“E,
eu dei-lhes a glória que a mim me deste, para que sejam um, corno nós somos um.
Eu neles, e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, e para que o
mundo conheça que tu me enviaste a Mim, e que os tens amado a eles como me tens
amado a mim” (Jo. 17:22-23ª).
Introdução
É
hora de cavar mais fundo na misteriosa vontade de Deus, e de olharmos com os
olhos que Deus nos deu para vermos o invisível. Mas, para isso, deixemos que o
Seu toque de capacitação sobrenatural seja acrescentado ao que de melhor temos.
Deus quer usar-nos de modo especial. Nós somos importantes para Ele!
No
passado, vivíamos a vida cristã e até a vida como um todo, como uma questão de
sair de um lugar e ir para outro. Hoje, creio que a vontade de Deus para nós
nesta vida não é uma equação direta e objetiva, projetada para nos levar a um
destino definido na terra, mas é a nossa própria vida tão cheia com a glória de
Deus (Sua presença com Seu amor, Seu Espírito, Seu poder e Sua beleza) que os
outros instintivamente sentem e reconhecem que Deus está em nós.
Nossa
tendência humana é a de nos concentrarmos apenas em nosso chamado, onde devemos
ir, como devemos chegar lá e o que exatamente devemos fazer. Mas a preocupação
de Deus está no processo pelo qual Ele nos conduz ao amadurecimento, de modo a deixar-nos
aptos para, fazer novas coisas através de nós e do nosso ministério, e a nos
tornar mais semelhantes a Seu Filho. Ele quer ajudar-nos para que compreendamos
o que Ele quer fazer por nós. Ele quer que a Sua glória em nós nos caracterize
com alguém escolhido por Ele.
O
ambiente que conhecemos hoje será finalmente mudado e substituído por um que
evidencia a glória de Deus. Como Seus filhos, Deus nos dá uma glória que
combina com a Sua, de modo que, assim, podemos conviver. Essa plenitude torna a
nossa capacidade completa, capacita-nos para ser como Cristo e radiantes com a
presença de Deus, e o nosso serviço será guiado pelo Espirito, capacitado por
Ele, e usado até ao fim por Deus. Contudo, as fundações do templo precisam de
se mover diante do poder e autoridade santos que repousam silenciosos sobre nós,
do louvor, da adoração e do culto.
Se
não recebêssemos a glória de Deus, passaríamos a vida inteira impulsionados por
motivação maligna, incapaz até mesmo de nos livrar das trevas do pecado, e nem
teríamos a esperança e a certeza de ver o Senhor no céu. Ninguém pode ficar contínua
e completamente satisfeito na sua vida cristã sem essa capacitação divina. A
sua Glória em nós é o brilho, o fogo e o poder do Espirito. Ela deve estar
presente em nós e activa através de nós.
Se
não fosse a transferência da glória de Deus para a nossa conta por meio da
justiça de Deus, nunca veríamos o Senhor. Isso quer dizer que nunca
receberíamos a promessa do céu, e nunca teríamos uma nova dimensão de capacitação
que Deus tem disponível para nós. É maravilhoso ver uma vida cheia da glória de
Deus e ser uma inspiração para outros. Isso proporciona fé às outras pessoas
para crerem que Deus opera na vida daqueles a quem amam e nas situações que as
preocupam. Dá-lhes a confiança que Deus irá responder à oração e fazer com que
outros desejem aproximar-se dEle e obedece-Lo. Uma vida cheia da glória de Deus
é sempre uma bênção muito maior que a mesma vida sem o fogo desta glória.
Nós,
como seus filhos, precisamos de ser diferentes, precisamos de viver vidas
santas, vidas de integridade ética e de excelência moral. Se isso nos fosse
impossível, Deus jamais exigiria tal coisa de nós. Não podemos passar a vida
bocejando, achando que, pela graça, Deus vai agir de alguma forma. Precisamos
de ser homens ativamente envolvidos numa vida cheia de glória, que brilham com o
calor intenso, de quem ninguém se pode aproximar sem sentir que o nosso coração
está aquecendo.
Podemos
fazer todas as promessas que quisermos, tomarmos as decisões que forem, dar
todas as garantias ao grupo a quem devemos satisfações, mas, se não tivermos a
glória de Deus em nós para vencer e conquistar, falharemos. Esta glória é a
glória de Cristo, disponível a todos nós depois de nossa conversão.
É notável percebermos que, ao andarmos
em Sua vontade, e nada desejarmos além de oportunidades para promover a Sua glória,
para divulgar a Sua verdade, para ganhar mediante poder aqueles a que Jesus
remiu com seu precioso sangue, nós experimentamos o que significa ter a glória
de Deus. Precisamos de nos unir ao poder que vem do trono de Deus. Vamos nos
prostrar diante da presença santa de nosso Deus e convidá-lo a limpar os nossos
pensamentos, a corrigir nossas palavras erradas, a nos perdoar completamente e
a fazer de nós vasos santos cheios da Sua glória.
1.
Jesus disse: Eu
Dei-lhes a Glória que Recebi do Pai
O
primeiro termo deste texto “dei-lhes”,
na tradução grega significa oferecer um presente, dar algo valioso e que,
principalmente, deixa aquele que o recebe feliz. O segundo termo é “glória”, e que na tradução grega significa
um brilho ou aparência brilhante. E Jesus quis partilhar connosco a glória que
o Pai Lhe deu: “Eu dei-lhes a glória que
Tu me deste, de modo que sejam um, como Nós somos Um” (v. 22).
Jesus
deixou para nós um presente que não é feito de ouro, prata ou de qualquer
material deste mundo. Este presente não é certamente a glória mundana, que
tantas vezes procuramos, para satisfazer o nosso orgulho e a nossa vaidade. A
glória de Cristo é a glória daquele que veio para servir, que se baixou ao
nosso nível, que se identificou connosco, que nos lavou os pés. É, portanto, a
puríssima glória daquele que jamais procurou a glória e que, por isso mesmo,
foi glorificado pelo Pai. É a glória daquele que “se levantou da mesa, tirou o manto, tomou uma toalha e atou-a à cintura
e, depois, deitou água na bacia e começou a lavar os pés aos discípulos e a
enxugá-los com a toalha que atara à cintura” (Jo. 13:4-5) ou que, como escreve
Paulo, “se rebaixou a si mesmo,
tornando-se obediente até à morte e morte de cruz. Por isso mesmo é que Deus o
elevou acima de tudo e lhe concedeu o nome que está acima de todo o nome e lhe
deu uma glória que está acima de toda a glória, a glória de Senhor”!
Ele
nos deu um brilho, creio que seja um reflexo do poder majestoso do Pai em nós
por meio do Filho. Dois actos reflexivos podem ser percebidos no texto do
versículo 22 do capítulo 17 de João: O reflexo do pai no Filho, pois Jesus
refletiu o pai durante todo o tempo que aqui viveu connosco, e o seu
relacionamento com o Pai, foi um revelar de quem o Pai era e de seu amor
profundo pela humanidade. Neste acto reflexivo, tudo o que Jesus fez, a
comunhão, os milagre e o sacrifício, é um apresentar do Pai, é o tornar tudo, o
que até então era mera esperança e fé, num sustento para um povo coeso e unido.
Nós não temos brilho próprio, e nem podemos ter, pois o brilho que brilha em
nós é do Pai refletido no Filho. Dependemos então do mesmo brilho, para que o
brilho de Deus seja real em nós. A nossa unidade é uma relação de dependência,
pois carecemos da mesma necessidade, refletir o Pai. O reflexo do Pai no Filho
é o início e não o fim, é a porta que se abre para que possamos refletir também
esse brilho juntos, essa glória que nos foi dada, a de sermos reflexos, e a glória
maior de sermos reflexos de Jesus.
Abra
o seu coração e deixe que Deus inunde todo o seu ser com a Sua vida, o Seu amor
e o Seu poder. Abra o seu coração e deixe que Deus faça de si um melhor exemplo
de Sua graça, um instrumento mais eficiente a Seu serviço e um canal de bênção
maior do que jamais foi. Não há limites para o que Deus pode fazer em si e por seu
intermédio se todo o seu ser estiver absolutamente aberto para ser possuído por
Ele, disponível para a Sua vontade e para a Sua obra divina.
Deus está aguardando a porta aberta, o
coração aberto e a vida aberta, porque Ele deseja que cada um de nós seja tão
cheio do Espirito que a nossa natureza interior venha a ser purificada pelo
fogo e a nossa vida se torne radiante, cheia de poder e zelo e em chama com a Sua
glória. Não há hesitação por parte dEle. Deus deseja agora manifestar o Seu
poder dentro de nós e através de nós. O Senhor não tem um tempo melhor do que o
hoje. Ele quer que a nossa vida espiritual seja a melhor que já tivemos, que a
nossa vida de oração actual seja a mais produtiva possível, que o nosso amor
por Ele hoje seja o mais profundo e forte que já experimentamos. Deus quer que
a nossa vida seja mais rica, plena, profunda e abençoada, mais ungida a cada
ano que passa.
2.
Qual Foi a Glória
que o Pai deu a Jesus?
Não
era a glória que Ele tinha no Céu, a de ser igual a Deus Pai, e que Ele pôs de
parte para vir a este mundo. Ele tinha de se despir desta glória que era, por
assim dizer, como uma capa, para tomar a capa da humanidade. Trata-se, pois, de
uma glória que vem do amor do Pai e que tem por objectivo fazer com que todos “sejam
um”: “Eu dei-lhes a glória que Tu me
deste, de modo que sejam um, como Nós somos Um” (v. 22).
A
glória, riqueza do Pai que Jesus recebeu, constitui o Filho uno com o Pai. A
comunicação da glória aos seus realiza neles a condição de filhos; por possuírem
a mesma filiação, todos serão um. A glória produz a comunhão e atividade; nós
somos o novo santuário desde o qual irradia a presença de Deus, que se traduz
nas obras de seu amor leal para com o homem. A comunidade da glória implica,
portanto, a comunicação do dinamismo do amor. Nós, que pela união, que em nós
reina, somos morada de Deus, que prolonga sua manifestação feita em Jesus
Viva
em união continua. Viva em obediência constante e alegre. Regozije-se em Seu
amor durante todo o tempo, abrindo todo o seu ser para todo o ser dEle. Pois o
que temos a oferecer como alternativa perante o mundo é a esfera de Deus, a
esfera do amor e da vida. Ao mesmo tempo e inseparavelmente, entreguemo-nos com
e como Jesus, manifestando-se assim o amor gratuito e generoso do Pai e
constituindo-nos, como Jesus, em dom dele à humanidade.
É,
pois, uma glória dada por amor, esse amor que está na base da fraternidade
entre os discípulos, e que é testemunho seguro e autorizado da verdade da nossa
fé cristã. O cristianismo ganha credibilidade, e cresce em credibilidade,
quando os fiéis se empenham em viver como irmãos, que se aceitam uns aos outros
como são para tender à unidade, quando não se deixam levar por rivalidades, mas
se ajudam, se apoiam, são benevolentes uns com os outros.
Há
que ter isto tudo bem presente na vida espiritual, para darmos testemunho do
amor de Cristo num mundo à procura de uma unidade difícil e de novas relações
entre pessoas e grupos e para colaborarmos eficazmente na construção de uma
nova civilização, a civilização do amor, que será, na terra, um reflexo da
comunidade trinitária, conforme a oração de Jesus: “…que todos sejam um Pai, como tu estás em mim e eu em ti. Que eles também
estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste” (Jo. 17:21).
Notemos a insistência de Jesus, não só sobre a unidade no amor, mas também
sobre a dimensão missionária da comunidade unida no amor.
A
unidade é o único argumento capaz de convencer a humanidade. Esta unidade
dinâmica, efeito visível do amor, manifesta-se na comunhão e no serviço que
chega até a dar a vida. A fé baseia-se na experiência da glória que Jesus
deixou aos seus. Assim como, ao manifestar a sua glória em Canaã, os discípulos
creram (Jo. 2:11), assim também a demonstração da glória na comunidade é que
provocará a fé do mundo
A
fé nasce do conhecimento da verdade: a experiência da glória que comunica vida.
Se Jesus tivesse vindo para revelar uma verdade conceitual ou doutrinal, a
adesão ter-se-ia dado diretamente a ela, e indiretamente a ele; um discípulo
podia crer na verdade de Jesus, mesmo separando-se de sua pessoa. Jesus e a
verdade não seriam uma só e a mesma coisa. Bastaria abstrair dele um modelo;
deixado o seu exemplo, não seria necessária sua presença. A fé, porém, não
responde a um conceito, mas à experiência da glória percebida no dia-a-dia. A
pessoa de Deus deve ser conhecida pela sua integridade santa.
Mas,
apesar de se ter despido da Sua glória para nascer da virgem Maria, Jesus não
deixou por isso de ser Deus. A Trindade estava no Céu e Jesus estava na terra,
mas, ainda assim, Ele era Deus no Céu. Ele é Omnipotente.
A
glória de que Ele fala aqui é a glória de ser Mediador, a qual Jesus adquiriu na
Sua obra, no Calvário como Filho do Homem. Ele é o único Mediador que Deus aceita;
o Único que é qualificado. Há só um Salvador e um só Mediador.
Não
nos podemos salvar a nós mesmos através, das nossas boas obras nem através das
boas obras de qualquer outra pessoa. Só por meio de Jesus e da Sua obra na cruz
é que somos salvos.
A
glória sobre a qual lemos em João 17 é o galardão pelo sofrimento de Cristo. Vejamos
o que Paulo escreveu à Igreja em Filipenses capítulo 2 e versos 9 e 10: “Pelo que também Deus o exaltou
soberanamente, e Lhe deu um nome que é sobre
todo o nome; para que, ao nome de Jesus, se dobre todo o joelho dos que estão
nos céus, e na terra, e debaixo da terra”. Por causa da obra de Jesus, ao
derramar o Seu sangue pelos pecadores Ele foi exaltado.
Jesus também foi honrado por ter
derramado o Seu sangue na guerra contra o pecado. Já lemos o que Paulo disse em
Filipenses 2:9 e 10, agora vamos Ler o verso 8: “E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até
à morte, e morte de cruz”. É por isso que nós avisamos que Deus não aceita
nada em lugar do sacrifício e morte de Jesus.
3.
O que é que o
homem pecador pode fazer em comparação com a morte de Jesus?
A
Palavra de Deus diz: “Todos pecaram e
destituídos estão da glória de Deus”. O Filho de Deus humilhou-se ao ponto
de nascer de uma mulher. Foi humilde no nascimento, humilde na vida e humilde
na morte, pois sofreu a morte de um criminoso. Mas Deus exaltou-O.
Jesus
Cristo não é meramente uma pessoa importante que viveu e morreu há muitos anos
atrás. De acordo com a Bíblia, ele é o Deus Criador, que viveu nesta Terra,
como homem, para derramar seu sangue e nos dar vida, resgatando esta humanidade
pecadora do poder do pecado, de Satanás e da morte. Ele está vivo hoje e dá
vida eterna a todos quantos o buscam. E não há salvação em nenhum outro; porque
debaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual
importa que sejamos salvos (At. 4:12).
O
Melanchthon, um dos primitivos pais da igreja, disse desta oração de Jesus: “Nunca
em nenhum tempo houve voz alguma, no Céu ou na terra, mais exaltada, mais
santa, mais frutífera, mais sublime do que esta oração feita pelo Filho de Deus”.
Ninguém jamais na terra tem glorificado mais Deus do que Jesus - único,
incomparável, maravilhoso! – que agora está assentado, como homem glorificado,
no lugar mais elevado, à destra de Deus.
Para
esta glória ser discernida, um passo radical lhe será requerido: trocar a mente
povoada de mentiras de todo o tipo e tamanho, pela Mente de Deus, onipresente,
real e presente em si. Paulo a chamou de Mente de Cristo.
Deus
anseia que a sua visão espiritual venha a compreender cada vez mais a beleza, a
glória e o prodígio de Seu ser. Espera ansiosamente pela oportunidade de
revelar-se em seu íntimo e por seu intermédio.
A
“glória” para ser um com Deus lhe está dada, e permanentemente, pelo Cristo em si”!
Não será “glória a ser conquistada”, não será “glória a ser merecida”, e não
será “glória a ser teorizada e compreendida pela mente ilusória”. Esta
“glória”, que já é a sua glória, é simplesmente o Pai Glorioso Se manifestando como
sua vida, como o Cristo “em si”.
“E eu lhes dei a
glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um; eu neles, e tu
em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, a fim de que o mundo conheça
que tu me enviaste, e que os amaste a eles, assim como me amaste a mim. Pai,
desejo que onde eu estou, estejam comigo também aqueles que me tens dado, para
verem a minha glória, a qual me deste; pois que me amaste antes da fundação do
mundo”
(Mt. 17:22-24).
Viva
para Deus e alegre-se no Senhor. Vida, amor e poder milagrosos esperam para
inundar todos os aspetos da sua vida e cada ângulo do seu ser. Jesus está
chegando em toda a Sua plenitude e poder. Basta abrir-se cada vez mais e
louvar, amar e rejubilar-se nEle.
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