus queria alcançar. Da mesma forma, ele se importa
connosco, por menores que sejamos aos olhos humanos. Na entrada da cidade,
Cristo encontrou dez leprosos, os quais pararam de longe. Mas por que é que
eles não se aproximaram? A lei determinava que o leproso ficasse isolado da
sociedade por causa do seu mal contagioso (Nm. 5:2). Logo que a doença era
diagnosticada, ele perdia a família, os amigos, o emprego e os bens. Certamente
perdia também a autoestima e a alegria de viver. Seus novos amigos eram também
doentes e excluídos. Suas vidas estavam destruídas, perdidas, acabadas. Seus
sonhos tinham sido abandonados. Não possuíam qualquer perspectiva do ponto de
vista humano. Além de serem vítimas de uma doença degenerativa, incurável e
mortal, sofriam com a discriminação e o preconceito.
Hoje,
da mesma forma, muitas pessoas se encontram arrasadas, sem Deus, sem paz, sem
esperança. Precisam de encontrar Jesus com urgência. Ali estava um grupo de dez
leprosos que encontraram Jesus. Aliás, foi ele quem os encontrou. Eles jamais
poderiam fazer uma caravana rumo a Jerusalém em busca de Jesus. Seriam
impedidos com violência pela população. Entretanto, Cristo foi àquela cidade
por causa deles. Ele se importa com os enfermos, solitários, deprimidos,
marginalizados, com aqueles que a sociedade abandonou à própria sorte. Não
sabemos os nomes daqueles homens. Eram apenas leprosos, e ninguém queria saber
como se chamavam. Perderam a cidadania e a identidade.
Contudo,
as suas vidas mudaram completamente porque tiveram um encontro com Jesus.
Nenhum outro podia curá-los, mas Cristo podia. Ele é a única esperança para o
homem. O texto fala sobre os sacerdotes (17:14), líderes religiosos da época.
Eles estavam em plena atividade, cumprindo rigorosamente seus rituais, mas não
podiam curar ninguém. Jesus cura, pois ele tem todo o poder sobre todos os
males.
O
que as religiões não podem fazer, Cristo faz. O texto mostra que aqueles
leprosos sabiam quem era Jesus. As notícias já tinham chegado àquele lugar.
Entretanto, não basta ter informações sobre Cristo. É preciso conhecê-lo.
Agora, eles estavam em sua presença, mas isto também, embora fosse maravilhoso,
não era suficiente. Eles criam que Jesus podia curá-los, mas a fé precisa de
ser colocada em ação. Por isso clamaram: “Jesus,
Mestre, tem misericórdia de nós” (17:13). Todos precisam de clamar ao
Senhor. O soberbo não clama. Seu orgulho o impede de se humilhar. Entretanto,
precisamos de reconhecer que, sozinhos, não resolveremos os problemas que
afligem as nossas almas. A oração é hoje a nossa forma de clamor. Não adianta
reclamar, murmurar, blasfemar. É preciso orar a respeito dos males que nos sobrevêm.
Eles clamaram a Jesus. Não adianta clamar à pessoa errada, aos falsos deuses,
aos líderes religiosos (17:14), ou aos companheiros, também leprosos.
Jesus
atendeu ao clamor daqueles homens (14:14). Ele não lhes voltou as costas, mas
respondeu ao seu clamor. Cristo ouve as nossas orações e nos responde.
Então,
o Mestre lhes deu uma ordem: “Ide, e mostrai-vos ao sacerdote” (17:14). O
sacerdote era responsável pelo diagnóstico. Era ele quem podia confirmar a
cura. Aqueles homens, ainda leprosos, precisavam de obedecer para serem
abençoados, e não o contrário. Sua fé precisava de estar além das evidências
visíveis. Ainda tinham todos os sintomas da doença, mas deviam obedecer à voz
do Mestre, sem questionamentos. “E, indo
eles, ficaram limpos” (17:15). A obediência demonstra a fé. Não adianta
crer e ficar parado. Em muitas situações, a ação deve acompanhar a fé. Então,
os dez leprosos foram curados. Jesus curou a todos, sem perguntar sua
nacionalidade, religião, etc. Ele não faz acepção de pessoas. A cura acontece
pela misericórdia divina e não pelo merecimento do enfermo.
Vendo
que estava limpo, um deles voltou para louvar, agradecer e adorar,
prostrando-se perante Jesus. Ele glorificava a Deus em alta voz. Louvando ao
Pai, reconhecia que em Jesus operava o poder de Deus. Seu louvor serviria de
testemunho para todos em seu caminho. Ao prostrar-se diante de Cristo,
comportou-se como um súbdito diante do rei e como o adorador diante da
divindade. Estaria reconhecendo a divindade de Cristo? É provável. Aquele acto
demonstrava rendição, entrega, humildade, submissão.
No
caso deste pobre samaritano, ficou claro que ele não foi somente curado, mas
salvo como provam a sua gratidão e a sua adoração. Este humilde samaritano,
realmente se converteu, pois reconhecia em Cristo Jesus, o Sacerdote Eterno.
Isto lhe bastava. Ele sabia, que Jesus era o Messias Salvador. Ele viu que
estava curado. Foi para os sacerdotes. E depois disso logo voltou para buscar
Jesus glorificando a Deus em alta voz! Este homem reconheceu que aconteceu um
grande milagre em sua vida. Ele reconheceu a mão de Deus na sua vida. E
reconheceu que foi Jesus Cristo que curou o corpo dele. Por causa disso ele
voltou para Cristo e lançou-se aos pés de Jesus com o rosto por terra. Suas
lágrimas escorriam pelo rosto, enquanto com todo o coração adorava ao Mestre.
Fazendo isso, o homem mostra que respeitou o Senhor Jesus. È um tipo de
adoração e normalmente este tipo de adoração é dado a Deus. O homem mostrou
muito respeito a Jesus. E naquele momento Lucas diz: Pois bem, era um
samaritano!
A
vida, do samaritano, em volta da mais profunda gratidão e arrependimento, já
não era a mesma. Seu caminho seria distinto dos nove companheiros.
Companheiros, que minutos antes, lamentavam a dor da miséria humana. Porém, se
mostraram miseráveis, diante da vida.
Imediatamente,
Jesus perguntou pelos outros nove que foram curados. Pois eles não voltaram
para agradecer. Cometeram o pecado da ingratidão. Jesus valoriza o louvor, as
ações de graças, a adoração, mas, acima de tudo, ele queria ver aquelas pessoas
perto dele, rendidas aos pés do Senhor Jesus Cristo.
Será que nós damos graças a Deus, não
somente por seus milagres, mas, também, por sua providência diária? As melhores
coisas são as mais silenciosas. Os jornais não ficam sabendo da obra profunda
de Deus no individuo ou na comunidade, pois ela chega de mansinho, como chega a
primavera num jardim e numa floresta.
2. Dez por Cento de Gratidão
Onde
estavam os nove? Foram se mostrar ao sacerdote, receberam o atestado de cura e
correram para retomarem a normalidade de suas vidas; talvez tenham ido à
procura da família, do património, dos amigos. Foram procurar um emprego, etc.
Não tinham mais tempo para Jesus. Talvez pensassem que não precisavam mais
dele. Para eles, Jesus era um abençoador. Sabiam que ele era Mestre (17:13),
mas não estavam interessados em seus ensinamentos. Queriam apenas a bênção, o
benefício físico, pessoal e imediato.
O
ex-leproso que voltou demonstrou um nível maior de fé e reconhecimento. Hoje,
muitas pessoas são curadas, abençoadas, mas poucas querem estar aos pés de
Jesus. Poucas querem ter compromisso com ele, servindo-o como Rei, como Deus e
Senhor. Cheguemo-nos a Deus, não apenas por necessidade, mas por gratidão.
Dez
por cento de gratidão, considerou Jesus uma ingratidão. Eram dez os leprosos e
só um voltou para agradecer o que Jesus lhe tinha feito. Os nove restantes
fazem parte daquele grupo que quer ser servido mas nunca ousam agradecer aquilo
que lhe é feito por mera graça.
Jesus
disse àquele homem: “Levanta-te e vai; a
tua fé te salvou”. Agora, ele podia ir e fazer tudo o que os outros
fizeram. Podia recuperar a normalidade de sua vida, mas de uma forma muito mais
gloriosa do que os nove companheiros. Ele podia testificar que foi, não apenas
curado, mas salvo. Podia dizer que viu Jesus, não de longe, mas de perto. Seu
testemunho seria completo e eficaz. Foi transformado de corpo e alma. Recebeu
os benefícios temporais e também eternos.
Como
é a nossa relação com Deus? Não sejamos como os nove. A maioria nem sempre está
certa. Nesse caso, precisamos de ser a exceção. Além da bênção, precisamos do
abençoador. Onde estão os nove? O Senhor procura aqueles que um dia foram
abençoados e hoje estão distantes dele. É tempo de voltar, prostrar-se aos pés
do Mestre, adorando-o de todo o coração.
No
texto acima referido do evangelista Lucas, Jesus disse que era um samaritano
aquele que voltou para agradecer a graça recebida. Também tenho a mesma
experiência de que são pessoas que não são cristãs de quem recebo atenções,
salvo os dez por cento que sempre são os mesmos e curiosamente aqueles a quem
eu sou devedor do amor e só com um bem-haja lhes posso agradecer porque não
tenho possibilidades por obrigação de lhes mostrar gratidão.
O
testemunho de um cristão é muito mais valioso pela amabilidade com que trata o
seu próximo e até o seu inimigo.
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