“Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor” (Os. 6:3).
Introdução
Antes
de qualquer outra consideração, quando falamos em conhecer Deus, o que importa
assentarmos é em que medida estamos verdadeiramente interessados em O conhecer.
O
lugar do conhecimento é determinante na nossa vida, quer se trate das matérias
técnicas, dos costumes, dos princípios e dos valores que balizam os nossos
comportamentos, ou dos conhecimentos académicos e da utilização das várias
máquinas com que lidamos no nosso dia-a-dia, etc.
O
que é que seria a nossa vida se não soubéssemos o mínimo para realizarmos as
nossas tarefas, desempenharmos a nossa profissão, comunicarmos uns com os
outros, percebermos o que acontece à nossa volta, ligarmos a televisão, apanharmos
um meio de transporte, etc.?
Quem
já viajou ou viveu num país estrangeiro já se deu conta das dificuldades que
acontecem pelo simples facto de não dominarmos com facilidade a língua local.
A
nossa vida é feita de muita aprendizagem. O povo tem um provérbio muito
interessante que diz “aprender até morrer”.
A
curiosidade é um dos traços do homem. É isso que o leva a rasgar novos
horizontes, a demandar novas paragens, a desbastar florestas virgens, a
perguntar e a interrogar. Não será que nos devíamos também interessar em saber
acerca de Deus?
É
interessante verificarmos que é o próprio Deus que nos incita a que o
conheçamos: “Conheçamos e prossigamos em
conhecer ao Senhor” (Os. 6:3).
Como Podemos nós Conhecer a Deus?
Esta
é uma pergunta importante, legítima e decisiva para toda a nossa vida, tanto no
presente como no futuro; tanto no que diz respeito à nossa vida nesta terra
como na eternidade.
Temos
que admitir que nada podemos dizer de nós mesmos sobre matéria tão importante.
O nosso raciocínio e investigação são incapazes de conseguir seja o que for de
conclusivo e de objetivo.
Se
é possível sabermos o que quer que seja sobre Deus é necessário que seja Ele
mesmo a dizer-nos, ou seja, precisamos de revelação.
Deus
é tão grande e glorioso. Ele é o Altíssimo Deus. “Exaltado está o Senhor acima de todas as nações, e a sua glória sobre
os céus. Quem é como o Senhor nosso Deus, que habita nas alturas? O qual se
inclina, para ver o que está nos céus e na terra ” (Sl. 113:4-6)! Deus é
tão grande que ninguém é como Ele. Não há nenhum ser em todo o mundo que possa
ser comparado a Deus. Deus é infinito, auto-suficiente, imutável e soberano.
Ele é todo-poderoso, omnisciente e presente em todo lugar. O Deus dos céus e da
terra é o santo, justo e reto. Ele é cheio de amor, graça e verdade. Ele é tão
grande que a Sua glória está acima de todas as nações e até mesmo acima dos
céus. Nós não somos nada em comparação com Ele. “Todas as nações são como nada perante ele; ele as considera menos do
que nada e como uma coisa vã ” (Is. 40:17).
A
grandeza de Deus pode ser vista nas maravilhosas obras que Ele realiza. A
Bíblia ensina que Deus é o Criador de todas as coisas. Em Génesis 1:1 lemos, “No princípio criou Deus os céus e a terra”.
O universo não veio à existência por algum tipo de processo de evolução. Ele
foi criado por Deus em seis dias. Deus meramente falou Sua palavra
todo-poderosa e o mundo veio à existência. “Pela
palavra do Senhor foram feitos os céus, e todo o exército deles pelo espírito
da sua boca...Porque falou, e foi feito; mandou, e logo apareceu ” (Sl.
33:6, 9). Deus é tão grande que Ele fez o mundo a partir do nada. A Bíblia
ensina que, “...os mundos pela palavra de
Deus foram criados; de maneira que aquilo que se vê não foi feito do que é
aparente ” (Hb. 11:3). Toda a criatura, incluindo você, deve sua existência
a Deus.
Deus
é tão imenso, infinito, transcendente que é fácil compreendermos que a
informação tem que ser reduzida à nossa capacidade de compreensão. Se Deus nos
dissesse tudo, acabaríamos por não sermos capazes de comportar tudo o que Ele
nos poderia dizer. Na situação em que nos encontramos é preciso que Deus nos
fale de forma a que O possamos entender.
A
melhor forma de conhecermos quem quer que seja no plano humano é podermos
encontrá-lo e falar com ele face a face, olhos nos olhos.
Conhecer
alguém não é simplesmente conhecer a sua aparência física, a cor dos seus
olhos, do seu cabelo, a sua altura, o seu peso, a sua aparência, o timbre da
sua voz, etc. O conhecimento de uma pessoa tem muito que ver com o conhecimento
íntimo do seu coração, dos seus sentimentos, dos seus anseios, da sua maneira
de ser, da forma como encara a vida.
Não
basta apenas lermos acerca de uma determinada pessoa para a conhecermos. Não há
nada que chegue ao conhecimento pessoal.
Mas
como podemos ter um conhecimento pessoal de Deus se não soubermos algo sobre
Ele? Como saber a forma de nos relacionarmos com Ele se não estudarmos os seus
preceitos? Como viver de modo a agradá-lo se não conhecermos os seus
mandamentos? Devemos lembrar que a doutrina (o que cremos) e a prática (como
vivemos) andam de mão dadas. (A palavra doutrina com relação à doutrina
bíblica, pode ser definida como a “substância da fé cristã”. Tem a ver com todo
o sistema de crença e fé esposadas na Bíblia Sagrada, a Palavra de Deus). Como
iremos distinguir a verdade do erro se não tivermos um conhecimento sistemático
da verdade?
Conhecer
a Deus significa mais do que ter uma experiência religiosa com Ele ou dizer que
o sentimos. É válido ter uma experiência emocional e religiosa com Deus, mas
conhecê-lo envolve mais do que isso. Conhecer a Deus implica em mais do que
perceção, informação e experiência religiosa. Conhecer a Deus é ser tocado por
Ele, é relacionar-se de maneira que aquilo que Ele significa influencie o seu
ser. Um dos grandes problemas de hoje é que, quando vamos à igreja, recebemos
informações a respeito de Deus e podemos até ‘sentir’ Deus se a igreja tiver um
grande coral, mas saímos sem que Ele nos tenha tocado. Portanto, quando falo de
conhecer a Deus, estou falando a respeito de ser tocado pela perceção, pela
informação e pela ‘experiência religiosa’, como fazendo parte do que nós somos.
O
profeta Jeremias leva-nos a considerar que a coisa mais importante na nossa
vida é procurarmos conhecer o Criador de tal forma que esse conhecimento afete
toda a nossa existência: “Assim diz o
Senhor: Não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem o forte na sua força, nem o
rico nas suas riquezas; mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em me conhecer e
saber que eu sou o Senhor, e faço misericórdia, juízo e justiça na terra;
porque destas cousas me agrado, diz o Senhor” (9:23, 24).
A
Palavra de Deus diz que todos se extraviaram, e que o homem natural pela sua
própria força, pela sua própria vontade não pode conhecer a Deus. Por isso o
mundo está cheio de religião. Até mesmo na igreja existem pessoas religiosas.
Mas através de uma experiência pessoal de salvação, de redenção e de entrega de
vida, de um nascer de novo, de entrar pela porta, de trilhar o caminho e andar
para o alvo, de um conhecimento íntimo, podemos conhecer a Deus. Por isso
cantamos tanto: “Senhor, eu te quero ver”, “Senhor, eu te quero tocar”, para
podermos chegar mais perto de Deus. E Deus está preparando a sua igreja, o
Senhor está preparando a noiva, para que a revelação de Cristo chegue à vida da
igreja, para que esta se torne cada vez mais íntima de Deus.
A
Bíblia, a Palavra de Deus, nos ensina que a vida eterna é conhecer a Deus e ao
Seu Filho Jesus Cristo. Jesus diz: “E a
vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a
Jesus Cristo, a quem enviaste ” (Jo. 17:3). Se for para ter vida eterna e
viver com Deus para sempre no céu, deve conhecer a Deus através de Jesus, o
único e vivo caminho que nos conduz ao Pai.
A
matéria mais determinante sobre a qual nos podemos debruçar é Deus, o Criador
do Universo, a Inteligência que colocou todos os astros em movimento, que nos
fez à Sua imagem e semelhança e que veio ao nosso encontro na pessoa de Jesus.
Pois somente através de Jesus, do verbo revelado pela fé ao nosso coração, nós podemos
conhecer a Deus. O conhecimento de Deus vem através da Sua Palavra revelada ao
homem de Génesis a Apocalipse. Na Bíblia está a revelação de Deus. Quem quer
conhecer a Deus precisa conhecer a Bíblia. Quem quer conhecer a vontade de Deus
precisa ir para a Sua Palavra.
Quando
falamos de conhecer Deus certamente que não ignoramos que Deus é Deus e nós
somos homens, que entre nós e Ele existe um profundo abismo. Não existe nenhuma
escada suficientemente grande que nós possamos construir que nos leve a Deus.
Se nós pudéssemos compreender tudo acerca de Deus, nós mesmos seríamos iguais a
Ele.
Para
que a vida tenha significado é preciso que haja algo suficientemente grande a
ponto de justificar nosso compromisso e nossos sentimentos. A única coisa que
se encaixa nessa qualificação é o próprio Deus, não apenas pelo que Ele
significa, mas porque conhecê-lo é conhecer a nós mesmos. Grande parte da
confusão a respeito da vida quotidiana surge porque vemos apenas as árvores,
sem enxergar a floresta do grande Deus a quem servimos. De tudo o que se pode
conhecer e saber quem Deus é e qual é o Seu plano a nosso respeito é de facto o
mais importante.
Deus
não somente é o Criador do mundo, mas Ele é também o Sustentador do mundo. Ele
sustenta o mundo de forma que ele continua a existir. “Só tu és Senhor; tu fizeste o céu, o céu dos céus, e todo o seu
exército, a terra e tudo quanto nela há, os mares e tudo quanto neles há, e tu
os guardas com vida a todos; e o exército dos céus te adora ” (Ne. 9:6).
Sem o poder preservador de Deus o mundo inteiro cessaria de existir. O universo
não pode permanecer por si mesmo. Ele foi criado por Deus e, portanto,
necessita de Deus para a sua própria existência. Você não pode ser nada e não
pode fazer nada sem o poder sustentador de Deus. Deus “dá a todos a vida, e a
respiração, e todas as coisas... porque nele vivemos, e nos movemos, e
existimos...” (At. 17:25, 28). Você não pode nem mesmo se mover sem o poder
sustentador de Deus.
A
grandeza de Deus é demonstrada não somente pela criação e sustentação do mundo,
mas por Seu controle sobre o mundo. Deus é o Governador do mundo. “O Senhor tem estabelecido o seu trono nos
céus, e o seu reino domina sobre tudo” (Sl. 103:19). Deus é o único “Soberano, Rei dos reis e Senhor dos senhores”
(1 Tm. 6:15). Ele não é um Deus fraco cuja vontade é frustrada pela criatura.
Ele é o eterno Rei que domina sobre todas as coisas, incluindo você e eu. Ele
controla tanto todas as coisas do mundo que Ele produz o que Ele eternamente
planejou para o mundo e para tudo o que há nele. Ele “faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade” (Ef. 1:11).
Deus é o seu Governador e Rei.
Dessa
forma, nenhuma criatura em todo o mundo é independente de Deus. Todos nós temos
necessidade de Deus. Você deve a sua própria vida ao Deus verdadeiro. Além do
mais, Deus vos criou para a Sua própria glória. A Bíblia diz de Deus, “... porque Tu criaste todas as coisas, e por tua
vontade são e foram criadas” (Ap. 4:11). Nós não fomos criados para o nosso
próprio prazer, não fomos criados para que simplesmente existamos, mas fomos
trazidos à existência para o prazer e para a glória de Deus.
Infelizmente,
a falta de interesse pelo estudo bíblico é a maior razão da Igreja estar se
afundando na fraqueza e na heresia hoje. A igreja que não se interessa pelo
estudo bíblico nem tem capacidade para pensar biblicamente, é uma igreja… para
a qual a fé cristã irá perder rapidamente a sua razão de ser. Se não tivermos
um estudo sistemático, nos abrimos para a mais gritante heresia. Quando não
cremos em nada, abrimos as portas para crer em tudo. Em vista do triste estado
da perceção bíblica na Igreja, não devemos surpreender-nos por estarmos vivendo
numa época em que as práticas mais extravagantes são aceitas como reavivamento
enviados por Deus. A apatia da Igreja nas questões bíblicas é confirmada pelas
práticas mercenárias de algumas editoras evangélicas.
Em
nossos dias, infelizmente, não é incomum ouvir cristãos depreciarem o estudo da
teologia. Ouvi muitas vezes pregadores fazerem comentários tolos como este:
Nada queremos com essa velha teologia. Queremos Deus! Não creio que estejam
dizendo isso sinceramente. Espero que seu intento seja dizer que não querem
apenas estudar livros sobre Deus, mas querem conhecê-lo. O problema com
declarações como essa é que confundem o individuo e desencorajam o estudo da
Palavra. A teologia é o estudo de Deus, é o esforço perseverante para conhecer
o caráter, vontade e atos de Deus trino, como Ele revelou e interpretou esses
elementos para o seu povo nas Escrituras, a fim de formular os mesmos de modo
sistemático para podermos conhecê-lo. Aprendamos a pensar como Ele, viver neste
mundo de acordo com os seus termos e, mediante pensamentos e ação, projetarmos
a sua verdade em nosso tempo e cultura”.
A
teologia foi antes considerada como a rainha de todas as ciências. Está
evidente que a rainha se deparou com dificuldades. A Igreja portuguesa precisa
de um reavivamento do amor ardente que seus ancestrais possuíam pelo estudo da
Palavra de Deus. Eles não achavam que a teologia era sem sentido. Estavam
dispostos a dar as suas vidas para sustentar a verdade e confrontar o erro
teológico. George Wishart, que foi queimado por causa da sua teologia, disse:
“…ame a Palavra de Deus para a sua salvação, sofra pacientemente e com o
coração tranquilo por causa da Palavra, que é o seu eterno consolo; mas pelo
verdadeiro evangelho que me foi dado pela graça de Deus, sofro neste dia com o
coração alegre!”
O
verdadeiro estudante bíblico tem grande consideração pela teologia. Ele
mergulha na Palavra de Deus e se sente dominado pela sua profundidade e
relevância. Acredita que a Bíblia é suficiente por compreender o que é comum
aos homens aos quais se dirige. Ele acredita que a Palavra de Deus é
suficiente, eficaz e eterna. À medida que você aprender a aplicar a Palavra à
sua vida diária verá que a Bíblia é sem dúvida suficiente, verá que a palavra
de Deus vivifica, Ela vai revelar-lhe Deus, o verbo (a palavra) que se fez
carne, e habitou entre nós. Ele verá que essa palavra tem poder. Verá que tem
poder de transformação, porque a bíblia é o poder de Deus revelado à igreja.
Por isso é que toda a nossa vida tem que estar de acordo com a palavra de Deus.
A
palavra é o poder de Deus que nos leva a conhecê-lo. Essa palavra que está aí à
nossa disposição, nas nossas casas, na nossa mesa de trabalho, no nosso
computador. Essa palavra é o poder de Deus revelado ao homem.
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